Títulos e crises: saiba os bastidores do fim da parceria entre Fluminense e Unimed há 10 anos

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Craques, campanhas históricas, falta de profissionalização e brigas constantes marcam relação de um dos maiores patrocínios da história do futebol brasileiro Em um dos camarotes do Maracanã, em 2013, Celso Barros e Peter Siemsen sorriam para fotos e trocavam calorosos apertos de mão. Na mesa, um contrato assinado. A rubrica do então presidente da Unimed-Rio selava o acordo: o patrocínio máster do Fluminense estava renovado até o fim de 2014.
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Peter Siemsem confirma fim da parceria da Unimed com Fluminense
A cena marca o último momento feliz entre as duas partes. Dali em diante, divergências políticas e empresariais marcariam o fim de uma das maiores parcerias do futebol brasileiro. A história daquela separação, que completa 10 anos em 2024, é conhecida. Os bastidores, nem tanto.
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Fluminense e Unimed formaram uma parceria vencedora por 15 anos. Liderada por Celso Barros, que injetava muito dinheiro, a empresa da área de saúde ajudou a resgatar o Tricolor da Série C e colecionou títulos (Cariocas de 2002, 2005 e 2012; Copa do Brasil de 2007; e Brasileirão de 2010 e 2012) além dos vices da Libertadores em 2008 e da Sul-Americana em 2009. Craques de sobra desembarcaram nas Laranjeiras, como Romário, Edmundo, Fred e Deco, entre outros…
Em 2013, após o título do Brasileiro do ano anterior, Celso Barros, Rodrigo Caetano e Peter Siemsen abriram pré-temporada tricolor
Nelson Perez/FluminenseF.C.
No último contrato assinado entre as partes, a Unimed deveria investir o mínimo de R$ 15 milhões em contratações e/ou salários de jogadores. Antes, os valores da parceria estavam bem acima dessa quantia. Entre 2010 e 2012, estima-se que o recorde foi de R$ 150 milhões gastos por ano.
Conca, por exemplo, chegou a ganhar R$ 750 mil — isso há 14 anos. Mas nem tudo é comemorado: a grana trazia a crítica pela falta de estrutura e profissionalização do clube, que virou refém daquela parceria e sofre até hoje pela rescisão.
A lógica é fácil de entender. Os contratos eram feitos pela Unimed Participações. Celso Barros “emprestava” dinheiro para o Fluminense comprar e registrar jogadores, mas o clube ficava com uma porcentagem pequena de vitrine – o resto era da patrocinadora. Assim, quando o atleta fosse vendido, o benefício da cooperativa de médicos era enorme. Conca chegou a gerar lucro de 166% quando foi para o Guangzhou Evergrande, em 2011. Era uma via de mão dupla.
Também era comum que os contratos fossem divididos por um valor irrisório de salário pago pelo Fluminense, enquanto as altíssimas luvas e direitos de imagem eram de responsabilidade da Unimed. O mesmo acontecia com as verbas de patrocínio. No papel, o portal da transparência tricolor mostra um recorde de “apenas” R$ 20 milhões de investimento da empresa (veja acima). Os números eram muito maiores por fora.
Porém, mesmo com tanto sucesso, a Unimed decidiu não renovar o patrocínio. Mas por quê?
A crise na Unimed
Além de Celso Barros e Peter Siemsen, o ge conversou com mais 12 pessoas que viveram o dia a dia na época. Elas foram unânimes ao dizer que, apesar de a empresa garantir que deixou o Flu por estratégia de marketing, o motivo foi uma grave crise financeira. Com a obrigação de reduzir gastos para aliviar as contas, a Unimed decidiu cortar o laço com o Tricolor.
— Até casamentos, às vezes, não são eternos. O meu é (risos), são 40 anos de casado. Mas patrocínio se estima em tempo, e o nosso não tinha prazo. O contrato era renovado automaticamente de acordo com o interesse das partes. Ocorreu uma situação de mercado, econômica, e tivemos que terminar — diz Celso Barros.
Antes, é preciso desmistificar um ponto. Pessoas que trabalharam na Unimed na época garantem que não foi o Fluminense que “quebrou” a cooperativa. Estima-se que Celso gastava 30% do orçamento da empresa com o clube. Apesar de descontrole em outras contas, a oposição que desejava tirar o médico do comando da empresa enxergou nos gastos do futebol uma forma popular de criticá-lo.
Vários motivos levaram as cifras da Unimed para a ruína. Um deles diz respeito à construção de um hospital no bairro carioca da Barra da Tijuca, estimada em R$ 250 milhões, valor R$ 80 milhões superior ao esperado inicialmente.
Em outra construção, uma nova crise. A Agência Nacional de Saúde exige que todos os hospitais precisam ter uma reserva técnica para operar — um valor que mantenha o local funcionando tempo suficiente para que todos os pacientes completem os seus tratamentos caso a empresa quebre. A Unimed utilizou grande parte deste “seguro” para levantar um novo hospital. A descoberta gerou uma crise.
Ao lado de Celso Barros e Ramon, Edmundo é apresentado no Fluminense em 2004
Fotocom.net
Isso levou uma agência de risco a rebaixar a empresa devido aos problemas financeiros: saiu da avaliação “A+” para “A-“, com previsão de diminuir mais se a situação não fosse resolvida. Naturalmente, investidores se afastaram. Em 2016, o jornal Valor Econômico revelou que a dívida da Unimed com a União ultrapassava R$ 1,2 bilhão.
— A rede teve um aumento de 42% no gasto diário. A Agência Nacional de Saúde também impôs um aumento de mais 9%. Quem consegue pagar um reajuste tão forte? A situação ficou muito difícil e decidimos sair — explica Celso.
A oposição da Unimed passou a procurar a imprensa para criticar Celso Barros e revelar problemas dentro da empresa. Também disparou e-mails e folhetos para associados.
A Unimed foi procurada e, através de sua assessoria de imprensa, informou que “não iria participar” da reportagem.
O jantar, o “migué” e o comunicado
Então presidente do Fluminense, Peter Siemsen lembra bem do dia em que foi comunicado sobre o fim da parceria, em jantar que contou com a presença dele, de um conselheiro do Fluminense, de Celso Barros e de mais um representante da Unimed. Peter acreditava que a conversa terminaria com uma nova diminuição do investimento por parte da patrocinadora. Foi pego de surpresa.
— O término se deu por parte unilateral. Eu não esperava. A Unimed vivia uma crise tanto econômica quanto política. Eu queria ter mais tempo para a gente se arrumar. Entramos num turbilhão, numa situação de crise, de emergência. […] Eu gostaria muito que tivesse sido um pouso mais suave, mas entendo o lado deles — conta o ex-presidente.
De acordo com Peter, foi feita uma proposta para que a Unimed permanecesse por mais seis meses, com valores sendo reduzidos ao longo deste período.
Peter Siemsen e Celso Barros brindam na época da parceria
Nelson Perez / Fluminense FC
Fora da diretoria, funcionários e jogadores perceberam que a situação mudou a partir de junho de 2014, quando os salários começaram a atrasar. O do atacante Rafael Sobis foi o primeiro da bola de neve. Hoje presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, então vice de futebol, foi encarregado de acalmar os atletas. Conforme os meses passavam, o clima de incerteza aumentava. Procurado, o atual presidente preferiu não se manifestar.
Os jogadores questionaram Peter e Celso sobre os atrasos. A ponto de, na semana da vitória do Fluminense por 4 a 2 sobre o Criciúma, no Brasileirão de 2014, um jogador ir ao departamento médico e, sabendo que não tinha previsão para receber seu salário, decidir não jogar. O DM não constatou lesão, e os jogadores souberam da história. Fred quase trocou socos com o atleta. Posteriormente, os líderes do elenco trataram de isolá-lo dos restantes por causa desse “migué”.
A confirmação de que a Unimed não continuaria só veio a público em dezembro, mas, como a notícia já circulava desde junho, empresários buscavam a retirada de seus jogadores do Fluminense. Até hoje diretor de futebol do clube, Paulo Angioni recebeu a missão de acalmar os agentes e manter os jogadores concentrados. Ainda faltavam 30 rodadas a serem disputadas no Brasileirão.
Por sinal, o dirigente estava de malas prontas para o Vasco após receber uma proposta de Eurico Miranda. Mas, por uma promessa que fez a Mário, decidiu honrar a sua palavra e permanecer naquele momento.
Peter Siemsen é reeleito presidente do Fluminense
Hoje, Celso Barros admite que a parceria não poderia mais ser mantida nos moldes de antes, mas também afirma ter levado um “Plano B” a Peter Siemsen. Porém, segundo ele, a falta de respostas do então presidente acabou esfriando uma continuidade:
— Quem mandava era a Flusócio (grupo político ligado a Peter, que tinha forte influência no futebol e nas decisões políticas do Fluminense, e abertamente criticava Celso) e eu não tinha relacionamento com eles. Eu vinha colocando desde 2013 que a gente precisava sentar, conversar… Na minha opinião, não dava para continuar naqueles moldes. Quando fui falando isso, eles ficavam um pouco perdidos e, talvez, pensando em buscar outra coisa.
Peter foi enfático ao discordar desta hipótese.
— Certamente essa pessoa (que ele procurou) não fui eu. Talvez ele tenha procurado outras pessoas envolvidas no Fluminense. Eu, você pode ter 100% de certeza absoluta, que não.
Crise por Abel, Luxa no viva-voz e Sandrão
A primeira grande briga entre Celso e Peter ocorreu por causa de Abel Braga. O presidente não queria demiti-lo, mas a sequência de cinco jogos sem vencer no Brasileirão de 2013 fez o homem forte da patrocinadora desejar a saída. A queda aconteceu após a derrota por 2 a 0 para o Grêmio, em Porto Alegre. Na volta ao Rio, Abel, campeão carioca e brasileiro no ano anterior, foi homenageado nas Laranjeiras. E, mesmo após o treinador anunciar publicamente a sua saída, Peter Siemsen ainda tentou mantê-lo.
Fluminense demite Abel Braga e acerta com Vanderlei Luxemburgo
Meses depois, a contratação de Vanderlei Luxemburgo marcou um episódio constrangedor. A Flusócio era contra o nome, por ele ser assumidamente flamenguista. Então, Celso, que era a favor, ligou para Peter no viva-voz para falar sobre Luxemburgo. Peter esculhambou o treinador sem saber que Luxa ouvia tudo do outro lado da linha. Dias depois, numa reunião entre os três, Siemsen tentou emplacar que sempre o apoiou.
Outro momento envolveu o retorno de Thiago Neves. Celso amarrou todos os valores com o meio-campista, mas precisava que o Fluminense arcasse com uma parte. O problema é que Peter viu que o clube não teria condições. Para pressionar, o chefe da patrocinadora anunciou o jogador publicamente, mesmo sem contrato assinado. Temendo a reação da torcida, Siemsen cedeu.
Ainda em 2013, a saída de Sandro Lima da vice-presidência de futebol deu força política a Peter. Contratos mostraram, em reportagem da ESPN, que o dirigente não era remunerado pelo Fluminense, mas prestava serviços de assessoria esportiva para a Unimed. O conflito de interesse resultou em sua renúncia ao cargo. Celso passou semanas afastado do futebol após o episódio.
Peter Siemsen: ‘O Fluminense é uma instituição, hoje, extremamente cumpridora das regras’
No passado, farpas foram trocadas aos montes. De um lado, o presidente da patrocinadora era considerado “centralizador” em suas decisões, enquanto o do Fluminense era “explosivo” e tinha por trás um grupo político “pouco conciliador”. Nos dias atuais, Celso e Peter se tratam com respeito.
— Gosto do Peter, mas era um cara com quem eu tinha um relacionamento difícil. Era um amigo, advogado que prestou serviço para a Unimed, mas era uma figura complicada. Mas gosto dele. Não tenho problema nenhum com ele — conta Celso.
— A gente tinha horários diferentes. Ele era uma pessoa noturna, e eu, diurna. Só isso já criava uma dificuldade. Mas eu admiro o Celso imensamente. O que ele fez pelo Fluminense está na história. Nada mancha o que ele fez. Sobre se bicar, é natural que a gente tivesse algumas divergências. Eu lutava muito por um caminho mais profissional para o Fluminense— completa Peter.
Oposição gera desacordo com Fluminense
Próximo do fim do ano, ainda houve uma última possibilidade de que a parceria fosse mantida. Na busca do Fluminense por um novo parceiro, surgiu a possibilidade de a Unimed abrir mão do seu espaço como máster e ocupar as mangas da camisa tricolor. Inicialmente, Celso topou, mas isso gerou desacordo com Peter Siemsen.
O departamento de marketing acenou com a possibilidade de fechar com um patrocinador máster a partir de 2015, que pagaria R$ 18 milhões. Porém, os opositores de Celso na Unimed exigiam receber 50% deste valor para ceder o espaço por conta da crise financeira. Peter, que negou quando foi perguntado, bateu o pé e desejou que a nova verba fosse por completo do clube.
Mário Bittencourt fala sobre Celso Barros: “Até o fim do campeonato, o afastamento seguirá”
A crise política também fez com que quedas de braço marcassem o fim da parceria. A cooperativa chegou a atrasar o pagamento de salários e 13º de jogadores por alguns meses e indicava que só o faria se o clube se comprometesse a liberar os atletas para cobrir eventuais prejuízos. O Fluminense aceitava negociar, mas queria ser recompensado da maneira que considerava ideal.
Apesar de pressionado, Celso não perdeu moral dentro da Unimed e venceu um “clássico interno”. Abdu Kexfe, então vice-presidente da Unimed-Rio, declarou apoio a Roberto Monteiro, ex-presidente da Força Jovem Vasco, que lançou a chapa “Identidade Vasco” no fim de 2014. Acabou derrotado por Eurico Miranda. Celso Barros voltaria a vencer eleições na empresa nos anos seguintes.
O bicho, a contabilidade e as saídas
Celso Barros era amado pelos jogadores. Há diversos relatos de carinho. Nas vésperas de jogos decisivos, ele costumava entrar no vestiário e repetir o bordão: “Se ganhar hoje, é bicho”. Os valores variavam de R$ 200 mil a R$ 400 mil. Aumentavam em clássicos. Mais ainda em títulos. De vez em quando, um jogador mais falastrão respondia: “Poxa, ouvi dizer que você pagaria mais, doutor”. Celso aumentava a oferta.
O bicho nunca era pago em dinheiro, mas através de um cartão pré-pago, ou “verdinho” para os mais íntimos. Todo fim de mês era depositado o percentual referente ao que era ganho no mês. O goleiro Ricardo Berna era responsável por fazer a contabilidade, que sempre batia corretamente.
Isso causava até ciúmes: havia quem defendesse que o dinheiro seria apenas para os jogadores; outros queriam que incluísse os funcionários. O então diretor de futebol Rodrigo Caetano e o diretor executivo Sandro Lima foram vozes fortes para que mais pessoas fossem contempladas.
Celso Barros, Fred, Fluminense
André Durão / ge
Essa boa relação ajudou na noite em que Celso Barros convocou os jogadores que recebiam os mais altos valores pagos pela Unimed para uma reunião. Nela, foi comunicado que o pagamento continuaria atrasado, que não seria prioridade quitá-los e poderiam buscar um novo clube — o foco da Unimed seria tirar a rede assistencial do vermelho. Conca, Fred e Gum não compareceram.
— Chamei os jogadores que tinham contratos de imagem conosco e avisei que não poderia arcar. Todo mundo entendeu. Cada um arrumou a sua vida. Só com o Fred que eu acabei me desgastando um pouco, porque ainda tinha muitas contas em relação ao direito de imagem em aberto — afirma Celso.
Como rompeu o vínculo antes do término, a Unimed precisou administrar os contratos que tinha com esses jogadores. O goleiro Diego Cavalieri, o zagueiro Gum, o volante Jean e o atacante Fred renovaram, sendo pagos integralmente pelo Fluminense. Já os outros foram negociados e tiveram seus valores repartidos entre clube e patrocinadora.
Darío Conca: deixou o Fluminense rumo ao Shanghai SIPG. Na ocasião, passou a receber o terceiro maior salário do mundo. Os chineses pagaram 3 milhões de euros (R$ 9,2 milhões na época), e o Tricolor e a Unimed dividiram o valor;
Cícero: foi emprestado por 18 meses ao Al Gharafa, do Catar;
Wagner: foi negociado para o Tianjin Teda por 4 milhões de dólares (R$ 12,8 milhões na época). O Fluminense teve direito a apenas 20% do valor, mas não repassou o respectivo à Unimed por entender que ela não tinha direito aos 80%. O caso foi ajuizado.
Rafael Sobis: deixou o Fluminense em 2015 rumo ao Tigres, do México. Um dia após o anúncio do fim da parceria entre clube e Unimed, o empresário do atacante revelou que ele procurava uma rescisão amigável, o que foi feito.
Walter: estava emprestado pelo Porto, mas o Fluminense se comprometeu a adquirir 25% dos direitos econômicos do atacante. O pagamento poderia ser feito de duas formas: pagamento de R$ 6,2 milhões ou cessão de dois jogadores da base escolhidos pelos portugueses. Ele deixou o clube em 2015 e assinou com o Athletico;
Henrique: permaneceu no Fluminense até 2017, mas, com salários atrasados, entrou com uma liminar na Justiça para rescindir. Acertou com o Corinthians posteriormente;
Carlinhos: seu contrato ia até o final de 2014, e o lateral-esquerdo decidiu não renovar com Fluminense. Foi contratado pelo São Paulo;
Bruno: tinha contrato até 2016 com o Fluminense, mas o São Paulo pagou a sua multa rescisória. O valor foi dividido entre o clube e a Unimed.
Mais jogadores entraram na Justiça posteriormente. O lateral-esquerdo Chiquinho pediu R$ 400 mil entre imagem e verbas rescisórias de Fluminense e Unimed. Já o atacante Fred cobrou R$ 9,46 milhões por atraso em direitos de imagem.
Carlinhos, Fred Wagner, Walter, Fluminense 2014
Cezar Loureiro / Agência o Globo
Desmandos, crise no vestiário e vaquinhas
Bastaram poucos meses sem a Unimed para o Fluminense ver a ficha cair quanto à falta de profissionalização do clube. Esta, inclusive, é a principal crítica ao modelo adotado pela patrocinadora: ao decidir focar apenas no futebol, tornou o clube refém de suas escolhas.
Nunca houve reclamação quanto ao dinheiro investido pela Unimed, mas quanto à forma como ele era executado. Por exemplo, funcionários do departamento médico afirmam no CT Carlos Castilho que o clube vive hoje a sua melhor estrutura no setor. O irônico é que a cooperativa era… de médicos. A falta de investimento no setor causava estranhamento.
Xerém, então, era totalmente de controle do Fluminense e descartada pela patrocinadora. A sua reforma só aconteceu em 2012 e, antes, recebia o apelido pejorativo da Carandiru. Os motivos eram banheiros com portas quebradas e sujos, colchões rasgados, camas identificadas com número em papel e quartos com marcas de mofo pelas paredes.
Xerém antes da reforma
Reprodução
Outro problema era a gestão de grupo. Desmandos, brigas internas e demissões sem maiores explicações minavam as campanhas. De 2003 a 2014, o clube brigou seis vezes contra o rebaixamento no Brasileiro.
Algumas decisões causavam irritação no elenco. A queda de Carlos Alberto Parreira, em 2009, chocou os jogadores devido ao pouco tempo de trabalho. No mesmo ano, Renato Gaúcho teve campanha pior e permaneceu no cargo por mais tempo.
Como apenas os medalhões do elenco eram pagos pela Unimed, todos os outros jogadores, de apostas a garotos da base, eram de responsabilidade do Fluminense. Ou seja, havia momentos em que jogadores ganhavam mais de R$ 1 milhão por mês e estavam em dia, enquanto outros recebiam R$ 100 mil e ficavam atrasados. O vestiário não suportava. Não foram poucas as vaquinhas feitas para pagar esses atletas e funcionários.
Por fim, como a Unimed tinha o poder devido ao lado financeiro, existia a ameaça de diminuição do investimentos caso o clube tomasse decisões das quais a empresa discordava. A venda forçada de atletas para gerar lucro mesmo em momentos decisivos da temporada também era comum.
Processos em aberto
Após 10 anos do fim da parceria, ainda há processos em aberto entre Fluminense e Unimed. Os principais deles têm a ver com direitos de imagem de alguns atletas e valores relativos às suas vendas. Na maioria dos casos, o Tricolor alega que, como a cooperativa de médicos decidiu romper o contrato unilateralmente, ela perdeu o direito a ter a sua porcentagem — que poderia chegar a 90% do total arrecadado. A Unimed defende que segue tendo direito.
O Fluminense ganhou alguns casos, perdeu outros, e a dívida com a cooperativa já chegou a ser de R$ 90 milhões. O Tricolor também cobrou R$ 45 milhões. Os casos ainda correm na Justiça.
Também há processos abertos com atletas numa situação juridicamente curiosa. A maioria dos casos tem a ver com encargos trabalhistas, que foram assinados pela Unimed, mas são cobrados do Fluminense. Mesmo com o clube pagando 10% de um valor salarial, o atleta pede na Justiça em cima dos 100% que recebia devido ao assinado em contrato.
Na Justiça, o reclamante escolhe o réu, e como os jogadores eram pagos pela Unimed, o Fluminense se tornou alvo. Por exemplo, mesmo que o Tricolor pagasse R$ 100 mil (entre salários e encargos trabalhistas) e a Unimed ficasse responsável por R$ 900 mil, os R$ 1 milhão total teria que ser pago pelo clube caso perdesse o processo.
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