Com Plano B e impacto de Renato Augusto, Fluminense é outra vez campeão

6 min read
A vitória que acrescentou mais um título à trajetória do Fluminense de Fernando Diniz teve traços marcantes deste time: muita posse, total controle do jogo e, acima de tudo, coragem para continuar imprensando a LDU contra seu gol mesmo quando os tricolores ficaram com um jogador a menos. Mas não se apresentou no Maracanã um Fluminense com sua característica mais habitual, a que mais o distingue. E sim uma espécie de plano B, que já surgira em partidas da temporada passada.
No lugar de acumular jogadores em um dos lados do campo, sobrecarregar um setor para trocar passes curtos e progredir, Diniz mandou a campo a outra versão que esta equipe já executou: pontas abertos, laterais atacando pelo meio, zonas específicas do ataque ocupadas. Um jogo com mais traços posicionais do que nos acostumamos a ver no Fluminense.
Fluminense levanta a taça de campeão da Recopa sobre a LDU
Alexandre Loureiro/AGIF
O que fez surgir outro aspecto importante: a ampliação de opções no elenco. O primeiro tempo reforçou a sensação de que o tricolor executa com muito mais naturalidade a sua ideia mais habitual, seu jogo de aproximações e toques curtos. O time não fluía, não teve uma grande atuação por cerca de 60 minutos. A entrada de John Kennedy no intervalo começa a mudar o cenário, definitivamente alterado com o impacto de Renato Augusto, um destes jogadores com um QI futebolístico muito acima da média. O Fluminense de 2024 pareceu dobrar a aposta em nomes experientes. E o título da Recopa teve a participação de alguns deles como peças capazes de mudar a cara de um jogo duríssimo.
Logo de cara, ficou claro que o Maracanã não veria aquele Fluminense que junta jogadores no setor da bola, aproxima os dois pontas num mesmo lado para trocar passes. Arias jogava aberto pela direita, Keno na esquerda, enquanto os laterais Samuel Xavier e Diogo Barbosa atacavam pelo meio, por trás de Cano. Eram cinco homens no setor ofensivo. A imagem abaixo mostra a configuração, com uma diferença: neste lance, Diogo Barbosa abre campo e Keno está no corredor mais central. Mas o Fluminense tinha a preocupação de ocupar determinadas zonas do ataque, o que não é a face mais habitual de um time com grande liberdade de movimentos.
Fluminense organizado para atacar a LDU
Reprodução/Conmebol
Em jogos assim, em que o Fluminense tenta abrir o campo contra defesas fechadas, é comum ver Ganso atuar por trás das jogadas, perto dos volantes. Quando o faz, costuma ter menos chegada à área, embora tenha cabeceado uma bola perigosa. Além disso, Samuel Xavier e Diogo Barbosa, embora buscassem infiltrações, não são jogadores que empurram a defesa rival para trás, ou que ocupam a área.
O resultado era um Fluminense de muita posse, mas que buscava os lados do campo sem ter tantas opções na área para finalizar. O time fez 21 cruzamentos no primeiro tempo, mas a sensação de perigo real era muito menor do que o volume. Duas das melhores chances vieram com Samuel Xavier aproveitando o espaço entre o zagueiro e o lateral-esquerdo da LDU: Arias abria campo, atraía o lateral e criava o espaço para Samuel Xavier penetrar. Nem sempre havia tantos companheiros para ocupar a área, dar peso ao setor e pressionar os defensores equatorianos. Ainda assim, no lance abaixo, Cano perderia boa oportunidade.
Samuel Xavier ataca espaço entre zagueiro e lateral da LDU
Reprodução/Espn
Pelo lado esquerdo, aconteceu bem menos coisa. A LDU limitava-se a defender, mal conseguia contragolpear e o jogo era de total controle tricolor. Mas a atuação ofensiva não era boa.
Diniz parecia decidido a não mudar o plano. Provavelmente, por entender que precisava espaçar a defesa da LDU para criar meios de infiltrar. Então, manteria pontas abertos e não partiria para um jogo com quase todos os seus homens ofensivos aglomerados em um lado do campo. O primeiro passo para tentar gerar mais profundidade, mais penetração, foi recorrer a John Kennedy, tantas vezes um transformador de partidas na Libertadores.
Sua presença, com as constantes corridas em profundidade e uma proximidade maior com Cano, começou a preencher a área e empurrar a linha de zagueiros da LDU mais para trás. Mas era preciso algo além, um meia ofensivo que se sentisse à vontade em espaços mais curtos, com capacidade de atacar a área também. Ganso costuma preferir atuar por trás das jogadas, como um organizador. Então Diniz chamou Renato Augusto e ganhou este homem. Como mostra a imagem abaixo.
Renato Augusto faz grande jogada no segundo tempo
Reprodução/Espn
No lance, Renato Augusto cria um lance individual, mas um traço que apareceria no primeiro gol de Arias já se apresentava: quatro homens atacando a área e fazendo a LDU se defender em inferioridade. Na jogada, Cano, Kennedy, Arias e Douglas Costa, outro que saiu do banco na segunda etapa e ajudou a mudar o cenário, esperavam o passe.
A ideia era ter Douglas aberto na direita, com fôlego novo para ocupar o lateral rival. Com isso, Arias passou para o lado esquerdo. O movimento de Renato Augusto já não permitia que o volante Zambrano repetisse o movimento do primeiro tempo, quando se juntava aos zagueiros para ser um quinto homem defendendo os cruzamentos tricolores. No lance do gol de Arias, Samuel Xavier inverteu papel com Douglas Costa, foi à lateral da área e cruzou. Quatro jogadores do Fluminense enfrentavam três defensores. Um deles sobraria, livre. Justamente Arias.
Samuel Xavier recebe passe e prepara o cruzamento para o gol de Arias
Reprodução/Espn
A imagem mostra Douglas Costa encontrando Samuel Xavier, que tem espaço e obriga o lateral da LDU a abandonar a área para marcá-lo. Neste momento, os equatorianos ficam em inferioridade. Arias já acena pedindo a bola.
Pouco depois do 1 a 0, John Kennedy foi expulso, mas o Fluminense seguiu empurrando a LDU cada vez mais para trás. E o pênalti do 2 a 0 surge em outra ação de Renato Augusto pisando a área adversária. No fim, a taça foi para quem procurou o gol, para quem quis jogar. Os equatorianos, que abusaram do antijogo desde a etapa inicial e contaram com uma arbitragem conivente, fizeram um jogo de pouquíssimas ambições. O Fluminense é justo campeão.
Este tricolor mais posicional ainda não exibe sua melhor versão, mas é claramente um time que tem no tempo de trabalho com Fernando Diniz um aliado para ampliar repertório. Ainda assim, o Fluminense leva do Maracanã algo além da taça e da vitória de sabor especialíssimo sobre um rival que atravessara duas vezes de forma cruel a história do clube. Os tricolores deixaram o estádio com a sensação de que este 2024 traz, além de um time vencedor, um elenco mais encorpado.

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours