Gestor no Bragantino, Julio Cesar vê Cássio com perfil de dirigente e crava: “Maior ídolo do Corinthians”

12 min read
Multicampeão pelo Timão, ex-goleiro explica nova função, crê que amigo pode seguir caminho e relembra dores e conquistas no clube que o formou: “Minha passagem daria um livro” Multicampeão pelo Corinthians, Julio Cesar faz parte do sucesso do Red Bull Bragantino
Poucos jogadores viveram tanto o Corinthians nas últimas décadas quanto o hoje ex-goleiro Julio Cesar. Dos (muitos) títulos aos momentos de pressão, o antigo jogador do Timão aprendeu muitas vezes na dor sobre o mundo do futebol e carrega esse período para exercer há um ano uma nova função: assistente de gestão do Red Bull Bragantino.
+ Siga o canal ge Corinthians no WhatsApp
Julio Cesar se aposentou dos gramados no fim de 2022, depois de passagem de cinco anos pelo Bragantino, e começou a carreira fora das quatro linhas meses depois. Desde o começo de 2023, o ex-goleiro colabora internamente para o sucesso do clube de Bragança Paulista, semifinalista do Paulistão.
– Acredito que foi o time certo (para o pós-carreira). É o time que me abriu as portas em um momento difícil, talvez o momento mais difícil da minha carreira, com a saída do Santa Cruz. É organização de porta para dentro aqui, segue como se fosse uma empresa, com metas. O clube tem uma linha e é seguida – disse, em entrevista ao ge.
Mais notícias do Corinthians:
+ Exclusiva: Yuri Alberto supera crises com terapia e apoio do “Folha”
Julio Cesar está há um ano como assistente de gestão do Bragantino
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Julio Cesar fez três cursos de gestão (Conmebol, CBF e FGV) enquanto aprendia no dia a dia como participar da vida de um clube fora do gramado. Muito do aprendizado, contudo, veio dos tempos de Corinthians. Foi mais de uma década desde a base e com nove títulos no profissional.
– Corinthians foi o grande aprendizado da minha vida. Minha passagem pelo Corinthians daria um livro, e não estou brincando. Vivi coisas boas e ruins, e coisas muito boas e muito ruins. O Corinthians não me preparou só para o futebol, mas me preparou para a vida – disse Julio Cesar.
É por isso que ele vê Cássio, ex-companheiro de treinos e amigo até hoje, com perfil para seguir o mesmo caminho. E com uma motivação extra: a de ser o grande ídolo da história do clube.
– Cássio está indo para 37 anos, mas vejo um perfil, sim. É um cara de liderança, que “briga” muito e é capitão há muito tempo. Ele carrega esse perfil de liderança e de gestão, então pode ser um baita gestor pela frente.
– O Cássio, para mim, é o maior ídolo e maior atleta da história do Corinthians. Fico feliz demais. (…) Fora que é um cara sensacional, ainda tenho muito contato, considero um amigo, mesmo a gente não se vendo tanto. É um cara em quem posso confiar – elogiou Julio.
Vislumbrar uma volta ao Corinthians ainda é cedo, mas algo a ser pensado depois de mais alguns anos no interior de São Paulo, ambiente considerado ideal para aprender como gerir um clube de sucesso, hoje a 90 minutos de voltar à final do Paulistão depois de 34 anos.
+ Leia mais notícias do Corinthians
Em tarde inspirada de Júlio César, Corinthians vence o Palmeiras por 1 a 0
– Tenho muito a aprender e evoluir dentro do Red Bull Bragantino, quero estar muito tempo aqui e ajudar o clube a crescer, sendo uma pequena parte. O Corinthians é o clube que me formou. Não sei o futuro, se lá na frente tiver uma oportunidade, o futuro abrange muita coisa – refletiu.
O Bragantino encara o Santos nesta quarta-feira, a partir das 20h30 (de Brasília), na Neo Química Arena (casa do Corinthians), por uma vaga na decisão do Campeonato Paulista. Julio Cesar estará lá como peça importante, mas agora sem as luvas.
Confira a entrevista com Julio Cesar:
Basicamente um ano que você assumiu a função. Está acostumado ou ainda sente falta dos gramados?
– Já me acostumei, estou adaptado. Eu me vejo como uma pessoa que trabalha na parte administrativa, estou inserido no processo com Diego Cerri (diretor executivo), estou fazendo meus cursos. Não sinto falta do gramado. Gosto de acompanhar os treinos, mas dá vontade de treinar, ser goleiro, só quando tem algum jogo bom, estádio cheio. De resto, passa a vontade.
Esse sempre foi o caminho que decidiu seguir pós-aposentadoria dos gramados?
– Era claro desde quando comecei, ainda com o Thiago Scuro (ex-diretor do clube e atualmente no Monaco). Desde o primeiro dia, disse que minha vontade era a gestão. O Diego Cerri (atual diretor) me fez a mesma pergunta quando assumiu. Eu me vejo nessa parte de organização e administrativa. Fiz curso na CBF, na Conmebol, acabei na semana retrasada um da FGV; ainda vou ver se emendo outro neste ano. É buscar conhecimento e não só ter a experiência dos gramados.
E o Bragantino foi o time certo para você começar nessa função?
– Acredito que foi o time certo. É o time que me abriu as portas em um momento difícil, se não no momento mais difícil. O clube não estava bem e me abriu as portas. Fiquei cinco anos. A nossa organização é da porta para dentro, isso é muito importante. Segue como se fosse uma empresa com meta. Claro que tem torcida, tem imprensa, coisas externas que fazem a diferença, mas o clube segue uma linha de trabalho.
– Quando tem consciência de onde quer chegar é visualizar para que isso aconteça. Claro que não vai ser campeão da Libertadores em um ou dois anos, mas sabemos que uma hora vamos ser. Isso é missão de tornar o clube cada vez mais forte.
Julio Cesar fez cursos de gestão e quer seguir nessa carreira
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Quais as referências que você tem nessa nova profissão?
– Sou um cara muito observador. Olho e aprendo com todo mundo. Scuro me deu a primeira oportunidade e mostrou que essa é minha função; hoje está no bem no Monaco. O Cerri tem me ajudado muito, me aberto espaço, é um cara que está mostrando o caminho. São dois nos quais me inspiro. Dentro do futebol, o Edu Gaspar tem muito sucesso entre os que trabalhei e joguei. É um em quem também me espelho.
Por falar em Edu Gaspar, o que você carrega dos tempos de Corinthians para a nova função?
– Corinthians foi o grande aprendizado da minha vida. Minha passagem pelo Corinthians daria um livro, e não estou brincando. Vivi coisas boas e ruins, e coisas muito boas e muito ruins. O Corinthians não me preparou só para o futebol, mas me preparou para a vida. Uma das lições que aprendi é que tudo é possível.
– Fui um goleiro de 1,85m, sempre contestado pela minha altura, mas cheio de sonhos. Acreditavam que não daria certo, mas consegui. É difícil hoje uma pessoa dizer que eu não vou conseguir. Eu não estudei enquanto atleta, mas agora estou recuperando o tempo perdido, estudando línguas, cursos para me capacitar. Tem que lutar atrás da sua meta.
Julio Cesar, jogador do Corinthians, comemora o título do Timão
Se sua história no Corinthians daria um livro, qual o capítulo mais feliz e qual o mais triste?
– Vou citar o Brasileirão de 2011 como o mais bonito de todos. O título que mais curti foi a Libertadores de 2012, um título que cresci querendo ser. Mas no Brasileirão joguei muitos jogos e ficou marcado. O momento mais triste foi a minha saída do time titular, com a entrada do Cássio depois do erro nas quartas de final do Paulista contra a Ponte Preta. Ali, passei dias muito difíceis, dentro de casa, sem ligar a televisão. Só treinava e ia para casa. Foi muito difícil.
O que foi mais difícil nessa época?
– É reconhecer o seu valor. Você é apedrejado, humilhado, com peso de um clube grande, é encarar as pessoas e retomar o caminho; tipo sair da portaria do prédio e o porteiro ser é corintiano. Ele te olha torto e diz que está sendo zoado por palmeirense. É você recuperar esse prestígio, mas o tempo cura. Essa daí é uma situação complicada e tive que aprender na dor.
E como foi seu processo de saída?
– Tive diretores que me trataram como um ser humano antes de me tratar como um jogador. Eu conversei na época com o Duilio Monteiro Alves e o Roberto de Andrade. Eles falavam: “Aqui é sua casa, pode ficar até o fim do seu contrato, você é profissional”. Mas você vê que seu espaço está passando. Era segundo goleiro, aí começa a ser terceiro; tinha o Walter, o Danilo e o Cássio. Você acaba indo para um jogo a cada quatro jogos e vê que realmente o ciclo acabou. Foi tudo tranquilo.
Aliás, sobre o Cássio. Ele assumiu a condição de titular no seu lugar e se tornou um cara longevo dentro do clube. Imaginava que esse seria o destino para ele, já que conviveu no dia a dia?
– É difícil prever, porque o que o Cássio fez é gigantesco. Nos treinamentos, você via a qualidade e o quanto ele poderia representar. O Cássio, para mim, é o maior ídolo e maior atleta da história do Corinthians. Fico feliz demais. Se colocar o maior jogador do Corinthians e for ele, está muito bem representado. Fora que é um cara sensacional, ainda tenho muito contato, considero um amigo, mesmo a gente não se vendo tanto. É um cara em quem posso confiar.
Julio Cesar crê que Cássio tem um perfil de gestão
Divulgação
E ele tem perfil de gestão?
– Cássio está indo para 37 anos, mas vejo um perfil, sim. É um cara de liderança, que “briga” muito e é capitão há muito tempo. Ele carrega esse perfil de liderança e de gestão, então pode ser um baita gestor pela frente. Mas no futebol, a gente passa dos 30 e já vão nos aposentando (risos). Perto dos 40, então, só o Fábio mesmo. Pelo nível que está jogando, o Cássio tem pelo menos mais uns três anos de alto rendimento.
Como você decidiu pela função? Conversou com muitos atletas que foram por esse caminho?
– Procurei alguns ex-atletas quando estava para parar. Alguns que não trabalhei, mas que é conhecido de alguém com quem joguei, por exemplo. Sou sempre aberto, é no escuro, você não sabe qual é a função. Você sabe jogar bola, fora não sabe nada. Estou sempre à disposição para falar com qualquer um, temos que nos ajudar. Futebol é feito para quem trabalhou, cabe todo mundo, o ex-atleta ainda não sabe como quer, funções diferentes.
– O Alessandro (Nunes, ex-Corinthians) foi um com quem conversei bastante. Ele contava sobre o dia a dia, um cara que sempre tive boa relação e foi muito boa. Victor foi outro também. Sempre tive uma coisa que gostei da gestão foi acreditar. No Náutico e no Santa Cruz, tendo todas as experiências, acredito que o campo se faz primeiro fora para depois ser construído o resultado dentro. Sempre acreditei que precisa ter um clube organizado, atletas motivados, concentrados no que deve ser feito. Me faz acreditar que a gestão pode fazer a diferença, por isso escolhi essa área.
Julio Cesar caminha ao lado do técnico Pedro Caixinha: Bragantino sonha com o título
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Você está a três jogos de conquistar seu primeiro título como gestor. Esse jogo contra o Santos é o mais importante do projeto Red Bull Bragantino?
– É um dos jogos mais importantes. Sempre brinquei: o jogo mais importante é sempre o próximo. Tivemos semifinal do ano passado, final da Sul-Americana, mas esse é o jogo da vida. É um jogo difícil, adversário que vem fazendo ótimo campeonato, jogo fora de casa. É um campo neutro, mas com torcida do Santos em grande quantidade. Nos preparamos todo dia para enfrentar isso.
– Só se chega se participar desses momentos decisivos. As decisões fizeram a gente ser experiente e nos coloca em nível de conseguir a vaga. É difícil, tem tradição, camisa, mas pode acontecer. Vamos fazer a nossa função bem-feita para se Deus quiser, conseguir. Os êxitos e as frustrações fazem você crescer. Capacitam a gente para seguir e ter o resultado positivo. Obvio que não temos que ter fantasmas, pensar no passado. Temos que usar o passado como fonte de energia.
E qual o real objetivo do projeto?
– Ser uma instituição vencedora, se firmar entre os 10 do Brasil. Uma tarefa árdua. Estamos sempre em sexto, sempre entre os dez, tem muito time de qualidade. É estar todo ano em uma competição sul-americana, são competições importantes e difíceis. Cada vez vai se consolidando entre esses clubes está se tornar campeão. Não dá para fizer em quanto tempo, objetivo é esse, ser campeão, tem que sonhar com isso. Quanto tempo vai demorar? Não sei, mas nosso caminho é esse.
– Claro que você não vai ser campeão da Libertadores em um ou dois anos, mas sabemos que uma hora vamos ser. Isso é missão: tornar o clube cada vez mais forte.
🎧 Ouça o podcast ge Corinthians🎧
+ Assista: tudo sobre o Corinthians na Globo, sportv e ge
e

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours