Além da tragédia humana, conflito em Gaza provoca catástrofe ambiental sem precedentes, diz ONU

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Guerra entre Israel e Hamas destruiu sistemas de saneamento e higiene do território. Cada metro quadrado do território palestino está coberto por 107 kg de entulho. Tamque israelense manobra ao redor de local destruído da Faixa de Gaza, em 17 de junho de 2024
Amir Cohen/Reuters
Para além das milhares de mortes, o conflito entre Israel e Hamas em Gaza gerou uma catástrofe ambiental sem precedentes no território, segundo um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira (18).
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A poluição contamina o solo, a água e o ar da região, e os bombardeios israelenses já produziram cerca de 39 milhões de toneladas de detritos, segundo o documento. Cada metro quadrado da Faixa de Gaza está agora coberto por mais de 107 kg de entulho.
Isso é mais de cinco vezes os destroços gerados durante a batalha por Mosul, no Iraque, em 2017.
A guerra entre Israel e o Hamas, facção que controla a Faixa de Gaza, reverteu rapidamente o limitado progresso na melhoria das instalações de dessalinização de água e de tratamento de águas residuais da região, na restauração de biomas costeiros e nos investimentos em instalações de energia solar, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
“Tudo isto está prejudicando profundamente a saúde das pessoas, a segurança alimentar e a resiliência de Gaza”, afirmou a Diretora Executiva do PNUMA, Inger Andersen.
Imagem mostra escola da ONU atacada por Israel na Faixa de Gaza
BASHAR TALEB / AFP
O ambiente de Gaza já sofria devido aos conflitos recorrentes, o rápido crescimento urbano e a elevada densidade populacional, antes do início do conflito mais recente, após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.
“Os impactos ambientais não serão sentidos apenas localmente, onde ocorrem os combates, mas poderão ser deslocados ou mesmo sentidos à escala global através das emissões de gases com efeito de estufa”, afirma Eoghan Darbyshire, da ONG Observatório de Conflitos e Ambiente.
Infraestrutura básica destruída
A avaliação da ONU é resultado de um pedido de dezembro de 2023 da Autoridade Palestina para que o PNUMA faça um balanço dos danos ambientais.
Os sistemas de água, saneamento e higiene estão agora quase totalmente extintos, concluiu o relatório, com as cinco estações de tratamento de águas de Gaza inoperantes.
A ocupação de longo prazo de Israel já tinha colocado grandes desafios ambientais nos territórios palestinos no que diz respeito à qualidade e disponibilidade da água, de acordo com um relatório de 2020 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.
Atualmente, mais de 92% da água na Faixa de Gaza é considerada imprópria para consumo humano.
A Faixa de Gaza tinha uma das maiores densidades de painéis solares em telhados do mundo, com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede nos EUA, estimando em 2023 cerca de 12.400 desses sistemas. Mas, desde então, Israel destruiu uma grande parte da florescente infra-estrutura de Gaza, e painéis partidos podem vazar chumbo e outros metais pesados, contaminando o solo.
Desde a trégua de uma semana em novembro, repetidas tentativas de conseguir um cessar-fogo falharam, com o Hamas pedindo o fim permanente da guerra e na retirada total de Israel de Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se recusa a encerrar a guerra antes que o Hamas seja erradicado e os reféns capturados por militantes do Hamas durante o ataque de 7 de outubro ao sul de Israel, que desencadeou a guerra, sejam libertados.
Analisando para a escala da destruição ambiental, “na minha opinião, grandes áreas de Gaza não serão recuperadas dentro de uma geração, mesmo com financiamento e vontade ilimitados”, diz Darbyshire.
A guerra entre Israel e Hamas teve início em outubro de 2023, como resposta aos ataques terroristas do dia 7 daquele mês perpetrados pelo grupo palestino, que deixou cerca de 1.200 mortos.
Desde então, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que a ação militar israelense na Faixa de Gaza já deixou 37 mil mortos, incluindo 15 mil crianças.

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