Qual o segredo do Machida Zelvia?

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Com um técnico que até dois anos atrás era professor do ensino médio, Machida continua derrubando gigantes em sua temporada de estreia na 1ª divisão da J.League e segue forte na liderança OK, chegou um momento do campeonato em que temos que nos render ao zelvianismo. No início do ano, colocamos o Machida Zelvia como candidato a surpresa em nosso guia da temporada, mas acho que quase ninguém esperava uma campanha tão boa. O clube do sudoeste de Tóquio aos poucos vai deixando de ser uma mera surpresa de início de campeonato para se afirmar entre os postulantes ao título. Já são nove de 16 rodadas na liderança, sendo que nenhum outro time ficou no topo da tabela por mais que duas rodadas até agora.
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O Zelvia está há um mês sem perder e chegou à terceira vitória seguida vencendo de forma dramática o Urawa Reds em pleno Saitama Stadium 2002 por 2×1 com um gol de pênalti do volante Hokuto Shimoda nos acréscimos. No meio de semana, já havia eliminado o Kashima Antlers da Copa Levain atuando com dez titulares diferentes. Mas afinal, qual o segredo desse Machida Zelvia que está no caminho para se tornar uma espécie de Leicester City japonês?
Em primeiro lugar, Go Kuroda. A estrela do Machida não é um jogador, mas o técnico. Kuroda tem balançado as estruturas do futebol japonês não por jogar um futebol revolucionário, mas por ter sucesso jogando de forma extremamente simples e eficiente, sem inventar. A mesma filosofia que ele usava na escola Aomori Yamada, onde trabalhou por quase 30 anos, ele tem aplicado no profissional. O Machida usa um 4-4-2 tradicional com um centroavante alto como referência na frente, seja o sul-coreano Oh Se-hun, de 1,94 m, que é disparado o jogador com mais duelos aéreos vencidos no campeonato (152, enquanto o segundo colocado, Matheus Peixoto, do Júbilo Iwata, tem 86), ou o australiano Mitchell Duke, de 1,86 m.
Bola longa para o centroavante é uma jogada típica do kurodabol, mas esse Machida não é apenas “um time que só dá chutão”, pois também tem jogadores habilidosos como o ponta da seleção olímpica Yu Hirakawa, que está entre os melhores jovens do campeonato e foi até eleito MVP de fevereiro/março na J1, o selecionável sul-coreano Na Sang-ho, que veste a 10, e o brasileiro Erik (ex-Goiás, Palmeiras e Botafogo), que foi o melhor jogador da campanha do acesso em 2023 e acabou de se recuperar de uma grave lesão no joelho.
O Machida deixa o adversário ter a bola, mas não deixa o adversário jogar. Tem a segunda menor média de posse de bola da J1 (43%, só atrás do Avispa Fukuoka), ao mesmo tempo em que é a segunda equipe que menos cede chutes na direção do gol (média de apenas 2,9 por jogo). São marcas registradas do futebol de Kuroda a precisão para definir rapidamente os contra-ataques, a pressão na saída de bola do adversário, o jogo físico e até laterais cobrados na área. Um futebol pragmático, focado no resultado. Bem diferente do típico estilo japonês de toque de bola, é um estilo mais parecido com o usado na Coreia do Sul. Não por acaso o auxiliar de Kuroda é Kim Myung-hwi, sul-coreano que já teve bons resultados na J1 quando foi técnico do Sagan Tosu.
Em questão de elenco também o time está bem servido, pois foi um dos que mais contratou nesta temporada, a maioria nomes que chegaram para ser titulares. Apesar de ser um time ainda pequeno e estreante na J1, a ambição é grande e o poder financeiro também não é pouco, pois a Cyber Agent, empresa de mídia digital que é dona do clube, tem mostrado disposição em investir. O plantel não tem nomes de peso, mas tem qualidade em todas as posições, tanto que o desempenho da equipe não tem caído mesmo com a rotação do elenco.
Vale lembrar que não é inédito na J.League um time que veio da J2 ser campeão da J1 no ano seguinte, pois já aconteceu com o Kashiwa Reysol em 2011 e com o Gamba Osaka em 2014. E também já tivemos campeões completamente inesperados como o Kashima Antlers de 2016 e 2007 e o Gamba Osaka de 2005. Se o Machida Zelvia vai entrar para essa galeria ou não, só saberemos no final do ano, mas as estruturas estão sendo montadas para que Tóquio tenha mais um time na J1 por muito tempo e que vem dando mais diversidade à liga.
Resultados da 16ª rodada da J1:
(19º) Hokkaido Consadole Sapporo 0x3 Kashima Antlers (2º) (12.651)
(13º) Júbilo Iwata 3×2 Shonan Bellmare (18º) (13.491)
(15º) Kawasaki Frontale 1×1 Kashiwa Reysol (10º) (21.598)
(16º) Albirex Niigata 1×2 Avispa Fukuoka (11º) (20.197)
(3º) Vissel Kobe 0x1 Tokyo Verdy (12º) (22.104)
(9º) FC Tokyo 0x1 Gamba Osaka (4º) (27.972)
(5º) Nagoya Grampus 1×1 Kyoto Sanga (20º) (23.405)
(7º) Cerezo Osaka 1×1 Sanfrecce Hiroshima (8º) (19.670)
(6º) Urawa Reds 1×2 Machida Zelvia (1º) (39.460)
Adiado para 03/07 por causa da ACL:
(14º) Yokohama F-Marinos x Sagan Tosu (17º)

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