A melhor nota: como Brasil construiu candidatura de país sede para Copa Feminina de 2027

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Candidatura brasileira tem melhor avaliação nos estádios, acomodações e locais escolhidos para o Fifa Fan Festival; decisão sairá em congresso da entidade, na Tailândia, no dia 17 de maio Restam 10 dias para a decisão do país sede da Copa do Mundo Feminina de 2027. Na terça-feira, no entanto, a avaliação técnica da FIFA atestou: a candidatura do Brasil tem a maior nota, com 4 de 5 pontos possíveis – contra os 3,7 da proposta conjunta de Alemanha, Bélgica e Holanda.
Mas como esse projeto se construiu?
Idealizada por uma equipe majoritariamente feminina, a proposta tem seis pilares, estádios como legado da Copa de 2014, desenvolvimento do futebol feminino e Marta anfitriã em vídeo institucional. A decisão sairá no dia 17 de maio, em uma votação pública no Congresso da Fifa, na Tailândia.
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Assinada em abril de 2023, a candidatura do Brasil prevê o Mundial disputado entre os dias 24 de junho e 25 de julho de 2027, com datas escolhidas para minimizar os extremos de temperaturas de Norte a Sul do país. Trata-se de uma Copa com 32 países e 64 partidas a serem disputadas.
Uma década depois de sediar o Mundial masculino, o Brasil propõe a utilização de 10 dos estádios da última Copa, alguns deles com capacidade de público reduzida. Só ficaram fora a Arena das Dunas (Natal) e a Arena da Baixada (Curitiba).
– Essa capacidade reduzida foi uma questão comercial de um estudo que a gente fez – explica Valesca Araujo, responsável pelo planejamento de infraestrutura e operações da Copa, durante evento da Sports Summit, em São Paulo.
– Se não, teríamos estádios que não encheram, como ocorreu em 2014. No feminino, vai sair com uma capacidade reduzida que pode aumentar ou diminuir de acordo com a procura por ingressos.
Compare as propostas
Apresentação da candidatura do Brasil como país-sede da Copa Feminina de 2027
Camila Alves
Valesca trabalha há cerca de 20 a 30 anos com esportes, desde quando coordenou um dos pavilhões do Rio Centro no Pan-Americano, e faz parte da equipe responsável pela montagem da proposta.
Ela conta que para o Mundial participaram de um workshop da Fifa, e foi preciso comprovar capacidade hoteleira, infraestrutura, questões de direitos humanos e sustentabilidade, além de entender o tamanho do que seria uma Copa Feminina agora.
– O Workshop trouxe detalhes do que a Fifa espera e depois disso fomos formatar o BID Book, com número de hotéis, centros de treinamento e garantias do Governo Federal. Tínhamos tentado no ciclo anterior, não teve muito apoio, mas dessa vez as três esferas do governo e a Conmebol estão nos apoiando – afirma.
– Não é só a Copa do Brasil, mas da América do Sul. Vai ser a primeira vez de um evento feminino desse porte na América do Sul.
Notas técnicas para as candidaturas
Apresentação da candidatura do Brasil como país-sede da Copa Feminina de 2027
Camila Alves
Linha do tempo
Abril de 2023: Assinatura da oficialização da candidatura
Julho de 2023: Participação no BID Workshop durante a Copa do Mundo na Austrália
Dezembro de 2023: Entrega do Book e das garantias governamentais na sede da FIFA, na Suíça.
Fevereiro de 2024: Visita técnica da FIFA a sedes propostas para avaliação.
Maio de 2024: Congresso da FIFA e votação da sede da Copa de 2027.
As documentações foram entregues em 7 de dezembro do ano passado, e em fevereiro de 2024 a Fifa esteve no Brasil, durante quatro dias, para as visitas técnicas com especialistas. Visitas dos estádios, mas também de alguns centros de treinamento a serem utilizados na competição.
Foram apresentadas 36 cidades com CTs para as seleções e para as equipes de arbitragem, que são tratadas como uma 33ª equipe na competição. Tem a mesma estrutura, campo exclusivo e equipe dedicada. Outros locais, aliás, ainda podem ser acrescentados à lista.
O Brasil recebeu melhores notas nos estádios, acomodações e locais para o FIFA Fan Festival, enquanto a candidatura de Alemanha, Bélgica e Holanda teve melhor avaliação nas instalações para equipes e árbitras e centros de mídia.
Avaliações de risco
Parte dos estádios em apresentação da candidatura do Brasil como país-sede da Copa Feminina de 2027
Camila Alves
Por que agora no Brasil?
Como representante da equipe de proposição, Valesca fala sobre a paixão do Brasil pelo futebol e mostra que utilizaram números para comprová-la diante da Fifa. Entre eles:
840 mil meninas e mulheres jogam futebol, e 7 mil competem no esporte.
O futebol feminino tem torneios das Séries A1, A2 e A2 e para categorias de base.
40 jogos do Brasileiro Série A1 são transmitidos na TV anualmente e a audiência cresceu 225% entre 2022 e 2023.
42 mil pessoas assistiram a final do Brasileiro Feminino 2023 na Arena Corinthians.
1.308% de aumento de audiência no horário das 7h às 10h na TV aberta durante a Copa do Mundo Feminina 2023.
68 milhões de brasileiros assistiram a Copa do Mundo de 2023 pela TV.
Mais de 7 milhões acompanharam o streaming da Conmebol Libertadores Feminina.
Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues assina documento de candidatura do Brasil a sede da Copa Feminina de 2027
Lesley Ribeiro/CBF
Estratégia e Legado da Copa
A marca utilizada faz referência às formas femininas e a cor da água, que está presente na gota de suor das atletas, na água que bebem, na irrigação no campo. É uma logo da candidatura, inclusive, não do evento. Caso seja escolhida como sede, portanto, cria-se uma nova identidade.
A estratégia se baseia em seis pilares que propõe entregar uma Copa do Mundo “ambiental, financeira e socialmente sustentável”. São eles:
Brasil, um anfitrião natural: a experiência e infraestrutura pronta de eventos anteriores.
Legado humano: oferecer programas para pavimentar a presença de mulheres como liderança no esporte, no Brasil e na América do Sul.
Desenvolvimento da base ao alto nível
Sustentabilidade como estratégia: posicionar o evento como ápice de políticas públicas de desenvolvimento sustentável.
Conexão com uma nova geração de fãs
Direitos das mulheres: promover discussões e ações concretas de proteção para jogadoras, treinadoras, jornalistas, trabalhadoras, voluntárias e torcedoras.
Questionada pela reportagem sobre o funcionamento dos programas para mulheres em cargos de liderança, Valesca Araujo explica que em 2014 havia um comitê organizador montado pelo Brasil.
Dessa vez, uma mudança da Fifa nos protocolos dos Mundiais determina que uma subsidiária da entidade faça a organização. É nesta equipe da subsidiária que o Brasil pretende negociar a presença de mais mulheres.
A identidade visual da candidatura do Brasil a sede da Copa do Mundo de 2027
Divulgação
Os estádios, por sua vez, fazem parte da citada infraestrutura pronta do Brasil. O comitê recebeu ofertas de outros estádios pelo país, mas restringiu a escolha às estruturas prontas: as 10 Arenas usadas na Copa de 2014.
Serão necessários ajustes apontados pela Fifa, mas relacionadas a luz e manutenção de gramado, por exemplo, além de áreas VIP para convidados.
As capacidades totais
Mineirão: 66 mil
Mané Garrincha: 69 mil
Arena Pantanal: 42 mil
Arena Castelão: 57 mil
Arena da Amazônia: 42 mil
Estádio Beira-Rio: 49 mil
Arena Pernambuco: 45 mil
Maracanã: 79 mil
Notas dos estádios do Brasil na avaliação
Agora, com base nesses dados, o Brasil se prepara para uma apresentação final a ser feita no Congresso da Fifa. Terá 15 minutos para convencer o conselho da entidade máxima, em que pretende apresentar principalmente a condição da Copa como fundamental para o desenvolvimento a ser feito no futebol feminino do país.
O evento da Sports Summit, que recebeu a apresentação sobre o Mundial, começou na terça-feira e também recebeu palestras da WSL, Atlético de Madrid, E-Sports e temas como sustentabilidade, mulheres no esporte, patrocínios, direitos e apostas esportivas. Ainda há painéis na quarta e quinta-feira.
Candidatura para Copa Feminina de 2027: FIFA visita o Maracanã

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