Achei! Chaveirinho, ex-Flamengo, quer virar a chave do sucesso para jovens: “Eu era um improvável”

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Ex-jogador Evandro iniciará projeto de mentoria para garotos que estão tentando se tornar atletas profissionais O rubro-negro que acompanhou o time nos nos anos 90 se acostumou a idolatrar Romário, o baixinho mais famoso da década. Outro pequenino jogador ganhou imensa admiração e se tornou xodó da torcida do Flamengo. E a identificação instantânea que seu sorriso fácil provocava tornou-se ainda maior com a entrega em campo e um apelido para lá de carismático: Chaveirinho.
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Em 1997, Evandro Chaveirinho fez seu gol mais bonito pelo Flamengo, na vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro
O apelido
Meio-campista de sucesso no surpreendente Goiás em 1996, ano em que o clube foi quarto colocado no Brasileirão, o baixinho de 1,65m chegaria à Gávea no verão do ano seguinte conhecido somente pelo nome de batismo e por um futebol composto por velocidade, raça e técnica para jogar com o pé esquerdo.
Evandro resolveu raspar o cabelo e tudo mudou após comentários de dois Juniors que estavam no Flamengo. O Baiano, zagueiro brincalhão por natureza, levantou a bola. O Capacete, treinador da equipe e ídolo do clube, cortou, rebatizando o reforço rubro-negro. A ideia era comparar o meia ao ídolo Michael Jordan pela semelhança física entre os dois.
– Eu cheguei do Goiás e raspei a cabeça, fiquei bem careca. E no (treino de) chute a gol lá no Fla-Barra, eu vinha voltando do trabalho, e o Júnior Baiano falou assim: “Ih! Que é isso, Michael Jordan?” Por causa do gol que eu fiz. E ele falou: “Cara, ele é a cara do Michael Jordan”.
– Aí o Júnior Maestro, que era o meu treinador, vira e fala: “Pô, você tá de sacanagem, Baiano. Michael Jordan tem dois metros de altura. Ele vai no bolso do Michael Jordan, ele é o chaveiro do Michael Jordan. É o chaveirinho. E, cara, quando você não gosta do apelido, ele pega, né? Na hora eu retruquei, né? – relembra.
Evandro Chaveirinho foi muito querido pela torcida do Flamengo no ano de 1997
Arquivo Pessoal
Se a primeira reação foi negativa, tudo mudou rapidamente. A torcida adorou e adotou, Evandro Chaveirinho deslanchou em campo e tornou-se xodó rubro-negro em 1997.
– Fiquei meio assim, mas aí depois foi “Chaveirinho pra cá, chaveirinho pra lá…” Cara, hoje ninguém me chama de Evandro, só de chaveirinho. A torcida gostou e gritava no Maracanã. Foi muito bom.
Chaveirinho com a camisa do Fla Master, time cujo presidente é Adílio
Arquivo Pessoal
Chaveirinho quer virar chave do sucesso da garotada
Ex-jogador desde 2009, hoje o Chaveirinho, aos 53 anos, “quer virar a chave do sucesso para jovens” que pretendem se profissionalizar no futebol. No próximo dia 20, às 20h, ele fará uma live em sua conta no Instagram (@evandrochaveirinho) para apresentar um curso de mentoria a garotos chamado Comunidade de Atletas Chaveirinho (clique aqui e conheça).
Aos pupilos, além de dicas técnicas, táticas e comportamentais, Evandro contará a história de um jovem “improvável” que conseguiu sair de Mesquita, iniciar na base de um grande clube como o Vasco e realizar em 1997 o sonho de vestir o vermelho e preto que usava desde pequenininho.
– De Chaveirinho virar a chave, a chave do sucesso pra essa garotada aí. Vou passar ensinamentos de passes, chutes, dribles e cabeceio, mostrando na prática de como fazer um passe perfeito, um domínio perfeito. Até porque eu saí da comunidade, em Mesquita, em Nova Iguaçu, e cheguei no Flamengo. Como é que foi isso? Essas pessoas que estarão na Comunidade de Atletas Chaveirinho vão saber como fiz para chegar onde cheguei. Eu era um improvável – conta Chaveirinho, que hoje mora em Brasília, onde deu aulas de futebol para crianças, trabalhou com captação de atletas e também fez parte da Secretaria de Educação.
E por que Evandro era improvável?
– Eu me considerava um improvável porque imagina você ser criado sem pai, minha mãe tinha cinco filhos morando com minha avó lá em Mesquita. Ninguém nunca ouviu falar de Mesquita, uma comunidade totalmente pobre, precária. E ninguém nem falava em nós. Eu não tinha como estudar, eu não tinha como me alimentar direito por toda a dificuldade que tive. E, de repente, chegou um projeto social nesse bairro, ali na Chatuba, em Mesquita. E eu, por muita insistência, vou para esse projeto social que dava para gente lá um pouquinho de vitamina, aquela vitamina rosa e uma bolachinha pra gente comer. E eu fui por causa disso, por toda a dificuldade que eu passava de alimentação, e, de repente, nessa comunidade, um instrutor dessa comunidade que era ex-goleiro do Flamengo chamado Ari Carlos Seixas me vê lá e, ele, como instrutor, vai e procura saber da minha vida. Eu explico pra ele, ele viu graça em mim, passaram-se dois meses, ele foi na minha casa conversar com minha mãe e com minha vó para que eu pudesse ir morar na casa dele.
– Ele estava me adotando pra que eu pudesse jogar futebol e ter uma condição melhor. Ele faz isso, vai no Juizado de Menores, me adota como filho, me leva pra casa dele, me trata como filho e a partir dali eu começo a ter um colégio, a me alimentar, a treinar. Vou para o Vasco da Gama iniciar minha carreira de jogador de futebol, então por isso que eu acho que eu fui improvável. Não havia condições naquele local para eu chegar a ser a pessoa que eu fui no futebol. Ninguém ia lá, não tinha ajuda de governo, não tinha nada, e eu consegui. Então, a necessidade na minha casa era muito grande, muita dificuldade mesmo, e eu cheguei a ser ídolo da torcida do Flamengo. Jamais iria imaginar que eu ia jogar no Flamengo, meu clube do coração, saindo lá da Chatuba, no Rio de Janeiro. Mas, volto a dizer, fui improvável, sim, mas escolhido também.
Evandro, o Chaveirinho do Michael Jordan
Arquivo Pessoal
Sonho de um ano só e o troco no jogo dos R$ 3
Rubro-Negro desde o berço, Evandro teve o sonho abreviado pela montagem de uma das “Selefla” que não deram certo, acredita o ex-jogador. Para ele, apesar do carinho da torcida e do destaque, Paulo Autuori preferia o promissor Iranildo. Além disso, a chegada de badalados jogadores era certeza de poucos minutos em campo. O sonho de jogar pelo Flamengo ficou somente em 1997.
– Eu estava motivado no Flamengo, tendo o apoio dos torcedores. É muito difícil jogar no Flamengo e quando se consegue o apoio do torcedor é porque você realmente tem dado uma resposta. Recebia muitas cartas, ia aos programas esportivos. O Paulo Autuori pediu Palhinha, Rodrigo Fabri, Cleison e Zé Roberto. E no fim do campeonato (Brasileiro de 1997) ele por muitas vezes tentou botar o Iranildo no time. Iran era um baita jogador, mas quem jogava era eu. Eu tinha muita mais força física, mais participação na parte tática da equipe por uma entrega maior, mas o Iran é craque. De repente o Paulo Autuori fez isso porque foram campeões no Botafogo. Todo mundo tem suas preferências, tudo bem, mas já fiquei chateado por isso.
Evandro Chaveirinho com a camisa atual do Flamengo
Arquivo Pessoal
A perda de espaço no fim de 1997 fez o então presidente Kleber Leite negociá-lo com a Portuguesa. O troco viria durante o Campeonato Brasileiro de 98. Kleber lançou uma promoção em que prometera aos torcedores que devolveria o ingresso de R$ 3 em caso de derrota para a Lusa.
– Quando trouxe Palhinha, que era um cara renomado, Rodrigo Fabri, que veio do Real Madrid, Cleison e Zé Roberto pensei que ia ser complicado de eu jogar. E a Portuguesa, por ter parte do passe do Rodrigo Fabri, fez um acordo com o Kleber Leite, que queria fazer um super time. Kleber Leite é um empresário, empreendedor, ele não queria saber se fulano ou cicrano estavam bem. Ele quis fazer um barulho, sacudir a torcida, mas esqueceu que eu estava no time.
Em 1998, Flamengo perde no Maracanã lotado para a Portuguesa pelo Campeonato Brasileiro
– Saí, Kleber Leite me liberou para a Portuguesa, e nós viemos jogar contra o Flamengo no Maracanã nós ganhamos de 3 a 2. Foi aquele jogo que o Kleber Leite disse que ia devolver o dinheiro para a torcida se não ganhasse da Portuguesa. Ele teve que engolir e devolver porque ele cometeu esse erro. Fiquei muito chateado. Muitos torcedores perguntaram: por que você saiu, Chaveirinho? Foi o Kleber Leite, mas eu sou muito grato à torcida do Flamengo. Tudo na minha vida que me aconteceu é por causa desse time que me projetou em nível nacional. Então, Flamengo, muito obrigado. Obrigado, Raça Rubro-Negra, Flaponte.
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Mais sobre os 3 a 2 da Portuguesa sobre o Flamengo
– Foi um jogo muito pegado, e nós jogamos muito bem. Flamengo teve jogador expulso, Evair numa tade maravilhosa. Nosso time era muito bom, e o Flamengo também. Romário, Marcos Assunção… Acho que foi por causa da sacanagem dos dirigentes. Importante é que saí bem do Flamengo e jamais tive mágoa do Flamengo. Pelo contrário, tenho o maior orgulho de ter representado a nação.
Carreira “completa” com o Flamengo
– Ah, cara, você deixar o Flamengo para qualquer um é doloroso. Todo jogador – todos, sem exceção – quer jogar no Flamengo. E eu tive esse privilégio de jogar no Flamengo, onde impulsionou minha carreira, onde me deu visibilidade. A gente brinca muito assim: “Quem não jogou no Flamengo ficou faltando alguma coisa na carreira”. E comigo então não faltou nada, sou muito grato, muito feliz de ter vestido esse manto aí, cara, e até hoje a gente está aí torcendo. Eu jogo no Fla-Master com Adílio, Tita, Mozer, com Nélio, Beto, Angelim, Marquinhos, Jorginho, Adriano.
Evandro fez três gols pelo time do Flamengo, um deles contra o Rio Branco, do Acre, pela Copa do Brasil
Orgulho de representar os amigos que pegavam trem
– A gente cresce ouvindo falar do time do coração, eu desde menino sempre sonhei em jogar futebol, embora muito distante da minha realidade. Então quando eu me vi no Flamengo, foi uma realização de um sonho. Eu falava: “Rapaz, que eu sempre sonhei em jogar no Flamengo, o Flamengo é um time que dá visibilidade, o Flamengo é um time que todos temem”.
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– Quando entrava em campo, eu queria representar aquela torcida, eu queria dar o máximo porque eu entendia que quantas vezes eu via meus amigos saindo do lado de Mesquita, dentro da Baixada, para ver jogo no Maracanã. Aquela saga, aquele sofrimento no trem, aquela luta. E eu agora estou representando esses torcedores? Nada mais justo de fazer com que eles voltem para casa felizes, alegres.
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– Então eu consegui, não foi nem com títulos, porque eu não conquistei tantos títulos no Flamengo. Mas pela forma de eu jogar, com entrega em campo, porque tem que ter, porque o Flamengo é isso. O Flamengo é entrega, o Flamengo é você suar dentro de campo. Eu procurei fazer isso. E até hoje, aonde eu vou, eu sou honrado pelo torcedor do Flamengo, as pessoas têm o reconhecimento por tudo que fiz. Então, para mim, não teve coisa melhor do que eu defender o time do meu coração e até hoje ser honrado e respeitado por ter suado e defendido com garra as cores do Flamengo.
Todos os gols pelo Flamengo de pé direito e um golaço contra o Cruzeiro que “viraria placa se fosse Romário”
– Sou totalmente canhoto, mas se você buscar meus gols tem com a perna direita também (risos). Tudo por causa do treinamento, por isso vou dar essa mentoria para dar todas essas dicas. Contra o Cruzeiro, inclusive, se fosse o Romário os caras iam botar uma placa lá, mas tudo bem. Foi um gol muito bonito, e nós trabalhamos a semana toda essa movimentação. Deu certo no dia, foi bom demais. Golaço (veja abaixo).
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