Compra parcelada, pontos no cartão e divisão de gastos: como casais lidam com os desafios financeiros do namoro à distância

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Especialista recomenda que casais que se relacionam à distância tenham diálogo financeiro e planejem as viagens com antecedência. Uso de cartões de crédito com pontos e sites de promoção para compra de passagens também são alternativas para economizar. A estudante Dalila Figueiras, de 21 anos, se relacionou à distância por dois anos com o atual namorado, que é da Alemanha
Arquivo Pessoal
🤔Imagine namorar alguém de outro estado, ou até mesmo de outro país?
Essa é a realidade de muitos brasileiros, que podem ficar meses sem encontrar o parceiro pessoalmente — seja pela dificuldade em encaixar as agendas do casal ou, como acontece na maioria dos casos, pelo alto custo que essa relação pode ter no orçamento.
Quem namora à distância, por exemplo, precisa levar em conta não apenas os gastos do dia a dia sozinho, mas também os custos com passagens, hospedagem, passeios e alimentação na hora de encontrar o parceiro.
Se não forem bem contabilizados, esses gastos podem pesar no bolso de quem namora à distância — muitas vezes podendo até virar um tabu dentro do relacionamento.
Diante dos desafios para namorar alguém de outro estado ou país, cabe a pergunta: como lidar com as finanças neste tipo de relação?
Nesta reportagem você vai conferir relatos de três casais e dicas da especialista Ana Zucato sobre como economizar e até ganhar uma renda extra durante o relacionamento à distância.
Encontros a cada quatro meses e o cartão de crédito como aliado
Os estudantes Eduardo Kuntz, de 22 anos, e Thais Morgado, de 21, namoram há três anos a uma distância de cerca 483 km: ela mora na capital do Rio de Janeiro, enquanto ele mora em Cotia, São Paulo.
O casal se conheceu em 2021, no auge da pandemia da Covid-19, enquanto trabalhavam em um site de cultura Geek. Eles se encontraram pela primeira vez em dezembro de 2022, após um ano de relacionamento.
Eduardo Kuntz e Thais Morgado namoram à distância há três anos
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Desde então, para terem um controle maior no orçamento e conseguirem encaixar as viagens com as rotinas dos dois, a saída foi optar por um intervalo de três a quatro meses entre os encontros e apelar para o cartão de crédito para parcelar os custos com as passagens.
“O Edu odeia parcela, odeia a ideia de fazer dívida. Mas, como ainda estamos no começo da carreira, se a gente não parcelar, acaba sendo muito difícil termos dinheiro para nos vermos”, diz Thais.
O casal, que costuma passar mais tempo junto durante as férias da faculdade, chega a gastar quase R$ 1 mil por viagem, entre as passagens de avião, passeios e alimentação — o que acaba pesando na renda dos universitários.
Eduardo é freelancer em um jornal e Thais vive com a ajuda de familiares, enquanto não consegue emprego. Como alternativa, o casal usa um programa de pontos do cartão de crédito para pagar mais barato nas viagens.
“Hoje uma passagem de avião do Rio de Janeiro para São Paulo custa cerca de R$ 500. Mas pelos programas fica 12 mil pontos pela viagem, o que pode sair mais ‘em conta’”, relatou Eduardo.
Os jovens também parcelam as passagens no cartão de crédito, além de dividir o valor de cada uma por igual. Isso ajuda para que eles não fiquem sem dinheiro no fim do mês.
Gastos com ponte aérea viraram investimentos
A publicitária Julia Peixoto, de 26 anos, conheceu o atual namorado, Pedro Augusto, de 30 anos, em 2022, por meio das redes sociais. Na época, a influenciadora morava em Goiânia, enquanto Pedro Augusto, empresário, vivia em Manaus.
“Quando eu soube que ele morava em Manaus eu fiquei com muito medo de começar um relacionamento por conta da distância. Mas depois tomei coragem e começamos a namorar”, disse Julia.
Após um ano de namoro, Julia Peixoto saiu de Goiânia para morar em Manaus com o namorado
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O casal namorou à distância por um ano e, nesse período, os dois se viam uma vez por mês. Por ter maior flexibilidade na agenda e uma melhor condição financeira, era Pedro quem ia mais vezes ver a parceira em Goiânia. À época, ele trabalhava em uma multinacional e ela era gerente em um salão de beleza.
Mesmo com a organização do casal para os encontros, Julia alega que a vida financeira dos dois era afetada com os custos das passagens.
“Uma ponte aérea de Manaus para Goiânia não custa menos de R$ 1,2 mil, R$ 1,5 mil. Além das passagens, quando nós estávamos na cidade um do outro a gente queria conhecer restaurantes novos e fazer passeios. Cada passeio que a gente fazia não saia por menos de R$ 250”, afirmou a publicitária.
Nessa época, o casal optou por dividir os gastos de forma mais proporcional ao rendimento de cada um. Assim, as despesas com alimentação e lazer eram pagas por Augusto, enquanto Julia custeava as próprias passagens. Ela gastava cerca de R$ 3 mil para ver o namorado quando ia para Manaus.
Esse “vai e vem”, no entanto, não agradou o casal. Após um ano de relacionamento, em setembro de 2023, Julia decidiu sair do salão de beleza que gerenciava para se mudar para a capital amazonense. Hoje ela mora junto com o namorado.
“Para mim, relacionamento à distância só dá certo quando essa distância tem um prazo para terminar. Além de ser difícil você estar longe do seu parceiro, a questão dos gastos preocupa muito”, disse Julia.
Após parar de receber sua principal fonte de renda, Julia passou a focar na empresa da qual era sócia desde 2020. Até ela poder se estabilizar em Manaus e conseguir novos clientes, Pedro é o responsável financeiro pela maioria das contas da casa.
Julia conta que a vida financeira do casal melhorou com a mudança:
“O dinheiro que gastávamos com a ponte aérea entre Goiânia e Manaus, hoje podemos utilizar em investimentos e até para viajar para outros países. Daqui de Manaus, a passagem é mais barata para ir para Colômbia, por exemplo, do que para circular dentro do Brasil”.
Qual a melhor forma de dividir as contas em casal?
Todo o salário ia para as passagens aéreas
A estudante de relações internacionais Dalila Figueiras, de 21 anos, se relacionou à distância por dois anos com o namorado, que é alemão.
O casal se conheceu e passou a namorar em 2019, enquanto faziam um intercâmbio no Canadá. De 2020 a 2022, os jovens tiveram um relacionamento à distância enquanto ela estava no Brasil e ele, na Alemanha.
Dalila Figueiras e seu namorado na Alemanha em dezembro de 2023
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Nesse período, eles se viam a cada cinco meses. Dalila, que na época estagiava e ganhava R$ 1 mil por mês, guardava todo o dinheiro que ganhava para poder encontrar com o parceiro. Ele, por sua vez, trabalhava como entregador de comida de um aplicativo.
“Todos os meus salários do estágio iam para uma conta poupança para eu conseguir pagar as viagens internacionais”, relatou a brasileira, destacando que contou com a ajuda dos pais para poder se sustentar durante esse período.
Com grande parte dos recursos de Dalila servindo para custear suas passagens até a Alemanha, os demais gastos ficavam por conta de seu parceiro.
“Eu não tinha dinheiro para fazer muitos passeios ou comer coisas caras enquanto eu estava na Alemanha. Quando eu e o meu namorado saíamos, era ele que conseguia pagar a alimentação, por exemplo”, afirmou a estudante.
Dalila conseguiu passar em uma universidade na Alemanha e, desde setembro de 2023, está morando no mesmo país que o namorado. Ela conta que a vida dos dois está mais fácil, pois podem se ver com frequência e conseguem economizar o dinheiro que era usado nas viagens internacionais.
💸 Como lidar com as finanças no namoro à distância?
Conversar sobre dinheiro é essencial em qualquer relacionamento, mas o namoro à distância exige cuidado redobrado.
Segundo Ana Zucato, fundadora da Noh – uma fintech de finanças para casais –, as principais recomendações para os casais que vivem um relacionamento à distância são:
economizar;
planejar as viagens com antecedência; e
se possível, ter uma renda extra para arcar com os custos do relacionamento sem que eles pesem no bolso.
Ainda de acordo com a especialista, o uso de cartões de crédito com pontos, sites de promoção e alternativas mais baratas de viagens – como ônibus ou caronas em aplicativos de corrida – também podem ajudar a diminuir as despesas do casal.
“A minha sugestão é sempre planejar tudo que envolve dinheiro. Converse com seu parceiro sobre os custos na cidade dele, o que vocês pretendem fazer quando se encontrarem. Isso ajuda a ter tempo para poupar dinheiro e delimitar a frequência ideal para o casal se ver pessoalmente”, afirmou Zucato.
Para a renda extra, a dica é que os casais utilizem alternativas digitais para ganhar dinheiro a mais no fim do mês. Uma alternativa, segundo a especialista, é o chamado “despacho compartilhado”.
“Existem no mercado aplicativos onde viajantes podem ganhar dinheiro por meio do ‘despacho compartilhado’: usuários conseguem comprar produtos de determinado país e são os próprios viajantes que levam as mercadorias na mala para os consumidores, em troca de uma comissão”, disse Zucato.
Por fim, para os casais que já estão cansados da distância e querem dar os próximos passos, como morar juntos ou casar, é recomendado mapear os possíveis gastos e investimentos para que esse desejo vire realidade.
“Ao abrir esse diálogo, o casal precisa imediatamente falar sobre dinheiro. Sonhar é legal, mas o sonho sem a possibilidade de realização é a receita para o fracasso e frustração de expectativa”, acrescentou a empresária.
Escute o episódio especial de Dia dos Namorados do podcast Educação Financeira, do g1:
Saiba qual é seu verdadeiro status antes do Dia dos Namorados

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