Odair explica opção de vida no Oriente Médio, compara Al-Hilal de Jesus com Flamengo e projeta Neymar focado para a Copa

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Em entrevista exclusiva ao ge, treinador do Al-Riyadh elogia competitividade da Liga Árabe, conta que dispensou tradutor e praticava inglês em frente ao espelho para aprender a se comunicar Odair Hellmann trocou o Brasil pelo Oriente Médio. Com residência fixa em Dubai, o treinador de 47 anos vive a primeira experiência na Liga Árabe, a qual considera muito competitiva, no comando do Al-Riyadh. Em entrevista exclusiva ao ge, Papito explica por que escolheu viver do outro lado do mundo, compara o Al-Hilal de Jorge Jesus com o Flamengo de 2019, fala de Neymar e do período em que trabalhou no Santos, hoje na Série B.
A ideia central é a continuidade de viver em Dubai e voltar ao Brasil nas oportunidades de trabalho ou visitar.
Confira trechos da entrevista com Odair Hellmann
Ex-Inter, Fluminense, Al-Wasl, dos Emirados Árabes, e Santos, Odair garante estar feliz e realizado como técnico na Arábia Saudita. Conta com orgulho que a família está adaptada. A esposa e dois dos três filhos o acompanharam na jornada: um trabalha na comissão técnica do Riyadh e outra cursa faculdade em Dubai. Uma permanece no Brasil.
O técnico brasileiro vive em um condomínio fechado, na Arábia Saudita. Jorge Jesus é vizinho. Os encontros na academia e piscina são inevitáveis. Ambos estão inseridos em um mercado de trabalho que evolui a passos largos, atrai os olhares do mundo e tem Cristiano Ronaldo como principal atrativo.
O campeonato da Arábia Saudita hoje é muito mais forte que muitos campeonatos badalados europeus.
Odair Hellmann, técnico do Al Riyadh
Divulgação/Al Riyadh
Em cima disso, o lado profissional e a possibilidade de crescimento da carreira influenciaram na decisão de mudança definitiva para o Oriente Médio. Há outras questões fora do futebol que também são essenciais para o Papito: segurança e tranquilidade familiar.
+ Veja a tabela do campeonato saudita
– A expectativa quadriplicou em relação ao que é viver em Dubai: vida pessoal com a família, segurança, liberdade, possibilidade de você fazer sua profissão e conseguir sair nos lugares e ter uma vida particular, sem estar tentando se esconder. Gera uma tranquilidade também para os filhos e esposa.
– Talvez o Brasil seja o melhor país do mundo, mas precisa oferecer melhores condições para as pessoas viverem em sociedade, viver de uma forma mais igualitária socialmente e isso gera uma dificuldade e insegurança, e tudo isso a gente sentiu. Começamos a viver uma outra realidade nos Emirados. Passa outro tipo de segurança. Além das possibilidades de investimentos e questão financeira, tem o lado da família, de cumprimento de regras – explicou Odair.
Confira abaixo outros tópicos da entrevista de Odair Hellmann ao ge.
Al-Hilal e Flamengo de 2019
Odair e Jorge Jesus, além de vizinhos, são rivais desde os tempos de futebol brasileiro. O histórico de confrontos contempla duelos em Inter x Flamengo, Fluminense x Flamengo e, agora, Al-Riyadh x Al-Hilal.
Não há comparação entre o poder de investimento dos clubes. Um luta contra o rebaixamento (o Riyadh é o primeiro time fora do Z-3) e outro lidera a Liga Árabe, com 12 pontos de vantagem para o Al-Nassr, de CR7, e ostenta o recorde de vitórias seguidas no futebol masculino.
Odair durante treino do Al-Riyadh
Al Riyadh | Divulgação
Recentemente, ambos se enfrentaram pela 27ª rodada, com triunfo, de virada, do Al-Hilal. A partida foi marcada por uma arbitragem polêmica de Wilton Pereira Sampaio. Odair reconhece os méritos no trabalho de Jesus e compara o futebol praticado pelo time árabe com o do Flamengo de 2019, campeão brasileiro e da Libertadores daquele ano.
– É um grande treinador, muita experiência, capacidade de cobrança muito grande. Não é fácil você treinar um time que tem esse poder de investimento, com mais de um jogador para cada função e não podem jogar todos. Tem que administrar. Isso mostra que o Jesus, além de bom na parte técnica e tática, tem uma capacidade de gestão muito boa.
– O Al-Hilal tem características muito parecidas com o Flamengo de 2019, guardando as devidas proporções em relação a nomes e características. O time, coletivamente, é muito parecido com o Flamengo. A capacidade de definição é muito forte. Uma imposição muito grande, e não só na parte ofensiva, mas na hora da retomada da bola, uma imposição na hora de marcar – compara Odair.
Fé em Neymar
A relação entre Neymar e Odair é estreita desde 2016, quando a seleção brasileira conquistou a primeira medalha de ouro no futebol masculino nas Olimpíadas. Os dois não mantêm contato diário, mas conversam e trocam ideias eventualmente. Em fevereiro, o craque voltou ao país árabe para dar sequência ao tratamento da lesão.
Odair Hellmann com Neymar em visita ao treino da Seleção
Raphael Zarko
O camisa 10 se recupera de cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Papito acredita que o meia-atacante voltará mais forte e com a cabeça voltada para disputar a Copa do Mundo de 2026 em alto nível.
– Ele tem talento e trabalha. Eu tenho certeza que o Neymar, após essa lesão, vai voltar mais forte, com vontade de fazer uma ótima recuperação e dar continuidade ao trabalho, para que possa fazer a próxima Copa do Mundo, que talvez seja a última. A gente nunca sabe, mas dentro de uma cronologia de idade, de questão física. Vai colocar na cabeça que essa é a Copa do Mundo e ele vai se entregar, mais do que já se entregou até hoje.
– Eu acompanhei um pouco a preocupação (no Brasil) em relação ao nível de competitividade em relação ao Campeonato Árabe. E, quanto a isso, eu posso testemunhar que não vai ser por isso que o Neymar não vai estar preparado para a Copa do Mundo, porque, em termos de competição, a Liga é forte e exige – conta.
Neymar volta à Arábia Saudita para seguir tratamento de lesão no joelho
“Momento do Santos não era bom”
Odair abriu mão da vida em Dubai para assumir o Santos em 2023 e reconhece que o resultado foi aquém das expectativas. O treinador cita que o momento não era bom pelas inúmeras dificuldades, entre elas contratempos no mercado e na política do clube, que influenciou dentro de campo. Papito foi demitido em junho com 44% de aproveitamento.
– O momento do Santos não era bom, porque vinha de dois anos com dificuldade e não era um bom momento de investimento. Quando eu assumo, eu visualizo a mesma situação de Inter e Fluminense: possibilidade de fazer o trabalho a longo prazo, de estabilidade e reconstrução. Não foi possível por vários motivos. Dificuldades de contratação, por ser um ano político, isso conta muito no Brasil. O fator externo é o que mais influencia, confiança dos jogadores e tomada de decisão dos dirigentes.
Quando o clube está vivendo esse momento, o mercado de empresários e jogadores não olha para você.
– O mercado do futebol quer estar no clube da Libertadores, quer estar no clube que disputa a parte de cima da tabela, quer estar no clube que visualiza a possibilidade de disputar alguma coisa naquele ano. A gente teve muita dificuldade de contratação, muito pela capacidade financeira e pelo mercado não olhar para o Santos naquele momento.
Técnico do Santos, Odair Hellmann, na partida contra o Bahia, pela Copa do Brasil
Raul Baretta/Santos FC
Prática do inglês em frente ao espelho
Odair costuma dizer que a comunicação é um dos pilares do seu trabalho. Hoje, conversa e prepara materiais em inglês para o grupo de jogadores. Mas quando chegou ao Al Wasl, dos Emirados, em 2020, o treinador enfrentava barreiras na questão da língua.
Curiosamente, dispensou o auxílio do tradutor e buscou praticar e aperfeiçoar o idioma empiricamente: do papelzinho no bolso aos ensaios em frente ao espelho, como se fosse uma peça de teatro.
– Quando eu fui para o Emirados, eu falava, because, together, I believe. Como é que eu fui me dedicar a esse processo? Eu escrevia num papel o que eu ia falar sobre treino, metodologia, cobranças. Ensaiava na frente do espelho, sozinho no hotel, como se fosse uma peça de teatro. À noite, na hora de dormir, ficava aquilo na cabeça. No outro dia, estudava de novo e ia para o treino e tentava. Errava, acertava, olhava de novo, e ia me cobrando, tentando melhorar.
– E o por que eu não queria o tradutor? Eu prefiro não falar um inglês perfeito, mas olhar no olho, com gesto, com emoção, com força ou com calma, para que o cara me olhe. Talvez nem através da minha palavra ele entenda, mas através da minha cara, da minha face, das minhas mãos, do meu movimento, ele vai entender.
Odair Hellmann, técnico do Al-Riyadh
Al Riyadh | Divulgação
Odair Hellmann na carreira
274 jogos
122 vitórias
73 empates
79 derrotas
53,5% aproveitamento
366 gols pró
271 gols contra

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