Arroz: entenda polêmica que causou anulação do leilão de importação e demissão no governo

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) disse que há indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras. Arroz
Reprodução/Freepik
O leilão de importação de 263 mil toneladas de arroz foi anulado pelo governo federal nesta quinta-feira (11) após indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras.
O certame também tem sido criticado por ter tido a participação de um ex-assessor parlamentar do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, que acabou pedindo demissão para evitar uma escalada do caso. Oposição e associações de produtores alegam que houve favorecimento. O ex-assessor nega.
Além disso, eles criticam o fato de que três das quatro empresas vencedoras não são do ramo de importação de arroz. Por outro lado, nenhuma companhia tradicional deste setor participou do leilão (veja detalhes abaixo).
➡️Ao vencerem o certame, essas empresas receberiam recursos do governo para comprar arroz de outros países e entregar em unidades da Conab pelo Brasil.
O governo decidiu importar arroz poucos dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul para evitar alta nos preços do cereal, diante da dificuldade pela qual o estado passava para transportar o grão para o restante do país.
A decisão contrariou os produtores, que têm afirmado que há arroz suficiente para abastecer o Brasil. O RS é responsável por 70% da produção nacional do grão, mas já havia colhido 80% do cereal antes das inundações.
Entenda a seguir os principais pontos da polêmica.
Sobre as empresas vencedoras…
Três das quatro empresas que venceram o leilão não são do ramo de importação de arroz. São essas a Icefruit, uma fábrica de polpas de frutas de SP; a Wisley A de Souza Ltda, uma loja de queijos de Macapá (AP); e a ASR Locação de Veículos e Máquinas, de Brasília;
Todas, no entanto, têm como atividade secundária o comércio de produtos alimentícios;
Por outro lado, nenhuma empresa tradicional participou do leilão, disse o dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) Robson Luiz de Almeida França;
Em relação às empresas vencedoras, uma das principais polêmicas envolve a loja de queijos, que arrematou R$ 736 milhões no leilão, e que alterou, no site da Receita Federal, o seu capital social de R$ 80 mil para R$ 5 milhões dias antes do certame;
“O aumento da Wisley A de Sousa Ltda foi feito em função de seu plano de expansão”, disse a empresa ao g1. A reportagem questionou qual seria esse plano de expansão. A companhia não respondeu a esta última pergunta;
A Wisley disse ainda que tem “mais de 17 anos de experiência no comércio atacadista, na armazenagem e na distribuição de produtos alimentícios, com um faturamento mais de R$ 60 milhões apenas no ano passado”;
O g1 também procurou o dono da locadora de veículos ASR, Crispiniano Espindola Wanderley, que reforçou que a empresa também atua no comércio de alimentos e que quer aumentar a sua participação em leilões públicos;
“Temos experiência em participar de leilões do governo federal através da bolsa, fomos ganhadores do leilão realizado pela Conab em dezembro do ano passado”, disse Wanderley. Na ocasião, eles entregaram 211 mil sacas de milho para a Bahia;
“As pequenas empresas que ganharam o leilão foram surpreendidas. A gente não acreditava que iria ganhar. Eu acredito que houve um boicote do agronegócio porque as grandes empresas de importação do agronegócio não participaram do leilão”, ressaltou Wanderley;
O g1 procurou grandes empresas que atuam no mercado de grãos, como a Camil, a Josapar, Bunge, ADM, Cargill e a Dreyfus para saber se essas companhias importam arroz e se cogitaram em participar do leilão. A Cargill e a Bunge disseram que não comercializam arroz. Já as demais companhias não responderam até a última atualização desta reportagem;
A reportagem também busca contato com a IceFruit por e-mail e telefone desde segunda-feira, sem sucesso;
Uma outra empresa que venceu o leilão foi a Zafira Trading, que é mais conhecida no mercado. A companhia também não respondeu a um pedido de entrevista do g1;
Na avaliação de Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, seria receoso a participação de empresas desconhecidas numa operação de importação em grandes volumes. Segundo ele, elas teriam lucro se conseguissem comprar arroz de outros países a um preço mais barato do que o de venda ao governo. “Só que não conheciam o mercado e isso era praticamente impossível”, disse;
A Wisley e a ASR disseram que têm capacidade financeira de realizar a operação.
Sobre a relação de Neri Geller…
Outra polêmica do leilão envolve o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, que pediu demissão nesta quinta-feira;
Seu ex-assessor parlamentar, o advogado Robson Luiz de Almeida França, é dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora de Grãos, que intermediaram a venda de 44% de arroz no leilão;
Por causa dessa ligação, oposição e associações de produtores apontam que houve favorecimento da empresa de França;
Em entrevista ao g1, o advogado disse que trabalhou com o Neri até meados de 2020 e que “de lá para a frente” foi tocar outros projetos. “Nesse meio tempo, surgiu a oportunidade de criar uma bolsa de mercadorias no estado do Mato Grosso. Eu sou advogado, tenho clientes na área do agronegócio e vi uma necessidade do estado de ter uma representatividade no governo federal”;
“Não tem relação nenhuma a criação da bolsa de mercadoria com o período que eu trabalhei com o Neri”, disse França. A bolsa de MT foi criada em 2023.
“Não tem impedimento nenhum de eu ser presidente de uma bolsa de mercadoria, de eu ser dono de uma corretora por eu ter trabalhado com um parlamentar”, acrescentou.

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