Klopp e Guardiola encerram era de protagonismo e mudaram para sempre o futebol jogado no mundo

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A rivalidade entre os dois marcou uma era de 32 títulos e inspirou treinadores mundo a fora O confronto entre Liverpool e Manchester City, neste domingo, vale a liderança do Campeonato Inglês. É uma frase que parece rotineira, dado o protagonismo dos clubes nos últimos oito anos, mas que dessa vez ganha um sabor especial pelo fim de uma rivalidade marcante: Pep Guardiola versus Jurgen Klopp.
Com a saída do alemão ao final da temporada, o jogo marca a última vez que os dois se encontram no futebol inglês.
Juntos, eles venceram 32 títulos, terminaram com jejuns de décadas e mudaram a forma como o futebol é jogado no planeta com dois estilos táticos quase que antagônicos, duelos eletrizantes e uma relação de admiração mútua.
Jürgen Klopp Pep Guardiola Manchester City x Liverpool
Phil Noble/Reuters
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Pep fez questão de louvar o estilo de contra-ataques fulminantes que dilacerou o City na Liga dos Campeões de 2018/19, e Klopp dizia que enfrentava o melhor treinador do mundo na Premier League de 2018/19, no qual o City foi campeão com 98 pontos contra 97 do Liverpool. Até nisso ensinam ao mostrar que rivalidade pode ser alegre, respeitosa e proveitosa.
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A história na terra da Rei começa em dezembro de 2016, após oito jogos no futebol alemão e três anos depois de Klopp surpreender e vencer a Supercopa da Alemanha no primeiríssimo jogo de Guardiola no Bayern de Munique.
Nada mais natural que aquele primeiro City versus Liverpool fosse vencido por Klopp. Nada mais natural também que fosse Guardiola o impositor da pior derrota do alemão no Liverpool: o 5 a 0 em setembro de 2017, que quase custou a cabeça do treinador.
Aqueles primeiros anos ainda não mostravam a real dimensão do embate entre os dois. Foi o eletrizante 4 a 3 para o Liverpool, no começo de 2018, que daria o tom: jogos movimentados, na máxima intensidade e extremamente físicos. Tudo com dois jeitos de atacar rodeados pelo caos: o quanto se controla dele? O quanto se aceita?
Visões táticas muito diferentes
Guardiola, autor do impressionante Barcelona e do revolucionário Bayern com os laterais meias, é avesso ao caos. Tudo o que ele quer é que o time guarde posições e faça a pirâmide invertida em campo para tornar o passe o mais previsível possível. A filosofia de Pep é sobre controlar o campo, com e sem a bola, para controlar o adversário e chegar na vitória.
Klopp quer tudo, menos controle. Seus times, como o Borussia e o Liverpool naquela temporada, operavam no caos. Não tinham vergonha de defender com seis ou sete jogadores para deixar Firmino, Salah e Mané lá na frente, pronto para puxar um contra-golpe. Aceitavam o caos do jogo e da vida ao botar metade do time sufocando um único adversário para roubar a bola e atacar depois disso, movimento que ficou conhecido pelo nome de geggenpressing.
Firmino Jürgen Klopp Liverpool x Shrewsbury Town – Copa da Inglaterra
Reuters
O Liverpool não perdeu para o City em 2018. Na Liga dos Campeões, Pep era o franco favorito e o Liverpool trucidou nos momentos de transição, quando roubava a bola e partia rápido ao ataque, num 4 a 1 no agregado. O futebol havia mudado para sempre naqueles encontros.
A lição foi aprendida de ambos os lados. O Liverpool perdeu a sonhada Champions e aprendeu a defender melhor com a chegada de Van Dijk e uma organização para atacar um pouco mais “guardiolista”, com mais calma e menos pressa. O resultado foram dois anos com quatro títulos, incluindo o tão sonhado fim do jejum no inglês.
Pep ao pouco foi mudando seu City para manter a pegada de dominância e posse de bola, mas com mais alternativas. No bi-campeonato de 2018/19, o time já usava ligações diretas de Ederson para Gabriel Jesus escorar para De Bruyne. Nos anos seguintes, Bernardo Silva e De Bruyne se movimentavam para Mahrez e Sterling chegarem de forma fulminante pelos lados.
Legado vivo na Inglaterra e no mundo
Não foram apenas Pep e Klopp que aprenderam um com o outro. A rivalidade se deu num momento que o mundo via Cristiano Ronaldo e o Real Madrid de Zidane e seus talentos vencerem tudo. Depois, o Liverpool e os times que sabiam se fechar e atacar com máxima velocidade, como o Bayern e o Chelsea, que venceram a Europa.
Pep Guardiola e Kevin De Bruyne comemoram vitória do Manchester City sobre o Newcastle
Reuters
Treinadores como Unai Emery e Roberto de Zerbi se inspiraram no “Guardiola 3.0” para construir equipes de pleno domínio no futebol inglês que sabiam sair com o cuidado atrás e o goleiro jogando curto, mas aceleravam para trucidar com o futebol “Heavy Metal” de Klopp.
A Inter de Milão de Inzaghi, com seus 18 pontos de vantagem na liderança do Campeonato Italiano, e o impressionante Bayer Leverkusen de Xabi Alonso são ótimos exemplos de equipes que transformaram os duelos entre City e Liverpool num novo tipo de jogo: paciente e arriscado atrás, furioso na frente.
Outro grande exemplo é o Fluminense de Fernando Diniz: Fabio jogando curto e saindo com todo mundo junto de forma paciente até a bola chegar em Cano e John Kennedy e ser decidida em poucos toques. Um ritmo diferente, que começa em Guardiola e termina em Klopp. Futebol, jogado em sua máxima expressão.
Último jogo marca disputa viva pelo título do Campeonato Inglês
Nos últimos dois anos, a batalha de cada um ganhou rumos diferentes.
Klopp se viu na missão de reconstruir novamente o clube inglês após as saídas de Henderson, Fabinho, Mané e Firmino. Na última temporada, ele reformou o meio-campo com MacAllister, Endo e Szoboszlai. Vê Darwin Nuñez calar os críticos com gols e assiste o crescimento de Gakpo e Luiz Díaz na equipe. E talvez de forma até surpreendente, chega no duelo como líder da Premier League.
Já Guardiola ganhou Haaland e a tão sonhada Liga dos Campeões com o City. Agora, se vê reconstruindo sua equipe após perder o antigo capitão Gundogan. A nova versão do time tem quatro zagueiros, com Stones no meio-campo e alas extremamente ofensivos como Foden e Doku. Se não é tão dominante como na temporada passada, continua a disputar tudo o que vê pela frente.
Jürgen Klopp e Pep Guardiola em ação em Liverpool 3 x 2 Manchester City
Reuters
Nada mais honroso para os dois amigos, que se abraçam, gesticulam em campo e representam diferentes formas de sentir o jogo, decidam mais uma vez a liderança da maior liga nacional do último duelo entre os dois.
Que o jogo honre o que foram os últimos oito anos de Klopp e Guardiola no futebol inglês: um jogo de tirar o fôlego, com muitos gols e que mudou para sempre o futebol jogado no mundo.

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