Nos melhores 45 minutos do Flamengo no Brasileiro, Tite recorre a antigas soluções de seu manual

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Já se aproximava a reta final do ciclo de preparação para a Copa do Mundo de 2022 quando Tite fez um movimento que elevou o rendimento da seleção: fez Paquetá, um meio-campista, partir da ponta esquerda para buscar o centro do campo, onde encontraria Neymar, já convertido em meia-atacante. Entre os dois, surgiram combinações promissoras: foi o melhor momento da caminhada até o Catar. Antes da Copa, a ascensão de Vinícius Júnior mudou alguns planos, mas Neymar e Paquetá fariam a tabela que resultou no gol do Brasil contra a Croácia, na noite da traumática eliminação brasileira.
Não era a primeira vez que Tite recorria a um meia partindo da ponta para participar da construção de jogadas. No melhor momento da preparação para 2018, Philippe Coutinho saía da direita para encontrar Renato Augusto e Paulinho. No Corinthians de 2015, Jadson buscava o diálogo com Renato Augusto e Elias. No sábado, um Flamengo em busca de uma versão convincente, em busca do bom futebol, usou um recurso típico do manual de Tite para construir sua vitória.
lorran, pedro, flamengo
André Durão
Gérson partia da direita, ora recebendo mais aberto, ora alguns metros para o centro. Ali encontrava Lorran, e por vezes também Varela ou De La Cruz, este último um daqueles jogadores que parecem estar em toda parte do campo o tempo todo. Foram 45 minutos de bom futebol na primeira etapa, o melhor tempo do Flamengo no Brasileiro. Porque a combinação entre Gérson, um meio-campista, e Lorran, um meia-atacante, deu ao rubro-negro algo importante num time: a alternância de ritmos.
É compreensível que, por vezes, Gérson seja criticado por reter a bola além da conta, por dar menos dinâmica ao jogo. É, de fato, um efeito colateral de seu jogo em dados momentos. Mas o futebol pode oferecer vantagens e desvantagens em um mesmo jogador, em um mesmo recurso, em uma mesma característica. No lugar de ter dois pontas agressivos, que quase sempre aceleram a solução das jogadas, a presença de Gérson na direita ofereceu um pouco de pausa ao Flamengo. E esta pausa permitiu ao time se juntar, se aproximar. E, no final das contas, fez os jogadores se associarem para jogar, algo que parecia faltar a uma equipe de peças que andavam distantes.
Se Gérson é a pausa, Lorran é a verticalidade, a objetividade, o futebol sempre em direção ao gol. A forma como se apresentou no Maracanã talvez tenha sido, junto à boa atuação na primeira etapa, a melhor notícia do jogo para um Flamengo que, em breve, perderá Arrascaeta por um mês durante a Copa América.
Enquanto Gérson ocupou Cacá e gerou o espaço na defesa corinthiana, De La Cruz, Lorran e Pedro combinaram até o centroavante marcar um bonito gol. No segundo tempo, quando a partida ameaçava se complicar, uma recuperação de bola no campo ofensivo permitiu a Gérson dar o passe para a finalização de Lorran.
O Flamengo do primeiro tempo teve bons momentos em pressão ofensiva e, num Maracanã inquieto a cada chute longo de Rossi, pareceu insistir mais nas tentativas de construir pelo chão em sua saída de bola. Teve erros no início, acertos no decorrer da primeira etapa, até se estabilizar no jogo.
Ocorre que estes 45 minutos parecer ser um caminho, mas ainda são uma amostragem pequena diante da sequência de atuações insuficientes do time. Na segunda etapa, António Oliveira mexeu num Corinthians que ficara inferiorizado no meio.
O treinador português não alterou o sistema, mas mudou a estrutura da saída de bola, desencaixou por alguns momentos a marcação do Flamengo e colocou Yuri Alberto no lugar de Paulinho. Com isso, recuou Garro para atuar junto a Breno Bidon. Enquanto isso, o time dobrava a aposta nos avanços de ala Hugo como um meia. Enfim, era como se o Corinthians entrasse no jogo e começasse a ser mais presente no campo ofensivo. O Flamengo encontrava mais espaços para atacar em velocidade, mas já não parecia tão confortável. Até Lorran marcar o segundo gol e acalmar de vez o ambiente.
Mas, até ali, o Flamengo já tinha mais dificuldade para pressionar, o que também pode se explicar pelo fortíssimo calor do Maracanã. Além disso, a saída de bola já não era tão limpa e a criação de chances, mais esparsa.
É muito cedo para dizer que o Flamengo encontrou um padrão. Ao menos, parece ter achado um caminho.

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