Lição para 2027: é preciso um engajamento ainda maior pelo futebol feminino no Brasil

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Clubes que ainda estão fora do processo e federações precisam se atentar ao cenário e entrarem de vez no ecossistema da modalidade A Copa do Mundo feminina de 2027 vai ser no Brasil e a competição traz um sopro de esperança num passo a mais para o futebol feminino do país. Vimos a seleção feminina jogando em casa e trazendo um público de mais de 60 mil pessoas nos dois jogos no Nordeste. Aliás, o objetivo nessa caminhada é trazer nossa principal equipe para perto dos torcedores com o ápice daqui a três anos. Mas o futebol feminino não se constroi somente com a camisa amarela. É preciso sinergia, vontade. Digo vontade além do que a CBF faz. A entidade pode obrigar, investir, mas precisa de companhia para a evolução ser completa: dos clubes e federações.
Com a tragédia no Rio Grande do Sul, Grêmio e Inter ficaram prejudicados não apenas com seus times masculinos. Os times femininos sofreram igualmente. Calendário atrasado, jogos a recuperar em um curto período de tempo. A atuação dos presidentes ficou aquém do esperado. Pensaram nas datas e pediram apoio dos outros clubes ao masculino. No feminino, seus comandos diretos precisaram fazer essa negociação em meio a reuniões de base e feminino juntas, o que não é o correto a se fazer com a elite do futebol feminino nacional. Da mesma forma, a FGF poderia ter também atuado de uma maneira mais efetiva – não esquecendo também o Juventude na A2, mas com um calendário de menos jogos na competição.
Agora, fazendo um recorte sobre a situação de Grêmio e Inter. O time tricolor leva uma vantagem nessa recomposição após as enchentes no RS. Conta com um departamento entendedor da modalidade. Além da técnica Thaissan Passos, tem a diretora Marianita Nascimento e a diretora adjunta Karina Balestra. Essa combinação rendeu ao Grêmio uma estabilidade maior no começo do Brasileiro Feminino A1, o que pode significar agora uma tranquilidade maior na tabela com a sequência pesada de jogos. No Inter, o time feminino sofre. Um clube que desde seu retorno ao futebol feminino sempre foi exemplo pelos elencos fortes e que vinham lutando sempre no topo dos campeonatos.
A carta aberta do agora ex-diretor de futebol feminino, César Schunemann, dá o tom do que a atual gestão vem fazendo. Lutas primárias como campos e até água voltando a serem pautas. Não só isso. A ineficiência recente. A saída de Lucas Piccinato para o Corinthians – após uma ótima passagem pelo Colorado – e a contratação de Breno Basso. De lá para cá, os problemas se acumularam. A direção se preocupou em garantir as renovações de Priscila e Belén Aquino e “esqueceram” do restante. O saldo é o risco atual na tabela do Brasileiro – mesmo com a última vitória diante do Atlético-MG.
Brasil é escolhido como sede da próxima Copa do Mundo Feminina, em 2027
LILLIAN SUWANRUMPHA / AFP
O que quero pontuar aqui e colocar o Inter como exemplo é que para construir se leva muito tempo – como algumas gestões fizeram com um bom trabalho -, mas para se derrubar o processo basta gerir sem o foco devido na modalidade. O esvaziamento e apontamento de um comando que não entende a importância de certas ações. Temos mais exemplos assim pelo Brasil, mas lamento profundamente que o Inter viva esse momento. Justamente por ter se tornado um exemplo “fora do eixo”. A vitória em cima do Atlético-MG faz a equipe respirar, mas não é em cima das jogadoras que a pressão deve estar.
Espero realmente que a Copa do Mundo de 2027 faça com o Brasil o que vi na Austrália e o que hoje ocorre por lá. Mas volto a reforçar. É preciso um envelopamento do ecossistema. As ações e obrigatoriedades vêm de cima, mas os degraus precisam ser completados por clubes e federações. O fomento, interesse e saliento até mesmo a cobertura deixar de ser somente pontual em cima dos jogos. Clubes devem se atentar também para os palcos dos duelos. E pego a construção que o Corinthians feminino fez com Cris Gambaré, hoje coordenadora de seleções femininas na CBF. Pavimentou o caminho, criou uma identidade, investiu, ganhou títulos, fidelizou e aí se viu confortável também para usar a NeoQuímica Arena em partidas decisivas. Não é por acaso.
São tantos exemplos de que basta ter uma planejamento para o sucesso chegar. Cruzeiro com sua gestão focada em estrutura e não somente em contratações e até mesmo o Bahia, que, agora com a SAF, desponta como uma das forças da Série A2 do Brasileiro – no último sábado, foram as jogadoras que lançaram a nova camisa oficial do clube para a temporada, com jogo na Arena Fonte Nova.
Vivemos ainda uma evolução e estagnação, que se intercalam. Mas o valor do futebol feminino está aí à porta. Não à toa até mesmo as negociações estão rendendo valores importantes aos clubes que lá atrás se garantiram em dar um contrato regulamentado às atletas. A última foi Tarciane, a quarta maior transferência feminina no mundo. Se era uma Copa do Mundo que precisávamos para fincar o pé de vez no cenário do exemplo, aí está ela e inteligente será quem já estiver na trilha para colher os frutos em 2027.

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