Reunião do Copom: maiores bancos privados do país já não preveem mais corte de juros na semana que vem

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Expectativa do Itaú, do Bradesco, do Santander e do BTG Pactual é de que a taxa básica da economia seja mantida pelo BC em 10,50% ao ano nas próximas terça e quarta-feiras (11 e 12 de junho), quando se reúne o Comitê de Política Monetária (Copom) em Brasília. Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, centro financeiro do país.
Arquivo pessoal
Os quatro maiores bancos privados do país, o Itaú, o Bradesco, o Santander e o BTG Pactual, já não apostam mais em corte de juros na próxima semana, quando se reúne o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central — colegiado formado pelo presidente e diretores da instituição.
Com isso, a expectativa das quatro maiores instituições financeiras do Brasil é de que a taxa Selic permaneça no atual patamar de 10,50% ao ano.
A maior parte dos bancos do país, consultados pelo BC na semana passada, ainda não tinha migrado para essa posição. Eles apostavam, em sua maioria, em uma redução da taxa de 0,25 ponto percentual, para 10,25% ao ano, na reunião do Copom da semana que vem.
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, que influencia outros índices de juros no país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. A definição da Selic é o principal instrumento de política monetária usado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação.
Veja o que dizem os quatro maiores bancos do país em ativos:
Bradesco: “Esperamos estabilidade no corte de juros. Após a comunicação do Banco Central ser mais enfática na preocupação com a desancoragem das expectativas [de inflação em relação às metas], entendemos que não haverá corte de juros nas próximas decisões”.
Santander: “Na última reunião, o Copom migrou oficialmente para um tom mais preocupado com as expectativas de inflação. Acompanhando esse impulso, acreditamos que as expectativas sobre o horizonte da política [monetária, sobre a taxa de juros] pioraram ainda mais desde a referida reunião [no início de maio]. Além disso, todas as principais variáveis ​​que servem de insumo às projeções de inflação do Banco Central pioraram desde a última reunião”. Diante desse cenário, não esperamos cortes na reunião da próxima semana e, assim, mudança em nossa projeção de índice Selic para [o fim de] 2024 para 10% (de 9,75%)”.
Itaú: “Em meio às expectativas de inflação crescentes (já parcialmente desancoradas), atividade econômica resiliente e maiores incertezas doméstica e externa, entendemos que não há mais espaço para cortes adicionais de juros. Portanto, revisamos nossas projeções para a taxa Selic, de 10,25% a.a. para 10,50%, ao final de 2024 e 2025”.
BTG Pactual: “Esperamos que o Copom encerre o ciclo de cortes da taxa Selic em sua reunião de junho, mantendo a taxa base em 10,50% ao ano. De acordo com a ata de maio, apesar do largo dissenso, todos os membros do comitê concordaram em adotar uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicação futura, em virtude do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas [de inflação] desancoradas”.
O patamar elevado da taxa básica de juros da economia brasileira, em comparação com outros países, tem sido criticado recorrentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O BC tem de autonomia em sua atuação, sendo que o atual presidente, Roberto Campos Neto, foi indicado por Jair Bolsonaro (PL).
A instituição diz que seu papel, na fixação da taxa de juros, é técnico, e busca conter a inflação.
Em seus documentos, o BC informa que um patamar mais alto de inflação prejudica, principalmente, a população de baixa renda.
Nesta semana, o Banco Central informou que o lucro líquido dos bancos subiu para R$ 144,2 bilhões em 2023, e bateu novo recorde histórico.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,90% e, a de 2025, 3,78%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
As previsões do mercado financeiro subiram relação ao patamar vigente, por exemplo, há três meses atrás. No começo de março, a projeção dos analistas estava em 3,74% para a inflação de 2024 e em 3,50% para o IPCA do próximo ano.
Em março, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. Já no começo de maio, o BC estimou uma inflação de 3,8% para 2024 e de 3,3% para 2025.
Com isso, as projeções dos analistas, e também do BC, estão se distanciando as metas centrais de inflação, fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Eventos dos últimos meses
As expectativas de inflação deste ano e de 2025 começaram a subir com mais intensidade após alguns eventos que aconteceram na economia nos últimos meses. São eles:
Em meados de abril, o governo federal propôs reduzir as metas de superávit primário para as contas públicas dos próximos anos. Se confirmadas pelo Legislativo, as novas metas possibilitarão um aumento de despesas de cerca de R$ 160 bilhões em 2025 e 2026. Mais gastos, por sua vez, tendem a pressionar a inflação;
As enchentes no Rio Grande do Sul também estão pressionando a inflação, pois alguns itens de alimentação com origem no estado, como arroz por exemplo, tendem a ter aumento de preços. O próprio Ministério da Fazenda já elevou sua estimativa de inflação por conta disso, assim como os agentes do mercado estão fazendo;
Houve um “racha” na diretoria do BC na última reunião do Copom, quando aconteceu uma diminuição no ritmo de corte dos juros – fixando a Selic em 10,50% ao ano. Quatro diretores indicados pelo presidente Lula votaram por um corte maior nos juros, de 0,5 ponto percentual, para 10,25% ao ano, mas foram voto vencido. O temor do mercado é que a diretoria do BC indicada pelo presidente Lula – com maioria no Copom a partir de 2026 –, possa ser mais leniente com a inflação, em busca de um ritmo maior de crescimento da economia;
O dólar subiu muito nas últimas semanas, atingindo, nesta terça-feira (11), R$ 5,36 — o maior patamar desde janeiro de 2023. Dólar alto, por sua vez, tende a pressionar a inflação no Brasil pois os produtos importados ficam mais caros, e isso normalmente é repassado aos consumidores.
Além da expectativa de pressões inflacionárias maiores no Brasil, também contribui para uma política de juros mais conservadora no país, segundo analistas, a demora do BC norte-americano (o Federal Reserve) de iniciar as reduções nos Estados Unidos – o que diminui o espaço para cortes no Brasil.
O que diz o Banco Central
Apesar da divergência entre diretores do BC sobre a taxa de juros no último encontro do Copom, no início de maio, o Copom enumerou alguns fatores que podem pressionar a inflação. São eles:
O BC avaliou que o cenário internacional se mostrou “mais adverso” e que a incerteza com relação ao ciclo de queda de juros norte-americano e ao processo desinflacionário nas principais economias mostra-se persistente.
O Copom avaliou que, ao longo dos últimos trimestres, os dados de atividade econômica surpreenderam, com maior crescimento em diferentes componentes da demanda (procura por bens e serviços pela população).
O Banco Central diz que “reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal”, assim como o “aumento de crédito direcionado” (linhas com subsídios pelas empresas) e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia – aquela que mantém a inflação sob controle sem afetar o crescimento da economia.
O Copom diz que há “surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho”. Segundo a instituição, o debate se concentrou sobre a “possível transmissão para salários e preços do aperto verificado no mercado de trabalho”.
Por fim, o Copom avaliou que, para reduzir as expectativas de inflação – em alta para 2024 e 2025 –, deve haver uma “atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”.
Efeitos na economia
De acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:
▶️ Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a contenção da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em abril, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas teve pequena queda de 0,1 ponto percentual em abril, para 40,4% ao ano — ou seja, relativa estabilidade.
▶️Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.
▶️ Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em 2023, a despesa com juros somou R$ 718 bilhões em 2023, ou 6,6% do PIB.
▶️Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, teriam um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso pode contribuir para diminuir a atratividade do mercado acionário.

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