Conselho do Corinthians vai analisar contrato de patrocínio máster após pedido da oposição

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Acordo com a VaiDeBet vai passar pela Comissão de Justiça; presidente Augusto Melo é requerido a prestar informações Emilio Botta fala sobre a busca do Corinthians por novos patrocinadores
A Comissão de Justiça do Conselho Deliberativo do Corinthians investigará o contrato de patrocínio máster do clube com a VaideBet, válido pelos próximos três anos.
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O presidente do Conselho, Romeu Tuma Jr., aceitou parcialmente pedido feito por grupo de oposição, liderado pelo ex-presidente Andrés Sanchez. O requerimento foi assinado por mais de 70 conselheiros.
Além disso, Tuma pede que o presidente Augusto Melo preste esclarecimentos sobre o contrato, reforçando o que já havia solicitado na semana passada.
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Contrato da VaidebEt vai passar por investigação da Comissão de Justiça do clube
Rodrigo Coca/Agência Corinthians
A oposição queria uma reunião extraordinária para discutir o contrato. Porém, a realização de tal encontro só irá ocorrer após elaboração de relatório pela comissão de Justiça.
O Conselho do Corinthians vai se reunir no próximo dia 27 para analisar contratos firmados no fim da gestão de Duilio Monteiro Alves.
No despacho feito nesta segunda-feira, Romeu Tuma Jr. lamenta as discussões midiáticas sobre o contrato da VaiDeBet, um dos motivos para a crise entre Augusto Melo e Rubens Gomes, o Rubão, destituído do cargo de diretor de futebol.
Dúvidas internas
O principal questionamento em relação ao contrato com a VaideBet é o pagamento de R$ 25,2 milhões em comissões à empresa Rede Social Media Design pela intermediação do acordo. O valor corresponde a 7% dos R$ 360 milhões que o Corinthians receberá em três anos pelo patrocínio – as luvas de R$ 10 milhões pagas pela casa de apostas não entram na conta.
A Rede Social Media Design pertence a Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, que integrou a equipe de comunicação de Augusto Melo durante a campanha eleitoral do Corinthians, no ano passado (saiba mais detalhes abaixo).
O pagamento de comissionamento é costumeiro no mercado publicitário e não configura prática ilegal. Porém, os membros da oposição alegam que o presidente Augusto Melo os informou que o contrato com a VaideBet foi fechado diretamente por ele e pelo diretor administrativo Marcelo Mariano dos Santos. Neste cenário, não seria necessário pagar a um intermediário.
Além disso, os conselheiros querem explicações do por que o Corinthians fechou parceria com uma casa de apostas antes de firmar um distrato com a Pixbet, antiga patrocinadora do clube. Para rescindir tal contrato, o clube terá de pagar R$ 44 milhões, entre multa, devolução de luvas recebidas e honorários advocatícios.
Membro da campanha
O intermediador do contrato do Corinthians com a VaideBet trabalhou na campanha de Augusto Melo para a presidência do Corinthians. Alex Fernando André, o Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design (ModTech), chegou ao grupo eleitoral sob indicação de Sergio Moura, com quem possuía relação comercial do mercado publicitário.
– Eu conhecia o Alex de mercado. Precisávamos montar um grupo digital, e eu o convidei. Conheço muita gente de mercado, e precisávamos alguém que trabalhou com política. Achamos que ele tinha o perfil de quem tinha trabalhado com campanhas políticas boas para poder nos auxiliar na campanha – afirmou Sergio Moura, em contato com o ge.
ModTech, empresa nome fantasia da Rede Social Media Design, em material de trabalho
Reprodução
A empresa do intermediário trabalhou com “performance, monitoramento e análise de críticas das redes sociais” de Augusto Melo, segundo o superintendente de marketing do clube.
A reportagem teve acesso a mensagens e alguns materiais do trabalho desempenhado pela empresa de Cassundé durante a eleição corintiana.
Sergio Moura reuniu a equipe de comunicação em um grupo único com Cassundé, no qual compartilhavam informações da chapa adversária e comemoravam o crescimento do atual presidente alvinegro nas redes sociais. Alex fez um texto para comemorar o fim da campanha.
– É com uma emoção transbordante que agradeço por fazerem parte deste capítulo inicial, onde a vitória vai apenas se tornar um marco no vasto horizonte de triunfos que ainda virão – escreveu Alex Cassundé no grupo para os “amigos de jornada”.
Exemplo de ação do trabalho feito pela empresa de Cassundé
Reprodução
Para promover as redes sociais de Augusto Melo, a empresa do intermediário do contrato com a VaideBet usou inteligência artificial generativa de texto e um software de postagens na rede social “X”, por exemplo.
Entre as estratégias devidamente registradas se encontravam a “criação de personas no mundo esportivo. Pesquisa e extração de diversos grupos e páginas do Corinthians nas redes sociais”.
Intermediário da bola de “primeira viagem”
Não há um documento que protocole intermediação entre Cassundé e a VaideBet. O registro de ligação entre as duas empresas se limita ao contrato que coloca a Rede Social Media Design como responsável pela intermediação do negócio e com direito a 7% do valor final do contrato.
O negócio de intermediação entre VaideBet e Corinthians foi o primeiro deste tamanho feito pela empresa, que modificou depois da assinatura do contrato a atividade econômica na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp).
O contrato de patrocínio tem a assinatura de 4 de janeiro, enquanto a mudança no registro da Rede Social Media Design ocorreu no dia 18. A partir do acordo com a VaideBet, Alex Cassundé passou a promover a empresa também como intermediadora de negócios.
Do ponto de vista contábil ou legal não há problema de alterar a atividade econômica da empresa no Jucesp em qualquer momento, segundo fontes do mercado financeiro que conversaram sob condição de anonimato com a reportagem.
Porém, de acordo com essas fontes, chama atenção neste ponto como uma empresa nova (o registro é de janeiro de 2021) e sem experiência neste mercado sirva como intermediária do maior contrato de patrocínio do país. Neste caso, pura relação entre o intermediário e as partes envolvidas.
Mudanças na empresa de Cassundé ocorreram depois da assinatura do contrato
Reprodução
A reportagem fez questionamentos à VaideBet sobre a relação com Alex Cassundé, mas não obteve resposta até a publicação.
Fontes ligadas à empresa, porém, resumem a relação de Alex Cassundé com André da Rocha Neto, da VaideBet, como a de “intermediário” no negócio com o Corinthians.
Alex Cassundé, por outro lado, tratou André como “parceiro” e detalhou o contato com o Corinthians, em entrevista concedida ao ge.
– É um parceiro nosso e apresentei na campanha, como conheci o Augusto Melo, a gente indicou. Conheço o André há bastante tempo. Sabia que a VaideBet. Temos experiência com intermediação de negócios, futebol foi algo novo. A gente intermediava negócio de franquias, sapatos, calçados… – comentou.
O intermediador do contrato acrescenta que pensou na possibilidade de negócio antes mesmo da definição da eleição.
– Minha intenção era que se o Augusto ganhasse, o André estava interessado. Quem sabia? Era mentira se dissesse que tinha certeza que poderia ter negócio. Quando apresentei, se o Augusto ganhasse, era uma perspectiva porque sabia que a VaideBet queria – disse.
– Era mais da minha cabeça. Como ganhou e a VaideBet estava atrás, juntou a fome com a vontade de comer – afirmou Alex Cassundé em contato com a reportagem.
Até o momento, a empresa do intermediário recebeu R$ 1,4 milhão pelo contrato de intermediação: R$ 700 mil (metade da parcela vencida em fevereiro, que corresponde a dois pagamentos do patrocínio) e R$ 700 mil (março).
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Ainda resta o pagamento de mais R$ 700 mil por parte do clube, assim que houver fluxo de caixa. Segundo o contrato ao qual a reportagem teve acesso, a empresa vai receber R$ 700 mil mensais até o fim do contrato, no fim de 2026.
O que diz Sergio Moura
O ge ouviu Sergio Moura sobre o processo e a relação com o intermediário do contrato com o Corinthians. O dirigente corintiano, que sofre questionamentos de quadros importantes do clube, confirmou que Alex Cassundé foi quem trouxe a VaideBet para a discussão de potencial patrocínio ainda na eleição.
– Alex trabalhou na campanha, eu nem conhecia a VaideBet. Quando veio e nos apresentou, olhamos e entendemos que poderia ser um bom patrocínio por tudo o que já havíamos negociado; achamos interessante. Todo mundo analisou, olhou contrato e condições de pagamento. Não tem conflito de interesse: ele quis e apresentou para o Augusto – relatou.
Questionado o motivo que fez o Corinthians avançar para concretizar o negócio, Sergio Moura justificou a viabilidade do contrato com um intermediário com nenhuma experiência neste tipo específico de negociação.
– Não escolhemos a empresa; a empresa foi quem nos trouxe o patrocínio. Se você for no comercial da Globo, você vai ver que existem empresas pequenas que trazem patrocínio, com capital também baixo, mas que crescem ao levar esses patrocínios. Ele tinha a empresa e nos apresentou. Cabia a nós vermos a empresa, conversar com o cliente – detalha.
– É uma prática normal do mercado ter direito sobre a comissão. Não há dolo, não há erro, nada anormal dentro do mercado. Foi feita a exigência dos pagamentos antecipados para que não tivesse risco para o Corinthians. Em nenhum momento o Corinthians foi lesado ou teve algum tipo de problema – assegura Sergio Moura.
O dirigente do Corinthians também se posicionou sobre a relação com intermediário e o passado ligado ao São Paulo.
– Nunca tive sociedade ou sequer trabalhado diretamente com o Alex. No mercado publicitário é normal que pessoas em comum se apresentem. Sabia do potencial dele e havíamos conversado sobre outras coisas. Há tempo não trabalhava na área política – comentou Sérgio Moura.
O responsável pelo marketing do Corinthians trabalhou com política justamente no Tricolor do Morumbi. Sergio Moura esteve na campanha de Carlos Miguel Aidar, em 2014, e comentou sobre a relação com o clube rival.
– Estava em uma agência, e o Carlos Miguel Aidar nos convidou para fazermos a campanha política (2014). Entendemos que seria interessante e participamos. Sei que falaram que o Sérgio era sócio do São Paulo; o que me deram foi uma carteirinha para transitar no clube, mas encerrei meu vínculo assim que entreguei o resultado – atestou o dirigente alvinegro.
– Fiz projetos em 50 clubes de futebol e sempre me relacionei dentro desse meio, então sempre me precavi de expor o meu time. No São Paulo, fui como CNPJ contratado para fazer o trabalho na eleição. Tenho relação com o presidente do São Paulo (Julio Casares), porque trabalhamos juntos no SBT. Estou no Corinthians, coloquei o meu CPF e assumi o meu time – encerrou.
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