‘Fábrica’ de solo: Startup usa de pó de rochas na agricultura como opção a fertilizantes importados e combate às mudanças climáticas

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Empresa europeia que atua no mercado de carbono, com operação total no Brasil, propõe uso de rochas como via de remoção de CO2 da atmosfera. Startup InPlanet atua no mercado de carbono e, como contrapartida no campo, emprega o uso de rochas como via de remoção de CO2 da atmosfera.
Denise Guimarães/Esalq/USP para InPlanet
O solo é um recurso natural essencial para produção de alimentos e funcionamento dos ecossistemas, dos recursos hídricos e do clima. O engenheiro ambiental Niklas Kluger, que nasceu na Alemanha, sabe disso desde a infância e escolheu o Brasil para aplicar soluções em agricultura regenerativa, a partir do intemperismo. Você sabe o que é isso? – É, basicamente, processo de desgaste das rochas. Mas, como o pó de rochas pode ser útil à produção no campo e ainda ajudar a combater mudanças climáticas? 👇Entenda na reportagem, abaixo.
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A startup, da qual Niklas Kluger é um dos sócios fundadores, é uma empresa europeia que atua no mercado de carbono, com operação total no Brasil. Como contrapartida no campo, emprega o uso de pó de rochas como via de remoção de CO2 da atmosfera.
Com os agricultores, trabalha para restaurar seus solos e ajudá-los a fazer a transição para uma agricultura de baixo carbono, sustentável e baseada na natureza. Além da colaboração com iniciativas de combate às mudanças climáticas, Kluger aponta o uso de pó de rochas como solução viável para diminuir a necessidade de importação de insumo fertilizantes, umas das maiores fragilidades do Brasil no setor.
Kluger define a startup como uma ‘fábrica de solo’, nas palavras do pesquisador.
“Podem nos enxergar como uma fábrica de vida, fábrica de solo fresco. Provocamos, através da aplicação de rochas e minerais, essa formação de um novo solo em vivo, que fornece nutrientes, que faz uma produção agrícola valiosa, protetiva, e ainda consegue sequestrar o CO2 da atmosfera, que é um grande dever que as gerações anteriores nos deixaram”, afirma.
A atividade de pesquisa e inovação acontece na Esalqtec e o viés comercial da startup acontece em território alemão.
“O Brasil tem condições ideais, os solos tropicais e o uso de pó de rocha em terras agrícolas por aqui apresenta o maior potencial de remoção de carbono em todo o mundo”, complementa Niklas.
Engenheiro ambiental Niklas Kluger é sócio e cofundador da InPlanet, empresa de remoção de carbono que atua em colaboração com agricultores para restaurar seus solos no Brasil.
Denise Guimarães/ Esalq/USP para InPlanet
Como tudo começou?
Por influência do avô, Kluger sempre se identificou com a área agrícola. Mais do que isso, sonhava em trabalhar com agricultura regenerativa. “Minha intenção era atuar com restauração de solo, encontrar soluções alternativas sustentáveis para o manejo agrícola. Sempre estive especialmente apaixonado por sistemas agroflorestais”, lembra.
Em 2013, Kluger teve o primeiro contato com o Brasil quando trabalhou em centros de crianças e adolescentes de uma ONG em São Paulo. O retorno ao país ocorreu no auge da pandemia de Covid-19, em 2021. Dessa vez, passou a atuar como gerente de projetos no Nordeste, pela mesma organização, e focou na restauração e agricultura familiar.
Niklas foi morar em São Paulo no início de 2022 para finalizar o mestrado e permaneceu em intercâmbio na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).
Da aproximação com docentes e pesquisadores da instituição, concretizou seu objetivo. “Meu objetivo então era trabalhar nos dois continentes, a América do Sul e Europa, desta vez investindo no mercado de carbono”, conta.
Máquina espalha pó de rocha em área cultivada de São Paulo.
Alexander Moskow/InPlanet
A InPlanet tem sede no Brasil e na Alemanha e está associada, desde 2023, à Esalqtec Incubadora Tecnológica da USP em Piracicaba.
“O Brasil já apresentava legislação vigente nesta área e, com a guerra na Ucrânia, aumentou a necessidade de encontrarmos vias alternativas que diminuíssem a dependência dos fertilizantes provenientes da Rússia”, salienta.
📝Nesta reportagem, você vai ver:
O que é intemperismo?
Como os nutrientes são aproveitados pelo solo durante o processo de intemperismo?
Quais são os benefícios para o solo e agricultura brasileira?
Qual é o potencial do Brasil nessa área e o impacto da técnica do intemperismo se adotada em larga escala no país?
É preciso investimento?
O que falta para aplicação em larga escala no Brasil?
Niklas Kluger e Felix Harteneck, sócios e fundadores da InPlanet, apostam no uso de pó de rochas para beneficiamento do solo na agricultura e opção ao uso de insumos fertilizantes importados no Brasil.
InPlanet
O que é intemperismo?
O intemperismo de rochas silicáticas nada mais é do que a dissolução ou a desintegração da rocha, explica Niklas Kluger.
“É o processo-chave da formação de solo. Cada solo do planeta hoje se formou através do intemperismo. Dessa forma, é um processo altamente natural de formação de solo e, dessa forma, de formação da vida terrestre também – o que acontece em nosso planeta, desde a existência mesmo, desde que tenham rocha e líquido, água e CO2 na nossa atmosfera”, explica.
“Além de formar solo, ou durante esse processo de dissolução de rochas, ocorre também o sequestro de CO2 na atmosfera”, ressalta.
“Toda água no nosso ambiente está com leve ácido carbônico. O que reage com a rocha é esse leve ácido carbônico. A chuva é o meio que faz a atmosfera interagir com a rocha. A chuva leva o CO2 junto consigo e forma essa ácido carbônico, um leve ácido que ataca a rocha e começa a dissolvê-la. Nesse momento, acontece a dissolução da rocha, o intemperismo”, explica.
Como os nutrientes são aproveitados pelo solo durante o processo de intemperismo?
“Quando tem um nutriente liberado, uma molécula de cálcio, de magnésio, de potássio, também vai se formar um bicarbonato, porque o cátion precisa de ânion. E o ânion, no caso, é o bicarbonato. O cátion é o cálcio, o magnésio, o potássio. O nutriente que o agricultor quer. Fora, aquilo que resta desse processo, que são as argilas, os minerais secundários dos quais os agricultores gostam muito porque as conseguem criar um solo vivo, cheio de nutrientes”, pontua.
Quais são os benefícios para o solo e agricultura brasileira?
“São “cobenefícios”, como costumam dizer os pesquisadores em carbono, que são a liberação dos nutrientes, o melhoramento da física do solo, o aumento da retenção de água, a correção de PH, a formação de novas argilas que criam um ambiente mais fértil e, por consequência, o aumento da produtividade do agricultor”, afirma Kluger.
Qual é o potencial do Brasil nessa área e o impacto da técnica do intemperismo se adotada em larga escala no país?
O pesquisador Nilklas Kluger e sociofundador da InPlanet, ressalta que, entre as potencialidades do Brasil, está o fato de o país ser considerado um país de mineração e de agricultura.
“São os dois lados fortes. A espinha dorsal da economia do Brasil é a mineração e a agricultura. Isso já mostra que além dos benefícios de ser um país tropical, tem solos intemperizados, tudo aquilo favorece o intemperismo mais eficiente, mais rápido. Temos um país de de agricultura e mineração. Exatamente duas partes que precisamos para essa tecnologia fazer sentido, a começar pelo investimento”, pontua.
Seria uma solução para o dilema da importação de fertilizantes?
“Sim. Esse dilema de ter uma produção forte, mas importar também fortemente os fertilizantes, que têm um alto valor agregado, meio que acaba deixando o Brasil naquele lugar de, sendo um poder econômico, mas não sendo realmente, sabe, comparado às economias top do mundo”.
Startup inova ao propor uso de rochas para sequestrar caborno no Brasil.
Alexander Moskow/InPlanet
É preciso grande investimento?
“O que é interessante dessa tecnologia é que o investimento pode ser relativamente baixo para escalar isso porque já há logística para transportar rochas. O agricultor já tem equipamento para espalhar rochas”, diz o especialista.
“A mineração já existe e está moendo rochas, produzindo agregado para o setor de construção civil. Não precisa ser nada mais do que uma peneira a mais na mineração. Talvez mais o moedor consiga produzir mais rochas. Mas, já há sistema básico. Não está uma ciência de foguete, sabe? Para produzir um pó de rocha. Dito isso, a base está aí. A infraestrutura já quase existe”, acrescenta.
O que falta para aplicação em larga escala?
“Precisamos investir na pesquisa, entendendo cada vez mais, criando cada vez mais provas científicas que esses insumos realmente têm todos esses impactos. Já existem muitas provas científicas, mas precisamos apontar outras mais para se tornar uma tecnologia estabelecida cientificamente. Também precisamos de incentivos ao setor de mineração para que eles possam produzir esses insumos em grande escala, em grandes quantidades. E aí, entra o mercado de carbono”, pontua.
“Essa é grande demanda do mundo inteiro, que está se formando com cada vez mais clareza. Cada vez mais demandas para uma compensação ambiental. […] Hoje em dia, temos milhões de toneladas de rejeitos, muitas minerações desse país que podem ser aproveitadas para essa tecnologia”, destaca.
“O que propomos não fornece não só uma solução ambiental, fornece a maioria dos benefícios para o agricultor também, o que reduz a dependência do Brasil de importação e que deixa nossos alimentos mais saudáveis”, conclui.
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