Eleições na África Sul: partido de Mandela pode perder maioria pela 1º vez, sugerem resultados iniciais

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Muitos eleitores culpam partido governista pelos elevados níveis de corrupção, criminalidade e desemprego no país. Resultado final das eleições deve ser divulgado neste fim de semana. Maioria parlamentar do ANC no governo está ameaçada na África do Sul
AFP via BBC
Foram anunciados os primeiros resultados das eleições consideradas as mais disputadas na África do Sul desde que o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) chegou ao poder, há 30 anos.
Com resultados de 27% dos distritos eleitorais contabilizados até agora, o ANC lidera com 43%, seguido pela Aliança Democrática (DA, em inglês) com 25%.
Os radicais Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF, em inglês) têm 9%, enquanto o Partido uMkhonto weSizwe (Partido MK) do ex-presidente Jacob Zuma tem 8%.
O resultado final deve ser divulgado neste fim de semana.
Os resultados iniciais sugerem que o ANC perderá a maioria parlamentar pela primeira vez desde que Nelson Mandela levou o partido à vitória após o fim do sistema racista do apartheid, em 1994.
Muitos eleitores culpam o ANC pelos elevados níveis de corrupção, criminalidade e desemprego no país.
O respeitado Conselho de Investigação Científica e Industrial (CSIR) e o site News24 projetaram que a votação final do partido poderá chegar aos 42%, uma grande queda em relação aos 57% obtidos nas eleições de 2019.
Isso pode forçá-lo a formar uma coligação com um ou mais partidos, a fim de formar maioria no parlamento.
O DA tem políticas econômicas liberais, enquanto tanto o EFF como o MK defendem maior intervenção estatal e nacionalização. Assim, a escolha por um parceiro faria uma enorme diferença na direção futura da África do Sul.
Não está claro se o presidente Cyril Ramaphosa permanecerá no poder, pois poderá ser pressionado pelo ANC a renunciar, caso o partido tenha menos de 45% dos votos finais, diz o professor William Gumede, presidente da organização sem fins lucrativos Democracy Works Foundation.
“O ANC pode transformá-lo num bode expiatório, e grupos dentro do partido podem fazer pressão para que ele seja substituído pelo seu vice, Paul Mashatile. A EFF e o MK também provavelmente exigirão sua demissão antes de concordarem com qualquer coligação com o ANC”, diz o professor Gumede à BBC.
Os sul-africanos não votam diretamente para presidente. Em vez disso, elegem os membros do parlamento que escolherão o presidente.
Os resultados iniciais mostram que o ANC está sofrendo pesadas perdas para o MK, especialmente em KwaZulu-Natal, onde o partido de Zuma lidera com 43% dos votos contra 21% do ANC.
Zuma causou uma grande surpresa ao anunciar, em dezembro, que estava abandonando o ANC para fazer campanha pelo MK.
KwaZulu-Natal é a região natal de Zuma e a província com o segundo maior número de votos, o que a torna crucial para determinar se o ANC mantém a sua maioria parlamentar.
Embora Zuma tenha sido impedido de concorrer ao parlamento devido a uma condenação por desacato ao tribunal, o nome dele ainda apareceu no boletim de voto como líder do MK.
Se o MK vencer KwaZulu-Natal, seria uma “grande reviravolta” e anunciaria a “potencial dizimação” do ANC na província, diz Gumede.
O ANC também corre o risco de perder a sua maioria no coração econômico de Gauteng, onde o partido tem atualmente 36% contra 29% do DA.
A eleição de quarta-feira (29/5) registrou longas filas de eleitores nos locais de votação até altas horas da noite em todo o país.
De acordo com a comissão eleitoral, a última sessão foi encerrada às 3h de quinta-feira (30/5), no horário local.
As filas, como esta em Joanesburgo, lembram a votação de 1994 na África do Sul
Getty Images via BBC
Um responsável eleitoral em Joanesburgo disse à BBC que as filas lembravam as históricas eleições de 1994, quando os negros puderam votar pela primeira vez.
Sifiso Buthelezi, que votou no Joubert Park de Joanesburgo – o maior colégio eleitoral da África do Sul – disse à BBC: “A liberdade é ótima, mas precisamos combater a corrupção.”
A mudança tem sido um sentimento recorrente, especialmente entre os eleitores mais jovens.
“A participação entre eles foi elevada e votaram contra o ANC”, diz o professor Gumede.
Ayanda Hlekwane, membro da chamada geração “nascida livre” da África do Sul, o que significa que nasceu depois de 1994, disse que, apesar de ter três diplomas, ainda não tem um emprego.
“Estou trabalhando na minha proposta de doutorado para poder voltar a estudar caso não consiga um emprego”, disse ele à BBC em Durban.
Mas Hlekwane disse estar otimista quanto à possibilidade de as coisas mudarem.
Espera-se que o apoio ao ANC seja maior entre a geração mais velha.
Uma mulher de 89 anos, Elayne Dykman, disse à BBC que espera que os jovens na África do Sul não considerem o voto dela como garantido.
Concorreram um recorde de 70 partidos e 11 independentes, com os sul-africanos votando num novo parlamento e em nove legislaturas provinciais.
O DA assinou um pacto com dez deles, concordando em formar um governo de coligação se obtiverem votos suficientes para tirar o ANC do poder.
Mas isso é altamente improvável, prevendo-se que o ANC continue a sendo o maior partido, colocando-o na primeira posição para liderar uma coligação.

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