Partido de Mandela perde maioria no Parlamento da África do Sul pela primeira vez desde o fim do Apartheid

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Pela primeira vez, em três décadas, a insatisfação da população com desemprego, desigualdade e escassez de energia levou a atual legenda governista, o Congresso Nacional Africano, a ter apenas 40% das cadeiras no Legislativo sul-africano. Os resultados eleitorais de 2024 exibidos no Centro de Operações de Resultados (ROC) em Midrand, Joanesburgo, na África do Sul
AP/Themba Hadebe
Após três décadas no poder, é a primeira vez que o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) não conseguiu maioria simples nas eleições da África do Sul desde o fim do regime do Apartheid.
Com mais de 98% da apuração concluída neste sábado (1º), o ANC alcançou 40,29% dos votos, segundo a agência Reuters. Uma grande queda em relação aos 57,5% obtidos na última eleição nacional, em 2019.
A justificativa para o declínio do partido de Nelson Mandela (1918-2013), símbolo da luta pelo fim do regime de segregação racial, é a insatisfação da população sul-africana com desemprego, desigualdade e escassez de energia.
Na contramão, o principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA), angariou 21,63% dos votos e o uMkhonto we Sizwe (MK), um novo partido liderado pelo ex-presidente Jacob Zuma, conseguiu 14,71%.
Partidos da África do Sul já se preparavam na sexta-feira (31) para negociar uma coalizão, prevendo que a atual legenda governista, o ANC, ficaria sem maioria em 30 anos de democracia.
“Podemos falar com todos e com qualquer pessoa”, disse Gwede Mantashe, presidente do ANC e atual ministro das Minas e da Energia, aos jornalistas em comentários transmitidos pela South African Broadcasting Corporation (SABC), esquivando-se a uma pergunta sobre quem é o partido que estava a discutir uma possível coligação.
Alianças incertas
Os potenciais aliados, porém, são desde a Aliança Democrática, uma legenda pró-mercado, a partidos insurgentes de ex-membros do ANC que deixaram a legenda.
Investidores da economia mais industrializada da África esperam que as incertezas acabem rapidamente.
O balanço final dos votos, previsto para domingo (2), vai determinar o número de assentos que as legendas terão na Assembleia Geral, que elege o próximo presidente.
Quase 28 milhões de sul-africanos estavam registrados para votar, e a participação deverá rondar os 60%, segundo dados da comissão eleitoral independente que dirige as eleições.
O mandatário, no fim, pode continuar sendo o líder do ANC e atual presidente, Cyril Ramaphosa. O resultado ruim, contudo, pode alimentar discussões sobre a sua liderança. Alguns partidos questionaram o que consideram ser inconsistências na contagem de votos que podem levar à contestação de alguns resultados.
A vice-secretária-geral do ANC, Nomvula Mokonyane, afirmou que o mandatário não vai renunciar. “Ninguém vai renunciar… Coletivamente, todos nós estamos confiantes de que ele (Ramaphosa) continuará como presidente do ANC”, afirmou ela a repórteres no centro de resultados eleitorais.
“Há paz, há harmonia. Estamos todos a falar uns com os outros. Eu (gostaria) que o clima que existe aqui pudesse permear as comunidades e os eleitores”, completou Mokonyane à Associated Press.
Na sexta-feira, porém, um alto funcionário do ANC o apoiou para permanecer como líder do partido, e analistas dizem que ele não tem um sucessor óbvio.
Um acordo para manter o ANC na presidência poderia envolver o apoio da oposição em troca de cargos no gabinete ou de maior controle do Parlamento, talvez até do presidente da Câmara.
Desde o pleito histórico de 1994, que acabou com o domínio da minoria branca, o ANC venceu todas as eleições presidenciais sul-africanas. Mas, na última década, os sul-africanos viram a economia estagnar, o desemprego e a pobreza subirem e a infraestrutura do país se deteriorar, causando quedas regulares de energia elétrica.

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