Os amores de Love: atacante vira quarentão, elege torcida e time preferidos e quer estudar culinária

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Hoje no Atlético-GO, jogador compara torcedores de Corinthians e Flamengo, revela motivação extra contra Vasco e São Paulo e quer Endrick como o camisa 9 da Seleção: “Ele é incrível” Abre Aspas: Vagner Love repassa carreira, fala de longevidade e planos pós-futebol
Já faz tempo que Vagner Love abandonou as tranças que foram marca registrada em seu início de carreira, mas a alegria de jogar futebol e o porte atlético seguem intactos após duas décadas de futebol. O artilheiro do amor completará 40 anos na próxima terça-feira e, pelo menos por enquanto, não pensa em aposentadoria.
Desde janeiro no Atlético-GO, Love até cogita iniciar no futuro uma nova carreira, seja como técnico, empresário ou em outra função, mas demonstra empolgação mesmo é com os planos longe dos campos, que vão desde curso de culinária até salto de paraquedas.
Em entrevista de quase 1h30 ao Abre Aspas, o atacante repassou a carreira e falou sobre a experiência de jogar e viver em diferentes culturas, da China ao Cazaquistão. Também explicou diferenças das torcidas de Flamengo e Corinthians e lembrou de momentos felizes e tensos no Palmeiras. Dispensado de Vasco e São Paulo, ele admite ter uma motivação extra quando enfrenta estes clubes.
Bicampeão da Copa América pela Seleção, Vagner Love vê Endrick como nome ideal para vestir a camisa 9 do Brasil e já prevê Estêvão na próxima Copa do Mundo.
Ficha técnica:
Nome completo: Vagner Silva de Souza
Nascimento: 11 de junho de 1984
Clubes que defendeu: Palmeiras, CSKA Moscou, Flamengo, Shandong Luneng, Corinthians, Monaco, Alanyaspor, Beşiktaş, Kairat, Midtjylland, Sport e Atlético-GO.
Principais títulos: bicampeão da Copa América pela Seleção (2004 e 2007); Copa da UEFA (2004/05), tri do Campeonato Russo (2005, 2006 e 2012/13) e hexa da Copa da Rússia (2004/05, 2005/06, 2007/08, 2008/09, 2010/11 e 2012/13) pelo CSKA; Brasileiro (2015) e Paulista (2019) pelo Corinthians; campeão estadual pelo Sport (2023) e Atlético-GO (2024); faturou ainda Campeonato Cazaque (2020) pelo Kairat e a Copa da China (2014) pelo Shandong, entre outras taças.
Vagner Love em entrevista ao Abre Aspas do ge
Bruno Cassucci
ge: Você está prestes a se tornar um “quarentão”. Como se sente?
Vagner Love: – Feliz, né? Feliz da vida por ainda estar jogando futebol, ainda poder desfrutar do futebol e estar com saúde para isso. Eu não imaginava que chegaria aos 40 anos jogando futebol, e Deus está me proporcionando isso. É uma alegria muito grande. A cada dia que venho ao treino, que vou aos jogos, é uma emoção grande, é como se eu estivesse começando a carreira novamente. Enquanto eu puder prolongar um pouco mais isso aí… Porque sei que já está no final, daqui a pouco não vou conseguir mais acompanhar a garotada. Ainda estou acompanhando, mas daqui a pouco sei que o corpo talvez não vai obedecer da maneira que o cérebro raciocina, aí vai ser a hora de parar. Mas enquanto eu tiver disposição e o cérebro estiver mandando as informações para o corpo e o corpo estiver respondendo, quero continuar jogando, aproveitando cada momento desses 40 e poucos anos.
O que ainda te motiva a seguir jogando?
– A paixão pelo futebol. Eu sou muito apaixonado pelo futebol desde criança. Todo mundo tem essa paixão por alguma coisa quando você é criança. E a minha foi o futebol, a bola. Então o que me move ainda é ter aquele friozinho na barriga antes dos jogos, é poder desfrutar uma final, disputar um título.
Mesmo já tendo muitas conquistas, ainda tem essa fome.
– Ainda tenho. Isso é que me move. Eu tenho essa fome ainda de conquistar, de querer sempre alguma coisa a mais. Eu falo para a minha esposa e para os amigos: o dia em que eu acordar e não sentir vontade de ir para o treino, então é o momento de parar. Eu acordo motivado para isso, feliz, porque é um dom maravilhoso que Deus me deu. Eu quero aproveitar ao máximo. Sei que quando parar de jogar, eu posso até jogar uma peladinha com os amigos e tal, mas não vai ser a mesma coisa, vai ser mais na brincadeira. Então, enquanto eu estou profissionalmente fazendo isso, eu quero desfrutar de cada momento, e é isso o que me move a estar no futebol até hoje.
Com o avançar da idade, você vem sentindo mais dores ao jogar?
– Graças a Deus, não. Tenho uma genética muito boa e, de uns anos para cá, venho me cuidando muito mais. O futebol vem evoluindo muito em relação a recuperação e tratamentos. Eu continuo treinando nas férias. Devido a já ter uma idade avançada em relação aos outros jogadores, nas férias eu não paro completamente. Procuro treinar todos os dias para quando chegar na pré-temporada não sofrer tanto, isso me ajuda muito. Quando volto para a pré-temporada, eu volto já com condições de jogar por 70, 80 minutos. Início de temporada é sempre mais difícil para a equipe, tem aquelas fadigas, aquelas dores, mas graças a Deus eu não tenho tido muitas dores, são dores normais. Quando faz treino de força, no outro dia todos os jogadores estão doloridos. Eu até pergunto para os mais jovens: está com dor? “Tô.” Ah, então está tranquilo (risos). Se você está com 20 anos e está com dor, então eu também posso estar com essa dorzinha muscular, que é uma coisa normal.
Você diz que vem se cuidando mais de uns anos para cá. Quando percebeu essa necessidade?
– Foi um conselho de um amigo meu fisioterapeuta, lá do Rio. Ele chegou para mim na época em que eu o levei para a Rússia, em 2005, e falou: “Cara, se quiser prolongar a carreira, o momento é você começar a se cuidar agora”. Eu demorei um pouquinho para assimilar isso que ele tinha me passado. Mas quando eu saí da China e voltei para o Corinthians, em 2015, foi quando senti fisicamente. Eu tinha tido dois meses de férias e chegou um certo momento que não conseguia acompanhar os jogadores que estavam no Corinthians e que tinham feito pré-temporada em 2015. Aí voltou aquela fala dele lá de trás, e eu pensei: “Cara, é agora. Esse é o momento que eu tenho que me cuidar, treinar, tenho que ficar atlético, forte, bem fisicamente. Além da minha genética me ajudar, isso aí vai ser muito bom para mim”. E foi de lá pra cá que eu nunca me parei mais.
Mas às vezes não passa pela cabeça aquele pensamento de estar com a vida ganha e não preciso disso?
– Passa, cara, passa. Mas é porque eu gosto. Depois que eu parar, vou continuar fazendo atividades físicas, né? Não é nenhum sacrifício para mim. Eu acordar cedo, ir à praia e fazer um treino, ir ao campo… Quando você vê, faz uma hora e meia, está cheio de energia e tem o dia todo ainda para estar com a família, para curtir as férias. Quando vou viajar com a minha esposa, mesmo nas férias a gente leva o nosso tênis, vai para a academia. Eu não me privo de nada. Se hoje eu vou assistir a um show, já que eu treinei a semana toda, amanhã posso me dar o direito de não treinar. Vou ficar um dia sem treinar nas férias e isso não vai matar ninguém. Eu tenho esse hábito, é uma coisa minha, sei que isso vai me ajudar. Quando eu me apresentar no clube, sei que eu vou estar bem.
Antes dessa virada de chave você era descuidado?
– Só não tinha uma rotina, só não tinha um algo a mais de treinar nas férias, me cuidar mais, ter uma alimentação um pouco melhor, descansar um pouco mais. A noite de sono é importantíssima para nós, atletas de futebol. Você pode sair e não beber. Você fala: “Vou curtir um show hoje”. Mas amanhã você vai estar cansado mesmo assim, porque perdeu a noite de sono. É primordial ter uma noite de sono boa, que faz com que você tenha disposição para o dia seguinte. Eu comecei a entender isso e a fazer isso. Além de ter uma alimentação boa, descansar um pouco mais à noite. Antes era uma coisa que eu gostava muito de sair, curtir, me divertir.
Pensa em jogar até quando?
– Enquanto me derem brecha… Eu falo para os moleques que eles continuam me dando brecha, que eles continuam me deixando correr, continuo jogando, treinando forte. Então, eu quero continuar enquanto o meu corpo obedecer, enquanto estiver aguentando. O Atlético-GO é um clube em que se treina muito, é uma cultura do clube, se treina muito mesmo. Foi o clube que eu mais treinei na minha carreira. E estou conseguindo suportar todos os treinamentos aqui, acho que eu consigo prolongar mais um pouquinho a carreira.
Você falou de jogar para se divertir. Ainda tem sonhos a realizar no futebol? Ou mesmo na vida pessoal?
– Eu quero conquistar títulos. Para todo time que vou, eu falo que tenho que conquistar alguma coisa. Tenho isso em mente. É essa a oportunidade que eu tenho? Eu quero. Quero o agora. O que está muito próximo para conquistar? Qual é o objetivo do clube? É ser tricampeão goiano. Eu vou atrás desse objetivo. Eu vou dar o meu máximo e isso que vai me motivar. Depois, qual o próximo objetivo do clube? Avançar ao máximo na Copa do Brasil, porque é bom para o clube, e na Série A, como é um clube emergente, a gente tem que tentar se manter. Isso me move. Esse é o objetivo do clube? Então eu estou dentro.
Mas fora de campo tem algo? Pode ser um lugar a visitar, algo para comprar…
– Eu sou um cara que viajo bastante, graças a Deus. Nos últimos anos eu fui para Dubai, Punta Cana, Cancún… Sempre procurei fazer viagens com a família, com amigos. Só que tem coisas que eu tenho vontade, sim.
– Eu tenho vontade de pular de paraquedas. Olha a loucura. Eu tenho vontade de pular de paraquedas, de pular de asa delta. Sentir essa adrenalina. São duas coisas que eu tenho vontade e eu vou fazer em breve.
Vagner Love está prestes a completar 40 anos
Bruno Cassucci
Em breve não pode ser, senão o pessoal aqui do clube vai ficar maluco (risos).
– Talvez se não der em breve, quando eu parar, vão ser coisas que eu vou querer fazer.
Mas já pensa no que vai fazer depois de parar de jogar futebol?
– Ao mesmo tempo eu penso e não penso. Assim: virar treinador? A gente tem que estudar, para conseguir as licenças, só que você vive uma vida de jogador novamente, né? Concentração, viagens, estar longe da família nas datas especiais. É uma coisa que eu também penso, né? Pô, será que vai valer a pena eu continuar dentro do futebol sendo treinador, sendo auxiliar? Eu paro para pensar, mas ainda não decidi para onde, que caminho que eu vou seguir.
Você se vê com perfil de treinador?
– Sim, até pelos meus últimos anos. Eu assisto muitos jogos, principalmente quando estou concentrado, gosto de assistir aos jogos na televisão. Eu gosto de ver como o time está se comportando, quem tem a bola, quem não tem, como o time marca, como joga. Isso me chama atenção. Então pode ser que eu iria bem como treinador ou como auxiliar, mas é uma coisa que não me dá vontade.
– Eu queria fazer uma coisa totalmente diferente. Eu brinco em casa e falo que vou fazer um curso de culinária. Porque eu gosto de fazer algumas coisas na cozinha, gosto de fazer churrasco, é uma coisa que me chama mais atenção. Se eu puder sair do futebol e seguir um outro caminho totalmente diferente, eu gostaria.
A gente ia perguntar qual seria o estilo do treinador Vagner Love, mas então é melhor perguntar qual será sua especialidade na cozinha (risos).
– Carne eu gosto. É uma coisa que me encanta trabalhar com carne. Mas eu gosto de fazer um risoto de vez em quando, também gosto de fazer uma macarronada um pouco mais diferente. Eu já me arrisquei a fazer e deu certo, né? Mas o churrasco, a carne, já seria uma coisa que eu gostaria de fazer.
Já pensou em seguir no futebol longe dos gramados, talvez como empresário?
– Pode ser, talvez. É uma das opções que eu tenho em mente. Eu tenho meu empresário hoje, que é o Evandro (Ferreira), trabalho com ele desde os meus 15 anos. Ele fala que eu vou substituí-lo. Mas é uma opção também trabalhar com jogadores e passar o que eu vivi, contar a minha história para eles e dizer: eu posso falar que isso aqui é bom, dizer que isso aqui é ruim, porque vivi de tudo um pouco no futebol. A gente tem que fazer sacrifício em alguns momentos, deixar a família, abrir mão do aniversário dos filhos, aniversário da esposa, Dia das Mães, o próprio aniversário.
– Não são todos os jogadores que conseguem chegar jogando na minha idade. São poucos, se for pegar no Brasil, nos últimos foram Zé Roberto, Léo Moura, Nenê, que ainda está jogando, Diego Souza, o Fábio… É goleiro, em teoria um pouquinho mais fácil, mas o goleiro também treina para caramba. São poucos jogadores que conseguem chegar, a carreira do jogador é curta, então você tem que aproveitar ao máximo, guardar o dinheiro, porque depois você tem aí, no mínimo, uns 50 anos pela frente para viver e só sai (dinheiro), não entra mais nada. Você tem que ter uma programação financeira para quando parar não passar nenhum tipo de necessidade.
Você não descarta ser treinador. Se seguir por esse caminho, qual perfil adotará? Paizão? Linha-dura?
– Primeiro, eu tentaria ser eu mesmo. Eu sou um cara bem extrovertido, gosto de estar sempre me comunicando com todo mundo. O diálogo, para mim, é uma coisa muito importante. Então, um treinador que consegue ter um diálogo com os jogadores eu vejo como um bom caminho. E, claro, cobrança. A responsabilidade tem que ser dividida para todos ali dentro do campo. Por mais que eu seja treinador, que tente passar alguma coisa para o jogador, o jogador também tem que ter aquela responsabilidade de fazer o que o treinador está desejando.
– E tentar ser o mais criterioso possível, né? Falar e cumprir. Não pregar uma palavra, uma coisa para o jogador e não fazer. Eu vejo que isso acontece no futebol, às vezes os treinadores falam uma coisa e daqui a pouco fazem outra. É difícil comandar 30 jogadores, a situação do treinador também é muito difícil. Agradar 30 jogadores é muito difícil, porque só jogam 11. Hoje são cinco substituições. Aí já tem mais cinco que não entram no jogo. E já tem uns de fora que não vão nem para o jogo. Aí eu também vejo que a situação do treinador é difícil nesse ponto. Não é fácil ser treinador.
Jogador, se quiser, derruba técnico?
– Tem um cara que não joga e diz: “Pô, nunca jogo, nunca vou para o jogo”. Essa coisa negativa acaba influenciando. Aí tem um cara que está jogando, mas daqui a pouco não joga, aconteceu alguma coisa, está suspenso ou machucou, entrou outro que foi melhor. E aí ele também começa: “Pô, realmente, o treinador não vai dar, não vou correr mais ou não vou treinar com a mesma dedicação”. Isso acaba influenciando, e os resultados não acontecem. Aqui no Brasil a gente sabe como é que funciona: treinador perde três, quatro, cinco jogos, tiram e vem outro. No Brasil não tem tempo para trabalhar duas semanas consecutivas sem ter jogos, então fica mais difícil você falar que vai treinar o time. É mais na base da conversa, do diálogo, você não tem tanto tempo para treinar. Muitas vezes eu penso: cara, será que vale a pena ser treinador? Também é por causa dessas situações. A vida do treinador aqui no Brasil é bem difícil.
Você fala da importância da gestão de grupo. Qual o melhor treinador com quem você trabalhou nesse sentido?
– Não trabalhei com o Renato (Gaúcho), mas todo mundo fala que ele tem uma excelente gestão. Eu gostei muito da gestão do Tite, no Corinthians. Dunga, na seleção brasileira, foi um cara que com os jogadores… Ele podia ter problemas com a imprensa, porque ele realmente batia de frente, mas no relacionamento com a gente era um cara que sabia gerir o vestiário, gostei muito de ter trabalhado com ele na Copa América de 2007. Outro treinador de boa gestão é o Dorival Júnior. Para mim, é um dos treinadores mais completos em relação a gestão, treinamentos, a maneira de se expressar, de lidar com o jogador, é um espelho a ser seguido.
No Atlético-GO você mostra ter uma boa relação com o Jair Ventura, com direito a beijinho na careca quando faz gols. Como surgiu isso?
– Teve um jogo que ele falou para mim: “Entra lá e faz o gol que eu vou dar um beijo na careca”. Acredito que nesse jogo que ele falou eu acabei fazendo o gol, então fui lá para ele dar o beijo na careca. O Jair é um cara que tem uma boa gestão, boas ideias, e eu acredito que ele ainda vai crescer muito dentro do cenário do futebol brasileiro.
Sua carreira é marcada por passagens por grandes clubes e títulos importantes. Com qual equipe você se sente mais identificado?
– O CSKA. Porque foi o clube que eu mais tempo joguei. Se eu não me engano, foram 17 títulos, uma Liga Europa, que é o principal título do clube. Se eu pegar de todos os times que joguei, o CSKA, sem dúvida nenhuma, é o clube que eu tenho mais carinho, respeito e admiração. Hoje em dia acompanho menos, né? Até pela diferença de horário. Eu sou grato por todas as etapas da minha vida, por tudo que eu passei no futebol, por todos os clubes. O Palmeiras tem a sua parcela de gratidão. Eu sou muito grato, porque foi lá onde eu comecei. Fui vendido para o CSKA e, depois disso, tem o sonho de infância, que foi jogar no Flamengo. Aí voltei para a Rússia, fui para a China, e tive a oportunidade de jogar no Corinthians, que era também um clube que eu sempre admirei de ver jogar, pela torcida que tem, que é única. Por todos os clubes eu tenho uma parcela de gratidão, carinho e respeito.
Você jogou nos dois clubes de maior torcida no Brasil. Por que a do Corinthians é tão especial? O que faz dela diferente?
– Estar torcendo a todo minuto. O torcedor do Corinthians não para. Uma coisa única da torcida do Corinthians é que o time toma gol e o torcedor grita mais alto ainda.
– Ambos são times de massa, são as maiores torcidas do Brasil, mas a diferença da torcida do Flamengo para a do Corinthians é essa: o torcedor do Flamengo, quando o time está ganhando, faz aquela festa linda, maravilhosa. Quando não está ganhando, eles vaiam durante o jogo, no intervalo, já xinga o treinador. Não que eles não estejam no direito deles de fazerem isso. Tem todo o direito, está ali, comprou ingresso. Mas a torcida do Corinthians, não. Vai lá, apoia o seu time o jogo inteiro e, se no final não deu certo, eles vaiam quem tem que vaiar, xingam quem tem que xingar.
– Pra mim, é válido isso aí, a torcida comprou ingresso, é apaixonada pelo seu clube. É válido até esse ponto. Depois disso, aí já não concordo com o que muitas torcidas no Brasil têm feito, de agressão, atirar pedra… Isso aí é uma coisa que deveria ter acabado já há muitos anos.
Vagner Love teve passagens marcantes em Corinthians e Flamengo
TV Globo
Sem falar nos ataques em redes sociais…
– Rede social eu não vejo. Não vejo comentário, não assisto programas de TV, comentaristas… Eu gosto de ver jogos. Depois que acabou o jogo, acabou. Às vezes eu vejo uma notícia ou outra de um acontecimento. Entro no Instagram, vou no “explorar”, tem ali a notícia: “Ah, esse foi agredido, atacaram pedra.” O último episódio foi com jogadores do Fortaleza, acertaram pedra, correndo risco de prejudicar a vista, até acabar com a carreira de um atleta por vandalismo de torcedores. Isso é uma coisa que eu não concordo. Tinha que tomar decisões drásticas em relação a isso.
Você falou que não ouve comentaristas. Seguir essa carreira, então, está fora de cogitação?
– Não que eu não pensaria em ser comentarista, mas comentar é aquilo: primeiro que você está ali vendo o jogo, é só comentar o que você está vendo. Às vezes tem comentaristas que vão além disso e botam o cara para baixo. Faz um comentário no jogo, e a família do cara está assistindo, o cara tem filhos, a criança vai para a escola, aí no outro dia os amiguinhos da escola falam que seu pai é isso, é aquilo. Por quê? Porque escutou um comentário na televisão. E criança tem uma memória incrível. Essas coisas eu não concordo. Eu acho muito válida a crítica construtiva, mas crítica pesada não. E alguns comentaristas fazem.
Já teve algum comentário que te machucou?
– Já. O André Rizek falou uma vez que o Luciano manco era melhor do que eu jogando. No meu modo de pensar, é muito pesado. O Luciano machucou no jogo contra o Santos, na Vila Belmiro, eu entrei no lugar dele, e ele fez essa crítica. Ele falou e ficou por isso mesmo. Aí eu fui jogar contra o Cruzeiro no domingo, não vinha numa fase boa no Corinthians em 2015, e ele acabou não se retratando depois do que falou. Ele falou na quarta, passou quinta, sexta, sábado e eu fiz dois gols no domingo, contra o Cruzeiro. E aí ele veio falar na segunda, porque eu tinha feito dois gols. Beleza, mas por que ele não se retratou no dia seguinte?
Nota da redação: procurado pela reportagem, André Rizek não quis se manifestar.
Abre Aspas: Vagner Love critica comentaristas e diz que não vê programas de tevê
– Se você fala alguma coisa de negativo para alguma pessoa, não é inferioridade chegar e dizer que errou no comentário. Isso não vai fazer você ser menos homem, é você se retratar, você pedir desculpa, pedir perdão. Se eu errei com uma pessoa, no outro dia eu falo que errei. Ele esperou e, porque eu fiz os dois gols, foi lá e se retratou. Acabou que eu só vim falar disso abertamente em 2019, depois que eu fiz o gol contra o São Paulo, na final do Campeonato Paulista. Aí teve um “media day”, ele estava ao vivo, eu participando, peguei e o confrontei em relação a isso, quatro anos depois. Então é disso que falo, tem as críticas construtivas, tem as críticas pesadas, porque eu tenho filho, família, não é legal.
Falamos do seu carinho por alguns clubes. E mágoa, você guarda de algum?
– Mágoa é ruim para quem guarda. Eu tenho um episódio triste de 2009, na minha saída do Palmeiras, em que três torcedores tentaram me agredir. Enquanto o torcedor vai ao estádio vaiar, xingar, faz parte. Quando parte para esse lado da agressão, é uma coisa que deixa triste, até porque você não joga sozinho. E acabaram botando que o Palmeiras perdeu o título em 2009 por minha culpa. Três torcedores tentaram me agredir na Avenida Antártica, na saída do banco. Graças a Deus eu consegui me defender, senão poderia ter acontecido uma coisa muito pior. Mas é uma coisa que não me magoa, porque eu tenho um carinho pelo clube, por tudo que o clube me proporcionou.
Abre Aspas: Vagner Love relembra agressão de torcedores do Palmeiras em 2009
– Eu sei que aqueles torcedores não representam todos os torcedores. Tanto que várias vezes eu vou para a rua, aqui ou em outro lugar, tem torcedores que me pedem pra tirar foto. “Pô, eu gostava quando você era do Palmeiras”. E isso me dá alegria. Eu fico feliz com isso, quando os torcedores dos times que eu passei vêm e pedem para tirar foto comigo. Ou seja, esses torcedores, sim, são torcedores apaixonados, reconhecem aquilo que você fez pelo clube. Eu subi para o profissional do Palmeiras quando o time tinha caído, e foi incrível subir com um clube grande como o Palmeiras. Aqueles três torcedores podem não querer, mas em um pedacinho da história do clube eu participei. No rebaixamento eu não estava, estava na base, no acesso eu consegui ajudar o Palmeiras a voltar.
E dos clubes que não te aceitaram nas categorias de base?
– Eu fui para o Vasco com 13 anos. Eu jogava no Bangu, no Campo Grande, que é o bairro de onde sou. Joguei no salão do Bangu seis meses. Depois fui para o Campo Grande. E do Campo Grande um cara me levou para fazer um teste no Vasco. Fui aprovado nesse teste e fui morar na concentração embaixo da arquibancada. Morei no Vasco de 1997 até março de 1999. Estava feliz da vida, né? Pô, Vasco é time grande! Assisti aos jogos na época, com o Edmundo jogando para caramba. Tinha aquele time com Pedrinho, Felipe… Era gostoso de ver os caras jogarem, e ali eu aprendi tudo, né? Mas fui mandado embora. Deesisti do futebol. Fui para casa, cheguei na minha mãe e falei: “Mãe, não quero mais jogar bola”. Ela falou: “Como assim não quer mais jogar bola? Você tinha o sonho de ser jogador de futebol. Como que você não quer mais jogar bola?”. E eu: “Mãe, não quero mais”. Foi uma decepção para mim. Eu tinha 15 anos. Aí me matriculei de novo na escola próxima de onde eu morava, voltei a estudar e não queria mais saber de jogar bola, só com os amigos na rua.
– Foi quando conheci meu “irmão” (Evandro, o empresário). Ele me retomou essa vontade de jogar futebol. Eu tentei de novo, arrumei um campeonato muito grande naquela época. A ideia do campeonato era disputar o Carioca (base) e viajar para a Itália, levavam duas categorias para a Itália, disputar um torneio. Foi um campeonato muito grande e fomos campeões. Cheguei até a fazer um teste no Milan na época, os caras me queriam. E aí, quando eu volto para cá, os caras me dão dinheiro para poder voltar para lá. Só que não queriam que o Evandro participasse. Falei: “Cara, não tem como”. Falei para o Evandro: “Pô, os caras não querem que você participe do negócio”. O Evandro falou: “Olha, cara, é tua vida, é o teu futuro, é o futuro da tua família”. Eu falei: “Então, você me trouxe para cá, você me ligou e me trouxe para vir jogar futebol de novo, então o que você decidir está decidido”.
E aí você vai para o São Paulo?
– Fui fazer um teste no São Paulo, fui aprovado também. Fiquei treinando, disputei um torneio e nada de assinar o contrato. Eu fiquei cinco meses em São Paulo no início de 2001. Em março, o Evandro chegou paro diretor e falou: “Cara, vamos resolver a questão do Vagner , ele já está aí há cinco meses”. E algum diretor da base pediu dinheiro para o presidente como se fosse a gente que estivesse pedido. E não era verídica a história. A gente não tinha pedido nada. A gente só queria assinar um contrato com o profissional para eu continuar no clube. E o presidente, na época, lógico, não me conhecia, não sabia nem quem eu era. E aí acabou de afundar as coisas. Fui embora mais uma vez. Falei, c…, não é possível. Aí fui para o Rio e logo em seguida apareceu o o Palmeiras.
Passado tudo isso, você dava um gás a mais quando enfrentava Vasco e São Paulo?
– Sempre dava, sempre dava. Tem uma motivação a mais: “Agora eu vou provar para eles que estão errados”. Se eles pensarem alguma coisa diferente do que eu podia fazer, então pensaram errado. Dá aquela coisa de você querer mostrar. “Eu poderia estar aí. Então, eu vou dar o máximo agora”.
Você conseguiu vencer em quase todos os clubes pelos quais passou…
– Só no Flamengo que não ganhei. A gente até chegou à final do Carioca contra o Botafogo, em 2010. E nas quartas da Libertadores. Ali, naquele ano, era a chance. O time era muito bom, mas o Flamengo ficou pelo caminho na Libertadores. Foi uma oportunidade única de ter ganho um título no Flamengo.
Ainda fala com o Adriano?
– Quando a gente se encontra, a amizade é muita. A gente não precisa se falar sempre, mas quando a gente se encontra é aquela mesma resenha, dá risada. O Didico é um cara é incrível, com o coração muito puro.
Quais foram os caras que você mais se entendeu em campo? O melhor parceiro não precisa ser o melhor tecnicamente. Quem foi o cara que, em campo, você entendia ali pelo olhar?
– O Jô é um cara desses. O Ronaldinho é um cara desses. O Daniel Carvalho… O Ronaldinho foi um caso raro, jogava demais, inteligentíssimo. Então esses caras assim, como Daniel, o Ronaldinho Gaúcho, são caras que você precisava, na verdade, nem olhar. Corria no espaço, pois você sabia que a bola iria chegar perfeitamente. Edmilson, do Palmeiras, quando eu comecei, um atacante, o Diego Souza, um canhoto. Começamos juntos na base e subimos juntos para o profissional. Jogamos a Série B juntos. Era um cara que eu sempre me entendia muito bem. Então, esses são os principais. Posso estar esquecendo de alguém, mas os principais foram esses.
Faltou uma Copa do Mundo no seu currículo?
– Ah, sempre falta, né? Mas eu não tenho essa frustração. No momento que eu estive lá (na Seleção), fui feliz de ganhar duas Copas Américas, em 2004 e 2007. Sou um cara privilegiado de ter jogado e conquistado títulos para o meu país, isso é gratificante demais. Lógico que eu queria ter disputado uma Copa do Mundo, mas isso não me deixa frustrado, não me deixa triste, não. Não foi da vontade de Deus que acontecesse (jogar a Copa), como outros grandes jogadores também não disputaram. Um jogador como o Alex não disputou uma Copa do Mundo. Outros grandes jogadores que estavam ali. Eu penso que não foi só comigo, né? Não foi em especial com a minha pessoa.
“Queria ter disputado uma Copa do Mundo”, diz Vagner Love
Sua geração tinha uma concorrência forte…
– Impressionante. Na Copa América de 2004 eu só fui porque os principais jogadores pediram dispensa. E, mesmo assim, na de 2004 tinha Adriano, Luis Fabiano, Ricardo Oliveira e eu. Pô, era difícil concorrer com os caras, não era brincadeira. Na de 2007 também fomos eu e o Fred como atacantes porque outros jogadores pediram dispensa. Todos os jogadores com nível alto, jogavam bem, é mais um motivo para eu não ficar frustrado porque eu não fui não por falta de qualidade.
Além dos títulos, quais são suas melhores recordações da Seleção?
– É a resenha, o convívio. Você ia poder sentar numa mesa, conversar com o Juan, Gilberto Silva, Ronaldinho Gaúcho, Edmilson, Kaká… Eu falava assim: “Caraca, mano, são os caras, né?”. Nossa seleção de 2004 era incrível, e eu estava participando com aquele monte de fera. Para mim foi orgulho para caramba de estar ali e ter o Parreira de treinador, cara. É incrível, foi muito gratificante e emocionante estar naquela seleção.
Vagner Love em ação pela seleção brasileira
AFP
Como vocês comemoraram aquele título histórico sobre a Argentina?
– Rapaz, eu comemorei como se não houvesse amanhã. Curti muito. A única coisa que sabia era que tinha que voltar, eu tinha que ir pra Rússia, havia sido contratado pelo CSKA. Aí eu falei que precisaria de uns três dias no Brasil para curtir esse título. Eu vim para o Brasil, curti mais uns três, quatro dias e depois fui. Eu curti muito, muito mesmo, porque foi importante esse título.
Já que estamos falando de Seleção, os camisas 9 nas últimas duas Copas, Gabriel Jesus e Richarlison, não estão em um bom momento. Quem você vê como nome ideal para ser o centroavante do Brasil?
– Pela fase, pelo momento, pelo que ele fez nos dois últimos anos, eu vejo o Endrick hoje como o centroavante da seleção brasileira. Pode ser que tenha algum outro jogador se destacando como centroavante, mas se você pegar hoje, Gabriel Jesus e Richarlisson são reservas das suas equipes. Qual o outro centroavante que está se destacando hoje na Europa ou dentro do Brasil? Eu não vejo outro cara com potencial. É lógico que tem, a gente sabe que tem outros grandes jogadores. Mas para ser titular hoje da seleção brasileira, eu vejo um ataque aí com Rodrygo, Endrick e Vini Jr. E juntos com o Neymar.
Por que você confia tanto nele?
– Eu já vi que ele é diferente porque o Real Madrid veio comprá-lo com 16 anos. Ele ainda vai completar 18 anos e até a Copa tem mais de dois anos. Imagina ele com 20, tendo jogado dois anos na Europa. Ele tem tudo para chegar na Copa e arrebentar. Como o Vinícius Junior vai chegar mais preparado. Como o Rodrygo vai chegar mais preparado, mais maduro. Ele (Endrick) é incrível, muito profissional. O cara aos 20 anos, desempenhando um bom trabalho, fazendo gols e com moral, confiante, vai ser muito diferente. Eu torço muito para que o Dorival Júnior consiga fazer um grande trabalho. É um cara que eu admiro, conheço a índole e o caráter dele. Então eu torço muito para que ele monte a melhor seleção possível e consiga trazer essa Copa para o nosso país.
Você é especialista quando o assunto é atacante. O que vê de tão especial no Endrick?
– Parece que ele joga no profissional já há, sei lá, cinco anos. Ele só tem um ano e meio de profissional e você vê a personalidade, a maturidade dele, em ambos os jogos (da data Fifa de março), de chamar a responsabilidade para si. Você pega os grandes jogadores antigos, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká… O que esses caras faziam? Todos esses caras chamaram a responsabilidade, foram lá e deram conta do recado. Então ele é o jogador desse caso.
– Você tem que pegar a história dele, é um jogador que está indo no caminho desses caras. Já contratado pelo maior time do mundo. O menino é diferente. Lógico que ele vai amadurecer ainda, a tendência é que ele ainda cresça mais. E aí já está surgindo outro menino que é mais novo que ele (Estêvão). E o trato com a bola desse menino é absurdo. É um outro jogador que, para mim, pode estar na Copa também em breve. Em breve não, para mim é na próxima Copa. Tomara que esteja nas próximas convocações.
Ser jogador hoje é mais fácil ou mais difícil do que na sua época?
– Eu acredito que seja mais difícil, porque todo mundo vê tudo, todo mundo comenta tudo. Então, o que um jogador jovem dessa idade pode pensar? Com 18 para 19 anos, quando eu subi, saía em jornal e era legal para caramba. Minha mãe abria o jornal, e eu estava no jornal. Era gratificante para mim e para minha família. Só que hoje tem que tomar cuidado, né? No excesso de rede social, no excesso de comentário. Porque todo mundo te bota lá em cima e, quando tem oportunidade, te bota lá embaixo.
– Na minha opinião, a rede social é boa para algumas coisas e ruim para outras. Se você ficar só com o que a rede social diz, uma hora pode enlouquecer. É por isso que eu não vejo, principalmente para comentários. Não que eu não veja a rede social. Tenho Instagram? Tenho, com um limite diário de uma hora. Aparece logo uma mensagem para mim, “olha, você ultrapassou o seu limite.” Eu fecho e não vejo mais, entendeu? Tem jogador que gosta de ver, de ler comentário. E aí tem comentários que não são agradáveis. Se você não tem uma mente boa, forte, acaba entrando naquele… Pode ter 30 mensagens positivas, mas aquela uma negativa vai mexer com você. Aí você pode cair naquela isca e acabar se perdendo.
Por outro lado, hoje tem uma preparação nutricional, psicológica, física e fisiológica maior do que na sua época. A recompensa financeira também é maior do que havia quando você começou…

– Eu fui artilheiro da Série B, fui artilheiro do Campeonato Paulista e já estava sendo artilheiro da Série A, em 2003 e 2004. Eu ganhava R$ 7 mil. Se eu faço isso nos dias de hoje, quanto eu estaria ganhando? Realmente, hoje o jogador com 16 ou 17 anos já ganha R$ 50 mil.
– O jogador, dependendo do clube que ele esteja, já ganha muito bem e é o provedor da casa. Imagina que seu pai chega para você e fala: “Você não pode isso, você não pode aquilo”. Por isso que é bom ter um amadurecimento. Eu não tenho psicólogo, mas aqui no clube tem. Se eu preciso de alguma coisa, vou até o psicólogo para receber. E todos os clubes hoje têm psicólogo. Eu vejo isso com uma importância muito grande, justamente para esses momentos negativos.
Perguntei sobre a mudança no início da carreira do jogador, mas e no geral, mudou muito o futebol brasileiro desde que você começou?
– O jogo está mais corrido e com mais intensidade. Os jogos antes eram um pouco mais cadenciados. Hoje você vê, corre todo mundo. Todo mundo gosta de campo molhado, porque sabe que a bola fica mais rápida, então a velocidade do jogo mudou bastante. Dificilmente você está trotando em campo. Você está sempre em movimento. Sem a bola, você tem que marcar. Com a bola, você tem que se movimentar para jogar.
Você passou muito tempo na Rússia, depois Turquia, China, Dinamarca, Cazaquistão… Em qual país você mais curtiu viver?
– O Brasil é um lugar incrível, mas a Turquia, cara, que país sensacional. Em relação a viver, a comida, a andar na rua, a Turquia é incrível. Um dos lugares que eu mais gostei de morar, tirando o Rio de Janeiro. que é a minha cidade. Se você perguntasse em qual desses lugares eu moraria, eu falaria Turquia. Minha esposa, não. Eu perguntei para ela esses dias: qual lugar você moraria se não fosse o Brasil? Desses lugares que nós já passamos, ela disse que o Cazaquistão.
Cazaquistão?
– O Cazaquistão é incrível. A cidade que nós morávamos, Almati, era uma cidade incrível, moderna, que tinha de tudo. Todo mundo fala assim: pô, Cazaquistão? Foi a mesma coisa que eu pensei quando recebi a proposta.
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Bruno Cassucci
Como é o país? Lembra a Rússia?
– Eles falam russo, mas tem o dialeto deles. A cidade que eu morei era moderna, tem uns cânions bonitos, tem prédios altos. Tem a parte bonita e a parte que é humilde, mas tem a parte que é moderníssima. Tem de tudo, cara. Não nos falta nada: a melhor escola para sua filha e seu filho, os melhores restaurantes, o melhor shopping.
Como você reagiu quando seu empresário ligou e disse: “Vagner, estou com uma proposta do Cazaquistão”?
– Eu não vou (risos). Aí eu comecei a pegar informações de amigos. Tem um padrinho meu de casamento que jogou futebol de salão na Rússia. Eu liguei para ele. Enfim, foi uma experiência incrível. Todo mundo fica assim: mas Cazaquistão? Mas é incrível, que cidade maravilhosa para morar.
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Teve algum país que morou e quando estava lá você pensou: o que que eu vim fazer aqui?
– A Dinamarca foi, assim, Copenhague, que é a capital, é sensacional. Eu morei em Erne. Acho que tinha 50 mil ou 40 mil habitantes. Dá sete horas da noite e está tudo fechado. Muito frio e no inverno, escurece cedo. Nessa cidade eu falei: o que eu vou fazer aqui? No inverno, além da neve e da chuva, batia um vento. Na Rússia era até gostoso para treinar, mas lá (Dinamarca) não dava, parecia que o vento estava entrando dentro do teu osso. Eu falava: isso não é possível, isso aqui não pode ser normal. Foi uma experiência nova, mas acho que esse é o único lugar que digo que não voltaria.
Curtiu a China?
– Curti! A cidade que eu morava (Jinan, em Shandong) não era tão boa e só tinha um restaurante italiano e um japonês. Só que era eu e minha esposa, então era bem tranquilo. Sempre que a gente tinha folga, ia para Shangai ou Pequim, que é muito bom. Shangai é Nova York da China, tem de tudo, altos prédios, bem modernos. Vi a Muralha da China também, foi uma experiência incrível, maravilhoso conhecer.
Uma última: se você tivesse o poder de mudar algo no futebol brasileiro, o que faria?
– Cara, é difícil. É sempre complicado quando você fala que acabaria com os campeonatos regionais. Eu não acabaria porque a gente sabe que tem muitos times pequenos que dependem dos campeonatos regionais. Talvez eu tiraria os grandes dos campeonatos regionais e voltaria com a Copa Rio-São Paulo, que era incrível, Sul-Minas, Copa Centro-Oeste.
– Eu tentaria fazer um calendário mais tranquilo porque tem times que jogam o campeonato regional, a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro, a Libertadores ou a Sul-Americana. Se o time chegar a disputar todos os campeonatos, o cara joga quase 70 jogos por ano. Talvez tentar diminuir um pouco o calendário até para os atletas renderem mais em alto nível, porque é um desgaste muito grande para os atletas, você não consegue manter o mesmo nível de atuação, então talvez reduzir um pouco o calendário para que os jogadores tenham mais tempo com a família.

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