Isolado, Netanyahu empurra Israel para o abismo

Sem ceder à pressão internacional, premiê israelense fala em “erro trágico” em Rafah, mas se mantém na ofensiva. Não há nada tão ruim que não possa piorar. Em quase oito meses de guerra na Faixa de Gaza, o ditado popular se renova na escala de sofrimento, fome e catástrofe humanitária. Num discurso no Parlamento israelense, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu definiu a morte de pelo menos 45 civis palestinos após bombardeio em Rafah como um “erro trágico”.
Suas palavras destinavam-se basicamente a acalmar a indignação da comunidade internacional, sobretudo aliados tradicionais de Israel, diante do que poderia ser mais um desastroso ponto de virada que levasse a um cessar-fogo.
Mas não. Netanyahu se manteve na ofensiva, sem expressar arrependimento, tal como ocorreu em outros incidentes dramáticos, como, por exemplo, o ataque que matou no mês passado sete funcionários da ONG World Central Kitchen.
“Aqueles que dizem que não estão preparados para enfrentar a pressão levantam a bandeira da derrota. Não levantarei tal bandeira, continuarei lutando até que a bandeira da vitória seja hasteada”, repetiu nesta segunda-feira no Knesset.
No entender de Tehila Wenger, vice-diretora da sucursal israelense da ONG Iniciativa de Genebra, a atual política de perseguir “a vitória total”, sem definir objetivos diplomáticos e políticos que possam tirar israelenses e palestinos do crescente ciclo de derramamento de sangue, não tornou Israel mais forte.
“Apenas confirma a fraqueza e a falta de visão dos indivíduos que poderão em breve ser fugitivos da justiça internacional”, pondera, referindo-se ao mandado de prisão do premiê e de seu ministro da Defesa, pedido pelo promotor Karim Khan, do Tribunal Penal Internacional.
O chamado dano colateral em Rafah — mulheres e crianças com queimaduras graves em tendas incendiadas — foi justificado pelo governo com a morte de dois importantes líderes do Hamas, Khaled Nagar e Yassin Rabia.
O primeiro-ministro ignorou a decisão da Corte Internacional de Justiça, que dois dias antes, ordenara que Israel interrompesse todas as operações militares no Sul da Faixa de Gaza.
Entre o rol de críticas e condenações a Netanyahu, prevaleceu a certeza que mais mobiliza os israelenses: a insistência na ofensiva em Rafah, onde se encontram pelo menos 350 mil deslocados de Gaza, afasta a menor possibilidade de avanço nas negociações para o retorno dos reféns mantidos pelo Hamas.
O primeiro-ministro dá sinais de que não tem interesse em tal acordo, para desespero das famílias dos sequestrados, que agora pedem em voz alta a sua renúncia.
Sem ceder à pressão, Netanyahu arrasta Israel na direção do abismo. Dizer que o país está isolado e tornou-se pária internacional tornou-se figura de redundância. Líderes como Joe Biden, Emmanuel Macron, Rishi Sunak e Olaf Scholz estão pressionados internamente pelo apoio a Israel e tentam, o quanto podem, demarcar distância do premiê. Mas tudo isso ainda se mostra insuficiente para pará-lo.

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