Montenegro chama Textor de herói no Botafogo e conta o que faria no fim do Brasileiro 2023: “Invadiria”

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Presidente no título de 1995 revela que emprestou R$ 15 milhões de uma vez só pouco antes de o clube virar SAF e revê trajetória de cartolas até venda do clube: “Tenho muita pena de todos” Carlos Augusto Montenegro um dia se viu na capa do jornal “O Globo”. Não tinha nada a ver com o Ibope, o maior instituto de pesquisas da América do Sul que presidiu durante décadas. Estava sendo contido por Edmundo após a virada do Vasco sobre o seu Botafogo.
Abre Aspas: Carlos Augusto Montenegro relembra passagem no Botafogo e elogia Textor
Depois de chamar o vice de futebol vascaíno de palhaço no primeiro tempo, pela invasão de campo, Montenegro, presidente do Botafogo, repetiu o cartola rival e foi para cima do árbitro Jorge Travassos.
– Está vendo? Era por isso que eu não queria que você entrasse para o futebol – escutou do pai.
A invasão de campo num clássico contra o Botafogo, com Edmundo o contendo: “Calma, presidente”
André Durão
Ele entrou… E só saiu – mas nem tanto assim – quando John Textor comprou o Botafogo. O americano é ídolo e herói do homem de 70 anos que levou o clube ao improvável título brasileiro de 1995.
No Abre Aspas, Montenegro conta a relação de amor e ódio que vive com botafoguenses. Altos e baixos que se traduziam numa, digamos, pesquisa de campo bem mais simples do que a do Ibope. Quando era o presidente campeão, “meu copo cerveja não baixava nunca”. Mas se estivesse mal…
“Meu copo de cerveja nunca ficava vazio”, diz Montenegro sobre título do Botafogo em 95
Ficha técnica:
Nome completo: Carlos Augusto Saade Montenegro
Nascimento: Rio de Janeiro, dia 28 de janeiro de 1954 (70 anos)
Profissão: economista. Foi presidente do instituto de pesquisas Ibope por mais de 40 anos. Presidente do Botafogo em único mandato (1994-1996)
Títulos como presidente: Brasileiro de 1995, Teresa Herrera de 1996.
Abre Aspas: Carlos Augusto Montenegro
Você vem de família botafoguense?
— Não, o meu pai era Fluminense. Eu nasci em Laranjeiras. Meu pai colocou nós, quatro filhos, como sócios do Fluminense. Mas com quatro, cinco, seis anos de idade, no colégio, resolvi ser Botafogo. O Botafogo estava muito bem. Era moda ser Botafogo. Isso era 1960, 1961. Resolvi ouvindo os jogos. Como meu pai era Fluminense, não tinha muito como ir aos jogos. Fui crescendo, aí fiquei plenamente calcificado botafoguense em 1967, 1968. Sempre fui um torcedor de arquibancada, tinha uma bandeira grande, para mim naquela época era grande porque tinha que ir de ônibus. Tinha uns 3 metros. Sempre fui aos jogos, não no meio da torcida, mas perto das torcidas organizadas, sempre na arquibancada.
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Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
Então viveu um pouco do auge do Garrincha, mas pegou os 21 anos sem título?
— Foi meu primeiro drama como botafoguense, 21 anos sem título até 1989. Até o nosso Maurício nos dar aquela alegria em 1989. Conseguiu fazer o gol sendo empurrado ainda (contra o Flamengo). Uma coisa fantástica (risos, em tom irônico).
O seu caminho para a presidência do clube se dá como? Você não era sócio.
— Em 1991, dei entrevista para a revista Playboy, como presidente do Ibope. Tinha passado a eleição de 1989, a primeira eleição direta, e dei uma longa entrevista. Aí perguntaram de hobby. Eu disse que meu grande hobby era ir ao Maracanã como botafoguense. Que eu não perdia jogos etc. Lendo isso, o presidente do Conselho do clube na época reuniu lá seis, sete homens importantes do Botafogo. No dia que eles foram lá no Ibope eu tomei até um susto. Estavam todos com terno escuro preto, azul marinho e tal, eu, com jeans, camisa polo. Eles me fizeram apelo para eu tentar uma permuta com a Vale do Rio Doce para reaver a sede de General Severiano.
— Como todo botafoguense, eu tinha aquilo encravado, era meio superstição. Achei que a perda da sede teve alguma coisa a ver com os 21 anos que nós não ganhamos e me propus a ajudar. Teoricamente você tinha que entregar o Mourisco Mar com 7 mil metros quadrados para readquirir a sede, com 21 mil metros quadrados. Em troca a gente precisava aumentar o gabarito de três andares para seis no Mourisco. E com isso a Vale aceitava fazer a permuta. Parece simples, mas foi um ano e meio de luta, indo a Câmara dos Vereadores todos os dias, falava com o prefeito e no final a gente conseguiu a aprovação.
Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
Como foi essa volta a General Severiano?
— Então, aí veio o segundo problema. Não tinha um centavo para aquilo. A sede eram ruínas, tinha até um lago embaixo, no porão, com peixe. E o campo um capinzal. Aí eu continuei, consegui com a Vale que ela restaurasse a sede como era original e consegui fazer um contrato com um pessoal de shopping center no caso a Pinto de Almeida. Eles reconstruiriam um clube com o shopping embaixo.
Abre Aspas: Carlos Augusto Montenegro fala de festa pelo título do Botafogo em 95
Mas você não era presidente?
— Não, nada. Mas, depois disso, esse pessoal começou a falar: “poxa, depois disso tudo, você tem que ser presidente”. Aí foi um drama, porque eu já estava deixando um pouco o Ibope de lado por causa dessa briga pela sede. E eu sempre tive vontade de ser presidente. Conversei com a minha família, meu pai, meus irmãos e prometi que seria um mandato só, três anos, para ver o que que dava. Concorri, ganhei bem e fui. Foi experiência incrível para a vida, tanto no lado positivo quanto no negativo. Em 1994 encontrei clube totalmente terra arrasada. Emil (Pinheiro) tinha passado e deixou para o Mauro Ney clube sem jogadores, só tinha o Pingo. Eu fui devagar, em 1994 já foi um ano melhor para a gente em relação a Campeonato Brasileiro.
— Em 1995, eu tive essa felicidade do Brasileiro. Às vezes sou meio místico e tal. O Armando Nogueira escreveu crônica, que acho que foi a maior homenagem que já recebi, do meu papel no título de 1995. Ele falou uma coisa que é verdade. Se eu tivesse que ir a um terreiro de macumba, eu iria, se eu tivesse que ir numa igreja, eu iria, se eu tivesse que conversar com os evangélicos, eu iria. Eu faria qualquer coisa para tentar ganhar o título. Isso tudo misturado com superstições, no máximo que eu pude usei a mesma roupa. Aquelas coisas todas.
Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
Lembro que você assistia aos jogos na arquibancada. Como era isso?
— Continuei assistindo à maioria dos jogos na arquibancada. Era uma loucura, os seguranças ficavam doidos comigo. Eu entrei (no clube) também por prazer. Eu não me via colocando um blazer, um terno, para ir para a tribuna de honra. Eu já fazia isso durante a semana, fazer isso no fim de semana e às vezes você tem que assistir com o presidente do time adversário, não pode xingar o juiz, não pode gritar, não pode ofender, não pode fazer nada.
— Eu achava isso absurdo. O Antônio Rodrigues, na época, me ajudou muito, meu vice de futebol. Não tinha dinheiro, mas o Antônio dava vale-alimentação, depois a gente conseguia uma renda e pagava. Uma dificuldade tremenda. Mas eu acho que alguma coisa lá de cima me ajudou. “Olha, você ajudou o Botafogo a sobreviver, a volta da sede, tudo isso, eu vou te dar uma contrapartida”. Um título que realmente a gente não esperava. O Flamengo tinha um timaço, o Palmeiras também. Outros times fortíssimos e a gente acabou ganhando.
No escritório de casa, o campinho com o time do título brasileiro de 1995
Raphael Zarko
Depois do título, vocês não conseguiram manter muitos jogadores. O que houve?
— Eu prometi aos jogadores na decisão de 1995 que, eles ganhando, eu liberaria todo mundo. Liberaria para fazerem a independência financeira de cada um. Claro que os que eu podia liberar, porque eram emprestados etc. Assim eu fiz com o Donizete e o Sérgio Manoel, que foram para o Japão. O Jamir foi para Portugal, o Beto, mais adiante, foi para a Itália, o Iranildo eu tive que devolver, o Leandro Ávila, que foi importantíssimo, eu tive que devolver. Aí a gente ficou mais fraco para disputar a Libertadores e perdemos. E eu comecei a ver, de fato, o que é o futebol.
— Em 1995 eu ia na arquibancada, na época não tinha celular, então o que pediam eram fotos para tirar comigo e assinatura em camisa, alguns pediam para assinar no braço, na mão. E eu sentava, na hora do jogo o pessoal me respeitava, ninguém falava comigo na hora do jogo, só nos gols, comemoração e tal. Mas o meu copo cerveja não baixava nunca. O pessoal saía para comprar cerveja, voltava, vinha até por trás de mim e despejava.
Presidente do Ibope por muitos anos, Montenegro acredita que o top 5 de torcidas do país permanece inalterado
Reprodução
Imagino o efeito disso num vestiário depois…
— Pois é (risos). Teve alguns jogos que eles sofreram com a minha ida ao vestiário. Mas houve também, em compensação, em Minas Gerais, contra o Cruzeiro, que eles fizeram 1 a 0, nós viramos para 3 a 1. Eles ganharam da gente por 5 a 3, com o Paulinho Mclaren fazendo quatro gols. Mas foi um jogão. O Botafogo jogou muito.
— Aí eu cheguei no vestiário do jogo, o Zé Henrique, que era o coordenador, veio com malote verde da renda do jogo, da nossa cota. E a gente com salários, que sempre regulavam perfeitos com quatro, cinco, seis meses atrasados, nunca baixava disso. Peguei o malote, abri e joguei na maca. Falei: “ó, divide entre vocês. É bicho. Vocês hoje jogaram como campeões”. Os jogadores ficaram doidos. O Wagner (goleiro), eu me lembro, depois me falaram, eles falavam: “ele é doido, é maluco e tal”. São coisas assim que acho que os jogadores estavam comprometidos e sabendo da importância de ganhar para eles e para o clube. Foi um ano mágico.
Com a camisa da Seven Up e ao lado do Rei Pelé
Raphael Zarko
Mas em 1996 foi diferente?
— Pois é, voltando para a arquibancada, já foi mais complicado de assistir ao jogo na arquibancada ali em 1996. Porque a torcida, parte dela, já me olhava com outros olhos. “Pô, presidente, você vendeu todo mundo”. Eu não vendi ninguém porque eu não comprei. Não tinha dinheiro para comprar, além da promessa que eu tinha feito aos jogadores. Esses jogadores saíram por 3, 4, 5, 7 milhões de dólares. Na época, o dólar era 1 a 1 com o real pelo início do Plano Real. Há uma diferença de você vender e não ter dinheiro para comprar. Os jogadores nossos, como o Wagner, o Wilsinho, o Gottardo, o Beto mesmo no início, o Túlio, esses ficaram, mas os outros eu não tive dinheiro para comprar.
O futebol pode ser destruidor de currículos. Você não tinha experiência alguma. Como foi esse início?
— Eu tentei fazer o que eu fazia no Ibope. Ibope era uma empresa de 80 anos. Eu vendi credibilidade o tempo todo, como no Ibope, para jogadores, para o clube, para as instituições que eu tinha que falar, CBF, federação etc. Entrei como um patinho novo. Me lembro que eu tive um embate com o Eurico (Miranda, então vice-presidente do Vasco) logo no começo. Eu estava numa reunião da federação, no Centro, na Rua da Ajuda. Ele fazendo a tabela do Carioca. Eu olhei aquela tabela, cara, eram sei lá, 12 jogos com o Vasco jogando nove em casa, a gente jogava quatro, sei lá. Porra, eu me levantei: “Eurico, desculpa, mas não está justo”. “Mas é a tabela possível”. “Mas não está legal”. Ele me entregou um giz, cara, era um quadro negro. “Então faça, Montenegro”. Porra, cara, fui fazer a tabela (risos) e repeti três jogos, entendeu? Ele era líder dos clubes menores: “Está vendo, pato novo.” E tive que aceitar.
Como foi essa relação?
— Mas um ano depois eu dei uma volta nele. O Leandro Ávila estava brigado no Vasco, treinando à parte, dando volta no estádio. O presidente (do Vasco) Calçada gostava muito de mim, a gente era amigo. Então Eurico viaja para Europa, uma excursão de 30 dias com os jogadores. Na hora que ele viajou, eu liguei para o Calçada: “Como é que você vai?”. Ele: “Montenegro, como você vai, vamos almoçar?” “Vamos, que saudade e tal”. Aí falei: “Deixa eu te falar uma coisa, você tem um jogador interessante, mas que está brigado com o Eurico, o Leandro”. “Ah, eu sei desse caso.” “Pois é, ele está recebendo sem jogar, salário alto e tal. E eu tenho dois aqui que estão mais ou menos na mesma situação (era o Nelson e o Jefferson). Vamos fazer uma troca até o final do ano?” “Puxa, Montenegro, você me pedindo eu não tenho como negar, mas o Eurico vai me dar uma bronca”. Falei: “vai nada, ele vai até gostar porque vai ter mais dois jogadores”. “Eu não posso negar a você, vamos fazer”.
Montenegro com a charga quando foi ao Roda Viva e o Ibope completava 70 anos
Raphael Zarko
— Quando o Eurico voltou, me ligou: “Montenegro, deixa eu te uma falar coisa, eu não posso desrespeitar o meu presidente. Mas você abalou a nossa amizade. Você não podia nunca ter falado isso com o Calçada. Agora eu vou ter que aceitar isso e você não tem mais nada de patinho novo, você já tá virando o pato velho”. “Eurico, você me desculpa, eu não sabia que você ia ficar chateado. Não vou fazer mais”. E o Leandro foi vital para o nosso campeonato de 1995.
— Então essas coisas você vai aprendendo. Depois eu consegui não ser mais presidente e eu avisei isso a todo o conselho, a todos os sócios: não vou ser mais presidente. Eu acho que quem aceita ser presidente é maluco, porque é administrar uma coisa falida, sem perspectiva, que não tem receita. O grande problema não é a dívida passar de 100, 200, 300 milhões, chegar a 1 bilhão de reais como chegou antes da SAF. O problema é que você não tem receita para o cotidiano…
Você falou recentemente que o que a receita não pagava nem o que se gerava de juros…
— Não estou nem falando de juros. Amortizar é o principal, porque se fossem só juros, se fosse uma empresa que não fosse do futebol, já estaria falida. No futebol, às vezes, vem ajuda do governo, às vezes aparecem uns malucos como eu e ajudam. Uns beneméritos, um ou outro, o Antônio Rodrigues ajudou. Você vai vivendo assim, mas de uma forma mais amadora e mais triste possível.
— Depois disso eu saí, entrou o Rolim. Ele, até para sobreviver ao início da administração, teve que vender o Túlio para o Corinthians. Aí depois disso veio o Mauro Ney, acho que se desentendeu um pouco com o Antônio Rodrigues, que estava ajudando. Aí começou a nossa sina, a gente foi rebaixado em 2002.
O Bebeto de Freitas gerou um otimismo. Assim você reagiu também?
— Eu até falei para ele: você é um nome que todo mundo tem esperança. Vai sozinho, vai com o que você tem na cabeça, faz as mudanças, moderniza. Ele fez a Companhia Botafogo, mas, coitado, dois anos depois, ele me ligou. Falou: “Montenegro, me dá ajuda, eu não estou aguentando. Não estou dormindo. Estou sofrendo… É família, é tudo, minha vida virou de cabeça para baixo”.
O manequinho e a réplica da taça de campeão brasileiro de 1995
André Durão
Como chega ao ponto do “não estou aguentando”? Como se traduz isso?
— É falta de grana, falta de organização, ele aguentava com o temperamento dele, às vezes, com arbitragem, federação, coisas que eu aprendi a conviver. Não aceitar, mas conviver. Ele não aguentava. Principalmente lidar com jogadores e tal. Falei: “vou, mas o que você quer que eu faça?”. “Ah, vem para cá e tal”. Aí outras pessoas foram, mas ali o meu problema era o seguinte: eu não tinha cargo. Não queria ter cargo, eu estava ali como amigo do Bebeto ou então consultor. “Ah, você é o vice-presidente do futebol?”. Não, se eu quisesse ser vice de futebol seria o presidente. Já fui presidente do clube, eu não consigo ficar calado em várias situações. E o que acontece: tem um jogo polêmico, os repórteres, os jornalistas, ninguém vai ouvir o Renha, o Cláudio Good, o Ricardo… Vai ouvir o Montenegro. Que vai botar mais lenha na fogueira. Mas o Bebeto acabou reeleito, deu uma reequilibrada. Depois entrou o Maurício Assumpção e eu também disse a mesma coisa para ele, mas nessa eu já me afastei um pouco. Ajudei financeiramente uma hora que precisou. A maioria das minhas ajudas viraram doações.
Você sabe quanto você já deu do seu dinheiro para o Botafogo? Tem alguma estimativa?
— Não, nem quero fazer (conta) porque eu acho que isso me daria problemas até com meus filhos, com todo mundo. A maior quantidade que eu investi uma vez, mas essa aí retornou, foram R$ 15 milhões. Era uma coisa de vida ou morte para o Botafogo. Mas isso retornou.
Em que situação? Com qual presidente?
— Foi na presidência do Nelson Mufarrej. Entre o Carlos Eduardo Pereira e o Nelson. Porque a gente não ia sobreviver ali. A gente já estava em estado terminal como clube, depois disso veio o Carlos Eduardo. Ele foi muito bem, arrumou o time, tirou da segunda divisão. Também deu sorte, quer dizer, sorte porque conseguiu adiantar as cotas de TV por três anos e aí dinheiro ajuda na administração. Foi a última vez que a gente foi a Libertadores, ali com ele.
— Mas eu tenho muita pena de todos. Sofreram, tiveram problemas de saúde, de sono, com a família, de tempo. Todos, todos sofreram. Quando veio o Nelson, paralelamente, a gente já estava pensando no negócio da SAF, de virar clube-empresa. Teve o aceno dos Moreira Salles querendo ajudar, então fizemos um plano. A gente estava na frente, adiantado. Depois os Moreira Salles resolveram não ir, mas a gente já tinha um plano.
Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
Mas os R$ 15 milhões foram para quê?
— Esses R$ 15 milhões basicamente foram para salários e para pagar dívidas de transferência, empresários, negócio da Fifa e uma parcela também para conseguir o CND em relação a impostos…
Quem te pediu? Foi o próprio Carlos Eduardo?
— Não, todos pediram. Aliás, foi uma que eu falei: “olha, gente, isso aqui é uma reserva importante. Vou fazer isso, é uma loucura, mas eu quero que todo mundo saiba que esse aqui vai devolver. Quero aval de todo mundo, para mim, por escrito.” Porque amanhã o João briga com o José, o José briga com o Antônio, o Antônio briga com o Nelson… Porra, você fica na mão.
Sua família sabia que você emprestava dinheiro ao clube?
— Todos sabiam. Não sabiam exatamente quanto, mas sempre souberam. Meus filhos, tinha hora que vibravam com essas ajudas. Depois que o time está mal ficam chateado, entendeu? (risos).
Falavam “deu dinheiro para isso aí?”
— É… mas dinheiro aí é para cada coisa. Meu irmão tem um hobby de comprar quadros, colecionador. Minhas irmãs têm outros gostos etc. O meu gosto sempre foi futebol mesmo. E na hora que você tem um ente querido, como é o Botafogo para mim, morrendo, terminal, vai virar, com todo respeito, um time menor. Vai virar o America agora, como está o Romário querendo ressuscitar, pô, você fica desesperado. São quatro, cinco milhões de torcedores no Brasil. Tem que fazer alguma coisa, entendeu?
Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
— Por isso que hoje o John Textor é meu ídolo, meu herói. O cara que veio de fora e acreditou no projeto, no nome, na marca, na torcida. E o cara assumiu R$ 1 bilhão e pouco de dívidas, botar mais R$ 400 milhões, já botou R$ 500 milhões. Ele tem outros times, mas tem carinho especial pelo Botafogo.
Como você acompanhou esse 2023 louco do Botafogo?
— As pessoas falam muito comigo isso: o que aconteceu em 2023? Eu não tenho ideia, não tenho ideia. E muita gente fala: “pô, mas por que aquele segundo turno?” E eu respondo: “por que o primeiro?” O primeiro turno que foi fora da curva.
— “Mas, poxa, era o mesmo time…”. Olha, para encurtar o que aconteceu em 2023, nós em oito meses tivemos sete técnicos (Nota da redação: foram cinco técnicos, Luis Castro, Caçapa, Bruno Lage, Lucio Flavio e Tiago Nunes). E cada técnico representa cinco, seis pessoas. Tem scout, dois auxiliares técnicos, um preparador de goleiro, se não tem, preparador físico… chegam com outra cultura, outro linguajar, outro dicionário. Nem time que está para ser rebaixado troca tanto técnico. E o Botafogo trocou. Não pode dar certo. É mais um aprendizado. “Ah, não, é coisa do diabo, do destino, sei lá o que…” Não tem nada de diabo, destino. O êxito do Palmeiras é o tempo que o Abel está lá.
John Textor na CPI de manipulações de jogos
Roque de Sá/Agência Senado
— O Anderson Barros saiu daqui execrado. Ele fazia milagre junto com a gente de contratar, com um resquício que tinha de credibilidade ainda, jogadores sem você ter um centavo. Com os empresários, ele conseguia, a gente dava um jeito e tal. Agora com dinheiro em caixa, com Crefisa, com estádio, com torcida, o Anderson Barros está mostrando seu valor. Já tiveram situações lá difíceis, ele segurou o técnico. Quando aperta lá na presidência, ele vai lá e fala: tem que ficar. Então é uma metodologia isso e a gente vai chegar lá. É que a torcida do Botafogo, com toda a razão, está muito ansiosa para ganhar um título de expressão. Título de expressão hoje é Campeonato Brasileiro ou Copa do Brasil ou Libertadores. Até Sul-Americana, não sei, a gente já ganhou uma Sul-Americana. Não sei se o pessoal se contentaria, mas passando fome, qualquer coisa que cair na rede é peixe, mas o que o Botafogo precisa é isso.
Se o clube estava falido, em 2020, por que resolveu entrar?
— Você tem um paciente que está terminal, está respirando com aparelho, precisa de oxigênio ou transfusão de sangue… Não morreu ainda. Não é igual aquele cara que entrou no banco para pedir empréstimo estando morto (risos). O Botafogo estava assim. Eu ajudava no oxigênio para o Botafogo não morrer, sempre na esperança de alguém aparecer, e apareceu.
— Eu dou a cara. A minha vida sempre foi dar a cara. Quando eu dava prognóstico no Ibope era assim. Falava “fulano vai ganhar”, “os resultados são esses”, botava a cara, era colocar a credibilidade da empresa em jogo.
— Quando entrei para ajudar o Bebeto e as pessoas me procuravam para falar, tinha um comitê com o Nelson (Muffarej, presidente da época), Ricardo Rotenberg, Cláudio Good, Agostini, Paulo Autuori, Renê (Weber), que faleceu de Covid. A gente resolvia as coisas, mas eu colocava a cara. Nas redes sociais o bicho pegava para cima de mim. Todo mundo fala de mim. Ninguém nunca mais falou no Nelson.
Você se refere também aos áudios seus que vazavam?
— Eu dizia o que estava acontecendo e o pessoal às vezes ficava chateado que eu dizia que o Botafogo estava morrendo etc. Eu mantive ele (o Botafogo) deitado, mal, em coma. Às vezes tirava um pouco do coma, mas ia ficar assim a vida toda. Se não vira SAF, seria assim. Hoje falamos de igual de igual – não em títulos, ainda falta alguma coisa em organização e base – com Corinthians, São Paulo, Flamengo, Palmeiras… Você disputa jogador, traz a contratação mais cara, vende jogador. Aumentou o faturamento em cinco vezes, está negociando a dívida. E se faz tudo isso com o carro andando. E quase que deu certo no ano passado, mas não era para ser. Chegamos perto. Os concorrentes, adversários, Abel do Palmeiras, comentaristas todos já achavam que o título estavam na mão. Isso contaminou os jogadores, a torcida, meus filhos e a mim. Eu tenho dois filhos que moram fora do Brasil. “Pai, qual jogo que você acha que vai ser (campeão)?”. “Calma, meu Deus do céu, espera um pouco”. Acabou não sendo jogo nenhum. Deu tudo errado.
— Esse negócio de muita troca de técnicos dá tudo errado mesmo. Eu só peço para que esse que chegou (Artur Jorge) fique até o final do ano. Tem contrato até ano que vem, se ficar até lá melhor ainda. É preciso criar uma identidade para que as pessoas saibam que você está no caminho certo. A única coisa que eu faria diferente no ano passado seria ter mantido o Bruno Lage. Ele é competente e chegou aqui com um peso nas costas tremendo, que era manter quase 90% de aproveitamento do Luís Castro. Ele identificou alguns problemas na lateral direita, um problema sério fora de campo do Tiquinho e teve até coragem. Eu acho que se o Bruno tivesse continuado a gente poderia não ter ganhado, mas o estrago seria menor.
Você sente nas ruas a hostilidade que tem nas redes sociais?
— Eu percebi quando eu estava lá ajudando Nelson. O que aconteceu comigo e eu faço pesquisa, posso dizer. As pessoas de 40 anos para cima continuam falando “valeu Montenegro, volta”. O pessoal mais novo, de 15 a 30 anos, me xingou muito nas redes sociais. Não sabe o que eu fiz, da falta de dinheiro, da brabeira que nós passamos… Só sabia do comitê ali que eu apareço e que o time estava indo para a segunda divisão. Tem que ter alguém para xingar. Acho que cada ano que passa vai fazendo menos falta. Você vê no Palmeiras que depois nos jogos só aparece o Abel. O Anderson (Barros) não fala, a Leila fala um pouquinho mais por causa da briga com o Textor. No Flamengo é raro o Marcos Braz falar, mas aí se mistura com coisas de política, algo que nunca pensei em entrar.
Faz falta essa figura do cartola no futebol?
— Eu dei graças a Deus de não estar lá dentro em nenhum momento de 2023. Quando acabou o jogo contra o Palmeiras, e nós perdemos o campeonato ali aos 37 minutos do segundo tempo no pênalti perdido do Tiquinho, eu parei, demorei 30 minutos para ir embora. Passou coisa na minha cabeça e senti uma coisa ruim. Começou ali a perda do título. Tem gente que fala um pouco antes, naquele dia que faltou luz (contra o Athletico-PR).
— Até ali eu estava quieto. Nunca tinha visto o Botafogo jogar tão bem igual aquele primeiro tempo. Fez 3 a 0, mas podia ter feito cinco. A gente perde depois para o Vasco na segunda e na quinta tem o jogo contra o Grêmio. Eu pensei comigo mesmo que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Abrimos 3 a 1 e levamos a virada com três gols do Suárez.
— Nesse jogo eu entraria no vestiário. Nesse jogo ia sobrar pouca coisa no vestiário. Não estava lá. Mas se eu estivesse envolvido com futebol… Você não pode perder duas vezes seguidas ganhando por três e perder de 4 a 3 em uma semana. “Ah, mas acontece”… Não pode. Jogadores iam ouvir. Faltou vergonha na cara. Vocês estão desrespeitando, se estão abalados pelo o que estão Palmeiras pede para não jogar. Ia fazer o diabo.
Carlos Augusto Montenegro e o amigo Durcesio Mello, atual presidente do Botafogo
Vitor Silva/Botafogo
Você fez isso nos seus tempos de presidente?
— Aconteceu em 1995, mas em um treino antes do jogo contra o Grêmio. Disseram que a gente ia perder o campeonato por causa do meu discurso no vestiário, mas nós vencemos por 3 a 2 no Olímpico. Estava muita fofoca entre os jogadores, muito ciúme do Túlio, muitos jogadores que hoje eu adoro, Sérgio Manoel, Gottardo etc. Começou a rachar o grupo. O Túlio estava realmente com um bônus que ele tinha da Pepsi mais em dia em relação ao resto do elenco. Salário todo mundo estava atrasado igual. O povo começou a ficar chateado, reclamando do carro que o Túlio tinha. Eu falei 30 minutos antes do treino, pessoal horrorizado olhando para mim. Eu saí e falei que não queria mais ouvi-los. Fiquei andando no gramado de tanta raiva, o Autuori e o Antônio Rodrigues vieram falar comigo. “Presidente, agora você tem de ouvir eles falarem alguma coisa”. “É melhor não, eu falei quase tudo e ainda tem coisa para falar. Se eles falarem qualquer coisa vai dar confusão.” Entrei no vestiário, o Gottardo levantou, mandei ele sentar, falei mais 15 minutos e fui embora. Duas semanas depois dei uma Brasília amarela para o Iranildo, que era a música que ele cantava na época. Mas tem que saber a hora de falar com os caras. Você não pode perder duas de 4 a 3 seguidas. O cara tem que botar o sangue a mais, raiva.
Já brigou com algum jogador nesses momentos de explosão?
— Não. O que tentou reagir uma vez foi o Caio (Ribeiro). Eu dei uma entrevista falando mal de todo mundo e ele tentou sair fora. Ele teve personalidade e enfrentou. Ali, foi um jogo. O problema é que quando briguei no Caio Martins foram vários jogos e um sentimento de ciúmes que dividia o elenco. Isso que eu digo que invadiria o vestiário depois do segundo 4 a 3 é porque já tinha um movimento de derrota e duas derrotas vergonhosas seguidas. Não pode acontecer. Uma vez, pode. Duas vezes, não.
Você estava naquele episódio que ficou conhecido como “chororô”. Se arrepende daquela reação?
— Aquilo ali, apesar de eu estar ajudando, foi uma hora que o Bebeto não se aguentou, e acabou sendo um pouco incentivado por ele. Chamou o Túlio, o Cuca e reclamou. No ano anterior foi um absurdo. Dodô fez o gol, estava legal, e acabou sendo expulso. Não bateu o primeiro pênalti. O outro foi o do Fábio Luciano. Eu não participei porque não me chamaram. Eu não sei o que falaria ali. Hoje é fácil falar que não deveria ter sido feito para não ficar com a imagem do chororô. Mas não teve nenhum chororô em 2023, e foi uma derrota muito mais humilhante.
— Minhas maiores humilhações foram 2003 e 1999 contra o Juventude. Você não conseguir fazer um gol contra o Juventude em um Maracanã lotado para ser campeão é humilhante.
A gente fez entrevista com a Ana Paula Oliveira, hoje ex-bandeirinha, que está na federação paulista. Hoje você revê aquelas declarações contra ela?
— Não revejo. Ela não estava preparada para ser bandeirinha. Ela parou de bandeirar. Eu não tenho essa força de fazer com que uma mulher pare de fazer o ofício por eu ter dito alguma coisa. Ela não estava preparada. Foram vários erros seguidos. Ela nos tirou uma Copa do Brasil. Ela usa a argumentação de que o goleiro (Júlio César) falhou, mas eu acho que acabei fazendo bem a ela. Ela foi capa de revista da Playboy e ganhou muito mais dinheiro do que faria como bandeirinha. Aliás, como uma péssima bandeirinha. Também tem péssimos homens. Na época não tinha bandeirinha em Copa do Mundo e até hoje continua raro.
Carlos Augusto Montenegro comenta frase machista sobre ex-bandeirinha
No Ibope, você fazia pesquisa de torcidas, que sempre geraram muita polêmica. Isso te dava problema enquanto presidente do Botafogo, havia dirigentes de outros clubes reclamando?
— Eu acho que foi uma das poucas coisas que eu nunca tive reclamação por causa do Ibope. Mas a verdade é o seguinte, a gente chegou à conclusão que cada vez mais é difícil fazer esse tipo de pesquisa. Porque primeiro a gente tem que separar quem gosta de futebol de quem não gosta de futebol. Porque tem muita gente que você pergunta assim, escola de samba, qual é a sua preferida? Mangueira, Portela. Mas você gosta de samba? Gosta de desfile de escola de samba? Não, nunca fui. Mas o cara tem uma preferência, então você tem moda, o Flamengo é o clube mais benquisto no Brasil, disparado. O Corinthians cresceu, mas a força dele é em São Paulo. Então, para você fazer uma pesquisa de torcida bem feita, você tem que primeiro perguntar se você gosta de futebol ou não gosta. Depois você acompanha futebol ou não acompanha. Depois você vai aos jogos ou não vai. Você lê os noticiários, ouve as resenhas etc. Você e aí dando corte de saber o tamanho de cada torcida em cada corte desses, entendeu?
— Outra coisa: aqui no Rio, em São Paulo, não tem segundo time. É um só. Mas no resto do Brasil tem segundo time. Você tem um cara que é Sport e Vasco, você tem um cara que é Vitória e Flamengo, você tem um cara que é Ceará e Botafogo, você tem um cara que é Corinthians e, sei lá, Goiás. Até alguns anos atrás, os times do Rio, principalmente, e os de São Paulo tinham uma força pelo Brasil inteiro. Hoje em dia não. Com a televisão, com a internet, com uma série de coisas, esse poder foi diminuindo. Então, agora, claro que você tem divisões, eu não sei nunca precisar. Quando você pega, assim, vários times com 2%… cara, isso pode estar variando entre 3 milhões e 1 milhão e 800 mil torcedores. Você não tem como precisar isso. Eu tenho Bahia 2%, Fluminense 2%, Botafogo 2%, sei lá, Cruzeiro 2%, a nível de Brasil. Quem está na frente, eu não sei.
“Difícil de fazer”, diz Montenegro sobre pesquisas medindo tamanho de torcidas
Você acha que o top 5 ainda se mantém desde a época das suas pesquisas?
— O top 5 se mantém. O Flamengo, o Corinthians, o São Paulo, porque o São Paulo teve uma época muito forte com o Telê Santana, o Palmeiras também, pelo presente e pela época da Parmalat, e o Vasco. Apesar de o Vasco ter passado por várias segundas de divisões etc, mas o Vasco tem uma torcida muito forte. Esses aí, eu posso garantir que as colocações são aquelas.
— Agora, por exemplo, o Fluminense sempre teve uma torcida maior que a do Botafogo no Rio e o Botafogo maior que a do Fluminense no Brasil, e aí iguala. Agora, a gente está numa época que o Fluminense está muito bem. Se o Botafogo tivesse ganho ano passado, poderia ter melhorado isso. Mas hoje em dia o Fluminense está em crescimento. Graças a Deus o Botafogo saiu da UTI, mas são torcidas mais antigas. E eu acho que começaram com uma classe média alta. Hoje em dia espalha, mas o começo deles foi mais de classe média alta.
Vocês atestaram crescimento de torcida na época de 1995, com o Tulio?
— Cresceu, cresceu. Hoje o maior orgulho que eu tenho é ver camisa da Seven Up no estádio. Chegando no estádio, uma opção de camisa da Seven Up.
Como surgiu esse acordo com a Seven Up?
— Isso foi maluquice. Um amigo meu de infância, o (José Luiz) Talarico, ia a jogos com ele e tudo, mas depois a gente se afastou, ele foi morar em São Paulo. Era vice-presidente da Pepsi, veio pro Rio e um belo dia eu liguei pra ele e falei: “preciso da sua ajuda. Preciso de algum tipo de patrocínio etc”. “Ah, Carlinhos, então vamos ver. Está entrando um novo presidente aqui na Pepsi, um italiano que gosta de futebol, o Gianni. Vou convidar o Gianni pra ir num jogo”. Então fui num jogo qualquer, que o Botafogo ganhou do Flamengo, 1 a 0, gol do Tulio. O Talarico levou ele no vestiário. O Tulio deu uma camisa pra ele, marcamos o almoço pra terça-feira, numa churrascaria no Aterro do Flamengo. Eu, o Talarico e o Gianni. Aí eu expliquei o assunto. Eles disseram que queriam lançar refrigerante mais forte no Rio, de sabor limão, o Seven Up. Me lembro que eu peguei o guardanapo de pano e a gente foi anotando cada coisa. O que tinha que ser, o valor. Aí saímos do almoço, de 13h até as 17h, o Talarico levou o guardanapo e em uma semana fizemos o contrato. Aí começou a crescer. Boné pagava coisa, mais adiante, pagaram o salário do Túlio, tinha prêmio, bônus, e a Pepsi nunca vendeu tanto Seven Up. Chegou a ficar em primeiro lugar e reclamavam porque não tinha em vários bares, não tinha capacidade de distribuição.
Carlos Augusto Montenegro fala de patrocinador do Botafogo em título de 95
É verdade que você pensou em treinar o time de 2020, depois de que demitiram o Bruno Lazaroni?
— Ah, uma bravata, né? (Risos). Eu falei isso, estava doido pra treinar, mas eu jamais poderia, porque eu não tenho o certificado da CBF, essas coisas. Tem que estar atualizado, você não pode tirar o lugar de um profissional.
— Mas eu acho que eu daria um bom treinador, e um bom árbitro. Ia ser muito difícil de o Botafogo perder.
Como treinador ou como árbitro?
– Como árbitro, principalmente (risos).
Aquele time era o time da Honda e Kalou, né?
— É mesmo? Nem me lembra disso. Ali teve uma boa intenção, foi mais uma jogada de marketing do Ricardo, aprovada por todos. Foi gente no aeroporto e tal, mas deu a pandemia, não foi o esperado. E o tiro saiu pela culatra. É aquele negócio, o paciente está na UTI, respirando por aparelho, e aí chega alguém assim: “A gente tem uma droga nova. Vamos testar? Vamos” e literalmente eram drogas novas, entendeu?
Como tem acompanhado as acusações, todo o envolvimento do Textor falando em manipulação de resultados? Tem conversado com ele?
— Eu estou conversando com várias pessoas, já vi algumas coisas, acho que ele não está mostrando tudo. Eu tenho conversado com pessoas sérias, advogados etc. E eu acho que com a CPI que está saindo, junto com a chegada dessas casas de aposta, a legalização do jogo no Brasil, junto a insatisfação de todos os clubes, com arbitragens e algumas coisas da CBF, junto com o nascimento da liga, que era para ter nascido em nove meses e já passou o parto… mas tudo isso junto a saída vai ser a separação da CBF dos clubes em uma liga.
— A saída são os clubes terem árbitros profissionais, formarem árbitros, fazerem o calendário, fazerem a tabela, tomarem conta dos clubes, negociarem com a televisão. Por que a federação do Rio de Janeiro arrecadou mais que o Fluminense, Botafogo e Vasco nesse campeonato estadual? Por que? Não tem um porquê. Então, continua o Brasil tendo 27 federações e 40 clubes aí reclamando. O Flamengo vai votar? Vai! Tem peso 1. O Corinthians vai votar? Peso 1. Federação de futebol do estado do Amapá. Do estado de Roraima. Peso 3. Esses caras nunca disputaram a quarta divisão, cara. Tem peso 3! Por que a gente está aí nesse meio? Sai fora. A federação fica com a CBF. O que a gente tem a ver com a federação do Amapá, de Roraima, do Acre, de Tocantins, do Piauí? Por que que esse pessoal manda mais que o Flamengo, o Corinthians, o Botafogo, o Fluminense, o São Paulo? Isso é um absurdo, a palavra certa é um nojo, e o futebol brasileiro, se não tiver essa separação vai buraco abaixo.
Você aposta em nova consequência como foi a da Máfia do Apito nos anos 2000, da Loteria Esportiva, nos anos 1980, pelo que está vendo?
— Ele está dando provas para as pessoas julgarem, está dando provas para a Polícia, provas para o Senado, está dando provas para o STJD, vai dar provas para a FIFA. Tem inteligência artificial, tem vídeos. Agora, eu acho que a maior prova é você começar o Campeonato Brasileiro afastando juízes. Três juízes afastados na primeira rodada, dúvidas em outros três, quatro jogos na primeira rodada, assim. Veja bem, esse negócio não é: “Ah, o juiz recebeu um dinheiro para roubar.” Não existe isso. Pelo que eu vi, no Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, o tempo que eu vivia no futebol, não tem isso. O que existe é o seguinte, quem são os amigos da CBF e quem não são os amigos da CBF. Quais os clubes que são amiguinhos, quais são os clubes que não são amiguinhos, qual o clube que não pode chegar… E aí, comenta-se, fala-o se seguinte: “olha, na dúvida é pra esse”. Hoje, você com o VAR, teoricamente, você teria que ter dado mais dificuldade para que isso aconteça. Mas as pessoas são caras de pau. Está lá todo mundo com medo das denúncias do Textor, as duas primeiras arbitragens de jogos do Botafogo foram exemplares.
Abre Aspas Carlos Augusto Montenegro
André Durão
Textor já disse que não tem chance dele sair do Brasil. Você vê algum indício disso?
— Se ele estivesse fazendo esse barulho pra sair, ele era bobo. Até meio idiota. Ele está desvalorizando o produto dele. Comprou por um preço, vai vender por menos? Ele não é um cara bobo. Ele é um cara inteligente. Pode ser até que o sistema todo não queira que isso aconteça. Mas também tem boa parte do sistema que não aguenta mais a CBF. Ele não aguenta mais.
— Eu espero, para quem gosta de futebol, que a gente tenha mudança radical com isso tudo. Seja com Textor ou seja com outro qualquer. Ele por acaso está pegando uma bandeira. De todos os clubes que ele adquiriu, é inegável que ele tenha uma paixão maior pelo Botafogo. Ele é tratado muito bem aqui, come churrasquinho de gato na porta do Engenhão, toma cerveja. É uma delícia isso. Ele sentiu ano passado. Eu acho que a gente não perdeu por causa de árbitro no ano passado, a gente perdeu por arrogância nossa. Por achar que já estava ganho. Não acho que esse movimento que ele está fazendo, que está acontecendo, é por causa do ano passado. Esse movimento é por causa da vida toda.
Por falar em arbitragem, em 1995, o Botafogo foi ajudado pela arbitragem na final?
— Em 1995? Bom, a gente sofreu muito pela arbitragem na semifinal em 1981 (3 a 2 para o São Paulo). Braulio Zanotto era o árbitro. A gente fez 2 a 0, aí depois segurança entrou em campo, a gente apanhou pra caramba. Eu não sei o que é que dá você tirar um time de campo, mas um jogo que também, se eu fosse presidente, eu tirava o chute de campo, não voltava para o segundo tempo. Mas a gente já sofreu muito, muito, muito com arbitragem. Em 1995, eu acho o seguinte, na minha opinião, é óbvio que vendo a televisão, o Tulio estava uns 15 centímetros impedido. Óbvio que o gol do empate do Santos, o cara levou com a mão, e óbvio que o Camanducaia não estava impedido no gol no final. Ele estava na mesma linha exatamente do zagueiro. Então, eu acho isso. Agora, o Atlético-GO acha que ganhou do Flamengo, mas foi 2 a 1 Flamengo (na estreia).

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