Repaginado, Wendell se vê mais completo e pronto para proteger avanços de Vini: “Não é um fardo”

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Jogador detalha evolução tática com mudança do Leverkusen para o Porto e assume papel defensivo para que atacante guarde energias para decidir jogos na frente Redefinir rotas, absorver novos conceitos de futebol e mudar hábitos.
Não foi à toa que Wendell voltou à seleção brasileira depois oito anos de espera. Longe disso. O lateral-esquerdo convocado por Dorival Júnior para a Copa América é outro, bem diferente do que teve a primeira oportunidade com Tite em 2018.
Wendell fala sobre sacrifício para dar liberada a Vini: “Não é um fardo”
Fiel escudeiro de Vini Júnior no lado esquerdo do campo, o jogador de 30 anos vê na consciência tática o principal trunfo para se consolidar como dono da posição. O Wendell agudo e de ultrapassagens dos tempos de Grêmio e Bayer Leverkusen deu lugar a um lateral que aprendeu no Porto a importância do equilíbrio e de novos caminhos que o permitam auxiliar os pontas nas jogadas de ataque e, principalmente, dar proteção na parte defensiva:
“Os jogadores da frente cada vez resolvem mais e o Vinícius é uma prova disso. Ele, Raphinha, Rodrygo, Savinho… Dar a bola para eles resolverem e ficar na retaguarda para defender é o que precisamos”
– Você tê-los frescos, bem, com a perna firme e forte para o um contra um. Então, para mim e para o Arana não vai ser um fardo não passar para dar essa liberdade para os nossos pontas. Quem ganha com isso é a Seleção, eles bem e fortes.
O novo Wendell é uma criatura de criador bem definido: Sérgio Conceição. O agora ex-treinador do Porto foi quem identificou características e teve o poder de convencimento para lapidar um lateral que chegou a Portugal já após sete temporadas de sucesso na Alemanha. Estrangeiro com mais partidas na história do Bayer Leverkusen, com 250, o brasileiro aceitou “resetar” o sistema após uma conversa em que o português mostrou caminhos para ir além do lateral ofensivo que buscava a linha de fundo a todo momento.
Wendell sorri em treinamento da Seleção em Orlando
Rafael Ribeiro / CBF
Em três anos no Porto, Wendell já soma 107 jogos, sete gols, oito assistências e os primeiros seis títulos da carreira. Números que comprovam o sucesso, mas são outros fatores que evidenciam ao lateral que Conceição tinha razão:
– Não tinha tanta inteligência para ler o jogo como eu tenho hoje. Entender como o ponta gosta de jogar. Quando vai por dentro, quando o meia vai por fora, eu vou por dentro. Quando ele vai por dentro, eu uso o corredor. Isso me ajudou muito. No Grêmio e no Leverkusen, eu usava muito a linha (lateral). Hoje, faço mais esse jogo interior.
Convocado por Tite para as partidas contra Venezuela e Bolívia para as eliminatórias para Copa de 2018, na Data Fifa de outubro de 2016, Wendell não teve a oportunidade de entrar em campo na ocasião e viu o sonho de buscar seu espaço na Seleção dar lugar a uma expectativa de retorno que parecia não ter fim. Daquela experiência, no entanto, ficou uma inspiração que serviu de referência até mesmo para seguir os conselhos de Sérgio Conceição na mudança de perfil.
– Estive com um jogador que me espelhei muito neste tempo, que foi o Filipe Luís. Ele me ajudou muito quando estivemos juntos na minha primeira convocação. Infelizmente, no ciclo seguinte não pude participar. Continuei trabalhando, dando meu máximo, sonhava em ser convocado e nunca fui chamado. Quando saiu a convocação agora, fiquei até surpreso.
Wendell em treinamento da Seleção na convocação em 2016
Pedro Martins
Titular de Dorival Júnior nos amistosos de março, contra Inglaterra e Espanha, e no empate com os Estados Unidos, o novo Wendell vai além dos gramados. Fora de campo, a mudança da Alemanha para Portugal chegou acompanhada de novos hábitos como controle das horas de sono, alimentação e rotina regrada fora das instalações do clube.
Provável titular na estreia da Copa América, diante da Costa Rica, segunda-feira, em Los Angeles, Wendell atendeu o ge antes de se apresentar para falar desse novo momento. Se as dez temporadas na Europa fazem com que parte da torcida brasileira não se lembre do garoto que saiu cedo do Grêmio, o próprio se apresenta e fala da expectativa para a primeira competição oficial com a camisa do Brasil.
Confira a íntegra da entrevista:
Qual o tamanho da realização de disputar uma Copa América pela Seleção? Você fez uma boa Data Fifa em março, já ficou na expectativa?
– Agradeço muito a Deus. Fiquei extremamente feliz e estava ansioso. Por mais que eu tivesse feito dois bons amistoso, o Brasil constantemente tem jogadores aparecendo. Estava ansioso e no final deu tudo certo, pude escutar o meu nome na convocação e vou poder representar o país em uma competição tão importante. É inexplicável. Estou extremamente feliz e, junto com meus companheiros e a comissão, espero conquistar o título.
Você tem uma oportunidade com o Tite no ciclo para 2018, não é lembrado para 2022, e agora foi novamente chamado. Como foi sua relação à distância com a Seleção neste período?
Wendell comemora gol contra o Benfica, no clássico português
Reprodução/Reuters
– Antes de tudo, foi um aprendizado importante. Eu era muito jovem em 2016. Estive com um jogador que me espelhei muito neste tempo, que foi o Filipe Luís. Ele me ajudou muito quando estivemos juntos na minha primeira convocação. Infelizmente, no ciclo seguinte não pude participar. Continuei trabalhando, dando meu máximo, sonhava em ser convocado e nunca fui chamado. Quando saiu a convocação agora, fiquei até surpreso. Agradeço ao professor Dorival por olhar o meu trabalho por gostar e me dar a oportunidade de ajudar o meu país. Espero representar a Seleção da melhor maneira possível na Copa América, como foi nos amistosos. Tenho muito a evoluir ainda e muito a dar na Seleção. Espero que possamos ser campeões.
Você falou que se inspirou no Filipe e é nítida uma transformação do Wendell mais jovem, que atacava muito pelos lados, bem agudo, para o Wendell atual mais equilibrado taticamente. Como se deu essa mudança?
– Primeiramente, quando eu era jovem… Ainda sou jovem, mas quando eu era mais novo ia muito mais ao ataque, usava mais o corredor. Não tinha tanta inteligência para ler o jogo como eu tenho hoje. Entender como o ponta gosta de jogar. Quando vai por dentro, quando o meia vai por fora, eu vou por dentro. Quando ele vai por dentro, eu uso o corredor. Isso me ajudou muito. No Grêmio e no Leverkusen, eu usava muito a linha (lateral). Hoje, faço mais esse jogo interior. Agradeço muito ao treinador Sérgio Conceição, que enxergou isso em mim. Teve uma conversa direta comigo e falou que via coisas que eu não via no meu jogo, que é esse jogo interior. A maioria dos times joga com um lateral interior e outro do corredor. Isso também passa pelo treinador, a equipe técnica do Porto, que abriu meu horizonte, minha visão de jogo. Mostrou que eu poderia ser útil usando o corredor e por dentro quando necessário.
Confira a entrevista coletiva do lateral-esquerdo Wendell, da Seleção Brasilaira
Isso me ajuda na Seleção a entender melhor o Vinícius, o Rodrygo, o João Gomes que joga ali pelo lado esquerdo. Me deu essa inteligência e capacidade de entender o jogo dele, que são jogadores de time grande. Não foi tão difícil me adaptar e espero que a gente possa fazer dar certo. Quem ganha é a Seleção. Hoje consigo defender mais, saber o momento de ir para o ataque, saber o momento de me resguardar. A inteligência, a experiência, a idade me deram essa maturidade. Graças a Deus, estou me tornando cada vez mais um lateral mais completo, mas com muita humildade para aprender cada vez mais. Não sei nada ainda e preciso a cada dia provar que estou aberto a jogar por dentro, por fora, aprender mais e fazer grandes jogos.
O torcedor brasileiro é acostumado com aqueles laterais que passam muito para a linha de fundo, mas no futebol atual muitas vezes a sustentação defensiva é o que vai permitir que o atacante tenha mais liberdade. Com o Vini no seu setor, isso é muito importante. Como que você explicaria ao torcedor esse papel?
– O futebol hoje é muito isso. Os jogadores da frente cada vez resolvem mais e o Vinícius é uma prova disso. Ele, o Rodrygo, o Raphinha, o próprio Savinho… São jogadores muito fortes no um contra um. Então, você dar a bola para eles resolverem e ficar na retaguarda para defender para eles é o que precisamos. Você tê-los frescos, bem, com a perna firme e forte para resolver os jogos no um contra um. É o que eles têm feito no Real Madrid. Então, para mim e para o Arana não vai ser um fardo não passar para dar essa liberdade para os nossos pontas. Quem ganha com isso é a Seleção, eles bem e fortes. É cada vez mais entender o jogo e ajudar o nosso ponta da melhor maneira possível para resolver como têm feito ao longo da temporada com gols e assistências. No final, vamos comemorar todos juntos.
Queria que você falasse sobre os amistosos de março, quando você garantiu seu lugar na Copa América. O quanto ir bem contra Inglaterra e Espanha fez a diferença nesta trajetória?
– É tudo mérito, primeiramente, do professor Dorival, que nos fez entender que tínhamos potencial para encarar seleções que estão juntas há muito tempo. Fizemos grandes jogos contra adversários fortes tecnicamente, fisicamente, e mantivemos o nível muito alto de concentração. Coletivamente contra a Inglaterra fomos intocáveis. Para o meu individual sair, o coletivo é muito forte. Tem a confiança do professor Dorival, o jeito que a equipe se encaixou com todo mundo se ajudando. Por poucos treinos que tivemos, conseguimos colocar muitas coisas da ideia do professor. Foi muito, muito, muito bom para todos.
Aos 13 min do 2º tempo – chute para fora de fora da área de Wendell do Brasil contra o Estados Unidos
Diante da Espanha, tivemos mais dificuldades, acho que também por estarmos mais desgastados. A Espanha gosta da posse de bola, estava descansada, mas mostramos a força do Brasil independentemente do cansaço e da dificuldade do primeiro tempo. No segundo, conseguimos impor mais perigo. Foram dois amistosos muito importantes para jogadores, comissão e para o torcedor acreditar que temos muito para dar. Agora, com mais tempo, vamos fazer uma Copa América irretocável e brigar pelo título.
Você está na Europa já há 11 temporadas, foi procurado por clubes como Juventus e Bétis, convocado para a Seleção, mas ainda tem muita gente no Brasil que não te conhece. Como você encara essa situação?
– É engraçado, mas eu continuo o mesmo. Mas sigo fazendo o meu trabalho e o importante é ser reconhecido pelos meus treinadores, pelos meus companheiros, pelas pessoas que realmente me conhecem e sabem da minha capacidade. Quero agradecer a Deus por trabalhar em grandes clubes, ter outros interessados, e prefiro encher os olhos do Dorival, do Sérgio Conceição, de quem eu tenho que trabalhar. Quem não quiser me conhecer, pode ficar à vontade. O que me deixa feliz é ser reconhecido pelos meus treinadores. O Sérgio Conceição por abrir a minha visão para coisas que eu não enxergava e o Dorival também.
Para fechar, queria que você avaliasse o grupo da Seleção na Copa América: Costa Rica, Colômbia e Paraguai…
– É um grupo difícil, o mais difícil da Copa América, mas estamos preparados. Agora, vamos ter mais tempo para trabalhar, entender e assimilar o nosso treinador e vai ser importante. Temos tudo para fazer uma boa Copa América. Tenho fé em Deus que vamos começar e terminar bem, vamos nos entender cada vez mais e conseguir o título. Estamos bem-preparados. Conseguimos resgatar o orgulho das pessoas falarem que estão acompanhando a Seleção. Ouvi de várias pessoas isso de reaproximação e é o que a gente mais quer, aproximar o torcedor e a energia do nosso povo.

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