Destaque da Premier League, Rodrigo Muniz diz que quase voltou ao Brasil e explica reviravolta

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Eleito o melhor jogador de março no Campeonato Inglês, atacante ex-Flamengo diz que conversou com Renato Gaúcho, do Grêmio, e quase deixou o Fulham: “Minha esposa segurou meu braço…” “Agradeço a Deus por ter a esposa que eu tenho. Só nós sabemos tudo o que passamos durante esses três anos. Se não fosse ela, eu já teria voltado para o Brasil.
Rodrigo Muniz não imaginava, aos 22 anos, viver o sucesso dos últimos meses no Fulham, da Inglaterra. Vendido pelo Flamengo em 2021, o atacante disputou duas vezes a segunda divisão inglesa, sem destaque, e ficou no banco de reservas na maior parte da primeira metade da atual edição da Premier League. Ganhando espaço desde janeiro e eleito o melhor jogador do torneio no mês de março, o brasileiro revelou, em entrevista ao ge, conversas com o técnico do Grêmio que quase o fizeram voltar ao Brasil.
— Quando o Renato (Portaluppi) me ligou, eu queria muito ir. Foi em janeiro do ano passado, eu estava no Middlesbrough e não estava jogando. Estava sendo difícil. Eu chegava em casa e chorava. Minha esposa segurou o meu braço e falou: “Você sempre disse que quer jogar aqui, porque vai voltar para o Brasil agora?”. A gente comprou juntos essa ideia de ficar, jogar mais um ano, e graças a Deus as coisas aconteceram.
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Rodrigo Muniz revela conversas com Grêmio e Atlético-MG e explica porque ficou no Fulham
“Fiquei bastante grato só de ser indicado. Sei que é difícil ganhar, mas já mostra que o trabalho está sendo bem-feito e que as coisas estão acontecendo”, disse Muniz, ainda sem saber que venceria o prêmio de melhor do mês.
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Após já ter sido indicado ao prêmio de melhor do mês em fevereiro, Rodrigo Muniz finalmente foi eleito em março. Já são oito gols em 2024, todos marcados em jogos do Campeonato Inglês. O atacante acredita que o segredo para o bom momento ter chegado foi, finalmente, receber a primeira sequência como titular da carreira.
— O pessoal começou a me comparar com o Richarlison, porque foi também o Marco Silva (treinador) que o trouxe (No Watford e depois no Everton). Mas o Richarlison veio já jogando no Fluminense, já era titular. E eu venho do Flamengo, que tinha Gabigol e Pedro. Agora que eu estou começando a ter aquela sequência de jogo no profissional e as coisas estão acontecendo — lembra Muniz.
Ao lado de Iwobi, Andreas Pereira e Willian, Rodrigo Muniz comemora um de seus gols no Fulham
Getty Images
Parceria com Andreas Pereira e Willian
A ascensão de 2024 teve a ajuda de dois companheiros, dentro e fora de campo. Rodrigo Muniz destaca a relação com os brasileiros Willian e Andreas Pereira, meio-campistas titulares do Fulham.
— O Willian eu posso falar que é o melhor jogador que eu já joguei. E o Andreas tem me ajudado muito nesse final da minha adaptação. Conversa muito comigo e passa alguns feedbacks que fazem muita diferença para mim. Acho que, por eles serem brasileiros, e terem comprado a ideia de eu jogar: “Opa, vou te ajudar e é isso”, está fazendo total diferença dentro de campo para mim — afirma.
Rodrigo Muniz conta detalhes da parceria com Andreas Pereira e Willian no Fulham
Apesar de ambos terem passado rubro-negro, Rodrigo Muniz não chegou a atuar com Andreas Pereira no Flamengo. No meio de 2021, quando o meio-campista chegou ao Rio de Janeiro, o jovem atacante foi para a Inglaterra. Muniz diz que ambos acompanham de perto o time carioca e “entrega” as pretensões do companheiro.
O Andreas tem muita vontade de voltar para o Flamengo. Quando tem jogo do Flamengo a gente assiste junto na concentração. E sempre que tem jogo do Mengão, no dia seguinte a gente já chega falando: “Pô, você viu?!”
Rodrigo Muniz e Andreas Pereira comemoram vitória do Fulham na Premier League
Getty Images
Dos anos de resiliência à homenagem da torcida
Contratado pelo Fulham, ainda na segunda divisão, na temporada 2021/22, Muniz foi reserva de Mitrovic, hoje no Al-Hilal, que quebrou uma série de recordes de gols no período. Em 22/23, foi emprestado ao Middlesbrough, onde viveu seus momentos mais difíceis.
— As coisas no Middlesbrough infelizmente não aconteceram. Joguei todos os primeiros jogos, mas quando mudou o treinador, aconteceram algumas coisas no clube que eu não tinha nada a ver, mas respingaram em mim. O Marco Silva (técnico do Fulham) me ligou no final da temporada e disse que queria contar comigo. As coisas não tinham acontecido, mas ele confiava em mim.
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Apesar da confiança do treinador, ainda não foi no início da atual temporada que o panorama mudou para Rodrigo Muniz. Problemas físicos atrasaram a sequência de oportunidades do atacante na primeira divisão inglesa.
— Tinham algumas propostas para eu sair. E eu não queria nem escutar, porque queria jogar aqui este ano. Eu me machuco contra o Brentford, volto, começo a jogar bem, faço um gol na Copa, vou de titular contra o United e me machuco de novo. Agora, em janeiro, eles contrataram um atacante novo. Antes disso eu me batizei na igreja. Quando o outro atacante chega, no primeiro jogo eu começo a fazer gols e, graças a Deus, não paro.
Os gols não pararam mais, a ponto de os torcedores do Fulham dedicarem uma música ao atacante brasileiro.
— No último jogo eles cantaram a musiquinha. Falam que: “Ele foi para o Middlesbrough, não jogou, voltou para o Fulham e está fazendo seus companheiros dançarem. E ele é mágico e não sei o que. E falam um palavrão, que não é legal, né (risos). Só que a musiquinha ficou top — disse Muniz, antes de arriscar cantar a música em inglês. Veja no vídeo abaixo.
Rodrigo Muniz comenta homenagem que recebeu da torcida do Fulham e canta em inglês
He went to Boro (Ele foi para o Boro)
He couldn’t even start (Não conseguia nem começar)
Comes back to Fulham (Voltou para o Fulham)
He’s tearing teams apart (Está destruindo equipes)
He’s f** magic (Ele é mágico)
He really f** is (Ele realmente é)
His name’s Rodrigo (Seu nome é Rodrigo)
Rodrigo Muniz
Veja outros trechos da entrevista
Diferenças do jogo na Premier League para o Brasileirão
— Eu acho que a intensidade é um fator que faz toda a diferença. Porque eu estava conversando com um preparador físico que tive no Flamengo. Mandei para ele que corri 10,5km em um jogo. No Brasil, o máximo que eu tinha era 8km. Aqui, taticamente, temos que obedecer. Em qualquer brecha, qualquer espaço os caras conseguem jogar. Essa questão tática é totalmente diferente do Brasil.
Características da “nova versão” de Rodrigo Muniz
— O Fulham joga com um 9 tendo que fazer o ‘pivozão’. Jogávamos assim com o Mitrovic, e agora comigo, tenho feito bastante isso. Apresentar para fazer a parede. Mas também tenho a capacidade de correr nas costas. Essa versatilidade me ajudou muito, para eu amadurecer e estar vivendo isso hoje. Entendendo melhor o jeito que o Fulham joga e como precisa jogar contra certos times.
— Na conversa que tive com o Marco Silva, ele disse que estou usando muito o corpo, mas usando certo. Antigamente os zagueiros ganhavam a bola muito fácil de mim. Aí eu comecei a fazer uma análise tática, com o pessoal da ‘Outlier’, que tem me ajudado muito. Conversaram muito comigo sobre isso. Contra o Newcastle, tem um zagueiro de 2 metros. Bola aérea, se eu não fosse no corpo dele, ficaria muito difícil. E tive algumas boas ações no jogo, neste aspecto.
Adaptação à vida na Inglaterra
— Eu falei com o Willian e com o Andreas, antes de eu começar a fazer gols, que estão sendo meus melhores seis meses aqui. Porque, como eles também têm esposas, minha esposa sai com elas para jantar. Eu saio com eles também. Quando você está tranquilo, não está preocupado com muitas coisas, as coisas naturalmente acontecem. Isso está acontecendo comigo e minha esposa. Hoje, podemos falar que nosso inglês não é fluente, mas a gente já entende tudo e dá para conversar. O Andreas e o Willian foram peças-chave para vivermos o que estamos vivendo.
Domínio do idioma inglês
— Semana passada eu dei uma entrevista para a TV inglesa e foram 40 minutos falando em inglês. Eu falei com o cara que meu inglês já está top. E ele me deu os parabéns. Só que no inglês é difícil, porque às vezes você quer mostrar sentimento, mas não consegue. Eu não consigo.
Time e atletas adversários que teve mais dificuldades na Premier League
— No jogo do Manchester City eu estava no banco. Entrei no finalzinho e já estava um placar que não estava legal. Ainda mais, Andreas e eu estávamos marcando… quando a gente sobe para marcar, parece que eles estão com 20 em campo e a gente 11. É muito difícil jogar. É uma parada que tem que estar muito concentrado para jogar contra os caras.
— Eu acho que, por ser meu primeiro jogo da Premier League, o Maguire e o Evans (do Manchester United) foi uma batalha dentro de campo que eu vou guardar. Porque são jogadores de seleção, experientes, e foi um jogo top para mim.
Mais sobre a possibilidade de voltar ao Brasil, para Grêmio e Atlético-MG
— Renato me ligou e me fez a proposta. Falou que queria muito contar comigo. Ele me conhece desde a época do Flamengo. Falei que ia pensar e avisava amanhã. Conversei com minha esposa e minha família. Pensamos que seria top, porque é o Grêmio é um grande clube, mas vimos que talvez não fosse o momento certo.
— O Galo foi agora, no meio do ano passado. Não cheguei a conversar com ninguém do Atlético, mas o meu empresário conversou e falou que era só eu dizer se queria ou não. Só que eu sou mineiro, né. E o Atlético é um grande clube, e tenho vontade sim de jogar. Só que não era o momento certo de eu voltar. E o momento que estou vivendo agora disse que foi a melhor decisão naquele momento.
— Minha esposa é atleticana fanática, meus pais cruzeirenses. E na minha cidade tenho amigos atleticanos e cruzeirenses. E ficou naquele vai, não vai. E só de ser lembrado por um time como o Atlético você já fica pensativo.
Consolidação do grande momento
— Eu tenho um cara que trabalha comigo. Ele é meu psicólogo e personal junto. O André. Ele conversou comigo, no segundo jogo que eu fiz dois gols. Ele disse que temos que saber navegar no que estamos vivendo. Porque antes eu não era o pior jogador e agora não sou o melhor. O Matheus, que cuida da minha imagem, montou uma equipe para trabalhar comigo, e isso está fazendo uma diferença muito grande.
Camisa 9 da seleção brasileira
— Eu estou trabalhando muito para que este momento continue. Claro que seleção é um sonho de todo moleque brasileiro. Tenho muita vontade. Tenho que continuar fazendo meu papel aqui no Fulham, continuar tendo boas atuações e fazendo gols. Que as coisas vão acontecer. Se eu estiver num momento bom, pode sim acontecer a convocação.

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