De achados em brechó a compra com flanelinha: torcedor de Ituano e São Paulo coleciona 575 camisas

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Lucas Dornelles, de Itu, possui inúmeras camisas dos seus dois clubes do coração, além de diversos outros times do Brasil e do exterior entre as mais de 500 peças Um pequeno cômodo e, dentro dele, o poder de se aventurar e descobrir inúmeras histórias. Esse é o cenário do quarto de Lucas Dornelles, estudante de 26 anos, apaixonado por futebol e colecionador das mais diversas camisas de times.
Para não se perder em meio às 575 peças que possui, o morador de Itu, no interior de São Paulo, tem seu próprio jeito de organizar a coleção que completou 11 anos em 2024 e a cada ano cresce mais.
Em entrevista ao ge, o torcedor fanático do São Paulo e Ituano contou histórias escondidas por trás dos tecidos – seja dos próprios times ou de como ele adquiriu – que remetem a ele felicidade por ser o dono dessas relíquias.
Lucas Dornelles com parte da sua coleção de camisas de time
Arquivo pessoal
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De compra com flanelinha a achados no brechó
Se engana quem pensa que Lucas desembolsa uma grande quantia em dinheiro para aumentar sua coleção. A mais cara comprada até hoje não passou dos 300 reais, o que pode até ser considerado incomum para um colecionador de camisas de time.
Camisa mais cara da coleção do Lucas, do Athletico-PR
Arquivo pessoal
Mas qual seria o segredo para conseguir relíquias e camisetas autografadas por um preço baixo? O estudante revelou seus truques.
– A mais cara que eu paguei até agora foi uma do Athletico-PR na própria loja da Arena da Baixada em 2019, quando fui para Curitiba. Era lançamento, quando o Athletico tinha acabado de trocar o escudo. Foi 280 reais mais ou menos. As antigas foram todas presentes, dei sorte em ter conseguido. E tem umas com história legal, de brechó. Eu vou muito nos brechós da vida aqui em Itu procurar camisa de time.
– Tem uma camisa aqui do Rogério Ceni, quando ele completou 618 jogos pelo São Paulo em 2004. Cheguei em uma senhorinha, dona de brechó, e perguntei se tinha camisa de time e ela disse que tinha e que era para eu olhar, aí achei do São Paulo. A camisa na internet estava na faixa de 600 reais, ela me pediu 35 reais, até eu fiquei surpreendido. Tem uma do Milan, do Kaká, quando ele foi melhor do mundo em 2007, mesma história. Cheguei em um brechó, achei e paguei 5 reais nela. Tem que sair a caça, mas é história de colecionador – contou.
Camisa do São Paulo e Milan encontradas pelo Lucas no brechó
Arquivo pessoal
E não para por aí: a vontade de aumentar a coleção fez Lucas comprar até uma camiseta que um flanelinha vestia na saída do estádio do Galo de Itu.
– Uma vez também saindo do Novelli Júnior tinha um flanelinha que estava com uma camisa do Catanduvense. Ele estava olhando nosso carro e pediu uma ajuda com dinheiro, aí eu comprei a camisa dele, paguei 20 reais, ele tirou e me deu ali mesmo – disse Lucas rindo ao lembrar da história.
Camisa do Catanduvense que Lucas comprou de um flanelinha
Arquivo pessoal
O começo da coleção
Foi no ano de 2013 que o estudante tomou a iniciativa de começar a juntar as camisas. Apaixonado por futebol desde pequeno, ele juntou o amor pelo esporte e a vontade de contar histórias para fazer o acervo.
– Antes eu já era torcedor do São Paulo e do Ituano e tinha uma ou duas do São Paulo, duas do Ituano também. Aí comecei a colecionar de fato em 2013, peguei uma da Portuguesa, que foi uma das minhas primeiras camisas, fui ganhando uma ou outra, peguei uma do Mirassol, sempre focando em interior de São Paulo. Inter de Limeira, Guarani, Paulista de Jundiaí. Foi aí que eu comecei e hoje estou com 575 camisas. São mais de dez anos colecionando e continuo até hoje.
Primeira camisa da coleção de Lucas, de 2013
Arquivo pessoal
Grande parte das camisas de Lucas são presentes que ele ganha de amigos e parentes ao longo dos anos, que apoiam e incentivam a coleção dele.
E na hora de escolher, não há critério: basta ter um escudo de time de futebol que já ganha o coração do jovem.
– Sou fanático por futebol desde que eu me conheço por gente. Tanto que eu estou fazendo jornalismo porque sou apaixonado por esse esporte e quero trabalhar com jornalismo esportivo. E a coleção foi por eu ser viciado em camisa de time, sempre quando eu vejo alguma camisa alternativa na rua, vejo de tentar comprar, de tentar trazer para a coleção, tanto que eu tenho vários clubes alternativos na coleção, não só clubes famosos como Corinthians, São Paulo, Flamengo. Tem muita camisa da Série C, D, Campeonatos Paulistas de outras divisões, então tem muita camisa alternativa, que é um futebol que eu gosto bastante de acompanhar. Tem muito clube legal.
– Tenho uma do Rogério Ceni possivelmente usada em jogo, está autografada por ele, é de 1998, quando tinha o time histórico do São Paulo. Tem algumas do Ituano também autografadas pelo time inteiro. Eu não consegui, conseguiram para mim. É muito difícil ter acesso aos vestiários, mas as autografadas foram outras alternativas. Essa do Rogério Ceni por exemplo, foi o filho do amigo do meu pai que entrou com ele no Morumbi e ganhou a camisa. Ele soube que eu colecionava e me deu. Tem uma do Ituano que está autografada pelo time inteiro de 2019, inclusive um dos autógrafos é do Dener, que morreu no acidente da Chapecoense – disse.
Camisa autografada por Rogério Ceni
Arquivo pessoal
Diferentemente da maioria dos colecionadores que não costumam usar os produtos, Lucas comentou que veste suas camisas quase que diariamente, mas deixa guardado algumas mais “especiais”, como as autografadas, usadas em jogos e antigas, para não correr o risco de estragar.
De “A a U”
Em meio a tantas peças, a organização é essencial para não se perder. Como não tem um cômodo da casa próprio para guardar as camisas, Lucas precisou criar categorias para facilitar a procura.
Parte da coleção de camisas de time de Lucas Dornelles, de Itu
Arquivo pessoal
E, claro, não negou quando questionado se havia camisas espalhadas pela casa: “estão em todo lugar”.
– No meu guarda-roupa ficam as camisas dos clubes que eu torço, que são 50 do Ituano e 50 do São Paulo. Fora ficam dos outros clubes, do interior de São Paulo e outros que vai do Amazonas a Santa Catarina, que são separados por estado, ordem alfabética e por ano. Tem também os clubes internacionais, de fora do Brasil, que vai da primeira letra que é da Alemanha até o Uruguai, e depois seleções. No outro quarto precisam ficar as camisas de clubes amadores, porque no meu não cabe mais. Mais para frente quero montar um armário para deixar elas em um espacinho só delas – disse.
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Unindo o útil ao agradável, Lucas criou recentemente uma página em sua rede social motivado por sua paixão por contar histórias. Lá, o jovem posta foto das camisas e conta curiosidades sobre elas (veja acima).
– É mais um projeto por eu estar no meio do jornalismo. Utilizando a coleção e cada camisa posso contar as histórias. Faço um texto bem legal falando do ano. Contei uma agora falando do Ituano, que completou 77 anos, e tem um comediante que era da ‘A Praça é Nossa’ chamado Simplício, ele sempre sentava ao lado do Carlos Alberto vestindo uma camisa do FAI (Ferroviário Atlético Ituano). Tanto que a expressão que Itu é tudo grande é uma das obras dele. Cada camisa tem sua história e cada clube tem também. Cada ano que se passa é uma história diferente – explicou.
Camisa do Ituano usada por Simplício, na “A Praça é Nossa”
Arquivo pessoal
“Sensação única”
A coleção de Lucas é movida, de fato, pela emoção que o jovem tem em simplesmente falar sobre o esporte. Uma das partes que ele mais gosta é poder conversar com pessoas que conhecem os mais diferentes times que fazem parte do seu acervo.
– É muito legal. Quando eu converso com alguém e a pessoa fala a cidade dela, por exemplo, que é de Taubaté, eu falo que tenho uma camisa do Taubaté em casa. E a pessoa fica feliz que eu conheço o time da cidade. É muito legal falar de futebol com o pessoal. Dependendo da cidade que a pessoa mora, eu tenho uma camisa da coleção. Várias cidades com seus receptivos clubes. Falar de futebol é o assunto que eu mais gosto, que eu praticamente domino. Mostrar a coleção para quem se interessa e gosta de futebol é uma sensação única, incrível, sempre que o pessoal vem em casa, vê as camisas, ficam felizes, para mim é bem satisfatório ser colecionador. Para quem quer começar nesse ramo, meu conselho é que vale a pena, é legal, tem cada história legal para contar e eu recomendo bastante.
Algumas camisas da coleção de Lucas Dornelles
Arquivo pessoal
Por fim, Lucas teve a difícil missão de contar ao ge qual, ou melhor, quais são suas camisas preferidas dentre as 575.
– Três em específico. Uma do Ituano, quando foi campeão Paulista contra o Santos no Pacaembu lotado. Naquela campanha tirou o Palmeiras, tirou o Corinthians na fase de grupos e é a camisa usada no segundo jogo da final, quando ganhou nos pênaltis. Uma das maiores conquistas do Ituano. Tem a primeira camisa minha de 2011 também, ela está até desgastada de tanto que eu usei. E a do São Paulo autrografada pelo Rogério Ceni de 1998. São sem dúvidas as mais especiais, mas é difícil escolher – completou.
* Bárbara Bruno colaborou sob supervisão de Arcílio Neto.

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