Opinião: Portuguesa vai encarar Copa Paulista mais diferente e incógnita de todas

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Clube não tem mais a necessidade de faturar o título para garantir a Série D e pode até herdar a Copa do Brasil via Paulistão; foco será trabalhar os jovens mirando 2025 Quatro meses depois de encerrar a participação no Paulistão, a Portuguesa finalmente volta a campo. O clube vai disputar pela oitava temporada seguida a Copa Paulista, mas com objetivo, contexto e sentimento bem diferentes de todas as outras vezes.
Isso porque os principais atrativos da Copa Paulista são uma vaga na Copa do Brasil e outra na Série D do Campeonato Brasileiro. O campeão escolhe com qual deseja ficar e o vice-campeão garante a que sobrar. Há anos a Lusa sempre tentava a Série D.
Acontece que na atual temporada, via Paulistão, a Portuguesa já garantiu a vaga dela na Série D de 2025. E pode, com chances nada desprezíveis e impossíveis, ainda herdar uma vaga na Copa do Brasil de 2025 também pela classificação no estadual.
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Com isso, houve até quem defendesse a ideia de a Lusa nem disputar a Copa Paulista. A alegação era de que acabaria apenas gerando gastos para um clube já em dificuldades financeiras e que precisará de investimento para um 2025 de calendário cheio.
No entanto, dois aspectos pesaram. Um deles, claro, é a torcida não aceitar com facilidade permanecer nove meses sem ver a Portuguesa em campo. Outro é que o clube tem toda uma safra de jovens com potencial que estouraram a idade do sub-20.
A equipe do Canindé teria dificuldades em encaixar todos esses atletas por empréstimo, teria um grupo sem atividade, e desperdiçaria uma fase crucial para determinar quem é absorvido pelo profissional ou não. Jogaria no lixo o trabalho recente no sub-20.O objetivo, portanto, é justamente dar rodagem, trabalhar e avaliar esses jovens.
Jogo-treino da Portuguesa contra o Grêmio
Dorival Rosa / Portuguesa
O futebol sofreu uma redução de 85% no orçamento em relação ao Paulistão. Após o estadual, o presidente Antônio Carlos Castanheira promoveu um severo aperto de gastos. Diversos profissionais da estrutura do futebol foram desligados.
Já haviam saído, pela campanha de quase rebaixamento no Paulistão, o vice Beto Cordeiro, o executivo Edgard Montemor, o gerente Ramon Bisson e o supervisor Juninho Amstalden. Com o fim do Paulistão, foram desligados preparadores físicos, fisiologista, treinador de goleiros, enfim, quase todo o corpo técnico.
Parte dos profissionais saiu apenas por corte de gastos. Outra parte, ao que se sabe, também por ligação com o antigo comando do futebol. Com todo esse enxugamento, obviamente que nem o técnico Pintado, que livrou a Lusa da queda, ficaria.
Jogo-treino da Portuguesa contra o Grêmio
Dorival Rosa / Portuguesa
O técnico Alan Dotti e o auxiliar César Michellon, que comandavam o sub-20, foram promovidos ao profissional. O ex-zagueiro Emerson Carvalho foi contratado para assumir a gerência de futebol. E o que se viu, no elenco, foi o mesmo movimento.
Após incríveis 18 desligamentos, a Portuguesa subiu os jovens que disputaram o Paulistão Sub-20 no ano passado e a Copinha neste ano. Os mesmos que já eram comandados por Dotti e César. Reforços? Pouquíssimos até o momento.
O zagueiro Glauco, de 31 anos, chegou e acabou se contundindo durante os treinos. Só deve voltar ao longo da primeira fase. O meia Guilherme Portuga, de 25 anos, foi trazido para assumir a camisa 10. E, nos últimos dias, o jovem Iruan, de 20 anos, desembarcou no Canindé emprestado sem custos pelo Coritiba.
Tudo indica que só deve vir mais reforço caso, com a bola rolando, constate-se necessidade. A ideia de não rasgar dinheiro, não fazer muitas contratações, encarar o torneio com outra cabeça é não só correta como necessária. Só fica a dúvida se, mesmo nesse contexto, não dava ao menos para montar um elenco sem tantas lacunas.
O técnico Alan Dotti teve, ao todo, cinco jogos-treinos para rascunhar, estruturar e testar a formação ideal. A Portuguesa enfrentou o Água Santa (0x0), o sub-20 do Vasco da Gama (0x0), o São José (0x1), o Grêmio (1×2) e a Ponte Preta (1×1).
Jogo-treino da Portuguesa contra o Grêmio
Dorival Rosa / Portuguesa
A torcida, como sempre, começou a ficar preocupada com os resultados – por mais que sempre seja bom reforçar o quanto resultado em jogo-treino pode ser algo enganoso. Mas um fator faz sentido: a dificuldade da equipe em fazer gols nas atividades.
Se levarmos em conta as escalações nesses jogos-treinos, dificilmente Dotti mandará a campo na estreia algo muito diferente de: Rafael Pascoal; Talles, Portela, Marco e Pedro Henrique; Hudson, Denis e Guilherme Portuga; Leandro, Maceió e Fabrício.
Ou seja, a base do time da última Copinha com os acréscimos de Pascoal, Marco, Hudson e Portuga. O elenco é curtíssimo e tem, no banco de reservas, alguns jovens do atual sub-20 considerados com potencial. Há posições praticamente sem reposição.
A Portuguesa está no mesmo grupo de EC São Bernardo, Juventus, Oeste, São Caetano e União Suzano. Todos se enfrentam em turno e returno. Avançam os três primeiros do grupo e o melhor quarto colocado, ao final da primeira fase, entre os cinco grupos.
A estreia será neste sábado (15), às 15h, diante do Juventus, na Rua Javari. A ansiedade da torcida por voltar a ver a Lusa em campo se retrata na busca por ingressos. Por mais que o setor não seja grande, os bilhetes visitantes se esgotaram rapidamente.
São duas as dúvidas principais. A primeira é o nível de competitividade desse elenco jovem, de poucos rodados, de quase nenhum reforço, com escassas peças de reposição. A segunda é qual será a reação da torcida durante a disputa dessa Copa Paulista.
Foram anos disputando todos os campeonatos com a faca no pescoço. Na Série A2, era subir ou não sobreviver financeiramente. Na Série A1, é não cair para manter viva a esperança de estar no cenário nacional. Na Copa Paulista, sempre foi o título, para voltar a ter uma divisão de Campeonato Brasileiro, e fazer valer o campeonato.
Tudo em tom de vida ou morte. Desta vez, não será mais assim. O comportamento da torcida diante das adversidades é uma incógnita. A aposta é na ambição. Do elenco e da comissão técnica, em agarrar essa chance de ouro de, no começo de 2025, quem sabe disputar o que de principal se tem no período no Brasil: a elite do Paulistão.
*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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