Ex-joia do Botafogo, Luís Henrique admite erro em saída e tenta recomeço na 4ª divisão da Itália

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Aos 26 anos, atacante que foi uma das maiores promessas alvinegras neste século atualmente defende o Livorno, arriscou-se em torneio profissional de pôquer e superou grave lesão Se não é fácil estrear aos 17 anos em um time profissional de futebol, imagina marcar dois gols no primeiro jogo… Foi esse o feito de Luís Henrique Taffner em 2015, no Botafogo. Quase 10 anos depois, o atacante está no Livorno, da quarta divisão da Itália, enfrentou lesões em série, arriscou-se em torneio profissional de pôquer e hoje diz que errou no processo de saída do Alvinegro.
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Luís Henrique lembra começo no Botafogo e explica entraves que geraram saída
Naquele momento difícil da história do Botafogo, o atacante surgiu como uma das grandes promessas do país depois de brilhar na base, mas não conseguiu se firmar entre os profissionais. Aos 26 anos, o capixaba rodou o mundo, conheceu novas culturas e tenta recuperar a carreira depois de uma lesão grave que o tirou dos campos por oito meses.
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A experiência adquirida ao longo dos últimos nove anos se reflete na fala serena e direta, assim como nos posicionamentos. Em entrevista ao ge, o jogador lembra o momento da saída do Botafogo e lamenta a postura que adotou nas negociações de contrato na época.
– Por não entender a dimensão do que era aquele momento na minha vida, eu acabei cometendo erros que hoje não cometeria. De ser um pouco mais flexível nas conversas. Era muito firme nas coisas que eu falava. Isso incomodava a diretoria do clube por ser tão novo e falar de uma forma bem agressiva.
Com o tempo, a pessoa vai amadurecendo e vendo que não são assim que são feitas as coisas. A minha parte ali seria muito mais flexível na forma de conduzir a negociação.
Luís chegou aos holofotes no Botafogo após ser artilheiro da Copa do Brasil Sub-17 de 2015, com 14 gols em 11 partidas. Em meio à carência de peças na posição para a disputa da Série B daquele ano, René Simões chamou o garoto para treinar com o elenco em uma terça-feira. Na sexta, já estreou, contra o Sampaio Corrêa, no Estádio Nilton Santos.
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Luis Henrique comemora gol em seu primeiro jogo no time principal do Botafogo
Estadão Conteúdo
– Na primeira bola que o Renan Fonseca deu, ele respondeu com uma bronca. Eu disse “Ué, que moleque é esse? É diferente”. Primeiro treino e ele “paga” para o Renan Fonseca, que era um zagueiro alto?! Me impressionou, ele treinou muito bem – conta René ao ge.
A estreia não poderia ser melhor. Em 3 de julho de 2015, Luís abriu o placar logo aos 5 minutos do primeiro tempo do jogo contra o Sampaio. Ainda marcou mais um gol e deu uma assistência na goleada alvinegra por 5 a 0.
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Veja o desempenho de Luís Henrique na estreia pelo Botafogo
A partir daquele jogo, Luís Henrique ficou no elenco principal. O clube fez um aditivo ao salário do jovem, consequentemente aumentando a rescisão.
Quando subiu da base, o jogador recebia cerca de R$ 3 mil. As negociações para renovação se arrastaram e não houve acordo. O clube chegou a oferecer um contrato de três anos, com salário progressivo começando em R$ 70 mil no primeiro ano, mas não atingiu o que pedia o staff do atleta.
Em meio ao impasse na negociação, o desempenho de Luís Henrique caiu dentro de campo. Assim, passou a receber menos chances no time.
– É de se entender. Um atleta não está renovando, o clube vai tirando um pouco do espaço até para não valorizá-lo e ele acabar saindo de graça em alguns meses – diz o atleta.
Para Felipe Conceição, treinador que comandou o atacante na base e acompanhou a carreira dele desde o começo, houve um erro de planejamento no trabalho físico feito com o jovem assim que ele subiu ao elenco principal.
De acordo com relato do treinador, a diferença física da estreia no profissional, em julho, para quando se apresentou à seleção sub-17, em outubro, era notável. Rápido e leve nas categorias inferiores, ele rapidamente ganhou muita massa muscular.
– Me assustou porque foi num curto período. O atleta potente, rápido, ágil, tinha essa característica, usava muito e foi perdida. Foi o primeiro baque em um menino de 17 anos sem ele ter essa noção do que tinham feito com ele. Eu tenho certeza, porque o conhecia bem e passei por isso na minha carreira – afirma Conceição ao ge.
Luis Henrique domina a bola contra a Inglaterra durante o Mundial sub-17
EFE
Rodagem internacional
Após a saída do Botafogo, Luís Henrique acertou em janeiro de 2017 com o Athletico-PR, mas teve pouco espaço. O contrato foi rompido seis meses depois para que ele seguisse para o Feirense, em Portugal, em busca de mais minutos para se desenvolver.
Foi o começo de uma carreira internacional, com passagens pelas mais diferentes culturas, algo que o próprio jogador valoriza quando vai escolher um clube para atuar. Desde então, morou também na Finlândia, na Dinamarca, no Japão e agora na Itália.
Luís Henrique valoriza experiências culturais ao longo da carreira
Cada um desses locais proporcionou experiências e vivências diferentes que ajudaram na formação de Luís Henrique dentro e fora de campo.
– É um enriquecimento cultural que eu busco. Quando tenho que tomar uma decisão profissional, eu coloco em pauta também o que isso vai agregar a mim como pessoa. Foi assim na Finlândia, foi assim na Dinamarca, foi assim agora na Itália – destaca.
De todas os países em que viveu, o Japão foi que proporcionou a situação mais diferente. Lá defendeu o Kataller Toyama, que hoje está na terceira divisão nacional.
O clube tem sede na cidade de Toyama, que fica entre Osaka e Tóquio, as duas principais do país. Em um município pequeno, com poucos turistas, muitos habitantes não sabem falar inglês, o que dificultava a comunicação. Culturalmente, os japoneses são muito fechados aos estrangeiros, especialmente nas cidades menos populosas.
– Eles têm a cultura milenar deles e seguem dessa forma. Muitas vezes, eu estava andando na rua e as pessoas atravessavam. Eu não considero xenofobia, é porque eles são assim, tradicionais. Eles veem as pessoas que vêm de fora e são cuidadosos.
Luis Henrique, ex-Botafogo, no Japão
Reprodução
Foi também no Japão que Luís Henrique encarou o momento mais difícil da carreira, com lesões em sequência. Passou meses entrando e saindo do departamento médico, quase sempre com uma pubalgia.
Quando deixou a equipe japonesa, ele voltou ao Brasil para fazer o tratamento e passou por uma cirurgia para curar edema ósseo no reto femoral. Foram oito meses de recuperação, com fisioterapia e trabalho de força até recuperar o condicionamento para voltar a jogar. Longe dos gramados, Luís chegou a disputar um torneio de pôquer no Rio de Janeiro.
– É muito difícil essa lesão. Eu nunca tive nenhum tipo de dor, e veio de uma forma muito agressiva. Cheguei, obviamente, um pouco mal fisicamente depois de oito meses sem jogar por causa de uma lesão. Demorei uns dois meses para estar bem e depois fui tendo a minha sequência.
Foi após esse período que surgiu o interesse do Livorno. Clube que até 2013-14 estava disputando a Série A, mas que por problemas financeiros acabou rebaixado e decretou falência, tendo que reiniciar na quinta divisão.
Luis Henrique, ex-Botafogo, em ação pelo Livorno
Reprodução
Hoje na Série D, o Livorno finalizou a temporada na quarta colocação no Grupo E. Apenas o campeão de cada um dos nove grupos consegue acesso para a terceirona.
Do interior para a cidade grande
Luís Henrique é do Espírito Santo, mas nasceu longe de Vila Velha e Vitória, os dois principais centros do estado. É da pequena Itarana, cidade de 10 mil habitantes que fica a 117 km da capital.
Luís Henrique lembra saída do interior e fala da relação familiar
Filho de Tanara Farinhas e Evilmar, atacante que chegou a ser artilheiro do Campeonato Capixaba, ele cresceu no interior e se apaixonou pelo futebol. Ia à concentração com o pai e virou destaque nos campeonatos infantis, sendo sempre artilheiro.
Com o pai, Luís pegou dicas de posicionamento e, fora de campo, aprendeu sobre a vida de um atleta profissional. Quando os pais se separaram, ele se mudou para o Rio de Janeiro. Sair de uma cidade pequena para a segunda maior metrópole da América do Sul foi um baque para um garoto ainda entrando na adolescência.
– Às vezes eu falo que as pessoas que moram no interior não têm dimensão do que é uma cidade grande. É outro estilo de vida. Para mim, foi uma mudança bem drástica. Foi um período muito difícil. Ir estudar em outra escola, fazer novas amizades, deixar todas as que eu tinha para trás, isso tudo com 11 ou 12 anos de idade, não é fácil.
Luis Henrique com o pai Evilmar (no centro) e os irmãos
Arquivo Pessoal
O caminho até a profissionalização foi difícil. Começou no CFZ, escolinha do Zico, pouco depois da mudança para o Rio. De lá foi para a base do Flamengo por um período, mas acabou dispensado no segundo semestre de 2012.
Em busca de nova oportunidade para o filho, Tanara conseguiu um teste no Bahia na véspera do Natal. Ele chegou a Salvador no dia 24 e foi dispensado pelo clube no dia do Réveillon.
De última hora, o pai conseguiu uma passagem de Salvador para o Espírito Santo, onde Luís Henrique passou a festividade junto de parte da família. Aos 14 anos, o jovem capixaba quase desistiu da carreira naquele momento.
– Falei com a minha mãe que não queria mais jogar e que ia ficar morando com meu pai, em Itarana. Ela falou que não, que eu iria voltar para o Rio. Ia ficar um mês de férias, mas quando voltasse ia com tudo para tentar outra chance. Foi isso que aconteceu. Ela conseguiu novamente um teste no Botafogo e eu passei.
Luis Henrique reunido com a família. A mãe do jogador é a que está à direita na foto
Arquivo Pessoal
A mãe batalhou pela carreira do filho e chegou a chamar para si a responsabilidade de agenciá-lo. Período que o próprio jogador classificou como “complicado”. Separar a relação de empresário e a de parente se revelou uma questão difícil.
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Hoje, Luis Henrique acompanha de longe a reestruturação do clube que o revelou. O Botafogo passou do associativo para a SAF, sob controle do empresário americano John Textor. Para quem esteve em momento de cofres vazios, a mudança é radical.
– Dois ou três anos atrás, quem pensava que o Botafogo estaria brigando pelo título, como foi ano passado? É questão de tempo até começar a ter resultados expressivos.
Foi o clube que mudou a minha história. O ano e meio que fiquei no profissional foi muito especial na minha carreira. Quero que levantem muitas taças nos próximos anos.
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