As origens de John Kennedy, o “espoletinha” que encantou o Fluminense e pode garantir futuro de clube mineiro

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ge vai a São João del-Rei visitar instalações do Social Futebol Clube e conhecer pessoas que participaram da formação do atacante tricolor; veja vídeo e fotos “Por aqui já passou um menino sonhador que tem um sonho de ser jogador profissional. Ele nunca desistiu porque ele tinha fé”.
Já não é mais tão fácil ler a frase escrita a lápis em uma das paredes do dormitório do Social Futebol Clube. Desenhadas ali faz alguns anos, as palavras ganharam vida na história de um dos meninos que saiu do time de São João del-Rei. Poucos anos depois de deixar Minas Gerais, John Kennedy conquistou a América com a camisa do Fluminense.
A passagem pela cidade histórica mineira foi curta, mas deixou marcas. O ge visitou as origens de John Kennedy para contar a história do menino “marrento”, “nervosinho” e “espoletinha”, que por causa da personalidade forte abraçou o destino sonhado por tantos outros.
Conheça as origens de John Kennedy no Social, clube de São João del-Rei
Social Futebol Clube
Na Rua João de Deus Assunção, 200, no bairro humilde de Matosinhos, nasceu o clube que revelou John Kennedy para o Brasil. Hoje rodeado por casas e abraçado pela comunidade, o Social projeta no atacante a oportunidade de crescer e retomar o protagonismo em São João del-Rei.
Social Futebol Clube revelou John Kennedy, atacante do Fluminense
Emanuelle Ribeiro/ge
Estádio do Social, em São João del-Rei
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O clube amador, que já foi casa de outros jogadores profissionais como Cláudio Caçapa e André Luiz, hoje sobrevive dos sócios, que utilizam a piscina, e dos bailes – eventos realizados aos fins de semana.
– Os bailes ajudam muito o clube. Tem forró, seresta, são muito bons – garantiu Chico Explosão, presidente do Social na época em que John Kennedy defendeu o clube: – No domingo às vezes eu deixava os meninos irem um pouquinho de tarde, mas sábado deixava não. Sábado eu chamava ele era pra jogar uma pelada comigo no time de veteranos (risos). Era nervosinho, mas bom de bola.
Social sobrevive dos sócios e dos eventos aos fins de semana
Emanuelle Ribeiro/ge
É com John Kennedy que o Social espera, num futuro breve, voltar a fortalecer a base, captando jovens do Brasil inteiro, como já aconteceu antes, caso do atacante do Fluminense.
O jogador, dispensado por América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro, deixou Itaúna para fazer um teste em São João del-Rei, a 200 quilômetros da sua cidade natal. Passou de cara e mudou-se para o Social, aos 15 anos. Em poucos meses, um lance mudaria sua vida para sempre.
John Kennedy chegou ao Social em 2017, para o time sub-15
Reprodução
No contrato de empréstimo com o Fluminense ficou determinado que o Social manteria 40% dos direitos econômicos de JK em caso de venda futura. O clube carioca poderia até comprar outros 20% por R$ 200 mil até 2018, mas não acionou a cláusula. Recentemente, o Tricolor recusou proposta de R$ 53 milhões do Lyon, da França, pelo atacante de 21 anos.
Social, clube de São João del-Rei
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“Vou ficar com aquele espoletinha”
– Eu sou muito explosivo. Tipo, eu tô bem, tô calmo, aí do nada eu começo a… aí eu faço alguma coisa, tipo, me estresso.
Em entrevista ao ge, em janeiro, John Kennedy destacou sua personalidade forte antes da disputa do Pré-Olímpico com a seleção brasileira. O comportamento pode até tê-lo atrapalhado nos últimos anos, mas foi por causa do temperamento que o menino chegou ao Fluminense.
– Ele entrou no jogo contra o Red Bull Bragantino, que a gente precisava ganhar pra classificar. O zagueiro do Bragantino jogou ele em cima da grade, do mesmo jeito que ele bateu ele voltou e foi pra cima do cara. Os dois foram expulsos – lembrou o atacante Lolote, companheiro de JK no Social.
John Kennedy, à esquerda, na base do Social
Social
Bastou esse lance para o Fluminense se interessar por John. Na ocasião, em 2017, o Social disputava a Taça BH Sub-17, campeonato de base de relevância nacional. Depois da expulsão do atacante, o time conseguiu fazer o gol e vencer o Bragantino por 2 a 1.
Mas aquela foi a última participação de JK pela equipe são-joanense, eliminada pelo Palmeiras no jogo seguinte, nas oitavas de final.
– Muito abusado, muito corajoso, não temia nada e mostrou isso contra o Red Bull. Franzino, baixinho, os caras todos altões, fortes. Depois desse lance, o Ricardo Corrêa (observador do Fluminense) falou: “Vou querer ficar com aquele espoletinha”. Realmente ele tem personalidade, a gente acompanhou, o moleque é diferenciado – contou André Luiz, gerente da base do Social na ocasião.
– Ele se destacou nesse jogo contra o Bragantino, mas ele vinha se destacando ao longo do Campeonato Mineiro Sub-15, até subiu alguns jogos pra jogar com a gente no sub-17. O John sempre teve essa personalidade, sempre foi desse jeito. Fora de campo era extrovertido, brincalhão, mesma essência – acrescentou Lolote, que ainda joga no time amador do Social.
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Lolote, companheiro de John Kennedy na base do Social
Arquivo pessoal
André Luiz jogou futebol profissionalmente. O ex-zagueiro defendeu Atlético-MG, Nancy-FRA e Palmeiras. Após encerrar a carreira voltou a São João del-Rei, sua terra natal, para ajudar o Social, clube pelo qual atuou na base. Como dirigente, foi o responsável por captar John Kennedy e por negociá-lo com o Fluminense.
– Nós temos uma parceria com o Fluminense, documentada em contrato. Se ele for vendido esse dinheiro vai ajudar demais o clube, 40% da venda do John Kennedy creio que vai ser um valor muito interessante para o Social. Vai ajudar muito na formação de novos atletas – destacou André.
Campo do Social, onde John Kennedy jogou antes do Fluminense
Emanuelle Ribeiro/ge
Social foi casa e família para JK
A cidade com cerca de 90 mil habitantes é conhecida pelas atrações históricas, com igrejas, museus e casarões coloniais, e também pela Universidade Federal. Mas o futebol sempre esteve enraizado na cultura de São João del-Rei, que hoje tem o Athletic, rival do Social, disputando a primeira divisão do Campeonato Mineiro.
O dormitório de John Kennedy ficava debaixo desta arquibancada
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Por causa desses clubes, centenas de meninos chegaram à cidade nos últimos anos e encontraram lá uma segunda casa. É a história de John Kennedy, que viveu no alojamento debaixo de uma das arquibancadas do Social e frequentou uma das escolas públicas de São João.
– Aqui era a casa deles. O pessoal do Social tem essa vantagem, eles abraçam os meninos aqui. Tem a piscina, o bar, é um clube muito familiar. Depois dos jogos no fim de semana eles encontravam os torcedores aqui, iam pra casa deles. A casa dele era aqui, e os familiares eram os sócios, os torcedores, a diretoria, pessoal muito carismático – afirmou André Luiz.
– Os meninos aqui não tinham o pai, a mãe, não tinham ninguém por eles. Quem estava mais próximo era eu. No café da manhã, no almoço, sempre eu ali por eles – disse o cozinheiro Miller Carvalho em entrevista ao Esporte Espetacular no ano passado.
Dormitório onde John Kennedy viveu hoje é a lavanderia do Social
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O ge conheceu o dormitório onde John Kennedy morou por alguns meses antes de chegar ao Flu. O cômodo hoje serve de lavanderia, já que o clube não conta mais com atletas de fora de São João del-Rei. Na Escola Estadual Tomé Portes Del-Rei, onde o atacante estudou, ficou a lembrança vaga de um menino que era bom em fazer contas:
– John Kennedy foi nosso aluno por muito pouco tempo em 2017. Nós atendemos muitos alunos que vêm de fora pra jogar futebol aqui. Ele passou aqui um bimestre, o que posso falar é que as melhores notas dele eram em matemática. É um orgulho muito grande pra escola – recordou o diretor Diorge Juliano Silva.
Ficha cadastral de John Kennedy em escola de São João del-Rei
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Escola onde John Kennedy estudou em São João del-Rei
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O Social de Chico Explosão, André Luiz, Lolote, Miller, do segurança Nena, do “faz tudo” Salim, dos forrozeiros dos bailes de fim de semana, dos sócios e torcedores vibra de longe com o sucesso de John Kennedy, que prometeu aos velhos amigos voltar qualquer dia para um café com pão de queijo.
Enquanto o reencontro não acontece, os são-joanenses ficam de olho no futuro do menino, que em algum momento vai garantir também o futuro do clube.
– É muito bom a gente ver um cara que cresceu aqui com a gente realizando o sonho que todo mundo queria. Daqui pra frente só vai crescer mais e mais. Passa um filme na cabeça. O cara que começou aqui com a gente deu a Libertadores pro Fluminense – concluiu Lolote.
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John Kennedy saiu de São João del-Rei em 2017 para o Fluminense. Decisivo desde a base no clube carioca, carrasco em Fla-Flus, o atacante foi lançado no profissional em 2021. No primeiro clássico contra o Flamengo foi protagonista, com dois gols na vitória por 3 a 1.
Após uma boa Copinha, o ano de 2022 no profissional não foi bom. Acumulou polêmicas ao longo da temporada e no fim do ano foi emprestado para a Ferroviária, onde iniciou a volta por cima que culminou em idolatria no Fluminense, com o gol do título da Libertadores em 2023.
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