Salgado diz que 777 foi única que aceitou condições do Vasco e aponta “equívoco conceitual” de Pedrinho

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Ex-presidente agora defende publicação de contratos e afirma que mecanismo “obrigaria a 777 a vender seus 31% restantes nas mesmas condições negociadas” em caso de inadimplência O Conselho Deliberativo do Vasco se reúne na próxima segunda-feira para debater a criação de um comisão para investigar a venda das ações do futebol do clube para a 777 Partners. O acordo foi fechado na última gestão do Vasco, do então presidente Jorge Salgado. Ao mesmo tempo, os conselheiros vão se debruçar sobre auditoria realizada na gestão Alexandre Campello.
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Neste sábado, Salgado divulgou longo manifesto – confira na rede social do ex-presidente a carta completa – com série de pontos em que defende a venda para a 777 – em 2022, no segundo ano de gestão -, fez críticas à atuação de Pedrinho e seus aliados na briga com o investidor e revelou, pela primeira vez, que a 777 foi “única (empresa) que aceitou as premissas básicas, avançou nas negociações e fez uma oferta concreta”.
O ex-presidente Alexandre Campello, alvo de outro tópico da reunião da segunda que vem, disse que ainda “não tem conhecimento dos fatos e não tinha nada a declarar” neste momento.
Em entrevista anterior no Abre Aspas do ge, Salgado dizia que uma apresentação do Vasco havia sido enviada para 62 investidores internacionais, com 27 respostas e que ficaram três “negociando” com o clube – entre eles o grupo City, que “queria ficar com participação pequena” e “achava caro” o investimento no Vasco.
No texto publicado nas redes sociais, Salgado afirma que o Vasco “não atraiu outros interessados”, pois “muitos (investidores) não entendiam por que o estádio de São Januário estava fora do projeto e seria mantido com o clube… além disso, não quiseram comprometer recursos na fase pré-SAF, ainda mais diante dos significativos valores de aportes a serem feitos na companhia e da assunção de dívidas do clube”.
– As premissas básicas da negociação foram estabelecidas na largada, respeitando as características do Vasco: (i) aporte significativo pelo investidor (R$ 700 milhões), em até 4 anos, para permitir a retomada da competitividade esportiva; (ii) assunção, pela SAF, da dívida histórica contabilizada do CRVG (em até R$ 700 milhões), para equalizar o passivo que asfixiava o clube há 20 anos; (iii) CRVG permaneceria com relevante participação na SAF (30%); (iv) CRVG permaneceria com a propriedade de São Januário, que deveria ser utilizado pela SAF; (v) investimentos significativos em infraestrutura, sobretudo nos CTs; (vi) orçamento do futebol em montante expressivo, para permitir a retomada da competitividade do futebol vascaíno; e (vii) Vasco SAF seria um flagship do grupo investidor, devendo ser tratado de forma condizente com a grandeza histórica do clube. Iniciado o processo e realizadas conversas com alguns potenciais investidores, a 777 foi a única que aceitou as premissas básicas, avançou nas negociações e fez uma oferta concreta – afirmou Jorge Salgado.
“Recebi apenas 23% do valor do empréstimo”
O ex-presidente também justificou o acordo fazendo referência à “guerra política fratricida que corrói o clube por dentro, destrói a sua imagem e o impede de impulsionar a força de sua imensa torcida e de alcançar o seu inegável potencial”. E abordou um dos empréstimos que fez ao clube no início de sua gestão, questionando e também respondendo a si próprio se “fez a SAF no Vasco para se pagar”.
Salgado lembrou que em 2021 emprestou ao clube “valor expressivo a juros fixos inferiores ao praticado no mercado” – segundo balanço de 2021, estes valores somavam cerca de R$ 26 milhões – e afirmou que “foi o único que se dispôs a emprestar dinheiro ao clube”, devendo meses de salários atrasados.
Pedrinho e Jorge Salgado, atual e antigo presidente do Vasco
Matheus Lima/Vasco
O ex-presidente do Vasco contou que recebeu parcelas atrasadas do acordo como credor – havia empréstimos desde a gestão Roberto Dinamite, bem antes de ser presidente do clube – em março de 2022, com a o empréstimo-ponte da 777 de R$ 70 milhões, mas “cerca de três meses depois”, por ocasião de transfer ban de dívida com Maxi Lopez, ele afirma que “devolveu integralmente o valor daquelas parcelas atrasadas que havia recebido”.
– Resolvida a questão e o problema de fluxo de caixa, o valor foi retornado. Até hoje, recebi apenas 23% do valor do empréstimo, sendo que o vencimento original já passou e o empréstimo já deveria ter sido quitado. O meu empréstimo foi aprovado pelo Conselho Deliberativo, inclusive as condições de pagamento. Na reunião de aprovação, todos me elogiaram e agradeceram minha demonstração de vascainísmo, ao ajudar o clube num momento difícil. Poucas semanas depois, já estavam me chamando de agiota novamente – disse Salgado.
Salgado: ação judicial parte de “equívoco conceitual”
O ex-presidente questionou e criticou a estratégia jurídica da administração de Pedrinho, que entrou com ação judicial e conseguiu em caráter liminar tirar a 777 do controle da Vasco SAF – o caso segue para análise em Plenário na Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e também correrá em paralelo na arbitragem na FGV.
Disse que a alegação do jurídico de Pedrinho – “evitar penhora das ações da SAF detidas pela 777” – “parte de equívoco conceitual”. Salgado afirmou que, em caso de inadimplência, as ações já compradas pela 777 (os 31% do total de 100%, nos quais 30% seguem sendo do Vasco pelo acordo de acionistas) não retornariam para o clube, mas o Vasco “teria o direito de exercer um bônus de subscrição, pelo valor simbólico de R$ 1 mil, obrigando a SAF a emitir novas ações para diluir a participação da 777 ao montante efetivamente pago pelo investidor.”
Jorge Salgado, Josh Wander e Juan Arciniegas, que já deixou a 777, em visita ao CT do Vasco
Daniel Ramalho/Vasco
– Nesse caso, como eles já pagaram R$ 310 milhões (equivalente a 31% da participação de 70% negociada com o investidor), eles seriam diluídos a 31% após a emissão de novas ações da SAF subscritas pelo CRVG – que passaria a ter 69% de participação na SAF e, portanto, retomaria o controle da companhia – explicou o ex-presidente, acrescentando:
– Pouco importaria, portanto, se um credor da 777 penhorasse as ações da SAF, pois, ainda assim, o credor teria que fazer o aporte de setembro de 2024 – caso contrário, aquelas ações penhoradas seriam diluídas a 31% de participação no capital social da SAF. Além disso, esse hipotético credor teria que cumprir com todas as obrigações e proteções à SAF e ao CRVG previstas no acordo de acionistas e no estatuto social da SAF, dentre as quais as matérias qualificadas que exigem o voto afirmativo do CRVG.
O ex-dirigente do Vasco defende que este cenário seria de retomada “legítima do controle da SAF”, nos termos acordados entre as partes em contrato e que permitiria aos vascaínos “buscar um novo investidor e obrigar a 777 a vender seus 31% restantes nas mesmas condições negociadas pelo CRVG com o novo investidor”.
– Importante lembrar que o mecanismo do bônus de subscrição foi esclarecido no parecer da Comissão Especial do Conselho Deliberativo que analisou os documentos da operação da SAF e recomendou sua aprovação. Muitos daqueles que compunham aquela comissão estão hoje na atual gestão – afirmou Salgado, reforçando que a negociação teve recomendação favorável do Conselho Fiscal e do Conselho Deliberativo do clube.
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– Pelo que veiculado na imprensa, antes de o CRVG propor a ação judicial, a 777 já estava negociando a venda de sua participação na SAF. Nessa hipótese, como condição para a transferência das ações, o novo acionista teria que pagar não apenas o aporte de 2024 (cerca de R$ 300 milhões, com atualização), mas também o aporte de 2025 (cerca de R$ 130 milhões, com atualização). Caso contrário, não poderia receber as ações da SAF e se tornar acionista. Seriam R$ 430 milhões no caixa da SAF, de uma só vez. A opção pelo embate judicial é preocupante, pois, além de dar motivos para o não pagamento do aporte de setembro de 2024 (caso mantida a atual situação até lá), gerou um clima de instabilidade institucional e de insegurança jurídica que acaba por afugentar possíveis novos investidores – comentou Salgado.
Sobre as condições financeiras da 777 à época do acordo, Salgado se apóia no relatório – que é confidencial e nunca foi divulgado publicamente, mas passou pela comissão de 15 conselheiros, com dois votando pela abstenção, como mostrou o ge na semana passada – das consultorias contratadas.
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Salgado afirma que “não houve apontamentos relevantes”, cita parecer favorável ao acordo da Comissão Especial do Conselho Deliberativo e diz que a 777 “passou pelo crivo de todas essas jurisdições, sem maiores intercorrências”, na Itália, Alemanha, França, Belgica e Austrália, além de participações em clube da Espanha e na liga de basquete da Inglaterra. O ex-dirigente interpreta que “os problemas começaram a surgir após a conclusão do negócio com o Vasco, quando a 777 decidiu investir no Everton”. Pois entende que a companhia fez grande esforço – e não conseguiu – entrar na liga mais valorizada e cara do muindo.
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– Para concluir o negócio e entrar nesse mercado, eles fizeram empréstimos de mais de R$ 1,3 bilhão (200 milhões de libras esterlinas) ao Everton, para cobrir custos operacionais e compromissos financeiros do clube, antes mesmo de finalizar a operação – afirmou Jorge Salgado.
“Publiquem os contratos”
Ainda na carta publicada, Jorge Salgado lembra que a liminar suspende os efeitos do contrato e faz “apelo pessoal” para que, agora, os contratos confidenciais sejam abertos.
– Eu, pessoalmente, não tenho nada contra. Por mim, seria até bom, para acabar de vez com essas narrativas maldosas e politiqueiras. A confidencialidade é uma condição negocial típica não só dos contratos de fusões e aquisições, mas de qualquer contrato comercial. O seu objetivo é preservar estratégias comerciais das partes. É por isso, por exemplo, que os clubes não publicam contratos com patrocinadores ou os contratos de cessão de direitos de transmissão – disse Salgado, provocando a diretoria de Pedrinho a abrir os contratos assinados por sua antiga gestão.
– A decisão liminar que tirou da 777 o controle da SAF suspendeu os efeitos dos contratos. Com isso, tornou sem efeito, também, a obrigação de confidencialidade. A rigor, o CRVG poderia publicar os contratos na íntegra. Por que o CRVG não publica os contratos, se não está mais sujeito à obrigação de confidencialidade? Imagino que a publicação poderia causar insegurança em eventuais novos investidores; porém, se entendem que não, fica aqui o meu apelo pessoal: publiquem os contratos! – exclamou o presidente em carta
Salgado também disse que nem ele nem ninguém de sua diretoria receberam “qualquer tipo de comissão ou valor pela negociação”. Lembrou que houve comissões de R$ 28 milhões para as empresas de consultoria e advocacia – o que já havia contado ao ge no Abre Aspas – que os assessoraram na confecção do negócio, mas com pagamento para além dos R$ 700 milhões de investimento no clube. Ou seja, na prática, acordo de R$ 728 milhões, afirmou. “A relação dessas empresas consta num dos anexos do contrato de investimentos. Não foi pago qualquer outro honorário, comissão ou valor a nenhuma outra pessoa ou empresa que não conste daquela relação. O Conselho Fiscal do clube tem acesso a essa lista e aos valores devidos”.
Salgado também fez críticas à gestão da 777 no futebol do clube, afirmando que faltou “traquejo” no futebol, “conhecimento do mercado interno” e “assertividade no processo de contratação” – citou a montagem de time jovem em 2023 em meio à “pressão descomunal” no Vasco -, mas “não se pode contestar que eles aportaram R$ 310 milhões, investiram no futebol, aumentaram as receitas comerciais, pagaram os salários em dia e honraram os pagamentos mensais do RCE Trabalhista, RCE Cível e transação tributária”.
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