Campeonato Brasileiro está longe da “espanholização”, mas nos últimos anos há desequilíbrio de títulos

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O Brasileirão jamais viveu uma fase de duopólio tão acentuado como experimenta agora: nas últimas seis edições, Palmeiras e Flamengo venceram cinco títulos. Já faz um tempo que o debate sobre o risco de uma “espanholização” do futebol brasileiro deu uma esfriada. Em muito pelo título nacional do Atlético-MG, em 2021, por certa alternância de títulos da Copa do Brasil e pela própria conquista do Fluminense na Libertadores, competição que também virou território de influência dos clubes brasileiros.
No entanto, o Campeonato Brasileiro jamais viveu uma fase de duopólio tão acentuado como experimenta agora: nas últimas seis edições, Palmeiras e Flamengo venceram cinco títulos (três alviverdes e dois rubro-negros). Mesmo que a competição tenha contado com o domínio sazonal de inúmeros esquadrões ao longo de sua história, esta prevalência de dois clubes é algo que acontece pela primeira vez desde 1971. (O mais próximo disso aconteceu nas seis edições entre 2013 e 2018, quando Cruzeiro, Corinthians e Palmeiras ganharam dois campeonatos cada.)
O risco de Palmeiras e Flamengo reduzirem o Brasileiro a um previsível  Campeonato Espanhol acaba diminuído por um fator crucial na composição do futebol brasileiro: há uma quantidade muito expressiva de clubes grandes. Podem passar por momentos tenebrosos, o que para alguns já se tornou hábito, mas reorganizar as finanças e adotar um planejamento de futebol (nem precisa ser o melhor planejamento; apenas algum planejamento já é suficiente) os credencia a almejar o campeonato, como prova a disputa resolvida apenas nas últimas rodadas na maioria das edições.
A capacidade financeira de clubes como Palmeiras e Flamengo, que se reflete diretamente na qualidade de seus elencos, faz com que não seja mais necessário priorizar totalmente alguma competição, como acontecia com times fortes em temporadas passadas. Hoje, são capazes de competir com chances expressivas nas três principais frentes — Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores. Mesmo assim, um eventual título de clubes como Atlético-MG, São Paulo, Fluminense, Inter ou Grêmio de forma alguma seria tratado como um evento digno de dia do juízo final. Os que estão na frente querem voar, mas os que vêm atrás também correm rápido.
Endrick com medalha de campeão brasileiro pelo Palmeiras
Marcos Ribolli
O Campeonato Brasileiro, que sempre teve no equilíbrio sua maior qualidade, atualmente espelha o poderio financeiro de seus grandes clubes. Assim, tornou-se uma das competições mais interessantes do mundo, com jogadores de trajetória internacional e altíssimo nível. Com o apelo massivo de suas camisas mais tradicionais, pode tornar-se um campeonato ainda mais valioso e obter alcance global quando forem resolvidas questões como um calendário confortável e uma distribuição de dinheiro mais equilibrada.
São questões que estão em constante debate, mas aparentemente longe de alguma solução razoável. Enquanto estas arestas esperam para serem aparadas, o torcedor aguarda em sincero alvoroço para que as 38 finais (para alguns martírio) enfim comece — ano passado, o campeonato apresentou recorde de público. Porque, a partir deste sábado, todos ingressam em um turbilhão de emoções, para o bem e para o mal, que oscila entre sonhos impublicáveis e o pesadelo do rodapé da tabela.
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Arte

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