Na fronteira com os EUA, Barbieri alcança marca histórica e revela desafios em Juárez

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Em primeiro trabalho desde a saída do Vasco, técnico comanda clube novato na elite do México e enfrenta dia a dia diferente em cidade desértica e famosa nas histórias do narcotráfico Quem acompanhou séries e filmes sobre o narcotráfico na América Latina certamente já ouviu falar da cidade de Juárez, no México, que viveu tempos históricos de violência ligada ao tráfico de drogas. E foi lá, em plena fronteira com os Estados Unidos e em meio ao deserto, que o técnico Maurício Barbieri retomou a carreira após a saída do Vasco, no ano passado. Comandando um clube que carrega o nome da cidade e é novato na elite do futebol mexicano, o brasileiro vem enfrentando desafios, mas já celebra ter conseguido uma marca histórica.
Barbieri chegou ao México em fevereiro e encontrou uma equipe que não vencia desde outubro. Depois de alguns tropeços, conseguiu emplacar uma série de quatro vitórias: três na liga mexicana e uma em um amistoso. Os três triunfos consecutivos na Liga MX foram o suficiente para um feito inédito: o Fútbol Club Juárez, fundado em 2015, nunca havia conseguido tal sequência desde que chegou à elite do futebol mexicano, em 2019.
– Em nenhum momento a gente encontrou um ambiente hostil, tanto com relação à torcida quanto ao clube. E em algumas coisas existia talvez um comodismo, de se conformar com a situação. E aí a gente começou um trabalho muito forte de não só mudar as coisas dentro do campo, o lado tático e técnico, mas também uma mentalidade e cultura de clube, a maneira de encarar e fazer as coisas. Tardou alguns jogos, mas acho que os jogadores vem se dedicando bem, e a gente está conseguindo agora colher esses frutos – disse Barbieri.
Para estabelecer a marca, Barbieri precisou superar alguns desafios ligados às dificuldades específicas da cidade, mas também a obras do acaso. Quando chegou ao clube, Barbieri teve a estreia adiada por conta da morte de um jogador do elenco em um acidente de carro. Depois, sofreu com o clima desértico e até com o vento que levanta a poeira em meio aos treinos de bola parada. A terceira vitória seguida veio em um jogo adiado por queda de luz e realizado em dois dias diferentes, com direito a impacto de um eclipse solar no horário.
Maurício Barbieri levou o Juárez a sequência inédita na liga mexicana
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Maurício afirma que está se acostumando ao dia a dia na cidade onde muitos candidatos a imigrantes tentam atravessar a fronteira para os Estados Unidos. Ele admite que conhecia apenas parte das características de Juárez e aponta que hoje a violência nas ruas não se mostra como há poucas décadas. Mas indica particularidades da cidade, principalmente ligadas à logística.
Cara, agora a gente está num momento bom, especial. Mas a trajetória até aqui foi difícil, vamos dizer assim. Foi desafiadora. Por tudo é pela chegada, por tudo o que aconteceu, por onde está a cidade, pelo clima, né? É uma cidade difícil. A gente costuma dizer entre nós: “Juárez é para os fortes”
– Porque fica isolado do resto do país, apesar de estar na fronteira com os Estados Unidos, praticamente colado com a cidade de El Paso. Tem só o muro que divide as duas. Mas do restante do país está bem isolada, até mesmo da capital do estado são três horas de carro. Pra começar a chegar nas outras cidades maiores, são oito horas de carro. Então, tem muitos desafios aí, de clima, de logística, de adaptação, né? – comentou.
O técnico brasileiro aceitou o convite, que chegou através do grupo que é dono do Talleres, da Argentina, após observar o mercado no começo do ano no Brasil. Diante da chance de trabalhar fora do país, não demorou muito a aceitar o desafio em Juárez: em poucos dias saiu de uma reunião inicial na Argentina para o embarque rumo ao México. Com paciência e um plano traçado, superou um início complicado, sem deixar ser vencido pela ansiedade por uma vitória, após uma reta final sem triunfos no Vasco.
– Estava ansioso para que as coisas pudessem acontecer, para voltar não só as vitórias, mas sentir que meu trabalho refletia dentro do campo aquilo que eu estava construindo, né? Eu acho que no final, no Vasco, apesar da equipe ter um bom rendimento, muitas vezes não conseguiu os resultados, e isso sempre frustra. A maneira como eu saí também fiquei um pouco, vamos dizer assim, chateado ou decepcionado. Não era o que eu queria, de maneira nenhuma. É um clube pelo qual tenho um carinho imenso, um respeito enorme, mas as coisas não andaram. E, claro, você chega aqui, e as coisas começam não acontecer, bate uma ansiedade grande, uma angústia. Mas eu sempre tive muita clareza desde a chegada aqui que precisava mudar uma mentalidade, uma cultura. Isso você não faz em uma semana, né?
Confira outros trechos da entrevista de Maurício Barbieri:
ge.globo: Como está sendo esse momento aí no Juárez? No início com dificuldades, mas nesse momento com vitórias seguidas. Como foi essa caminhada até agora?
Maurício Barbieri: – Cara, agora a gente está num momento bom, especial. Mas a trajetória até aqui foi difícil, vamos dizer assim. Foi desafiadora. Por tudo é pela chegada, por tudo o que aconteceu, por onde está a cidade, pelo clima, né? É uma cidade difícil. A gente costuma dizer entre nós: “Juárez é para os Fortes, porque fica isolado do resto do país, apesar de estar na fronteira com os Estados Unidos, praticamente colado com a cidade de El Paso. Tem só o muro que divide as duas. Mas do restante do país está bem isolada, até mesmo da capital do estado são três horas de carro. Pra começar a chegar nas outras cidades maiores, são oito horas de carro. Então, tem muitos desafios aí, de clima, de logística, de adaptação, né? A cultura. Mas nesse momento, com os resultados vindo, a direção está muito mais feliz, a cidade, os torcedores e a gente também. Fica tudo mais tranquilo.
Brasileiro chegou à liga mexicana em fevereiro
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Como tem sido a reação com você, com esse começo de trabalho? O tratamento da imprensa, dos torcedores… Deu para sentir alguma coisa?
– O que me surpreendeu é do lado positivo foi que quando a gente chegou, já fazia um bom tempo que a equipe não um jogo desde outubro, né? E a gente em nenhum momento encontrou um ambiente hostil, tanto em relação à torcida como interno do clube, nada disso. O que incomodava todo mundo? A ausência de vitórias. Mas sempre num ambiente de procurar apoiar, né? De dar força para que a equipe saísse dessa situação.
Quero te perguntar justamente sobre o jogo desse recorde. Como foi? Um jogo que começa num dia, termina no outro… Já tinha acontecido algo parecido na sua carreira?
– Pra mim foi algo atípico. Já tinha acompanhado acontecer com outras equipes, mas comigo nunca tinha acontecido. Foi um jogo bastante disputado, eles abriram o placar, a gente empatou, eles fizeram 2 a 1, e a gente buscou os 2 a 2. Aí tava mais ou menos próximo dos 30 do segundo tempo quando a gente teve um jogador expulso. O jogo parou para o VAR analisar o cartão. E aí enquanto o VAR estava analisando, a luz do estádio passou a piscar e caiu. Eu até pensava que por estar perto dos 30 minutos, o jogo ia ser encerrado e manteriam o placar. Aí eles me explicaram que não, que teria que ser só a sete minutos ou menos para encerrar, e a gente teria que esperar para jogar no dia seguinte. Foi o que aconteceu. Aí nós nos reunimos capitães e treinadores junto com a arbitragem. Por incrível que pareça, as pessoas não vão acreditar, mas tinha que ter o jogo no dia seguinte tinha eclipse marcado para as 11h. Então ou a gente jogava antes do eclipse ou depois do eclipse. E como tem essa logística complicada de voo, era inviável jogar depois do eclipse. Então ficou todo mundo de acordo que a gente ia jogar às 9h30 da manhã.
Barbieri em ação no jogo da marca histórica contra o San Luís, que foi disputado em dois dias diferentes
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A gente jantou no estádio, voltou pro hotel. E é uma situação diferente, você tem 20 minutos para jogar. Eu pedi o vídeo do jogo, comecei a rever, pensar o que a gente podia fazer de estratégia para esses 20 minutos. Então, eu não dormi por conta de estar estudando, com a adrenalina ali. Os jogadores também demoraram, né? E foi isso. No outro dia a gente levantou cedo, tomou café, traçou uma estratégia de procurar ser muito intenso, não dar espaço para eles. E a gente conseguiu aí fazer um gol, fizemos um término de jogo muito bom, conseguindo uma vitória com todas essas nuances aí.
Agora que que a gente falou sobre como chegou a esse recorde, queria entender um pouco essa trajetória que te levou até o futebol mexicano. Como foi o processo para chegar aí, como apareceu essa proposta? E por que você aceitou?
– Depois que eu saí do Vasco, apareceram algumas oportunidades para mim de meio de ano. Mas eram oportunidades de campeonato em andamento, né? Sempre num cenário complicado de Brasil, que a gente conhece. E aí eu não avancei nessas conversas. A ideia era retomar com um início de trabalho, poder fazer uma pré-temporada. Mas aí não aconteceu isso. Em dezembro não apareceram as coisas que eu tinha expectativa que pudessem aparecer, e nesse meio tempo começaram a aparecer muitos convites ou sondagens da América do Sul, acho que muito por conta da campanha do Bragantino na Sul-Americana, né? Em um dado momento, o pessoal do Talleres, da Argentina, tinha me procurado para fazer uma sondagem e tal. Eu acredito que naquele momento era para o Talleres, mas não andou para a frente. Isso foi mais ou menos em setembro, outubro. Em janeiro, eles voltaram a me procurar, mas aí já com essa expectativa de pensar no Juárez, né?
Eles são um grupo que tem o Talleres, mas têm uma parceria, uma consultoria com o Juárez também. Então a gente teve uma conversa, meu perfil acho que agradou a eles e eles me fizeram esse convite para vir. E eu tinha essa expectativa de ter um primeiro trabalho fora do país, era um desejo que eu tinha, poder crescer profissionalmente, pessoalmente, com essa experiência. Então, o acerto todo, na verdade, foi muito rápido. Eu viajei sexta-feira para a Argentina, tive no sábado uma reunião com eles o dia todo, e domingo a gente fechou. Aí na terça à noite eu já estava embarcando para cá. Confesso que não me deu tempo de conhecer tudo que eu encontrei aqui. Eu estudei um pouco a equipe, claro, até antes de a gente ter a reunião. Vi os jogos, tudo, mas não pude estudar a fundo as particularidades da cidade aqui.
Então, quando eu cheguei também foi diferente daquilo que eu imaginava, em termos de cidade, de estrutura, do clima. Mas sempre fui muito bem recebido. As pessoas aqui são muito carinhosas, muito amáveis. Pelo lado do trabalho, a gente encontrou um clube em que detectei que a gente precisava mudar muito uma cultura de clube. Um clube que estava há muito tempo sem vencer. Como eu te disse, em nenhum momento a gente encontrou um ambiente hostil, tanto com relação à torcida quanto ao clube. E em algumas coisas existia talvez um comodismo, de se conformar com a situação. E aí a gente começou um trabalho muito forte de não só mudar as coisas dentro do campo, o lado tático e técnico, mas também uma mentalidade e cultura de clube, a maneira de encarar e fazer as coisas. Tardou alguns jogos, mas acho que os jogadores vêm se dedicando bem, e a gente está conseguindo agora colher esses frutos –
Te perguntando mais sobre Juárez, você já conhecia essa fama da cidade, que aparece nas séries etc? O que você já sabia? Em algum momento teve algum receio?
– Ah, eu conhecia de maneira superficial. Claro que você tendo essas informações te preocupa um pouco, mas na conversa com o Andrei Facci, que é o presidente do Talleres, que foi quem me trouxe, ele mesmo já havia trabalhado há 30 anos aqui e tinha dito “Pode ficar tranquilo que Juárez não é mais o que já foi um dia”. Em termos de violência e tudo. É claro que quando você chega se depara com um cenário que, para quem morou no Rio, não é muito diferente. De ver polícia na rua, fuzil, essas coisas todas. No dia a dia, na verdade, a sensação que você tem é de ser uma cidade muito tranquila. Tem uns 60 dias mais ou menos que eu estou aqui, um pouco menos. E não presenciei nada de violência, absolutamente nada.
Barbieri tem contrato com o Juárez até o fim do ano
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É uma cidade que tem um clima diferente, porque tem essa questão da fronteira, né? E tem muito imigrante que vem para cá querendo atravessar a fronteira. Alguns de forma legal, outros de formas ilegais. Então existe sim uma cultura que envolve a cidade nesse sentido, você sabe que existe a presença do narco aqui, sabe que tem a presença desse pessoal que faz esse trabalho de atravessar as fronteiras… Mas em geral é uma cidade muito tranquila, muito, muito pacata. É uma cidade industrial, de muitas fábricas, muitos trabalhadores. Quando dá 20h, 22h já está uma cidade mais tranquila, vazia, todo mundo em casa, todo mundo dormindo.
E o que foi mais difícil lidar? Língua, a questão do clima, a logística que você comentou?
– Olha, eu acho que o clima, porque é uma cidade de extremos, né? No inverno é bem frio, para mim, bem frio. E eles disseram que esse ano nem fez tanto frio assim, mas que normalmente neva aqui, apesar de estar no deserto. Mas o principal que atrapalha muito é a questão dos ventos aqui. Tem dia que os ventos são muito fortes, de você não conseguir treinar, não conseguir ficar lá fora, porque além da questão da velocidade dos ventos, tem a questão da poeira da terra, né? Como você está no deserto, os terrenos que não tem construção são terra, areia. E bate o vento, sobe tudo. Tem algumas montanhas que num dia bonito você vê, no dia que está esse vento, você não vê de tanta terra. Tem a questão de que às vezes o vento não é tão forte, mas para treinar te prejudica. Você não pode treinar a bola parada porque você bate o escanteio, a bola vai para o outro lado. Essa foi uma questão que pegou bastante, principalmente no início até o conseguir me adaptar. Então, se eu se eu deixo para treinar a bola parada na véspera e tem vento, eu não treino. É um problema complicado.
E quais foram as suas impressões sobre o futebol mexicano, tanto dentro de campo como na questão de estrutura?
– Ainda não tive oportunidade de conhecer todos os clubes, mas do que eu conheci, a impressão que eu tenho é que em termos de estrutura, de estádio, de centros de treinamento, acho que a liga mexicana, os clubes do México se equiparam ao Brasil. Investem tanto quanto, principalmente os grandes, né? E têm uma estrutura boa. Me surpreendeu bastante a organização da liga, uma liga muito organizada. A liga disponibiliza todos os dados físicos de todos os times rodada após rodada, que é algo que a gente não tem no Brasil. Todos os jogos são filmados pela liga e ficam à disposição. Então, nesse sentido, me surpreendeu bastante o nível de organização deles, o nível de compromisso deles com o espetáculo.
Do ponto de vista tático, dentro do campo, tem sido uma experiência muito enriquecedora, porque a diversidade de modelos é grande. Você tem equipes que procuram fazer um jogo de bastante posse, circulação, um jogo posicional. E tem outras equipes que fazem um jogo muito direto. Você tem muitas propostas variadas na liga e tem sido um desafio tentar se adaptar a todas elas, fazer frente a elas. Ter que estudar as diferentes maneiras que eles jogam têm sido um período de bastante crescimento para mim nesse sentido.
E qual é a situação do do Juárez aí? A gente sabe que o Juárez é um time que chegou há pouco tempo… Quais são as pretensões, o que você acha que dá para fazer?
– Aqui é um modelo de franquias, como na MLS. Então, todos os clubes têm donos. O Juárez veio de uma equipe que já existia, que eram os Cobras. Tinha um senhor que era o pai da atual dona e presidente do clube, Alejandra La Vega. Ela compra o clube na segunda divisão, eles sobem para a primeira e depois tem essa mudança na liga, eles extinguem o rebaixamentoMas é importante que as pessoas entendam que não tem rebaixamento, mas os últimos colocados têm que pagar uma multa, como se fosse uma compensação. E nos últimos anos o Juárez tem sempre pago essa multa. É uma multa em que você não paga só pelo último torneio, é uma soma dos torneios e você faz uma média da pontuação. Então, pode ser que você não pague no torneio do primeiro semestre, mas pague no segundo. E aí tem que ir subindo pra fugir dessa multa.
Quando eu cheguei, a gente era o último lugar, então teria que pagar a maior multa, que tem três valores, para o último, penúltimo e o antepenúltimo. São valores distintos, com o último pagando mais. Agora a gente já está em penúltimo, com condição de passar antepenúltimo. A gente está aí para brigando para pagar a parcela menor da multa, e o principal objetivo hoje do clube imediato é esse. Depois é um clube que quer crescer. A Alejandra adquiriu o clube não só em função de toda essa história do pai dela, mas ela sempre fala que é também por uma questão social, por todo o tema que a gente comentou da violência, ela queria que a cidade tivesse para onde olhar um espelho para a juventude. A ideia é se consolidar com uma equipe que possa estar brigando sempre para classificar para os playoffs, a Liguilla, algo que não aconteceu até então. A equipe sempre brigou nos últimos lugares e a gente vem para tentar mudar essa escrita.
E como foi o processo na chegada aí, quando você teve tropeços, depois do que você viveu no Vasco? O que passou na cabeça, estava ansioso por voltar às vitórias?
– Estava ansioso para que as coisas pudessem acontecer, para voltar não só as vitórias, mas sentir que meu trabalho refletia dentro do campo aquilo que eu estava construindo, né? Eu acho que no final, no Vasco, apesar da equipe ter um bom rendimento, muitas vezes não conseguiu os resultados, e isso sempre frustra. A maneira como eu saí também fiquei um pouco, vamos dizer assim, chateado ou decepcionado. Não era o que eu queria, de maneira nenhuma. É um clube pelo qual tenho um carinho imenso, um respeito enorme, mas as coisas não andaram. E, claro, você chega aqui, e as coisas começam não acontecer, bate uma ansiedade grande, uma angústia. Mas eu sempre tive muita clareza desde a chegada aqui que precisava mudar uma mentalidade, uma cultura. Isso você não faz em uma semana, né?
E o que que você traz de aprendizado aí do seu último trabalho no Vasco? Essa questão da resiliência em busca dos bons resultados… Se tem algum arrependimento da trajetória lá, que agora você pensou “Ah, vou fazer diferente isso”?
– Não, arrependimento não. Eu acho que ali eu fiz tudo o que que estava ao meu alcance. As pessoas não têm ideia do quanto eu me dedicava. Longe da família, trabalhava o dia todo. A gente traçou uma estratégia, um plano, mas o clube não conseguiu atender àquilo que a gente tinha traçado. E no final os resultados que se esperava não vieram. E é normal que a cabeça do treinador seja a primeira, né? Tanto é que depois da minha saída o Ramon fez um grande trabalho, melhorou muito a equipe, mas ele teve 10 contratações que eu não tive. Aqui eu já tinha a clareza de que o elenco que eu tinha era aquele e não iam chegar a novos jogadores. E aí foi um trabalho mesmo de recuperar os jogadores que vinham nessa sequência muito negativa, de passar confiança, de buscar novas estratégias dentro do campo. E uma das coisas que eu tenho conversado muito com eles é que a gente consiga planejar bem e cumprir o planejamento para o próximo campeonato. De reformulação do elenco, quem eventualmente vai sair, quem vai chegar, de qual a ideia, o modelo.
O último trabalho de Barbieri havia sido no Vasco
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E sobre o lado pessoal, a questão de distância… Já conseguiu ir nos Estados Unidos em algum momento visitar ou conhecer outros lugares do México?
– Tem sido bastante enriquecedor. Pela língua, primeiramente, porque nunca nunca tinha feito aula de espanhol, embora sempre tenha lido muito. Com relação à família é complicado, tenho filhos em idade escolar e não dá pra sair da escola. Então é uma distância que machuca todo mundo, mas são fases que a gente tem que passar. Consegui atravessar a fronteira para ir a El Paso, e existe uma diferença grande das duas cidades, apesar de estar só um muro separado. Na adaptação da comida, tem aquilo que a gente conhece bastante da comida mexicana, que eles chamam de Tex-Mex, burritos, tacos, nachos. Já estava acostumado, mas não a comer todo dia. Tudo com muita pimenta (risos). Mas uma coisa muito, muito bacana de Juárez e das pessoas do México em geral, pelo menos das que eu conheci, é que são muito amáveis, muito atenciosas. De turismo, o que eu consegui mesmo é ir até El Paso, porque, como eu te disse, a gente está longe de todo o resto do México. As demais cidades eu conheci mais por conta dos jogos, mas você não conhece, né? Ainda tenho esse desejo. Vamos ver se o tempo vai me permitir.
ge: Qual o seu planejamento de carreira ao fim do contrato aí? Voltar ao futebol brasileiro, estender mais um pouco aí, já que o México vai receber uma Copa do Mundo lá em 2026?
– Não tenho ele definido. Eu tenho contrato aqui até dezembro, até o final do próximo torneio. Tinha esse desejo de ter essa primeira oportunidade fora, e as coisas têm até agora caminhado bem. Não digo nem tanto só pelos resultados, mas pela oportunidade de crescimento, desenvolvimento. Minha família está no Brasil, e tenho o desejo de estar perto deles, claro. Então, tenho sim o desejo de continuar construindo a minha carreira no Brasil em grandes equipes. Mas entendo que se isso não acontecer num prazo, vamos dizer assim, curto ou médio, permanecer no México ou até outras oportunidades fora, em outros países, também fazem parte daquilo que eu estou aberto a escutar, a entender. As pessoas que estão no comando aqui têm o Talleres, vão adquirir um outro clube na Espanha… Se eles entenderem que eu também posso ter sequência em algum dos outros clubes do grupo, também seria fantástico. Então eu digo que estou com uma janela de oportunidades abertas no momento.

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