Mães de gêmeos de Botafogo e Grêmio repassam desafios da jornada dupla pelo sonho do futebol

9 min read
Laurinda, mãe de Fábio e Rafael, e Cristiane, mãe de Natane e Chai, trazem memórias da trajetória dos quatro jogadores pelo sucesso Elas vivem longe dos holofotes e são tímidas para dar entrevista, mas a motivação muda quando assunto é falar do maior amor da vida delas: os filhos. Nesta reportagem especial de Dia das Mães, o ge conversou com duas mulheres que são mães de atleta em dose dupla.
Nos times profissionais masculino e feminino do Botafogo e do Grêmio, há atletas gêmeos. O lateral-direito Rafael, do Alvinegro, é irmão do também lateral Fábio, do Tricolor. Situação parecida com a de Chai, que defende o time feminino carioca, e Natane, que atua no gaúcho. Káren e Kélen também jogam no Botafogo, que ainda tem outro gêmeo: o meia Óscar Romero – o irmão Ángel atua no Corinthians.
Mães Olímpicas: Hortência levou o filho para os Jogos de Atlanta
Laurinda Silva, de 61 anos, mãe de Rafael e Fábio, e Cristiane Draghetti Locatelli, de 49 anos, mãe da Chai e da Natane, abriram os corações para a reportagem.
+ ✅Clique aqui para seguir o novo canal ge Botafogo no WhatsApp
Laurinda sorriu desde o início da entrevista, cheia de orgulho dos dois laterais. Mas a alegria que tem hoje, de ver os filhos com longa trajetória no esporte, é diferente da dor que sentia toda vez que os largava, então com 11 anos, no CT do Fluminense, o clube que os formou.
– Nunca deixamos eles nos (ela e o marido) verem chorar. Quando deixávamos eles no CT do Fluminense, na segunda-feira, saímos de lá chorando porque eram muito pequenos. Ainda bem que eram dois porque um cuidava do outro. Quando eles começaram, trabalhávamos em um haras como caseiros, por isso eles foram morar cedo no Fluminense, não tínhamos de condições de levar e buscar. Foi uma dor, né, mas graças a Deus que tivemos coragem – disse.
Laurinda Silva, mãe de Fábio e Rafael, com os filhos
Arquivo Pessoal
Ela trabalhava, ao lado do marido, como doméstica, em um sítio em Petrópolis. Aos 27 anos foi diagnosticada com dois cistos. Preocupada, buscou uma segunda opinião profissional e descobriu que dois corações batiam dentro dela. Para Laurinda, que já era mãe e que sempre quis ter mais filhos, foi uma alegria:
– Não sentia nada a não ser enjoo. E então eu fui em outro médico, quando eu já tava com dois meses e pouco de gravidez. Ele disse que estava grávida, ouviu os batimentos e disse que tinha dois coraçõezinhos. Eu virei para ele e perguntei se meu filho tinha algum problema. Ele disse que não, que eu estava esperando dois bebês. Voltei chorando para a casa, contei para o meu marido, que disse: ‘se Deus está dando é porque vai ajudar a criar’.
A gestação de gêmeos pode ter alguns riscos, e Laurinda precisou ser internada duas vezes – os bebês nasceram com um pouco mais de oito meses. Ainda na maternidade, ela teve outro susto.
– Eu estava operada, mas os dois estavam comigo no quarto. De repente, eu olhei para o Fábio e ele estava todo roxo. Levantei correndo e saí pelo corredor gritando. Ele estava sem respirar. Levaram ele e descobriram que ele tinha sopro no coração. O pediatra disse que ele tinha que melhorar até os seis meses ou então fazer tratamento depois disso. Graças a Deus, depois desse tempo, ele não tinha mais nada.
Como toda mãe, ela coleciona memórias. Formados na base do Tricolor do Rio de Janeiro, eles foram juntos para o Manchester United, da Inglaterra, aos 17 anos. Até chegar lá, Laurinda lembra de momentos que quase os fizeram desistir.
Leia mais sobre o Botafogo:
+ Botafogo vai viajar 23.557 km em 16 dias por três competições
+ Artur Jorge deve intensificar rotação no elenco do Botafogo; veja as maiores minutagens
– Em uma segunda-feira, eu estava com a roupinha do Rafael toda arrumada para levá-lo ao Rio de Janeiro, ele tinha 11 para 12 anos. E, do nada, ele começou a chorar perto de mim. Eu abracei ele e disse: ‘filho, se você não quiser ir, você não é obrigado. Vocês que quiseram ir, mas pode ficar aqui. Mamãe sempre vai dar as coisas para vocês’. E então comecei a perguntar se alguém brigava com eles, porque eram os mais novos, né? Ele virou e disse: ‘mãe, eu tenho medo da senhora parar de me amar porque eu estou longe de você’. Aí o coração partiu e mexeu muito comigo na época – contou, ao lembrar que o jogador alvinegro era muito apegado a ela.
– O Fábio tinha 14 anos, quando ainda estava no Fluminense, e ele falou para uma amiga minha, mãe de um jogador amigo dele, que ia parar de jogar naquela semana. Aí minha amiga perguntou o motivo. Ele respondeu: ‘porque minha mãe e meu pai trabalham muito, e vou ver se arrumo um emprego para ajudar eles’. Ela disse a ele que se ele queria mesmo me ajudar era para seguir jogando bola e mostrar tudo o que ele sabia.
+ Leia mais notícias do Botafogo
Rafael e Fabio se enfrentaram na França
Arnaud Duret/Nantes
A comparação também é algo temido pelas mães de gêmeos. Não foi diferente na carreira dos dois. Laurinda conta do dia que Fábio foi convocado, mas Rafael não. Ela ponderou e logo depois teve a notícia que mudaria o rumo da carreira dos dois.
– Eles sempre foram juntos para a seleção brasileira de base, mas teve um dia que a convocação saiu às 6h da manhã e o meu filho mais velho avisou que o Fábio tinha sido chamado, mas o nome do Rafael não estava. Eu respondi que não adiantava querer, que ia ser assim mesmo. Quando deu 10h, o Fábio tinha me ligado para contar, mas o Rafael não sabia de nada. Às 10h30 saiu a informação de que o Rafael não tinha sido convocado porque ele ia fazer um teste lá no Manchester, na Inglaterra, e por isso que ele não podia ir para a Seleção. Foi uma glória.
A partir de então o rumo da carreira dos dois começou a mudar – primeiro foi Rafael, e logo na sequência Fábio também fez o teste. Os primeiros contratos com o clube europeu foram assinados e isso começou a mudar a vida família.
Cristiane com as filhas Natane e Chai
Arquivo Pessoal
Cinco anos depois de Laurinda dar à luz aos dois meninos, em Petrópolis, Cristiane trazia ao mundo as irmãs Chaiane e Natane, em Garibaldi, no Rio Grande do Sul. Assim como Fábio e Rafael, as duas começaram a caminhada no futebol juntas e vestiram a camisa do mesmo clube por dois anos logo que viraram profissionais: o Avaí Kindermann.
A mãe contou que a separação das filhas foi um dos momentos mais marcantes:
– Elas saíram de casa muito cedo. Aos 15 anos foram morar na cidade de Caçador, em Santa Catarina, para jogar no Kindermann. Enquanto as meninas da idade delas estavam aproveitando a adolescência, elas estavam lá, treinando e lutando para se desenvolverem profissionalmente. Por alguns anos jogaram no mesmo clube, mas em um certo momento da carreira, jogar em times diferentes foi um crescimento enorme.
Além de serem idênticas na aparência, Chai e Natane também têm a mesma posição: são laterais-esquerda – a primeira, pelo Botafogo, e a segunda, pelo Grêmio. Elas conquistaram dois títulos juntas: o Brasileirão A1, pelo time catarinense, e A2, pelo São Paulo.
Cristiane viveu um momento angustiante da gestação, aos 19 anos. As filhas nasceram prematuras, ficaram internadas na UTI pediátrica. Até os dois anos, sofreram com refluxo, algo comum entre bebês que nascem antes do tempo.
– Ser mãe de jogadora de futebol é torcer para dois times, é vibrar a cada conquista, ter o privilégio de assistir os jogos e de ter muito orgulho de toda essa trajetória. É poder dizer: sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto, é realidade – apontou Cristiane.
Natane e Chai com a família
Arquivo Pessoal
A infância das duas se assemelha com a de muitas meninas que sonham jogar futebol. Elas moravam em um bairro de Garibaldi, que sempre reunia os meninos para a prática do esporte. O apoio da família, algo nem todas têm, foi fundamental para dar um passo a mais nesse sonho.
– Eu sempre tive muito orgulho delas. Nunca medi esforços para que o sonho de serem jogadores de futebol profissional se tornasse realidade. O caminho foi difícil, foram muitas batalhas, mas Deus é soberano, e tudo o que foi conquistado, faz parte de uma longa caminhada. Quem teve a oportunidade de conhecê-las sabe o quanto elas são pessoas do bem. Fico muito feliz e meu coração fica em paz em saber que hoje elas fazem o que mais amam, que é jogar futebol.
Hoje, elas vivem a 1.600 quilômetros de distância uma da outra, mas sempre que Cristiane pode, dá um pulinho aos jogos do Grêmio para a assistir à filha. Para ver Chai, a rotina corrida a limita a assistir nas transmissões.
– Gostaria de dizer que amo muito elas e que eu faria tudo de novo. Que elas são o meu melhor presente e que a felicidade delas é a minha felicidade. Que sigam em frente e que a jornada delas seja repleta de muitas realizações e que sigam jogando com a alegria de fazer o que mais amam.
🎧 Ouça o podcast ge Botafogo 🎧
Assista: tudo sobre o Botafogo no ge, na Globo e no sportv

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours