Opinião: Cássio erra ao sair do Corinthians. Ser ídolo é um ato de resistência

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Apesar de considerar um equívoco, é importante deixar claro que apenas ele e seus familiares sabem a dor e o sabor de ser um dos maiores jogadores da história do clube Veja homenagem do Globo Esporte SP a Cássio
Cássio encerrou a sua história de quase 13 anos como jogador do Corinthians com uma entrevista coletiva neste sábado, no CT Joaquim Grava. A primeira vez que pisou em terras alvinegras foi em 2 de fevereiro de 2012. Mal sabia ele que o destino o colocaria como um dos maiores jogadores, se não o maior, da história do clube.
Foram 712 jogos, nove títulos conquistados e um legado que poucos atletas conseguiram construir em quase 114 anos de existência do Sport Club Corinthians Paulista.
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Entrevista coletiva do goleiro Cássio na despedida do Corinthians
Em um país onde pouco se lê e que há quase sempre a intenção de se interpretar o que foi sequer escrito como verdade absoluta, quero deixar claro que este texto parte do princípio da ruptura da história construída com tanto suor por Cássio e pelo Corinthians em mais de uma década de relação.
Essa opinião é pautada pela decisão do Cássio em sair do clube, seja motivada por um ato de amor próprio, ao clube ou ambos os casos. Ele tinha a opção de ficar. Não quis. E está tudo bem.
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Cássio se despede com sala de imprensa lotada no Corinthians
Rodrigo Coca/Ag Corinthians
Não tenho convívio com o Cássio para entender a dimensão de uma decisão que certamente teve diversas camadas, como o aspecto familiar, psicológico, social e até profissional, apesar dos 36 anos e uma reta final de carreira. E, por que não, financeiro.
Sem sombra de dúvidas eu entenderia, qualquer que tenha sido o impacto em sua vida e das pessoas do seu entorno diante da pressão que é jogar no Corinthians – ainda mais em uma fase atual tão nebulosa -, o motivo plausível de querer respirar novos ares.
Cássio defendeu pênaltis decisivos ao longo dos quase 13 anos com a camisa do Corinthians
infoesporte
Entendo e concordo que Cássio já não tem o mesmo desempenho que o consagrou no passado recente. Ainda assim, na posição dele como referência, a simples presença no vestiário e o papel de liderança o tornam essencial em um momento crucial do clube dentro e fora de campo.
Perde-se um ídolo, mas perde-se também um norte, um ponto de referência único, que viveu do auge ao quase fundo do poço em pouco mais de uma década.
Também abro um parênteses para “culpar” as gestões anteriores e a atual do clube em não saber conduzir e blindar alguém do tamanho do Cássio. Claro que não basta apenas ao jogador trabalhar a sua imagem, pelo contrário, ídolos são cada vez mais raros e podem ajudar além das quatro linhas. O Corinthians, por meio dos seus gestores, não soube administrar um patrimônio imaterial. Mas isso já era algo esperado por pessoas que não se importam, também, com o patrimônio material.
Cássio e a torcida do Corinthians em jogo na Neo Química Arena
Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Mas ainda completamente iludido pelo amor à camisa, prefiro olhar para o lado apaixonado da história. Ser ídolo é um posto raro, respeitado e quase inatingível no futebol atual. Diante desses e vários outros elementos, entendo que ocupar esse espaço é ser resistência, a tudo e a todos.
Para ser considerado o maior jogador da história de um clube, assim como grandes heróis da história mundial – seja qual for a área de atuação, é necessário entender que as lutas serão cada vez mais duras, contra adversários cada vez mais próximos, incluindo muitas traições. Afinal, o foco sempre estará no número 1, quase nunca em quem vem depois.
Por isso, Cássio deveria resistir. Ser resiliente e lutar contra qualquer sentimento que o tenha feito pensar em desistir ou abrir mão de aumentar ainda mais a sua idolatria.
A saída dele não apaga em nada o que foi feito e talvez não o tire do posto de maior jogador do clube, mas poderia ser diferente. Ainda mais bonito, do tamanho que ele representa para tanta gente.
Cássio com a taça da Libertadores em 2012
Photo by Buda Mendes/LatinContent via Getty Images
A história de Cássio teria um significado ainda maior não no presente, com o ato de seguir no clube escrevendo sua história, mas no futuro quando o olhar já não tivesse mais o fanatismo e o imediatismo pelos resultados, pela vitória e por tudo o que é bom.
Nem só de alegrias uma bela história é escrita. Os enredos mais completos possuem, além de felicidade, tristeza, tensão, dúvidas, incertezas, problemas e a tal da resistência, entre outras coisas que constroem as nossas vidas.
O Corinthians seguirá sem ele. Ele seguirá sem o Corinthians. Mas, juntos, poderiam ter caminhado um pouco mais. A única coisa que certamente não deixará de existir é o sobrenome que o goleiro ganhou há quase 13 anos: Cássio, do Corinthians.
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