Esfrega as mãos e mentaliza: Yuri Alberto supera crises com terapia e apoio do “Folha” no Corinthians

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Desde janeiro, atacante investe mais no trabalho psicológico e se diz mais “leve”; sobre episódio com Mano Menezes, nenhuma mágoa ou ressentimento Das vaias para os aplausos. Em três meses de temporada, e Yuri Alberto conviveu com as duas situações no Corinthians de 2024. A crise do início do ano, com até uma crítica pública do técnico Mano Menezes, ficou para trás com dois fatores importantes: a psicologia e o apoio desde o princípio do “Folha”.
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Folha é o apelido dado pelo atacante para o técnico António Oliveira, com quem havia trabalhado em 2020 no Santos durante a era Jesualdo Ferreira. O português, aliás, é citado pelo camisa 9 como um nome fundamental para a boa fase.
– Hoje eu brinco: “António, eu mato e morro por você” – comentou, em entrevista exclusiva ao ge.
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No bate-papo com a reportagem, Yuri Alberto detalhou um ensinamento da terapia que leva para o campo e ajuda na fase atual. O Corinthians, neste ano, também conta com a psicóloga Anahy Couto, antiga profissional do São Paulo.
Com a cabeça leve são cinco gols em seis partidas, sequência nunca atingida pelo centroavante com a camisa alvinegra.
– No trabalho psicológico sempre falam para eu esfregar as mãos e pensar em coisas boas quando estiver em um momento pouco à vontade ou que me sentisse pressionado. É esse dia que passa na minha cabeça sim – diz Yuri Alberto, relembrando a noite em que anotou três gols e classificou o Corinthians na Copa do Brasil.
O atacante se diz mais leve e tentou transportar essa leveza para a entrevista exclusiva concedida ao ge. Em meio à intertemporada do Corinthians, Yuri Alberto faz planos e confia em um ano muito melhor, tanto para si quanto para a equipe no geral.
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Confira a entrevista completa com Yuri Alberto:
Você passou por um muito difícil no Corinthians, com torcedores nas arquibancadas e redes sociais sempre cobrando mais gols do Yuri Alberto. Como foi esse período? Você não quis responder às críticas, ficou na sua.
– Sempre fui um cara muito tranquilo. Meu pai até brinca que tenho um jeito de meio “sono”, desligado para essas coisas. Foi muito bom ser assim, porque foi uma pressão muito grande, uma humilhação que eu e minha família passamos nesse período. Tive o discernimento, mesmo com as dificuldades, botar a cara dentro de campo e dar o meu melhor.
– Independente de como as coisas aconteciam, se estavam correndo bem, estava me entregando, estava me doando para o grupo. Acho que essa foi a melhor maneira de dar a volta por cima, sabe? É muito gratificante ter ouvido a torcida começar a gritar meu nome no jogo contra o Botafogo-SP. Fiz o gol e gritaram meu nome, foi muito gratificante.
– Isso é o que vale a pena, sabe? É um momento mais do que especial poder dar a volta por cima e ver que os mesmo que te vaiavam quando você saía, hoje estão de aplaudindo. Eu saía, abraçava o Maycon, o Mano, me deram muita força nesse período.
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As críticas em algum momento passaram do ponto?
– Ah, cara, sempre passa, sempre passa. Sabemos como são muitos torcedores e não cabe a mim responder cada um deles. Tem crianças que se inspiram na gente, então tenho que ter a sabedoria de agir nesses momentos. Fiquei no meu momento, me retraí um pouco, com a minha família, e fomos juntos trabalhando, também com meu fisiologista. Sabia que o momento não era o melhor e que tinha que se preparar para quando chegasse esse momento bom. E, graças a Deus, chegou, que continue por muito tempo. Que os momentos ruins sejam bem curtinhos durante a minha carreira (risos).
A última entrevista que você concedeu foi em um momento especial, lembra? Aliás, esse foi o momento mais especial com a camisa do Corinthians?
– Cara, foi no hat-trick, né? Foram meus primeiros gols com o Corinthians. Com certeza ainda é o momento mais especial que vivi aqui. Nesse período difícil que passei, comecei a ter o acompanhamento de um psicólogo e ele sempre fala para eu esfregar as mãos e pensar em coisas boas quando estiver em um momento pouco à vontade ou que me sentisse pressionado. É esse dia que passa na minha cabeça sim. Quando faço isso com as mãos, é o que passa na cabeça.
– Começou ali no fim de janeiro desse ano. Nunca fui um cara de… sabe, porque para a cabeça de muitos atletas, quando pensamos em psicólogo, pensamos que “isso aí é para louco”. Mas, não, não é isso, faz muita diferença na vida de um atleta.
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Nessa época, fim de janeiro, foi a do episódio do Mano Menezes?
– Foi.
O atendimento começou por causa disso?
– Não, na verdade começou naquela semana e, em seguida veio o jogo. Não julgo ele ali, me explicou ali no momento pelo lance e tal. E tive uma atitude burra, mas ele foi infeliz na fala dele. Nossa relação era muito boa aqui durante os treinos e os jogos. Até no ano passado, quando meu momento não estava tão bom, ele tinha um carinho por mim de querer me ajudar muito. Mas infelizmente as coisas não ocorreram bem nos últimos jogos desse ano.
Você tinha uma relação boa e franca com ele?
– Sim, quando ele era técnico do Inter e eu estava ainda no Zenit, fui assistir a um jogo deles e tivemos uma conversa. Quando veio para cá, já sabia um pouco de mim. Mano Menezes e sua comissão são de pessoas muito legais, pessoas muito boas. A relação segue boa. Depois do ocorrido, a gente conversou ali no momento e resolvemos.
Mano Menezes em ação no duelo São Bernardo x Corinthians
Fabio Giannelli/AGIF
Nem na época do hat-trick você teve uma sequência tão positiva. São cinco gols em seis jogos. O que está acontecendo para esse embalo?
– Estou muito leve, cara, sabe? Querendo não só agradar todo mundo, mas me agradar também. Foco em estar no meu melhor momento, respeitando as decisões que quero tomar dentro de campo e com leveza, sabe? Mas também com a responsabilidade que a camisa 9 do Corinthians tem. As coisas ficam mais leves deixando um pouquinho de lado, as coisas fluem.
– O António tem passado muita confiança também, e isso me ajuda bastante. Passei por um momento muito difícil aqui e todos me ajudaram bastante. Estou muito feliz e só quero ajudar, ainda mais do que antes.
Por falar em António, o papel dele nessa evolução é fundamental? Quais fatores ajudam no crescimento além dessa leveza?
– A chegada do António ajudou. Ele é um cara que conheço há muito tempo, desde 2020, e é um cara que não tinha a obrigação nenhuma de me ajudar enquanto eu estava para ter o contrato encerrado com o Santos. Ele me abraçou demais e foi um cara que me deu muita atenção, sempre querendo me ajudar ali com o Jesualdo Ferreira, que era o técnico (António Oliveira era auxiliar). Hoje eu brinco: “António, eu mato e morro por você”.
E dessa relação você chama de António ou Tonhão?
– Chamo de Folha! Chamo de Folha. Quando chamo de Tonhão ou António, ele fica louco comigo. Lá no Santos tinha o Wagner Palha, que tinha esse apelido por ser muito magrinho. Acho que foi o John (goleiro) que começou a chamá-lo de Folha, Folha, antes de Palha. Aí o António ouviu a gente toda hora falar “Folha, Folha, Folha” e do nada começou a chamar todo mundo de Folha. Pegou. Toda vez que jogava contra ele, ia abraçar e falava: “Folha”.
– Agora os outros começaram a chamar aqui no Corinthians. O Maycon gosta muito de irritar ele. A gente fica falando: “calma, Folha”. No jogo agora contra o São Bernardo, fui acalmá-lo, ele falou: “me deixa, me deixa”. Falei: “calma, Folha, calma”. Passou 30 segundos e ele foi expulso (risos).
Yuri Alberto e o técnico António Oliveira em treino do Corinthians
Rodrigo Coca / Ag.Corinthians
Como foi esse primeiro papo com o António, com a chegada dele? Em que momento o António te ajudou a virar a chave na temporada?
– Não teve nada de, tipo, a gente chegar, sentar em uma sala e conversar sobre como seria a temporada. O António chegou e já parecia que estava aqui há muito tempo, sabe? Foi até muito estranho, porque parecia que ele estava aqui há muito tempo, sentou conversando com todo mundo, com os atletas. A coisa foi acontecendo. Ele é um cara que há muito tempo e sei desse tipo de jogo, como joga, muito agressivo.
– Ele usa bastante a minha característica de velocidade, ataque de espaço, e isso me beneficia muito. Se for marcar, marcar para a frente, e não correr para trás, porque a distância fica bem maior. É um cara que o grupo todo abraço, eu abracei, e mato o mundo por ele, como disse.
É o ambiente mais leve que você encontrou no Corinthians?
– Com certeza. O António tem um experimento muito bom de deixar o ambiente muito leve; não só ele, mas como toda a comissão dele e o estafe aqui do CT. No ano passado, a gente brincava: aqui no Corinthians, quando a coisa estava muito boa, estava muito boa mesmo, quando estava ruim, está muito ruim. Graças a Deus o clima está muito leve. Creio que, com o clima e os jogadores nessa alegria e harmonia, a gente possa conquistar grandes coisas.
É até mais fácil passar por um período de concentração como vocês estão passando?
– A gente tem um CT enorme, muito bom tudo o que temos em equipamentos, quartos, a alimentação é boa, a recuperação boa. Passar esse período aqui estando perto de casa, embora sabemos que estejamos trancados aqui, é muito bom por estar perto de casa. Tem sido muito bom esse entrosamento para o grupo também, muito legal. É “resenha”, sinuca, o pingue-ponue, o videogame….
E quem é o bom na sinuca? E no pingue-pongue?
– Wesley é muito bom, parece aqueles menorzinhos que ficam no bar, sabe? (risos). No pingue-pongue, os estrangeiros jogam muito bem, mas aí tem o Leo Maná que joga muito bem. Eu jogo bem, mais ou menos, mas os moleques são alto nível. Vai mais na “resenha” (risos), é maneiro, estamos sempre nos divertindo.
Nessa “resenha” do dia a dia, por que você é o “tio” do elenco? Afinal, você tem só 23 anos…
– (risos) Na seleção de base sub-23 no pré-Olímpico, tinha o técnico André Jardine, que era do São Paulo. Ele é bem “gauchão” e chamava todo mundo de “tio”. Tio Yuri, tio Maycon, tio Robson (Bambu). Tudo ele falava “tio”, “tio, “tio”, e ficamos um longo período na seleção. Como escutava muito, pegou e no Inter ainda passei a falar “tio” Maurício, “tio não sei quem”. Quando cheguei aqui, comecei a chamar os moleques da base de “tio” e aí passaram a me chamar de Tio Yuri, Tio Albertinho.
Raniele e Yuri Alberto comemoram gol: clima “mais leve” em 2024
Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
Como vai ser fundamental essa pré-temporada nesse momento? Quanto vai ser importante para tentar manter o alto nível por mais tempo?
– Além do trabalho daqui, tento sempre manter a alta performance com o trabalho com o meu fisiologista durante toda a temporada. Lógico que você vai oscilar, porque há jogos que são mais pesados fisicamente e outros mais leves. Preciso estar sempre me cuidando para estar bem em campo, poder treinar bem e entregar o melhor para o António e a comissão técnica. Contra o São Bernardo, por exemplo, a gente teve uma semana pesada de treino, eu fiquei um pouco cansado e acabei controlando a carga para ir para o jogo.
– Naquela posição de ponta, você corre bem mais e consegui responder bem. Corri bastante, perdi uns 3 kg só de líquido. Corro de 9 km a 12 km por jogo, e tem muitas acelerações. Então, essa intertemporada tem sido um período muito bom. Temos tempo para arrumar as coisas.
Nessa questão de cuidados, você tem uma academia na sua casa em São José dos Campos, né?
– No Sul, eu tinha uma garagem grande e enchi de tatame, comprei equipamento e deixei. Nessa casa agora, como vou ficar por aqui, demos uma boa investida e deixei um espaço maneiro para fazer a academia, com aparelhos, maca para dar uma soltada em um dia mais pesado de treinamento aqui e tudo mais. Ajuda a acelerar o processo de recuperação, também tenho banheira de gelo, que é terapêutica. Estou atrás daquela câmara hiperbárica que o Hulk (Atlético-MG) tem.
– No período que levei a porrada na costela (clássico contra o Palmeiras), fiz bastante essa recuperação, com bastante colágeno, e acelerou. Aqui tem tudo no CT e dou uma complementada em casa. Gosto bastante de me cuidar, de dar atenção a isso. Preciso muito do meu corpo, e, quando não estou 100%, meu pai já sabe e fica avisando para ter cuidado, porque sabe que não consigo entregar.
Yuri Alberto comemora gol em Corinthians x Portuguesa
Marcos Ribolli
Agora o nível de competitividade vai aumentar. No ano passado, o Corinthians teve um Brasileirão muito difícil, brigando contra o rebaixamento até o fim. Qual será a briga do Corinthians no Brasileirão e na Sul-Americana?
– Cara, e tem a Copa do Brasil também, uma competição muito importante para a gente; afinal, chegamos na final em 2022 e na semifinal no ano passado. São três competições muito importantes para nós, mas o António vai ter o sentimento de saber dividir bem o elenco, não temos um elenco muito grande, mas teremos sabedoria para dividir as competições. Acho que a gente vai beliscar alguma coisa. Creio que esse ano vai.
Por falar em Brasileirão, tem o sonho de ser artilheiro?
– Eu quero, eu quero. Quero começar bem o Brasileirão, também manter na Copa do Brasil. Se Deus quiser serei artilheiro de alguma substituição. Saímos do Paulista, e naquele momento estava perto do Flaco López (Palmeiras). Vou trabalhar muito para ser artilheiro e ajudar muito os companheiros. Em 2021, quase fui. Cheguei a liderar a artilharia em um período, mas aí veio o Hulk e está louco…esse cara é um absurdo.
Você e o Pedro Raul começaram a atuar juntos. O corte ainda é pequeno, poucos jogos. Mas pode funcionar você e ele?
– Pode sim, com certeza. Em 2020, no Santos, eu fazia isso com o Sasha. Eu era centroavante também, mas saía da ponta direita como um segundo atacante ali, e deu superbom; infelizmente, veio a pandemia. Nesses últimos jogos, com a Portuguesa começamos assim também, começamos bem, agressivos. Infelizmente, contra a Portuguesa, o Pedro sentiu o posterior. Ele acabou saindo do jogo e fui para centroavante. Mas, contra o São Bernardo, encaixou legal. Tomara e acho que faremos muitos gols ainda.
Pedro Raul, Yuri Alberto e António Oliveira em selfie após classificação do Corinthians
Divulgação/Corinthians
Você prefere ter o cara ao lado ou jogar mais de lado?
– Minha posição natural é centroavante, centralizado, né? Mas, se é bom para o Corinthians, vai ser bom para mim essa temporada. Ter um cara de altura como o Pedro Raul (1,93m), um bom finalizador como o Pedro é, que chama a atenção do zagueiro, vai ser melhor, né?
Já estão falando que o Corinthians tem a dupla de ataque mais bonita do Brasil (risos)…
– Todo mundo tem brincado, cara (risos). Não sei se foi essa semana ou na passada que fizeram meio que um top-10, top-20 de galãs favoritos. Fiquei em primeiro e o Pedro em segundo. Fiquei na frente dele, e ele levou na boa (risos).
Já que você brincou antes da entrevista que não ia falar de futebol, precisamos falar de um importante evento dessa semana: a harmonização facial do Pedro Raul…
– (risos) Ficou legal, ficou legal. Se os caras não mostram, nem tinha reparado que ele tinha feito. O cara é bonito, pô, boa pinta. Nem tinha reparado. Começaram a brincar com ele: “o nariz está muito brilhoso. Os caras, mano, os caras reparam tudo… (risos).
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