Palavra preferida de Tite, equilíbrio é o que separa o Flamengo de seus rivais no Carioca

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Uma das palavras mais pronunciadas por Tite é equilíbrio. Não somente nesta passagem pelo Flamengo, mas ao longo da carreira do treinador. A temporada mal acabou de começar, não é possível ainda cravar o nível que cada equipe atingirá ao longo do ano, nem mesmo afirmar quem fará a final do Campeonato Carioca. Mas, numa fotografia do momento dos três grandes envolvidos na semifinal, o que diferencia os rubro-negros dos rivais, a esta altura do ano, é justamente o equilíbrio.
Os 2 a 0 sobre o Fluminense, na melhor atuação do Flamengo neste 2024, uniram solidez defensiva e crescimento ofensivo. Se os rubro-negros já vinham permitindo pouco aos rivais, no sábado fizeram a melhor exibição sob o ponto de vista da criação de oportunidades. E é difícil não enxergar o novo papel de De La Cruz como parte importante do processo.
Tite orienta o Flamengo contra o Fluminense
Marcelo Cortes / CRF
O problema de saúde de Gérson fez o uruguaio sair do lado direito do campo e passar a ser um segundo homem de meio, o que impactou o time de várias formas. Primeiro, pela qualidade do passe, por fazer a bola andar rapidamente, dando mais ritmo ao jogo ofensivo do Flamengo. Não se trata de comparar qualidade técnica de um e outro. Gérson é um jogador de condução, de ficar com a bola. De La Cruz faz o jogo circular, uma diferença de estilos. Ao fazê-lo, o uruguaio tem encontrado passes pelo centro ou acionando as jogadas pelos lados. O Flamengo alternou bem a forma de atacar o tricolor no sábado.
Nem o Flamengo, nem qualquer outro time brasileiro, está pronto em março. E a amostragem de jogos de alta exigência ainda é pequena – em alguns, como contra Vasco e Botafogo, o time não respondeu bem. No momento, trata-se de identificar o que Tite tem buscado neste time.
Há uma preocupação no Flamengo de ocupar espaços de forma racional, com laterais, pontas e meias em corredores e alturas diferentes. O time combina uma ocupação racional de espaços mas sem ter uma rigidez excessiva, com muita circulação entre jogadores. O Fla-Flu mostrou Éverton Cebolinha com muita presença na área, no que parece uma busca para que os pontas alternem momentos mais abertos e outros em que buscam o centro do ataque. Algo que fortalece especialmente o estilo de Ayrton Lucas.
Sem bola, o uruguaio tem ajudado a sustentar a boa pressão ofensiva do Flamengo, que recuperou inúmeras bolas contra o time tricolor no campo ofensivo. Ao defender mais perto do gol, De La Cruz ocupa um espaço ao lado de Pulgar à frente da defesa. O resultado é que, neste etapa da temporada, o Flamengo acumula números que impressionam. É o time que mais fez gols e o que mais acumulou chances de qualidade, algo medido através do Xg, os gols esperados. O rubro-negro produziu chances equivalentes a 27,5 gols esperados e marcou 25 vezes. Sem bola, é de longe quem menos foi vazado e quem menos deu oportunidades aos rivais.
Sob o ponto de vista do equilíbrio, o Fla-Flu foi um contraste. Sem André, Fernando Diniz escolheu Renato Augusto dobrou a aposta num time mais técnico, capaz de reter a bola. Entendia que a capacidade de trocar passes poderia impactar mais o jogo do que um meio-campo com menos vitalidade, mesmo numa equipe que já tem média de idade elevada. Não é só isso que explica o jogo, porque tecnicamente os tricolores estiveram mal. O caso é que o jogo pretendido por Diniz não aconteceu. O Fluminense não acompanhou a dinâmica do meio-campo rubro-negro, ao tentar sair da pressão em sua saída de bola se viu sem opções que acelerassem o jogo e, quando precisava defender, tinha dificuldade para sufocar a posse de bola do rival.
O Fluminense acrescentou mais jogadores experientes ao seu elenco, e eles poderão ser úteis. Inclusive jogando juntos. Mas não há time que consiga controlar todos os jogos: haverá partidas que exigirão dosar qualidade técnica e vitalidade.
Já o Vasco viveu, contra o Nova Iguaçu, o ponto mais caótico de sua rotina de desequilíbrios. O sistema com três zagueiros e cinco defensores vinha ajudando o time a crescer ofensivamente. No entanto, os espaços à frente dessa linha pareciam difíceis de administrar. No domingo, com Payet e dois centroavantes, o time se via repetidamente defendendo com apenas sete homens: a linha de cindo na defesa e os volantes Galdames e Zé Gabriel, estes muito sacrificados. O resultado foi um jogo de 49 finalizações, 26 delas do Nova Iguaçu.
O Vasco tem o segundo melhor ataque do Carioca, mas é o quarto que mais permitiu arremates aos adversários.
Neste momento, o que separa o Flamengo dos rivais é o equilíbrio. A palavra favorita de Tite.

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