Como Abel Ferreira mudou (de novo) a tática do Palmeiras no tricampeonato paulista

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Treinador dissolveu esquema com três zagueiros e reiventou função de Piqueréz, que fez grande partida na vitória sobre o Santos Já virou rotina: se tem final, tem mudança na escalação do Palmeiras. Foi o que aconteceu com o time que conquistou o tricampeonato paulista após vitória sobre o Santos por 2 a 0, no Allianz Parque.
O roteiro é o mesmo dos títulos de 2022 e 2023: jogo de ida com derrota e volta com mudança no time e na postura. Dessa vez, o jogo do título não veio com goleada – até pela competitividade do bom trabalho de Fabio Carille no Santos. Mas o domínio foi claro.
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O ponto em comum de todas as finais novamente foi ele: Abel Ferreira. Maior vencedor de títulos pelo clube (10, junto com Oswaldo Brandão), o português já é o maior treinador da história do Palmeiras.
Seu ciclo é comparável ao de Telê Santana no São Paulo ou ao de Lula no Santos, dada a mentalidade vencedora em finais e a mudança que faz nos jogadores.
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Numa campanha marcada pelo pragmatismo, a ponto de terminar muitos jogos com quatro laterais em campo (e as conhecidas cornetas da torcida), Abel provou mais uma vez a qualidade e mudou o time, como já fizera na conquista do bi-campeonato Brasileiro: tirou Marcos Rocha do time para a entrada de Lázaro como ponta-esquerda.
Não foi uma mera mudança de escalação. O time jogou de forma totalmente diferente. A surpresa ficou por conta de Piqueréz, que assumiu a função de Rocha, só que pela esquerda: ele fazia a chamada saída de três junto de Murilo e Gómez e dava qualidade na saída de bola. Assim, o time conseguia se impor e sair jogando mais vezes, até por buscar o resultado.
Piqueréz assumiu função de Rocha na grande final
Reprodução
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A função era a mesma. Só que a movimentação foi o grande trunfo do time. Lázaro fazia o movimento de abrir o campo pela esquerda e prendia a marcação de Otero. Naquele setor, Zé Rafael tinha liberdade de apoiar o ataque e Piqueréz não ficava só atrás: apoiava como faz quando joga de ala. Esse movimento de surpresa fazia o Palmeiras ter um a mais no setor, e João Schmidt não acompanhava.
Resultado: Piqueréz e Zé o tempo todo livres para receber a bola e inverter para o lado direito, onde Veiga e Endrick estavam prontos para finalizar.
A grande chance do primeiro tempo, a bola de Mayke que Gil salvou na linha, veio exatamente assim. Perceba como Endrick jogava sempre num espaço vazio em campo, por trás dos volantes do Santos. A ideia de Abel era que a jóia, vendida ao Real Madrid, pudesse chegar de surpresa e aproveitar rebatidas ou passes vindo de trás, dos dois lados. As inversões se tornaram a grande arma do Palmeiras no jogo.
Inversão da esquerda para direita e Endrick livre: Palmeiras forte no jogo
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É preciso ressaltar a força do Santos na final. Não foi um jogo fácil. O apoio de Mayke pelo lado onde Guilherme estava pronto para contra-atacar rendeu diversos ataques que poderiam ter dificultado para o mandante. Weverton, goleiro que não começou bem no ano, provou mais uma vez porque é o melhor do país em atividade.
Também não foi acaso o setor esquerdo ter gerado o pênalti do primeiro gol. Não foi exatamente uma falha individual do Santos: o oportunismo de Endrick ao correr pelo setor se soma ao fato de que nem João Schimidt, nem Felipe Jonathan conseguiam acertar a marcação naquele setor.
O fator surpresa no setor esquerdo provocou estragos. Na direita, Mayke seguiu extremamente consistente ao jogar como um ala que abria o campo. O detalhe estava mesmo na movimentação de Endrick, que se movimentava junto de Veiga e entrava de surpresa na área.
Mayke: novamente regular em campo como ala
Reprodução
De todas as finais, essa foi a que Veiga menos jogou – talvez pelo seu movimento de chegar de surpresa já estar “manjado” pelos adversários. Mas novamente, Abel sempre tem um plano. A pressão total do segundo tempo liberou os volantes: numa chegada, Aníbal fez o gol do título em jogada de cabeça de Flaco López, artilheiro do Palmeiras e só não melhor no time nesse ano porque Endrick joga.
Para brilharem em campo e superarem mais uma vez a adversidade de perder a primeira final, há uma comissão técnica brilhante e que marca a cada dia mais história no Brasil. Abel Ferreira e sua equipe têm o time na mão. Mudam jogadores de posição, inventam escalações e mantém todos motivados.
Marcos Rocha, Weverton, Mayke…todos estão no clube há sete anos e seguem vencendo em sequência. Flaco chegou, ganhou espaço e hoje é pilar do time. A zaga sempre mostra segurança em finais. E quem entra do banco consegue mudar o time.
Abel Ferreira comemora título paulista do Palmeiras
Marcos Ribolli
Tudo sem grandes contratações, dramas ou brigas. A maior qualidade do Palmeiras é resistir às cornetas (que os torcedores de outros times não entendem, afinal, todos querem um Abel). Não existe segredo: existe trabalho. Uma comissão técnica afiada que sabe o que faz e respeita a ciência do jogo. Que estabelece processos e confia neles. Que não deixa o “talento decidir”: trabalha para ele fazer a diferença.
É o tricampeonato da consistência. O décimo título de um trabalho muito, mas muito fora da curva.
E se depender de Abel e suas muitas mudanças em finais, não para por aí.
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