Opinião: apito prejudica Portuguesa, que já teria dificuldade de sobra contra Palmeiras

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Lusa não tem direito de responsabilizar a arbitragem pela péssima campanha no Paulistão, mas tem razão ao apontar influência direta nesta derrota por 2 a 0 Apontar os erros e a influência da arbitragem na derrota por 2 a 0 para o Palmeiras nesta quarta-feira (28) em nada isenta a Portuguesa de responsabilidade sobre o desnível técnico, as fragilidades e as dificuldades enfrentadas ao longo deste Paulistão.
O time do Canindé não luta contra o rebaixamento a toa. As únicas duas vitórias e o único empate, em um total de dez jogos, são reflexo da incompetência de uma diretoria que cometeu erros em sequência nas escolhas de cartolas, técnico anterior e elenco.
Enfrentar o Palmeiras seria complicado até com um trabalho bem feito. Afinal, trata-se do atual campeão brasileiro contra a única equipe do Paulistão sem divisão nacional. Um grupo montado há dois meses contra uma estrutura vencedora há anos.
Portuguesa 0 x 2 Palmeiras – Melhores momentos – Campeonato Paulista 2024
Ficou mais difícil ainda, claro, com o péssimo trabalho da Lusa para este estadual. O que esperar da equipe rubro-verde nesta partida? Jogar fechada, tentar dar o mínimo possível de espaços e se arriscar ao ataque apenas em resposta a erros do Palmeiras.
Qualquer um sabe que não se pode dar muitas chances aos comandados do técnico Abel Ferreira. Muitas vezes uma chance é suficiente para matar o jogo. Assim como qualquer um sabe que a Portuguesa teria pouquíssimas, escassas chances, e teria de aproveitar.
Abel não poupou titulares, como fez parecer, e foi ao estádio do Canindé obstinado pela melhor campanha da primeira fase para ter vantagem na sequência. Já a Lusa tinha mudanças, a começar pelo técnico Fabinho, no lugar do suspenso Pintado.
O jovem Talles foi escalado na vaga de Douglas Borel na lateral direita. O também jovem Maceió ganhou a primeira chance como titular no ataque, após Paraizo, Felipe Marques e Henrique Dourado desperdiçarem diversas oportunidades com mau futebol. Na mesma linha esteve o volante Dudu Miraíma, trocado por Ricardinho.
Thomazella no gol, Talles na lateral direita e Eduardo Diniz na esquerda, com Quintana, Robson e Patrick no miolo de zaga. Tauã e Ricardinho eram os volantes, tendo Giovanni Augusto com a camisa 10. Na frente, Maceió e Victor Andrade. Esse último voltando à titularidade após semanas se recuperando de uma séria lesão.
Quem tinha a bola? O Palmeiras. Quem levava perigo? O Palmeiras. Quem mostrava ter peças capazes de desequilibrar? O Palmeiras. Não podia ser diferente. Mas, mesmo com todo cenário adverso, a Lusa conseguiu por um tempo e meio se sair muito bem.
Portuguesa x Palmeiras, Paulistão
Marcos Ribolli
O Palmeiras jogava o básico, enquanto a Portuguesa se fechava como podia, com uma sobriedade e uma segurança raras até aqui neste Paulistão. Quem destoava de fato nesse roteiro, desde o início do jogo, era o árbitro Thiago Luís Scarascati.
Chamava a atenção, já no primeiro tempo, a falta de critério nos cartões. Talles e Maceió foram amarelados aos 20 e aos 35 minutos em faltas que o Palmeiras cansou de cometer. Só Marcos Rocha cometeu três idênticas àquela de Talles. Patrick levou outro amarelo, já na etapa final, sem que a mão nem resvalasse no rosto de Endrick.
Os contra-ataques da Lusa eram matados sempre na base da falta, algumas por trás, sem nenhum cartão amarelo. Para se ter uma ideia, o time do Canindé cometeu nove faltas em todo o jogo. Já o Palmeiras, 21 faltas. Um levou quatro amarelos. O outro, nenhum.
Se não bastasse isso, dois outros lances roubaram a cena. O primeiro aos 47 minutos do primeiro tempo, quando a Portuguesa pediu pênalti. Giovanni Augusto entrou na área e Murilo se esticou todo para tentar desviar a bola com a perna direita.
Há quem diga que Giovanni Augusto dobrou a perna. Fato. Mas também há quem diga que Murilo não encostou na bola, mas se chocou com o meia rubro-verde. Outro fato. Lance, portanto, de divergências. Aliás, de grande divisão entre a própria imprensa.
Portuguesa x Palmeiras, Paulistão
Marcos Ribolli
Não houve, e ainda não há, consenso em canto algum. Mas, entre os 13 integrantes da equipe de arbitragem, houve. Thiago Luís Scarascati não foi chamado pelo VAR, não foi à tela rever o lance, não teve a dúvida que até agora impera entre quem vê.
Por outro lado, aos 15 minutos do segundo tempo, o VAR surgiu. O lance havia sido parado, mas Luan do Palmeiras e Victor Andrade da Portuguesa seguiram atrás da bola. Luan deu um carrinho. Victor Andrade pulou. A reação inicial do árbitro não foi cartão.
A equipe do árbitro de vídeo, então, chama Thiago Luís Scarascati. Neste caso, sim, ele vai à tela rever. Tira o vermelho do bolso e expulsa Victor Andrade. Na súmula, justificou: “por atingir com as travas da chuteira a perna do seu adversário de número 13, Sr Luan Garcia Teixeira, quando o jogo estava paralisado”.
“O jogo estava paralisado”. Luan não deu sequência também? Não deu um carrinho? Isso não configura desrespeito à paralisação do jogo e “ação temerária”, como diz a regra? Havendo critério, ao menos um cartão amarelo Luan deveria ter tomado.
Agora vamos à situação de Victor Andrade. Quando se vê as imagens, ele pula para evitar o carrinho. O lance, se não visto em câmera lenta, é rápido. Não há nem tempo de Victor Andrade pensar em pular para atingir o adversário. Zero chance de intenção.
Não houve intenção, não houve dolo, não houve sequer uma pisada forte. Ele logo tira o pé, afinal, o pé só estava lá porque não havia tempo de estar em outro lugar. O cartão amarelo seria o mais compatível, razoável e coerente com o lance. Isso levando a situação ao máximo. Um amarelo para ambos, que deveriam ter parado a jogada.
Mas não. A Lusa teve expulso seu melhor jogador. O mais qualificado tecnicamente. O único diferencial. E ainda perdeu a escassa peça desequilibrante para a partida que agora se torna a mais importante do campeonato: sábado (2), no Canindé, contra o Mirassol.
Portuguesa x Palmeiras
Marcos Ribolli
O jogo mudou completamente a partir dali. A Portuguesa não conseguiu mais manter o ritmo, Fabinho demorou a mexer para fechar o time, enquanto Abel lançou o Palmeiras ataque e visualizou com muita rapidez que o caminho era o corredor de Victor Andrade.
A jogada do primeiro gol do Palmeiras se deu naquele corredor. Rocha levantou para a área, Caio Paulista desviou de cabeça e Piequerez escorou no cantinho, sem chance para o goleiro Thomazella. Eram transcorridos cerca de cinco minutos após a expulsão.
É impossível não dizer que a arbitragem influenciou diretamente no resultado. O mérito do Palmeiras foi identificar muito rapidamente o caminho. E o demérito da Lusa foi aquele que se repete neste Paulistão: marcação frouxa de Diniz em Rocha, Caio Paulista e Piquerez subindo livres, leves e soltos entre Quintana, Robson e Patrick. Quintana, aliás, fazendo sabe-se lá o quê a não ser dar condição de jogo aos rivais.
O golaço de Gabriel Menino, aos 47 minutos, já é daqueles lances que permite uma equipe desorganizada pela expulsão, mexida para tentar resultado e adiantada em busca de um gol. Foi um belo gol, mas sem qualquer marcação ou poder de combate. O sistema defensivo todo, naquele lance, estava completamente combalido.
Portuguesa 0 x 2 Palmeiras – Gols – Campeonato Paulista 2024
Em resumo, o jogo virou com a expulsão. Uma vitória do Palmeiras era o lógico, o provável, o esperado. A Lusa teria muitas dificuldades para segurar um mísero empate sem gols. Só que vinha conseguindo e, pela altura do jogo, não era mais impossível conquista-lo. Ou seja, o resultado não precisava ter sido manchado pela arbitragem.
Vale repetir: apontar os erros da arbitragem e a influência dela no resultado em nada eliminam a responsabilidade da Portuguesa. Houve sim demora para mexer após a expulsão, baque com um a menos, desorganização defensiva imperdoável, assim como desperdício das poucas chances de gol, sem praticamente levar perigo.
Para finalizar, o que foi a postura da Lusa diante do Palmeiras? Mesmo com todas as limitações técnicas e buracos no elenco, com essa garra, essa pegada, esse foco, essa concentração e essa disposição, o clube não estaria na situação em que está.
A postura diante do Mirassol precisa ser exatamente essa. Ainda assim não será fácil, mas se tornará possível. O que não se pode é jogar aquela bolinha e mostrar aquela inércia diante do Botafogo. A arbitragem afetou o clássico, mas não é pelo apito que a Portuguesa está com a corda no pescoço. É arregaçar as mangas e trabalhar.
*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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