Opinião: após luxo em Novo Horizonte, Lusa terá de focar, ralar e se superar contra o Santos

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Já livre da queda e garantida nas quartas de final do Paulistão, Portuguesa fecha primeira fase com time alternativo e derrota sem peso para o Novorizontino por 2 a 0. A torcida da Portuguesa já nem estava mais acostumada a chegar a uma última rodada sem precisar somar pontos desesperadamente, fazer contas para combinações mirabolantes de resultados ou ainda ficar dependendo da incompetência de adversários.
Esse era o principal assunto entre os torcedores rubro-verdes que chegavam ao estádio Jorge Ismael de Biasi neste domingo (10). Sim, a Lusa já estava livre do rebaixamento, já estava garantida nas quartas de final do Paulistão e já estava até com vaga na Série D do Brasileirão de 2025.
Não valia nada? Jamais para a torcida. Havia gente que encarou quase 400 quilômetros de estrada a partir da capital paulista. E havia gente que, morando em cidades do entorno, viu na partida contra o Novorizontino a chance de reencontrar o clube de coração.
Novorizontino 2 x 0 Portuguesa – melhores momentos – Campeonato Paulista 2024
Se em 2023 esse reencontro foi no “milagre de Mirassol”, com o coração saindo pela boca, em 2024 foi em um confronto avesso: era o adversário, no caso o Novorizontino, que precisava da vitória para se classificar à próxima fase sem depender de outros resultados.
Vamos aos fatos: jogando com a equipe titular e precisando da vitória já seria difícil à Portuguesa vencer a equipe de Novo Horizonte. Com uma escalação totalmente alternativa, e com um espírito de time que realmente não queria nada, ficou absolutamente impossível.
O técnico Pintado aproveitou o “lucro” para poupar atletas. Os cartões amarelos zeram nas quartas de final, mas quem toma o terceiro na última rodada da fase de grupos acaba sendo obrigado a cumprir a suspensão na fase seguinte. Ou seja, melhor não arriscar.
Novorizontino e Portuguesa se enfrentam no Jorjão pelo Campeonato Paulista.
Gustavo Ribeiro
Os laterais direitos Douglas Borel e Talles, o lateral esquerdo Eduardo Diniz, os volantes Dudu Miraíma e Tauã, e os atacantes Henrique Dourado e Maceió estavam todos pendurados. Borel e Dourado foram os únicos escalados como titulares e Talles o único como reserva.
Os outros nem relacionados foram, assim como o meia Giovanni Augusto, suspenso por já ter sofrido o terceiro amarelo no jogo anterior. Entre os titulares, Pintado também aproveitou para dar rodagem a quem vinha de lesão: o volante Zé Ricardo e o atacante Victor Andrade.
A Lusa foi a campo com Thomazella no gol; Douglas Borel na lateral direita e Pedro Henrique na esquerda; Robson, Marco Antônio e Patrick no miolo de zaga; Zé Ricardo e Ricardinho como volantes; Victor Andrade com a camisa 10; Leandro e Henrique Dourado na frente.
Quem acompanha a Portuguesa desde o início do Paulistão não precisava nem ver a partida começar para descobrir as dificuldades. Como criar algo pelo meio sem Giovanni? Como levar perigo na bola parada sem Diniz? Como manter a pegada no combate sem Tauã?
Torcida da Portuguesa em jogo contra o Mirassol no Canindé
Dorival Rosa/Portuguesa
Todos os temores se confirmaram, adicionando o fator óbvio: a postura tranquila e sossegada. Essas circunstâncias, claro, são terreno fértil para se sobressaírem as fragilidades. Aquelas tão batidas e surradas, que fizeram a Lusa correr sérios riscos de rebaixamento.
O Novorizontino conseguiu vencer com a mais absoluta facilidade. Não demorou mais que nove minutos para abrir o placar, com Fabrício Daniel, totalmente livre de marcação no rebote de uma falta. Daquelas falhas de marcação bem básicas, elementares, inaceitáveis em outros contextos.
A equipe da casa arrefeceu, baixou as linhas, esperou a Lusa e passou a jogar no contragolpe. Sem meio-campo, a Portuguesa ciscou algumas vezes pelas beiradas, mas sem grande perigo. Tal qual as andorinhas com o verão, Victor Andrade sozinho não faz futebol pelo time todo.
Quando tentou dar um novo gás no intervalo, colocando Quintana no lugar de Robson e Chrigor na vaga do desde sempre cansado Henrique Dourado, tomou o segundo gol já no começo do segundo tempo. Justo no corredor deixado por Quintana que, como Dourado, entrou lento.
Estádio do Canindé
Marcos Ribolli
Aos seis minutos, Romulo foi avançando livre. Teve a companhia de Quintana nessa descida ao ataque, que apenas assistiu, de camarote e bem de pertinho, a finalização para o fundo das redes. Nem parecia que estava no banco de reservas havia seis – sim, seis – minutos.
Essa partida serviu para confirmar as limitações que a Lusa tem no banco de reservas, se é que alguém ainda precisava de algum reforço. Trata-se de um time que, em sua melhor formação, precisa ainda jogar no limite da organização e do empenho para se tornar competitivo.
Esse 2 a 0 para o Novorizontino acabou servindo para rodar o banco de reservas, dar minutagem a alguns jovens da base como Leandro, Pedro Henrique e Denis, e devolver ritmo a recém-recuperados de lesão como Zé Ricardo, Victor Andrade e Chrigor – este na etapa final.
O apito final do árbitro Lucas Canetto Bellote não deixou ninguém descontente em Novo Horizonte. Sejam os donos da casa, festejando a classificação para enfrentar o São Paulo nas quartas de final, sejam os visitantes, que já cantavam e gritavam em alusão ao Santos.
Portuguesa se classifica pro mata-mata do paulistão após 13 anos
Agora a expectativa fica para a definição de data, horário e local das quartas de final diante do Santos. Um “lucro” para esse elenco e para essa campanha? Sem dúvidas. O desempenho da Lusa neste Paulistão, em outros anos, culminaria em rebaixamento à Série A2.
“Lucro”, inclusive, financeiro. Até porque o regulamento prevê que nessa fase, por se tratar de jogo único com mando de quem tem a melhor campanha, a renda seja dividida entre os clubes que se enfrentam. Não a toa há a tentativa do Santos de levar a decisão à capital.
Esse clássico, porém, não pode ser tratado como o “lucro” de Novo Horizonte. Pelo contrário, é preciso fazer o “lucro” deste domingo (10) ter valido. É preciso contar com força máxima, em termos de condições físicas e técnicas, para tentar incomodar o Peixe.
Nem tanto pelo futebol apresentado pelo Santos. Mais pelas dificuldades que a Lusa enfrenta com o elenco que tem. É preciso que todos ali dentro tenham noção do peso dessa partida no contexto dos últimos anos, longe da elite e das outrora comuns disputas contra os grandes.
Pode valer uma vaga na Copa do Brasil sem depender dos outros – o que hoje, dependendo, já é possível. Mas pode valer, sobretudo, como reafirmação de um sonhado processo de reconstrução. De uma direção que precisa, enfim, aprender com os erros de 2024. Com 2023 não aprendeu, do contrário não teria sofrido tanto quanto sofreu no atual campeonato.
Essa torcida, que percorre 400km para um jogo que “não vale nada”, que está espalhada pelos interiores do país sem ver o clube disputar nada nacionalmente, merece todo o foco, toda a concentração, todo o esforço, todo o pé no chão, toda a cabeça no lugar e toda superação poupados para as quartas de final do Paulistão.
*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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