Os 100 anos da Celeste Olímpica: a origem do apelido da seleção do Uruguai

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Em entrevista ao ge, familiares de dois campeões olímpicos contam sobre o legado da conquista do ouro em 1924 O dia 9 de junho jamais será esquecido no Uruguai. Foi nesta data, 100 anos atrás, que o país começou a escrever uma história que culminaria no apelido de Celeste Olímpica. Em 1924, Paris foi o palco da vitória por 3 a 0 sobre a Suíça, com gols de Pedro Petrone, Pedro Cea e Ángel Romano. Aquele ouro foi conquistado com campanha irretocável: cinco vitórias em cinco jogos, 20 gols pró e dois gols contra. Neste domingo, na Plaza de los Olímpicos de Montevidéu, o Comitê Olímpico Uruguaio fará uma homenagem para marcar o centenário da conquista.
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Em 1924, Uruguai era a potência do futebol nos Jogos Olímpicos de Paris
Os familiares dos jogadores campeões olímpicos em 1924 carregam com eles as histórias da época. Pelo país, há praças e ruas batizadas com nomes dos heróis daquela conquista, que se repetiria em 1928 e chegaria ao ápice com a conquista da Copa do Mundo de 1930, a primeira edição da competição organizada pela Fifa.
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Autor do terceiro gol na final dos Jogos de 1924, Ángel Romano tem um neto com o mesmo nome. Aos 69 anos, o advogado aposentado é torcedor do Nacional e teve a oportunidade de conviver por algum tempo com seu avô. A família se orgulha de seus feitos, que incluem o recorde de títulos da Copa América, com seis.
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Uruguai campeão olímpico ou do mundo?
AUF
– A dimensão do triunfo de 1924 sempre esteve presente na minha infância e na minha família. Quando ainda era vivo, meu avô era muito reconhecido. Para a vida, é importante recordar o passado, ainda mais uma conquista como a de campeão olímpico de 1924. O futebol é um embaixador do Uruguai pelo mundo, que não conhecia muito o país na época – disse Ángel, em entrevista ao ge.
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– Dá muito orgulho. Eles chegaram para os Jogos de forma humilde, com poucos recursos e ganharam invictos assim mesmo.
Adriana e Ángel na Copa do Mundo do Catar
Arquivo pessoal
Em 2022, durante a Copa do Mundo do Catar, Ángel viveu um momento de emoção. Ele viajou com sua esposa, Adriana, para acompanhar a competição. Viu de perto a representatividade do futebol uruguaio para a Fifa, com a presença de um vídeo sobre a conquista de 1924.
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Até hoje, os uruguaio pleiteiam o reconhecimento do bicampeonato olímpico como títulos de Copa do Mundo. Tanto que carregam duas estrelas pelas conquistas de 1924 e 1928 ao lado das que representam 1930 e 1950.
– Havia um museu da Fifa montado para o evento e me emocionei com as imagens de 1924. Entre elas, estava gravado o último gol dos Jogos de Paris, marcado pelo meu avô. Inconfundível – disse Ángel.
Romano terminou sua carreira pela seleção do Uruguai em 1927, aos 34 anos, perdendo a oportunidade de disputar a primeira Copa do Mundo, em 1930. Ele ainda é o quinto maior artilheiro da história da equipe, com 28 gols em 70 jogos. O primeiro é Luis Suárez, com 68 gols em 138 jogos.
Medalha de Zoilo Saldombie
AUF
Susanna Saldombide, de 85 anos, é filha de Zoilo Saldombide, que estava na seleção campeã em 1924. Na época, o jogador sequer havia completado 21 anose precisou de autorização dos pais para viajar a Paris. Virou nome de rua em Canelones e praça em Santa Lucía. Sua camisa está no Museu do Futebol.
Trabalho do neto de Zoilo Saldombie
Arquivo pessoal
Na família de Susanna, o respeito pela história de Zoilo é grande. A maioria é de torcedores do Nacional (“só duas netas torcem para o Peñarol”). Um de seus netos, Lucas, hoje contador, fez um trabalho sobre o bisavô quando estava na escola primária. Outro seguiu a carreira esportiva: Valentin joga basquete no Remeros de Mercedes.
– Todos somos conscientes do sacrifício e heroísmo de quem foi para os Jogos Olímpicos de 1924. Ele vivia em Santa Lucía, um pequeno povoado naquela época. Eram jogadores amadores, que viajaram com ajuda de Atilio Narancio (então presidente da Associação de Futebol do Uruguai), que hipotecou sua casa. Não havia um preparador físico. No navio, eles se exercitavam com Mazali (goleiro da seleção), por algo que havia aprendido na ginástica e nas corridas porque havia competido em Buenos Aires, e com Andrea de Bailaban – contou Susanna, em entrevista ao ge.
Neto de Zoilo, Valentín é jogador de basquete do Remeros
Arquivo pessoal
Zoilo também foi convocado para 1928, mas recusou o chamado por prestar concurso na época para o Banco Hipotecário do Uruguai. Em 1930, fez parte do elenco campeão do mundo. Antes, já havia conquistado o Sul-Americano de 1926. Tem seu nome gravado na maior geração do futebol uruguaio.
Justamente no centenário da conquista, o Uruguai não conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos de Paris este ano. No entanto, a seleção terá pela frente a Copa América, nos Estados Unidos, que começa no dia 20 deste mês. Susanna e Ángel esperam ver os uruguaios celebrando mais um título. A estreia será no dia 23, contra o Panamá. No amistoso de preparação para a competição, vitória por 4 a 0 sobre o México, em Denver, com três gols de Darwin Nuñez e um de Pellistri.
Darwin Núñez comemora gol em México x Uruguai
Reprodução: @Uruguay
A conquista
Em 16 de março de 1924, a delegação embarcou com 20 jogadores, os delegados Asdrúbal Casas e Enrique Buero, o massagista Ernesto Fígoli e o árbitro Atilio Minoli a bordo do Desirade. O desembarque aconteceu no dia 7 de abril, em Vigo, na Espanha, onde o Uruguai iniciou uma série de nove amistosos antes dos Jogos Olímpicos.
A estreia na competição, que contou com 22 participantes, foi contra a Iugoslávia. Os rumores de espionagem fizeram com que os uruguaios escondessem o jogo, fazendo os trabalhos de forma aleatória nos treinamentos. No dia 26 de maio, venceram por 7 a 0, em Colombes, com gols de José Vidal, Héctor Scarone, Pedro Petrone (2), Pedro Cea (2) e Ángel Romano.
No segundo jogo, vitória por 3 a 0 sobre os Estados Unidos, com gols de Petrone (2) e Scarone. Nas quartas de final, contra a anfitriã França, mais uma goleada: 5 a 1, com gols de Scarone (2), Petrone (2) e Romano. Nicholas fez o gol francês.
Na semifinal, o jogo mais complicado. Contra a Holanda, o Uruguai saiu em desvantagem ao sofrer um gol de Pilj. No entanto, conseguiu a virada com Cea e Scarone, convertendo pênalti sofrido por Petrone.
O elenco campeão olímpico pelo Uruguai em 1924
AUF
Na final, com a escalação Mazali; Nasazzi e Arispe; Andrade, Vidal e Ghierra; Urdinarán, Scarone, Petrone, Cea e Romano, o Uruguai venceu por 3 a 0 a Suíça, diante de 40 mil pessoas. Petrone, no primeiro tempo em passe de Vidal, Cea, em rebote de um chute de Scarone, e Romano, de cabeça, em cruzamento de Urdinarán, garantiram a conquista histórica do Uruguai.

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