Na Libertadores ou na Sul-Americana, o Brasil fabrica em casa o seu primeiro adversário

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Daqui a menos de três semanas, algumas das maiores torcidas do país viverão um domingo de celebração pelos títulos estaduais. É uma espécie de alegria fugaz que o futebol do país proporciona anualmente. Se, ao final do ano, nenhuma outra conquista vier, será difícil sustentar a avaliação de que a temporada foi um sucesso. Distantes de ocuparem o topo da lista de desejos do torcedor brasileiro, os Estaduais provocam crises profundas e alegrias efêmeras.
Mas este será um bom momento para refletir sobre o custo que esta competição, com suas anacrônicas 16 datas, tem na temporada dos grandes clubes do país. Um destes efeitos, aliás, foi sentido na segunda-feira, enquanto debatíamos o tão aguardado sorteio dos grupos da Libertadores e da Sul-Americana.
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O Brasil é, certamente, o único país da América – e talvez do mundo – onde se especula seriamente, e com antecedentes que sustentam o debate, a possibilidade de escalar reservas na estreia continental por causa de uma final regional.
Não basta aos Estaduais serem tão maiores do que deveriam. Parecem meticulosamente programados para gerar o máximo de transtorno possível, a ponto de culminarem em duas partidas finais jogadas antes e depois da abertura da fase de grupos dos torneios sul-americanos. Dos 14 representantes do país nos dois torneios continentais, 10 ainda estão envolvidos na reta final de suas competições locais.
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É quando o mundo real se apresenta e, com ele, todas as idiossincrasias brasileiras. Ainda que haja um consenso sobre o desgaste de imagem e a deterioração do status esportivo dos Estaduais, o fato é que eles existem, amparados por rivalidades locais históricas. E, nestes termos, as decisões destes torneios são terreno fértil para que treinadores e dirigentes ganhem fôlego ou tenham seus trabalhos condenados.
Nas finais estaduais, o que se compra é tempo. Por vezes, vale menos o que se ganha e, muito mais, o que se evita perder. É em nome destes campeonatos que nossos clubes sacrificam o primeiro dos seis jogos da fase de grupos da Libertadores.
Sorteio Sul-Americana
NORBERTO DUARTE / AFP
É fato que a desigualdade econômica em favor dos brasileiros na Libertadores tem tornado, por vezes, as fases iniciais do torneio continental um mero trâmite. É possível “abrir mão” de um jogo e, ainda assim, confirmar a classificação nas outras cinco rodadas. É uma decisão de cada clube. O que não é razoável é o calendário impor este tipo de escolha por causa das finais dos Estaduais.
Convém não esquecer, em meio à euforia pelo título local, que o custo desta festa será jogar nove rodadas do Campeonato Brasileiro sem os jogadores convocados. Porque em meio à vitória sobre um rival histórico, tudo parecerá valer a pena. Mais adiante, o preço será alto.
O maior rival dos clubes brasileiros não estava em qualquer dos potes da Libertadores ou da Sul-Americana. O primeiro grande adversário é sempre o calendário.

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