Realidade virtual: testamos óculos 3D usados por astros de City, Real e que ajudam joias do Palmeiras

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ge mostra aparelho de alta tecnologia que pode separar jogador “comum” de um fora de série e ganha espaço no Brasil; capacidade cognitiva e melhor tomada de decisão são benefícios Imagens do jogo em Realidade Virtual por repórter Eduardo Rodrigues, do ge
Correr, fugir de uma marcação cerrada, ocupar espaços, apurar reflexos… Tudo isso dentro de uma sala, sem calçar chuteiras, nem sujar o uniforme.
Óculos tridimensionais e um controle remoto são suficientes para levar qualquer pessoa a uma imersão em um campo de futebol de tamanho real, com arquibancadas lotadas, e fazê-la se sentir como um verdadeiro jogador profissional.
A experiência contada desta maneira pode parecer vinda de um simples jogo de videogame, mas vai além da diversão e tem se tornado grande aliada de atletas de alto nível, com resultados expressivos, chamando cada vez mais atenção dos clubes no Brasil.
A realidade virtual vem ganhando espaço nos treinamentos, com o principal objetivo de aperfeiçoar a capacidade cognitiva dos atletas. O ge visitou uma academia que oferece esse tipo de serviço para atletas profissionais de São Paulo e vivenciou detalhes da tecnologia.
A semelhança com a realidade impressiona.
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Entrevista com Vinicius Nevado, treinador e gestor da Consagres Performance
– Sabemos que o corpo a gente melhora fazendo exercícios, com atividades preventivas. O cérebro também tem uma demanda cognitiva muito grande, então há vários estudos que mostram que esse trabalho cognitivo (com a realidade virtual) tem eficácia durante uma partida – afirmou Vinicius Nevado, treinador e gestor da Consagres Performance, empresa especializada nesse serviço.
– O que diferencia um jogador comum de um alto nível? Além do ótimo condicionamento físico e o dom de tomar decisão ou drible, é o quanto melhor ele monitora uma partida, o quanto ele consegue tomar essa decisão de marcação – acrescentou.
O sistema não é grande novidade no mercado, mas ainda não está consolidado no futebol brasileiro. Em 2022, por exemplo, o Flamengo deu um passo importante para essa expansão e implementou um equipamento em seu centro de treinamento na busca de auxiliar na recuperação de atletas prestes a retornarem de lesão. Em 2021, o Grêmio fechou uma parceria para as categorias de base.
Com poucos clubes adeptos a essa tecnologia até o momento, jogadores têm procurado o serviço por conta própria – querem aprimorar movimentos que avaliam não estarem adequados. No final de fevereiro, Gabriel Menino, do Palmeiras, publicou em suas redes sociais um desses treinos.
Os companheiros de time Endrick e Luis Guilherme seguiram os passos do meia e também iniciaram o trabalho.
– Os óculos trabalham várias capacidades cognitivas, o primeiro é a atenção. Você sempre está atento ao que está acontecendo. O primeiro passo é você estar olhando o jogo inteiro. Outro nível é o controle de compulsividade. Às vezes eu tenho o companheiro ali, ele está livre, mas a gente vê que o zagueiro está chegando nele. Então tem que ter um controle para tomar outra decisão. Dentro desse jogo de realidade virtual, a gente começa a trabalhar várias partes cognitivas dos atletas: atenção, o controle de impulsividade, a visão periférica de lado esquerdo e direito – afirmou Nevado.
Gabriel Menino, do Palmeiras, faz treino com realidade virtual
– Tem um atleta que trabalhamos aqui que é ponta e a gente notava que nos jogos ele recebia a bola e ficava de costas para o campo de ataque. A gente começou a ver que ele perdia muito tempo monitorando para o lado direito, aí fizemos um ajuste: “Cara, vamos abrir esse corpo, vamos ficar abertos para o campo?”. O tempo se tornou menor para tomar uma decisão, dá até para ele receber a bola e ir em progressão. É um ajuste, um detalhe que faz a diferença – acrescentou.
Na Europa, Ederson, do Manchester City, e Tchouaméni, do Real Madrid, também já apareceram utilizando os óculos.
Para o goleiro, esse tipo de treinamento se tornou vital depois de ele notar um desafio gerado pelo estilo de jogo do City e da seleção brasileira. Por atuar em equipes dominantes, que passam a maior parte do tempo atacando, o goleiro fica muito tempo sem tocar na bola e corre o risco de acabar se desligando do jogo, o que pode custar caro em um contra-ataque.
– É difícil alcançar esse patamar de ficar 90 minutos concentrado. Eu acrescentei um trabalho cognitivo que me ajuda a concentrar. Vem me ajudando muito – disse o goleiro.
Goleiro Ederson em treino com óculos de realidade virtual
Arquivo pessoal
Para Tchouaméni, a ajuda foi além. No fim de 2023, o volante precisou ser improvisado como zagueiro. Sem qualquer intimidade com a função, ele recorreu aos óculos tridimensionais e publicou na rede social que a boa partida na zaga tinha sido possível graças à noção adquirida com a tecnologia.
Em campo, o treinamento virtual parece ter dado resultado: o Real Madrid goleou o Osasuna por 4 a 0, e o técnico Carlo Ancelotti elogiou a atuação do francês na defesa.
A realidade virtual é um complemento daquilo que o jogador faz no dia a dia no centro de treinamento. Com os óculos no rosto e um controle na mão, o atleta entra em um cenário realista e enxerga todos os movimentos possíveis de uma partida de futebol. Todas as informações são jogadas para um tablet, e é possível ver replays e analisar quais eram as melhores decisões a serem tomadas.
– O jogo é em cima de jogadas e padrões de movimentos que acontecem na Liga Inglesa, onde a posse de bola é muito importante, as jogadas são rápidas. No final de cada partida ele mostra um relatório da porcentagem de quantas decisões certas você tomou. Ele escaneia o tempo que demora para dar um passe. A partir disso a gente consegue transferir para o jogo ou para o treino – comentou Vinicius Nevado.
O volante Tchouaméni mostra seu treinamento com realidade virtual
Reprodução
Os ganhos técnicos de alguns jogadores têm feito clubes no futebol brasileiro procurarem empresas que trabalham com esse tipo de tecnologia para implementar em seus centros de treinamento ainda neste ano.
A reportagem apurou que o Palmeiras é uma dessas equipes que avalia positivamente a inserção dos óculos de realidade virtual no seu dia a dia.
ge simula
A reportagem do ge fez um experimento com os óculos de realidade virtual, e o que mais chamou atenção foi a riqueza de detalhes e como o jogo simula com exatidão os movimentos dentro de campo (veja no vídeo no início da reportagem).
O repórter Eduardo Rodrigues fez simulações como goleiro, meio-campista e atacante, e conseguiu vivenciar exatamente o que se passa em uma partida, principalmente no que diz respeito a velocidade, marcação dos adversários e visão periférica.
Repórter do ge faz imersão em realidade virtual
Reprodução
Como goleiro, a principal função é treinar a velocidade de reação ao receber um passe e ser marcado pelos adversários. O posicionamento para receber a bola dentro da grande área também foi fundamental no trabalho.
Como meia, os estímulos são para saber quem está ao seu lado e perceber em uma fração de segundos quem é seu companheiro e quem é seu adversário para ter precisão na jogada. De acordo com estudos, um jogador profissional toma decisões em 1,3 segundo.
Já como atacante, o posicionamento foi o que mais impressionou a reportagem. O jogo auxilia um centroavante, por exemplo, a ocupar o seu espaço e estar sempre nas melhores condições para receber uma bola e finalizar.
Nos três casos, é possível entender por que a realidade virtual é, e será cada vez mais, aliada do jogador de futebol de alto rendimento.

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