A renovação pode esperar: Argentina mostrou sua identidade na estreia da Copa América

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Há vinte anos (ou seis edições), a Copa América não contava com a presença da vigente seleção campeã do mundo. Há vinte anos (ou seis edições), a Copa América não contava com a presença da vigente seleção campeã do mundo. Mais especificamente, desde quando o pentacampeão Brasil venceu o torneio disputado no Peru, em 2004, com Adriano Imperador pulverizando os sonhos argentinos. Duas décadas depois, a própria Argentina abriu a competição ostentando a sua terceira estrela mundialista, que devolveu a Copa do Mundo ao continente sul-americano após longo e traumático hiato.
A vitória contra a aplicada e exigente seleção canadense, em embate que teve punhados de chances para todos os lados, mostrou La Scaloneta em sua essência. Uma equipe que abdica de jogadores pelos extremos do campo, esta febre tática quase global, para praticar um jogo que remete às raízes do futebol sul-americano — na várzea, nos potreritos, no asfalto. Toques curtos, aproximação, drible e infiltração. E tem os jogadores perfeitos para executar este tipo de conceito. Assim, em trabalho quase artesanal, foram costurados os gols de Julián Álvarez e Lautaro Martínez. 
Ao contrário de Brasil e Uruguai, que já começam a rejuvenescer as suas seleções com a convocação de atletas promissores, a Argentina não parece ter pressa para iniciar seu processo de renovação. Mesmo que Di María já tenha anunciado a sua aposentadoria do selecionado após a Copa América, que não se saiba se Messi estará presente na Copa de 2026. Mesmo que outros referentes, como Armani e Otamendi, também estejam nos seus últimos tempos com a jaqueta albiceleste. 
É claro que existe a necessidade de se pensar no futuro, mas antes de mais nada é preciso desfrutar da glória recente. Talvez Lionel Scaloni tenha decidido, quem sabe mesmo de forma inconsciente, permitir aos argentinos (e a todos nós) aproveitar ao máximo a formação que há um ano e meio conquistava o mundo, encerrando um jejum de 36 anos. O dia que ainda ecoa de Salta até a Patagônia, quando Messi se postou ao lado de Gardel, Evita e Maradona. E, para melhor deleite, que esteja sempre em campo o máximo de veteranos campeões, tricotando e rabiscando, num eterno epílogo canchero da histórica rusga contra a França. Exceto por três nomes, a formação que começou o jogo contra o Canadá era a mesma que iniciou a final da Copa do Mundo.
Salta aos olhos como hoje os jogadores argentinos entram em campo livres daquele saco de cimento existencial que cada um deles levava amarrado nas costas até 18 de dezembro de 2022. Inclusive, o próprio jogo parece fluir sem as antigas amarras e angústias: competem em ritmo de exibição, como para reconstituir a conquista, quase uma outra revolução pátria, todos os dias. E as honrarias se renovam de forma permanente — não aquelas oficiais, mas as mais genuínas, da arquibancada e das ruas, em cada tatuagem na panturrilha ou mural que surge dobrando a esquina. A renovação, portanto, que espere com parcimônia, pois está longe de acabar o tempo de celebração. 
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