Talisca e Spark: as faces do meia que surgiu no Bahia, explodiu em ligas periféricas e brilha com CR7

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Em Salvador para tratar lesão, destaque do Al Nassr e companheiro de Cristiano Ronaldo conversa com o ge. Com sonho de Seleção, Talisca revela ajuda de JJ e desejo de aposentadoria no Tricolor Explosão no Bahia, sucesso na China, Turquia, Arábia Saudita, convocação para a seleção brasileira, parceria com um dos maiores jogadores de todos os tempos e até trabalho como rapper. Aos 30 anos, Anderson Talisca já tem muita história para contar. Muito antes de Cristiano Ronaldo, era o meia-atacante quem “dava as cartas” no Al Nassr, da Arábia Saudita. Reforço de 8 milhões de euros (R$ 51 milhões à época), o baiano chegou em alta após sucesso no Guangzhou FC, em maio de 2021, um ano antes de CR7.
Parceria de luxo: Talisca revela como é jogar e conviver ao lado de Cristiano Ronaldo
De lá para cá, muita coisa mudou na equipe saudita, principalmente em função do tamanho de atacante português. Inclusive para o próprio Talisca, que assumiu a veia artilheira como nunca na carreira. Mas algumas coisas continuam, como o sonho de defender a seleção brasileira e o amor pela música.
Aos 30 anos, Anderson Talisca vive a sua temporada mais artilheira da carreira, com 26 gols em 31 jogos, além de seis assistências. Ele teve interrompida a grande fase, já que se machucou e voltou ao Brasil para tratamento. Em Salvador, onde se recupera, ele recebeu o ge para uma entrevista. Na ocasião, voltou às origens no Bahia e detalhou o sonho de encerrar a carreira no clube. Também apontou o crescimento fora do Brasil, a importância de Jorge Jesus no processo, além da relação com Cristiano Ronaldo e com a música.
Talisca surgiu como grande joia das categorias de base do Bahia e “explodiu” para o cenário nacional entre 2013 e 2014, quando fez 68 jogos e marcou 11 gols pela equipe profissional. Ele foi vendido por 4 milhões euros (R$ 21 milhões) para o Benfica, de Portugal, na, até então, maior venda da história do Tricolor. De lá para cá, rodou o mundo com bons números por todas as equipes por onde passou.
Anderson Talisca é um dos craque do Al Nassr, da Arábia Saudita
Reprodução/TV Bahia
Talisca se destacou pelo Besiktas (Turquia) e Guangzhou FC (China), mas os melhores números vieram com a chegada ao Al Nassr, da Arábia Saudita. Desde 2021, são 91 jogos, com 69 gols e 12 assistências.
Melhor momento da carreira acho que já tive no Besiktas e, agora, superei esse momento pelo Al Nassr. E falando de sequência, sim, melhor momento jogando pelo Al Nassr. São duas, três temporadas seguidas”.
Nesta temporada, Talisca atingiu os grandes números atuando ao lado de destaques do Velho Continente, como Cristiano Ronaldo, Sadio Mané, Brozovic e Laporte. O bom desempenho do baiano resultou em renovação de contrato até a temporada 2026.
Anderson Talisca faz gol decisivo na vitória do Al-Nassr, na Liga dos Campeões da Ásia
– Quando cheguei lá eram só seis estrangeiros. A gente sabia que ia ter um crescimento a longo prazo, mas não tão rápido. Com a vinda do Cris mudou tudo. Hoje, se você for olhar a prateleira dos campeonatos, o Árabe já está entre os dez, marco muito grande e vai melhorar cada vez mais – explicou Talisca.
Cristiano Ronaldo aponta para Talisca após gol do Al-Nassr
Site oficial do Al Nassr
Amizade com CR7
Cristiano Ronaldo e Talisca em Al-Nassr x Al-Tai pelo Campeonato Saudita
Divulgação / Al-Nassr
Aos 30 anos, Talisca soma conquistas de títulos por cinco países diferentes e histórias repletas de sucesso em mais de uma década de carreira, mas há uma especial entre todas elas: jogar ao lado de Cristiano Ronaldo.
“Jogar com ele para nós, jovens, que viram ele, toda história no Real Madrid, é algo muito bacana”.
Para muitos fãs de futebol, Talisca já “zerou o game” só por jogar ao lado de Cristiano Ronaldo, mas a aproximação dos dois vai além.
– A minha relação com ele é muito tranquila, ele é um cara muito humilde, muito tranquilo. Dentro de campo a gente tem uma relação muito boa, cada um busca seu objetivo que é ajudar o clube, marcar gols, ajudar com vitórias. Relação super tranquila – definiu Talisca.
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Cristiano Ronaldo é um dos jogadores mais próximos do baiano no Al Nassr. Falar a mesma língua ajudou bastante nessa conexão, mas o ambiente do clube também ajuda.
– Todo mundo muito próximo, mas o Cris, o Alex Telles, o Otávio, a gente fala mais a mesma língua, a comunicação é muito melhor. O Brozo também, o Laporte, o Mané, todo mundo bem tranquilo, relação muito boa, ambiente muito bom no clube.
CR7 também conhece Spark
Anderson é Talisca para o futebol e Spark para a música
Divulgação/Gabrielbjj7
É isso mesmo. Cristiano Ronaldo conhece as canções lançadas pelo brasileiro em sua versão artística. Talisca é conhecido na música como Spark e, enquanto concilia as duas carreiras, tem fãs de peso no mundo da bola.
– [Cristiano Ronaldo] conhece, todo mundo no Al Nassr conhece minhas músicas. Normalmente a gente não toca muito no vestiário, mas os jogadores escutam muito. Cristiano Ronaldo já escutou algumas músicas também.
“A mesma paixão que tenho pelo futebol tenho pela música. Estão na mesma prateleira os dois”.
Anderson Talisca muda nome para Spark e grava clipe com L7NNON no Rio
– Quando estou jogando só trabalho mais a parte digital. A minha relação com a arte, com o esporte, sempre foi muito conjunta. Eu tinha que fazer música e futebol ou não ganhava bolsa na época. Muito lado a lado.
“Quando estou de férias, nossa agenda fica aberta, e a gente consegue fazer os shows”, disse Talisca.
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No período de férias antes de voltar a campo, inclusive, Talisca, ou melhor, Spark pretende lançar uma nova canção, intitulada “Medusa”. O jogador/cantor também é empresário do ramo e projeta revelar novos talentos do gênero trap da Bahia para o Brasil.
– A gente está fazendo e idealizando bastantes projetos. Hoje tenho uma gravadora aqui no Nordeste, a Nine Four Records, que abre portas para novos artistas. Meu projeto é atrelado a essa gravadora. É um processo muito importante de criação, de revelar novos artistas. É um trabalho conjunto, em equipe. Virão muitos lançamentos pela frente. Vamos lançar uma música nova chamada “Medusa”, música muito interessante. São muitos lançamentos bacanas. A gente está numa crescente muito grande – acredita Spark.
Jogador cantor: Talisca se mostra feliz com carreira musical e detalha novos projetos
Seleção brasileira como meta
Camisa usada pela Seleção está em destaque em sala de memórias de Talisca
Tiago Lemos
De volta ao futebol e ao maior sonho, Anderson Talisca tem como meta seguir em alto nível para voltar a ser convocado e finalmente vestir a camisa da seleção brasileira. O meia-atacante tem duas convocações no currículo, mas não teve a chance de entrar em campo com a amarelinha.
A última convocação foi em março de 2018, na lista anterior à convocação para a Copa do Mundo da Rússia. O atleta também foi convocado em 2014, por Dunga, em substituição a Lucas Moura, lesionado.
Talisca não considera futebol saudita como empecilho para chegar à Seleção
O bom desempenho apresentado em uma década de carreira fora do Brasil e o crescimento do futebol árabe deixam o jogador confiante para ser chamado novamente em seu retorno após se recuperar da lesão.
– Acho que é um objetivo que já estava caminhando. O apelo social estava muito grande, galera que acompanha, todo mundo do esporte. A Arábia Saudita já não é mais dúvida para ninguém. Dentro do futebol asiático é um país que tem o futebol mais forte. Em termos de qualidade, intensidade, mudou muito. Creio na concepção das pessoas, mudou 100% em relação a isso. Isso não vai ser mais um empecilho para ir à seleção brasileira, poder conquistar esses objetivos – detalhou.
Anderson Talisca e Dunga na seleção brasileira
Bruno Domingos / Mowa Press
No ano passado, o meia-atacante desabafou depois de ficar fora de mais uma lista do técnico Fernando Diniz. Na ocasião, ironizou ao dizer que “achava que não era brasileiro”.
Com Dorival Junior no comando da Seleção, no entanto, Talisca renovou as esperanças em ser convocado. De acordo com o camisa 94 do Al Nassr, inclusive, a convocação estava perto de se confirmar antes de lesão.
“Lesão atrapalhou sim, sabia algumas coisas. A gente sente também. Mas a gente também não reclama, Deus sabe de todas as coisas. Vamos para frente”.
Divisor de águas com Jorge Jesus
Talisca fala sobre relação com Jorge Jesus e adaptação às ideias do treinador português
Atualmente em fase artilheira, o baiano de Feira de Santana também viveu uma virada de chave na carreira. De meio-campista na época do Bahia, Talisca passou a ter função mais avançada e goleadora graças ao técnico Jorge Jesus, seu comandante no Benfica a partir da temporada 2013/2014.
Jorge Jesus quando treinava Talisca
EFE
– Foi o mister Jorge Jesus que fez essa mudança na minha posição. Jogava um pouco mais para trás no Bahia. Avancei um pouco no Bahia, ele viu, mas no Benfica ele me mudou realmente de posição. Eu finalizo muito bem, tenho muita sensibilidade para fazer gol.
“Tudo isso fez muita diferença na minha carreira. Foi um divisor de águas para o meu crescimento, na verdade”.
Talisca comemora gol pelo Benfica
Agência AFP
Volta ao Bahia está garantida
Aos 30 anos, Anderson Talisca quer jogar futebol enquanto estiver entregando boas atuações dentro de campo. O meia-atacante tem contrato até 2026 com o Al Nassr e prefere não estipular uma data para encerrar sua carreira, mas garante que será no Bahia.
Talisca admite vontade de encerrar carreira no Bahia
– Isso para mim é algo que não abro mão. Só se o City [Football Group] ou o Bahia não quiser. Mas voltar para o Brasil agora não é meu objetivo, até porque minha carreira está muito organizada, bem estruturada, dez anos fora do Brasil. Carreira muito sólida, mantive um padrão muito alto de rendimento. […] Mas encerrar no Bahia é algo que já está planejado.
Talisca em ação durante um jogo entre Flamengo e Bahia
Rui Porto Filho / Ag. Estado
É algo que sempre tenho no meu coração, foi o Bahia que abriu as portas para mim. Tenho esse carinho. Mas não faço contas, enquanto tiver suportando, aguentando, jogando bem. Não quero encerrar sem qualidade”.
E a última impressão deixada por Talisca no Bahia foi muito positiva. Ele ajudou o time a se livrar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2013, foi campeão baiano em 2014 e ainda encheu os cofres do clube com a venda para o Benfica.
O caminho da volta está traçado e será vestindo azul, vermelho e branco, pelo menos é o que Talisca garante. Enquanto isso, Anderson Souza Conceição, aquele garoto que deixou Feira de Santana com o sonho de jogar futebol e com a paixão pela música a tiracolo, segue na batida perfeita em busca de mais conquistas e, quem sabe, da tão sonhada vaga na Copa do Mundo de 2026 pelo Brasil.

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