Banheiros, Wi-Fi e capacidade para 860 passageiros: como será o trem que ligará Campinas a São Paulo

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Modelo ainda não foi definido, mas deve atender exigências. Leilão foi realizado na quinta-feira (29) e terá investimento de R$ 14,2 bilhões em 30 anos. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante o leilão do Trem Intercidades (TIC) Eixo Norte, que vai ligar a cidade de São Paulo à Campinas, realizado na sede da B3, bolsa de valores de São Paulo, nesta quinta-feira (29).
BRUNO ESCOLASTICO/E.FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Com o leilão realizado nesta quinta-feira (29), que concedeu ao consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos a licitação de três grandes linhas de trem no estado de São Paulo, novos detalhes do serviço devem ser definidos nos próximos meses.
Entre eles está a composição que vai atender o Trem Intercidades (TIC), que ligará Campinas (SP) à capital paulista. O modelo ainda não foi escolhido, mas o edital prevê que ele atenda a algumas exigências em sua estrutura.
Confira como deve ser a estrutura do TIC de acordo com o edital:
🚄 a composição deve ter capacidade para 860 passageiros por viagem;
🚻 nos vagões devem constar banheiros, incluindo os acessíveis;
💻 deve haver oferta de sinal de internet (Wi-Fi);
🔌 a estrutura também prevê tomada e porta USB para passageiros;
🖥️ haverá telas pelos vagões, com detalhes sobre viagem e trajeto, que poderão ser explorados para publicidade.
Além disso, vale lembrar:
Trajeto: Barra Funda – Campinas
Tempo de trajeto: 1 hora e 4 minutos
Velocidade do trem: até 140 km/h
Preço da passagem (previsão): R$ 64
Início da operação: 2031
A escolha do modelo da composição que vai atender ao TIC deve ocorrer em etapas futuras, a partir da assinatura do contrato, que deve ocorrer em 120 dias (confira os prazos no cronograma abaixo).
Consórcio vencedor do leilão
O consórcio composto pela brasileira Comporte e pela chinesa CRRC, vencedor do leilão promovido pelo governo paulista nesta quinta-feira (29), vai ter a concessão, com investimentos de R$ 14,2 bilhões em 30 anos, de três grandes linhas de trens no estado de São Paulo.
Trem Intercidades (TIC): construção e operação da linha que vai ligar, com trens de média velocidade, Campinas (SP) a Estação da Barra Funda, em São Paulo (SP).
Trem Intermetropolitano (TIM): implantação da linha que vai atender passageiros em Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas, no interior de São Paulo.
Linha 7-Rubi: operação de São Paulo a Jundiaí, hoje nas mãos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
O consórcio foi o único a apresentar proposta, que o ofereceu desconto de 0,01% na contraprestação — valor a ser pago pelo Estado, de R$ 8,06 bilhões. O edital previa que o vencedor seria quem oferecesse o maior desconto. Já o investimento do governo de SP foi mantido, de R$ 8,98 bilhões.
O início das operações, modernizações e obras, no entanto, não é imediato. Com o leilão nessa quinta, a documentação do consórcio vencedor deve ser analisada e então, no prazo de 120 dias, o contrato assinado. Veja cronograma operacional a partir da assinatura do contrato:
6 meses: início da fase de pré-obra (desapropriações, licenças e projetos) do TIC e do TIM
6 meses: início da fase pré-operacional (transição com a CPTM) da linha 7-Rubi
18 meses: início da concessão com a operação da linha 7-Rubi
2 anos: início das obras do TIC e TIM
5 anos: início da operação do TIM
7 anos: início da operação do TIC expresso entre São Paulo e Campinas
Infográfico mostra trajeto previsto e detalhes do projeto do Trem Intercidades, que vai ligar Campinas à Estação da Luz, na capital de SP
Arte/g1
Abaixo, confira também:
Como foi o leilão
O pedido de recuperação judicial da Gol
Histórico do projeto
O leilão
O prazo para recebimento dos envelopes de empresas interessadas, nacionais ou estrangeiras, foi encerrado às 15h17, e houve a abertura das propostas comerciais. A sessão pública do leilão teve início às 15h38 com a leitura das regras. Às 15h56 houve a batida simbólica do martelo pelo consórcio vencedor.
Em seu discurso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), brincou sobre o ato de bater o martelo e fez alusão ao momento de outro leilão, do Rodoanel, quando derrubou o símbolo da B3 durante as marteladas. Tarcísio aproveitou a ocasião para falar sobre a possibilidade de desenvolver projetos com outras ligações por linha férrea.
“Emblemático, inovador. É o primeiro com três serviços, a Linha 7, o trem intermetropolitano, e o nosso trem expresso, que vai sair de Campinas, com uma parada em Jundiaí e até São Paulo. Isso vai descomprimir as nossas rodovias, e nos dá oportunidade de sonhar. Por que não fazer Sorocaba a São Paulo? Por que não fazer o São Paulo a Santos? Vamos pensar em outras ligações”, disse o governador.
O governador ainda afirmou estar confiante na operação do serviço expresso em 2031, tratando o prazo como “factível”, apesar da complexidade do projeto. “Aquilo que nós colocamos no estudo, confere com a realidade. A empresa faz, porque tem penalização por descumprimento de prazo, então ela vai lá e verifica se aquele prazo é possível”.
Documentos são conferidos durante o leilão do Trem Intercidades entre São Paulo e Campinas (SP), nesta quinta (29), na B3
Arthur Menicucci/g1
“Estabelecemos os mecanismos de compartilhamento de risco, risco de demanda, ou seja, é um projeto que está redondo do ponto de vista de execução e agora também vai caber a nós fazer todo o esforço possível para ajudar, para acelerar esse processo, para fazer com que esse processo possa ocorrer até em antecipação”, disse Tarcísio.
Para Guilherme Naves, sócio da consultoria Radar PPP, o leilão do projeto pode ser avaliado como um sucesso, apesar de ter apenas uma proposta. “Talvez seja o maior projeto da América Latina em curto prazo, com investimento superior a R$ 13 bilhões. Um projeto bastante específico, complicado. O fato de aparecer um interessado é uma vitória”.
Do lado de fora da B3, Bolsa de Valores de São Paulo, onde foi realizado o leilão do Trem Intercidades Eixo Norte, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de São Paulo fez um protesto contra a privatização da Linha 7-Rubi, prevista no projeto.
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Recuperação judicial da Gol
Batida simbólilca do martelo pelo consórcio que venceu o leilão do Trem Intercidades (TIC) entre Campinas (SP) e São Paulo
Reprodução/B3
Responsável por 60% do Consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, a brasileira Comporte pertence à família Constantino, que fundou a Gol. A empresa entrou em janeiro com um pedido de reestruturação financeira nos Estados Unidos, em processo semelhante à recuperação judicial brasileira.
Questionado se o fato poderia atrapalhar o projeto, José Efrain, diretor do consórcio, destacou que estão “preparados para enfrentar essas situações e os assuntos da Gol são tratados apartados do leilão.” Efrain aproveitou para destacar que o grupo brasileiro atua no ramo de mobilidade, e que está ampliando o portfólio sobre trilhos.
“Nós do grupo Comporte somos uma holding 100% voltada para a mobilidade. Então, está no nosso escopo e no nosso DNA o atendimento aos usuários quer seja sobre pneus, ou trilhos. E nesse caso nós fomos vencedores já no ano passado do Metrô BH e também já temos a experiência do VLT da baixada santista. E, com isso, nós estamos ampliando o nosso portfólio sobre trilhos”.
Histórico do projeto
O Trem Intercidades é discutido pelo governo de São Paulo pelo menos desde 2013, quando foi anunciado para 2014 o prazo para publicação do edital que previa uma Parceria Pública Privada (PPP) para ligar a capital tanto ao interior quando à Baixada Santista.
À época, a proposta previa 430 quilômetros de extensão, com início por Campinas, mas teria dois eixos, um indo de Americana até o litoral, e outro entre Sorocaba e Taubaté. O projeto chegou a ser usado, em 2014, como promessa em campanha de reeleição de Geraldo Alckmin ao governo do estado.
Quatro anos depois, o então candidato ao governo de São Paulo, João Doria, garantiu que iria, se eleito, tocar o projeto do antecessor, ainda com previsão de ligação entre Americana e a capital, em uma PPP sem uso de dinheiro público na implantação.
A discussão pelo Trem Intercidades ganhou um novo personagem quando, em dezembro de 2018, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) defendeu o prolongamento do sistema até Limeira (SP), por entender que o trecho poderia acrescentar um movimento maior ao transporte por trilhos.
Viagem teste percorreu trajeto do futuro Trem Intercidades entre São Paulo e Campinas
Reprodução/EPTV
Em 2019, o então ministro da Infraestrutura e atual governador de SP, Tarcísio de Freitas, disse em audiência na Comissão de Transportes da Câmara dos Deputados que o governo federal pretendia atrelar a implantação do trem intercidades, ainda previsto para chegar até Americana (SP), à renovação da concessão das linhas férreas, sob responsabilidade das empresas de carga.
É em 2019 que é dado início a sondagem de mercado do projeto, tendo sido realizadas audiência e consulta pública no ano de 2021, e depois uma sondagem de mercado pública em setembro do mesmo ano.
Em 2022, sob a gestão do governador Rodrigo Garcia, o projeto do TIC Eixo Norte, que já previa a ligação que vai a leilão atualmente, entre Campinas e São Paulo, ganhou uma nova etapa com a assinatura de convênio com prefeituras por onde o trem rápido virá a percorrer.
O Trem Intercidades Eixo Norte (TIC) foi incluído no Programa de Parceria e Investimentos do governo paulista em fevereiro de 2023, e a expectativa era de que o leilão fosse realizado em novembro do mesmo ano, mas uma atualização do edital, com revisão do valor de investimento e com mudanças para ficar “mais atrativo” aos interessados, culminou com a marcação da sessão pública para 29 de fevereiro de 2024.
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