Brasileira é destaque de time sub-12 feminino campeão em torneio masculino na Inglaterra

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“No começo, os meninos riam”, conta Mariah Silva, de 12 anos, que concilia futebol e estudos em Bournemouth; Ela já foi notícia no “New York Times” e sonha com a seleção brasileira Quando uma notícia transcende uma bolha, a frase “deu no The New York Times” aparece como validador de importância. Foi assim que a família da brasileira Mariah Silva, de 12 anos, que mora em Bournemouth, na Inglaterra, se sentiu ao ver o nome do time amador Queens Park Ladies estampado em reportagem do jornal americano.
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Mariah conta relação com os meninos durante a competição
O Queens Park Ladies, time sub-12 formado apenas por meninas, ganhou fama na Inglaterra ao conquistar em abril o título invicto da Bournemouth Youth Football League, uma liga disputada por times masculinos, com 18 vitórias e quatro empates. O feito se tornou notícia no país, publicada também pelo “The Guardian”, atravessou fronteiras e fez as responsáveis aparecerem em programas de TV, com direito a entrevistas ao vivo. A competição é com nove jogadores de cada lado.
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– A gente sentiu muito orgulho, nunca pensou que fosse conseguir uma conquista tão boa. No começo da temporada, os meninos não aceitavam a gente jogando, riam, só um time de menina, vai ser fácil. Mas aí perceberam que não era um time comum, que tinha chance de ganhar deles. Uma parte dos meninos ficou brava, técnico do outro time falou para um dos meninos me irritar para eu desfocar, mas não funcionou, porque estou sempre focada – afirmou Mariah ao ge.
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Pai de Mariah, Arthur, de 51 anos, deixou o país no fim de 2020. Carioca, ele morava na época em Bicas, em Minas Gerais. Veterinário de formação e com passaporte português, desembarcou em Bournemouth em busca de novas oportunidades de emprego depois de ser dispensado do trabalho de representante comercial de uma farmacêutica.
Carrossel Mariah Queens Park Ladies
Infoesporte
Arthur precisou passar pela quarentena de Covid, arrumou um trabalho em um açougue brasileiro e aguardou mais de seis meses até que sua esposa, Helga, de 44 anos, conseguisse viajar com as filhas Mariah e Marisa, de 16 anos, que sonha com a faculdade de medicina e ganhou bolsa de estudos em colégio de elite na Inglaterra. Hoje, pai e mãe são cuidadores de pessoas do espectro autista.
No meio da empreitada por melhores condições de vida para as filhas, Arthur e Helga, que foram atletas de basquete e vôlei, respectivamente, investiram no talento de Mariah. A menina jogava futebol em Juiz de Fora e se desenvolveu no esporte desde a chegada em Bournemouth há quase três anos. Hoje, além de jogar pelo Queens Park Ladies, ela atua nas categorias de base do Bournemouth, clube que disputa a Premier League, e na escola onde estuda.
Quenns Park Ladies, time sub-12 campeão em torneio masculino na Inglaterra
Arquivo pessoal
– Isso é o que eu quero fazer. Já entrei para um time profissional (clube formal) aos 11 anos, então eu acho que consigo evoluir para conseguir fazer mais coisas. Eu tenho um sonho, se tiver a oportunidade, de jogar na Espanha, França, pelo Paris Saint Germain – disse Mariah.
Mariah defende pênalti em torneio disputado pelo Bournemouth
Mariah sempre jogou de goleira. No começo, ainda no Brasil, não tinha luvas, e o medo de machucar as mãos na brincadeira com os meninos fez com que usasse mais os pés para fazer as defesas. Hoje, em ambiente bem mais organizado, virou especialista em defender cobranças de pênaltis, inclusive dando o título da Hampshire Cup ao Bournemouth com duas defesas, nesse caso em disputa apenas contra times femininos sub-12 em uma liga regional, em campos com 11 de cada lado.
– Mariah sempre foi diferente, ela pensa diferente das pessoas, tem uma relação diferente. Não imaginaria ela não sendo goleira. Goleira precisa pensar diferente, encarar pressão de forma diferente dos outros atletas. Tem tudo a ver com a personalidade dela ser goleira – contou Arthur, que costuma levar a filha em jogos do time feminino do Bournemouth e foi com a família assistir a Inglaterra 1 x 1 Brasil, em Wembley, no ano passado, pela Finalíssima Feminina, quando a seleção brasileira foi derrotada nos pênaltis por 4 a 2.
Família de Mariah em Wembley na Finalíssima
Arquivo pessoal
Torcedora do Flamengo – ela bebeu água durante a entrevista em copo do clube -, Mariah tenta assistir aos jogos, ainda que o fuso horário atrapalhe, e os pais fiquem atentos. Fã de Pedro e Arrascaeta, a menina tem seus sonhos bem trabalhados, como o de no futuro defender a seleção brasileira, ainda que tenha sofrido pressão dos ingleses em programas de TV para escolher a Inglaterra.
– Eu prefiro jogar pela seleção brasileira. Eu acho melhor. Mas a primeira oportunidade eu pego – disse Mariah, incentivada pela mãe.
– Pode falar alto, não tem ninguém ouvindo – comentou Helga.
Nessa relação com a seleção brasileira, Helga ainda contou sobre a oportunidade de conhecer Danilo, da Juventus. O jogador é de Bicas, onde o casal carioca morou durante um bom tempo, e as famílias acabaram se conhecendo.
– A gente conhece a família dele. Um dia, visitando Bicas, onde ele tem uma casa, fez uma sala de troféus – explicou Helga.
– Tenho uma blusa com o autógrafo dele – contou Mariah
Mariah e Marisa com Danilo em 2018
Arquivo pessoal
Na dura rotina para uma criança de 12 anos, Mariah mantém o sorriso no rosto. As palavras em português já começam a fugir pelo tempo que passa falando inglês em sua rotina. Estudar o dia inteiro, treinar cinco vezes por semana em três times e ajudar nos afazeres de casa fazem parte da vida da goleira, de 1,67m de altura – o pai tem 2m, e a mãe, 1,92m.
– Tem dia que não dá tempo de eu passar em casa, e minha mãe tem que ir me buscar na escola para ir ao treino, que fica a uns 40 minutos daqui. Chego querendo comer e dormir, mas ainda tenho que fazer dever de casa, tomar banho, arrumar meu quarto. Não tenho tempo para fazer outras coisas. Só fico jogando futebol, mas já me acostumei depois de um tempo e estou melhor, menos cansada, consigo prestar mais atenção – contou Mariah, que recentemente assistiu a Chelsea 0 x 2 Barcelona pela Champions League Feminina, como prêmio pelo título da Hampshire Cup.
Mariah explica sua rotina diária na Inglaterra
A família tem data para vir ao Brasil depois do longo período distante dos familiares. Em agosto, Mariah terá a chance de reencontrar seus amigos de Juiz de Fora e Bicas. Inclusive, já foi recrutada para entrar em campo nas férias.
– Sinto falta dos meus amigos, da minha família, tenho conversado com um amigo quase todo dia, perguntando as novidades. Eles estão sabendo o que está acontecendo aqui e um menino da minha escola falou para quando eu chegar jogar no interclasse – comentou Mariah.

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