Como a tecnologia ajuda Palmeiras a melhorar jogo, contratar reforços e até buscar um novo Endrick

9 min read
Conheça os bastidores do Centro de Dados, que usa matemática para analisar futebol do Verdão e de rivais; clube investe no departamento e vai usar ferramenta para vasculhar mercado Palmeiras investe em departamento próprio para análise de dados
Em uma pequena sala iluminada, no centro da Academia de Futebol, o auxiliar Carlos Martinho faz desenhos quase incompreensíveis, observado de perto por três profissionais do Palmeiras.
São campos de futebol, dúvidas da comissão técnica, e é assim, entre uma lousa de vidro, sete computadores e uma televisão, que opera o novo departamento do clube: o Centro de Ciência de Dados.
+ Siga o ge Palmeiras no WhatsApp
Criado em 2024, o setor nasce como um legado de Abel Ferreira, e usa tecnologia e matemática para registrar dados personalizados com três objetivos: estudar adversários, avaliar a própria forma de jogar e mapear reforços a nível mundial no mercado.
+ Rômulo, reforço do Palmeiras, será rival em semi do Paulistão
– O clube se preparou muito tempo para trabalhar na vanguarda. Quer enxergar o jogo da sua própria forma.
Desenhos de Martinho, auxiliar do Palmeiras, na lousa do Centro de Ciências de Dados no Palmeiras
Camila Alves
Mas o que é o Centro de Dados e como ele muda o futebol do Palmeiras?
Parece complexo, mas o que muda com a criação do novo setor é a forma e a quantidade de dados que a equipe alviverde tem acesso.
Até o ano passado, o Palmeiras comprava números de outras empresas e recebia em forma de relatórios prontos e padronizados, como acontece com outros clubes no Brasil. Então pedidos específicos, da comissão técnica ou da análise de desempenho, por exemplo, dificilmente eram atendidos.
Mais notícias do Palmeiras:
+ A playlist de Endrick: por que cantar durante os jogos ajuda astro
+ Endrick atinge nova meta e venda ao Real Madrid chega a R$ 251 milhões
Distribuição de dados costuma ser feita em relatórios das empresas aos clubes
Arte / Globo Esporte SP
+ Como o Palmeiras ajudou a prender traficante
Agora, o clube compra apenas os números brutos, e o Centro de Dados é quem garimpa os dados e monta os relatórios, com mais informações, de forma mais abrangente e personalizada para as necessidades da comissão técnica.
– Uma empresa, por exemplo, poderia procurar o mesmo estilo de atleta em um número X de campeonatos. Eu consigo expandir os campeonatos, ver clássicos, jogos de maior público e saber que jogadores atuam melhor nessas condições específicas – explica o chefe do departamento, Emerson Oki, em tom de voz empolgado sobre o trabalho.
Fórmulas utilizadas no Centro de Ciências de Dados no Palmeiras
Reprodução
Códigos de fórmulas utilizadas pelo Centro de Ciências de Dados no Palmeiras
Reprodução
O mesmo acontece, por exemplo, ao procurar identificar um zagueiro de características ofensivas. As ferramentas do mercado diziam: esse atleta entregou 20 passes, 18 corretos, mas poderiam ter sido passes para um zagueiro ao lado ou um lateral não pressionado.
Agora, o Palmeiras pode analisar o nível de construção de cada lance. Quantos metros a bola percorreu para frente, quantos adversários foram superados no passe, e essa visão de jogo passa a ser desenvolvida pelo clube.
A equipe responsável conta com Emerson Oki, que deixou a Análise de Desempenho para ser head do Centro de Dados, além do engenheiro Tiago Piva e do matemático Matheus de Amorim.
+ Rolhas de vinho? Veja o que muda no gramado da arena do Palmeiras
Tiago Piva, Matheus de Amorim e Emerson Oki formam equipe do Centro de Ciências de Dados do Palmeiras
Reprodução
E como isso ajuda o Palmeiras nos jogos?
A vantagem, na visão do clube, é ter profissionais dedicados às necessidades específicas do Verdão. Nos últimos dias, por exemplo, um membro da preparação de goleiros esteve na sala, em busca de respostas sobre os gols sofridos pelo time neste início de temporada.
+ Weverton ganha apoio: “Continua sendo o melhor goleiro do Brasil”
Desenhos de Martinho, auxiliar do Palmeiras, na lousa, entre cálculos do Centro de Ciências de Dados
Camila Alves
Nos campeonatos, uma tabela mostra estatísticas de todos os clubes em disputa, marcando em verde os pontos em que o Palmeiras está acima da média e em vermelho os que está abaixo – lembrando que estar abaixo, em alguns itens, pode ser algo positivo. E isso permite à equipe visualizar os adversários e saber o que será preciso mudar.
– Eu consigo saber qual o corredor mais vulnerável do time, que jogador está lá e se ele está fora de posição ou não. Se o escanteio é aberto ou fechado, por onde atacam, qual o lado que mais sofre com os oponentes.
Tabela do Campeonato Paulista tem estatísticas comparativas entre os clubes na disputa
Camila Alves
Oki costuma ir ao estádio para coletar dados durante os jogos, mas só entrega novos números após o apito final. O único trabalho simultâneo é o da Análise de Desempenho, que arma uma estrutura com antena própria de internet para filmar e transmitir vídeos em tempo real ao tablet da comissão técnica no campo.
– Fomos aprendendo que ainda não dá para gerar um relatório, porque eles não conseguem olhar. Têm que ver a dinâmica do jogo – explica Oki, com um sorriso no rosto.
+ Abel desabafa após ataque a ônibus do Fortaleza
Engenheiro Tiago Piva e matemático Matheus de Amorim na sala do Centro de Ciência de Dados do Palmeiras
Camila Alves
A matemática na busca por reforços
Ainda não se pode afirmar, segundo Oki, que alguma contratação do Palmeiras foi feita por conta do Centro de Dados, mas uma reunião na última quinta-feira definiu este como o próximo passo. A equipe, inclusive, tem desenvolvido “modelos” para essa busca: são como fórmulas matemáticas que aplicam nos números e trazem alguma conclusão.
– Um modelo conhecido é o “expected goals” (expectativa de gol). Ele calcula de onde sai o chute, quantas pessoas tem na frente, o ângulo do goleiro no gol e a probabilidade de todo mundo naquela posição com aquela quantidade de pessoas na frente, quantos fazem o gol – demonstra Emerson Oki.
+ Ancelotti garante Endrick no elenco principal do Real Madrid em julho
Parte da análise de remates da Portuguesa antes do jogo válido pelo Paulistão
Reprodução
Pode-se dizer, portanto, que uma enquanto uma equipe de análise de desempenho faz um trabalho qualitativo, de identificar bons jogadores, o time de dados faz o quantitativo. Então o desafio deles é transformar as qualidades procuradas em números.
Por exemplo, como o Palmeiras pode encontrar um atacante resiliente para contratar?
– Temos o exemplo do Endrick. Contra o Botafogo, ele continuou fazendo jogadas mesmo perdendo de 3 a 0. Eu consigo aplicar esses dados dele em outros campeonatos do mundo, em clássicos ou jogos decisivos, e procurar atacantes que tenham a mesma postura. Há coisas que você pensa: não tenho métrica para isso. Mas vendo os jogos e as dinâmicas, a gente consegue encontrar – revela Oki.
+ À la Jordan: como Endrick negou propostas para virar estrela
Veja lances de Endrick na vitória histórica do Palmeiras contra o Botafogo
Palmeiras está criando padrões… e Endrick não existia
Endrick, aliás, impõe um desafio para o Centro de Dados, por não se encaixar nos modelos pré-montados de um centroavante, por exemplo. Foi preciso criar uma “nova posição” para o camisa 9, porque as características são diferentes do usual.
+ Fomos à casa de Endrick após o título brasileiro
Endrick, Mirassol x Palmeiras, Paulista
Marcos Ribolli
Essa criação de padrões está sendo feita com base nos atletas do Palmeiras, os chamados “jogadores modelo”, como explica Emerson Oki, e os dados colhidos são armazenados no clube como forma de registrar o estilo do clube e ajudar no desenvolvimento de jovens da base, por exemplo.
– A gente teve a terceira academia agora. Imagina daqui a 10 anos: o que foi a terceira academia? Como jogava cada jogador? E como replicar esse modelo? A gente só consegue fazer isso com esses dados.
Palmeiras x Mirassol, Raphael Veiga e Endrick
Marcos Ribolli
O futuro: categorias de base
Após a implementação na rotina do futebol profissional masculino, o Palmeiras trabalha para a inserção efetiva na análise de mercado e ao mesmo tempo estuda a possibilidade de expansão para as categorias de base.
O desafio é que uma empresa terceirizada precisa capturar os dados brutos nos jogos, para transformar a imagem em números. No futebol feminino, ainda não há previsão. O clube prioriza uma solidificação do trabalho e tem entendido se consegue utilizar a ferramenta de forma mais abrangente.
“A disciplina ganha do talento sempre que o talento não tem disciplina”, diz frase na sala do Centro de Ciência e Dados do Palmeiras
Camila Alves
É um processo novo, mas de construção de um legado sob a mentalidade de conceitos modernos, integração científica e a valorização da base.
Dentro da sala, na parede acima das telas no Centro de Dados, uma frase resume o projeto: “A disciplina ganha do talento sempre que o talento não tem disciplina”.
+ Veja mais notícias do Palmeiras
Mais Lidas
🎧 Ouça o podcast ge Palmeiras🎧
+ Assista a tudo do Palmeiras na Globo, sportv e ge

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours