Russos vão às urnas a partir desta sexta para reeleger Putin até 2036

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No poder desde 2000, Putin deverá garantir seu quinto mandato como presidente. Ele também foi primeiro-ministro entre 2008 e 2012, mas muitos analistas avaliam que era ele quem governava na prática. Foto de 28 de dezembro mostra o presidente Vladmir Putin em reunião com CEO de uma estatal russa
Sputnik/Gavriil Grigorov/Kremlin via Reuters
Os eleitores da Rússia vão às urnas entre esta sexta-feira (15) e domingo, em três dias de votação, para a eleição presidencial que tem como candidato o atual presidente, Vladimir Putin, e três candidatos fantoches que, segundo a agência de notícias Associated Press, já deram declarações públicas de apoio ao atual líder.
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Maior país do mundo em área territorial e com uma população de 141 milhões de habitantes, a Rússia adotou a votação em três dias para dar conta de regiões com 11 fusos horários diferentes. São cerca de 114 milhões de eleitores.
É certo que ele será reconduzido à presidência pela quinta vez, de acordo com a mídia internacional. Putin está no poder há 24 anos e é o presidente mais longevo da Rússia desde Josef Stalin, da época da União Soviética –Putin tem chance de ultrapassar os quase 30 anos de Stalin no comando: o atual presidente mudou a Constituição em 2020 para poder ficar no cargo até 2036 (leia mais abaixo).
O peso desse longo mandato e a supressão completa das vozes eficazes da oposição interna dão a Putin uma mão muito forte – e talvez irrestrita. Políticos de oposição presos, como aconteceu com Alexei Navalny, morreram em circunstâncias obscuras, como Boris Nemtsov, ou foram classificados como terroristas e deixaram o país, como Garry Kasparov.
Na prática, Putin não permite que opositores reais disputem eleições contra ele –foi o que aconteceu neste ano (leia mais abaixo).
Veículos de imprensa foram banidos –inclusive o “Novaya Gazeta”, cujo fundador venceu um Nobel da Paz por causa do jornal.
Democracia administrada
As eleições não são para valer: trata-se só de uma “cortina”, e não algo real, e acontecem porque a Constituição determina que é preciso realizá-las, diz ao g1 Lenina Pomeranz, professora da USP especializada em economia russa. “Putin controla as eleições para continuar no poder”, afirma ela.
Nas eleições atuais, havia outros dois candidatos “de verdade”:
Boris Nadezhdin, de centro-direita, e
Yekaterina Duntsova
“Pelas normas, eles deveriam apresentar 100 mil candidaturas de apoio para se candidatarem. Eles conseguiram mais do que 100 mil, mas a comissão eleitoral afirmou que encontrou defeitos nos formulários da Yekaterina, e ela resolveu apoiar o Boris Nadezhdin. Só que a Comissão Central Eleitoral invalidou milhares de assinaturas que ele apresentou”, diz a professora Lenina.
Ela afirma que na Rússia nem mesmo se diz que o regime é uma democracia, mas, sim, uma “democracia controlada”.
Os candidatos que permanecem nas cédulas —na prática, são liados de Putin— são os seguintes:
Nikolai Kharitonov: Deputado de 75 anos e candidato pelo Partido Comunista. As pesquisas mostram que ele tem cerca de 4% das intenções de voto.
Leonid Slutsky: Deputado de um partido nacionalista. Ele tem cerca de 4% das intenções de voto.
Vladislav Davankov: vice-presidente da Câmara de Deputados. Aparece com cerca de 5% das intenções de votos.
Na Rússia, milhares de pessoas desafiaram o kremlin e compareceram ao funeral de Alexei Navalny
E a guerra na Ucrânia?
Mesmo antes da campanha, o presidente russo descreve a guerra como uma espécie de batalha contra o Ocidente na qual a própria sobrevivência da Rússia está em jogo.
Em um discurso no mês passado, ele acusou os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de tentaram trocar a Rússia por “um lugar dependente e decadente para que possam fazer o que quiserem”.
Na campanha eleitoral, Putin tem afirmado que vai cumprir seus objetivos na Ucrânia.
Ele justifica a invasão do país vizinho, a partir de fevereiro de 2022, com os seguintes argumentos:
Era preciso invadir para proteger as pessoas de origem russa na região leste da Ucrânia.
O governo da Ucrânia era uma ameaça para a própria Rússia porque iria se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Putin tem afirmado que as forças russas estão em vantagem após o fracasso da contraofensiva ucraniana no ano passado, e que “mais cedo ou mais tarde”, tanto a Ucrânia como os países do Ocidente vão aceitar um acordo nos termos dele.
O presidente russo também tem elogiado as tropas na Ucrânia e prometeu torná-las a nova elite da Rússia.
Os russos comuns sabem pouco sobre os problemas militares, como as baixas. A mídia estatal divulga apenas os sucessos.
Lenina, a professora da USP, afirma que os russos não gostam de guerra e que não há apoio entusiasmado à invasão da Ucrânia, mas que foram poucos os tempos de paz –ou seja, de certa forma, estão acostumados a situações como essa.
E a economia?
Quando a Rússia atacou a Ucrânia, diversos países do Ocidente cortaram relações econômicas e impuseram sanções a quem negociasse com os russos.
No entanto, as indústrias militares tornaram-se um motor de crescimento. Os pagamentos para centenas de milhares de homens ligados diretamente ou indiretamente com a guerra ajudaram a impulsionar a demanda do consumidor.
Além disso, a Rússia tem conseguido vender petróleo para alguns grandes consumidores.
A economia deve crescer 2,6% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional. A inflação é prevista em mais de 7%, mas o desemprego está baixo.
Em sua campanha, Putin prometeu subsídios do governo para famílias jovens, especialmente com filhos, para comprar casas. Isso acelerou o setor de construção.
Ele também se comprometeu a investir mais em saúde, educação, ciência, cultura, esportes e em políticas contra a pobreza.
Algo diferente no ar
Alexei Navalny era o principal político de oposição na Rússia e a pessoa mais famosa que criticava Putin publicamente. Ele estava preso, cumprindo uma pena de 19 anos, condenado como terrorista, quando morreu em uma penitenciária na região ártica.
Outros líderes da oposição também receberam longas penas, comparáveis às dadas aos “inimigos do povo” durante o período de Stálin.
Putin tem tornado a política russa mais fechada desde que se tornou presidente, no ano 2000. Depois da invasão da Ucrânia, no entanto, a situação na Rússia ficou ainda mais repressiva politicamente.
Poucos dias após o começo da invasão da Ucrânia, foi aprovada uma lei que tornava um crime qualquer crítica pública à guerra. A polícia começou a dispersar rapidamente reuniões não autorizadas. O número de prisões e julgamentos aumentou drasticamente, e penas de prisão prolongadas são mais comuns.
No entanto, algo está mudando, afirma Lenina: “Nunca no passado um opositor teve uma demonstração de apoio como no velório do Alexei Navalny. Foram longas filas para ver o caixão. Isso é notável porque mostra que de certa forma, as coisas estão mudando, as pessoas estão perdendo medo de fazer manifestação de massa”.
A trajetória dele no poder
Putin assumiu como líder tampão quando Boris Yeltsin renunciou, no dia 31 de dezembro de 1999. Ele foi eleito pela primeira vez em maio de 2000, e ficou dois mandatos no poder.
Então, em 2008, Dimitri Medvedev, um aliado, se tornou presidente, mas Putin manteve o poder no cargo de primeiro-ministro.
Em 2012 ele voltou a ser eleito presidente, e foi reeleito em 2018 para um mandato até 2024. Pela Constituição, deveria ser o último dele, mas o presidente conseguiu alterar a Constituição e, agora, ele pode ficar no cargo até 2036.
Como comparação, no período em que Putin esteve no poder, os EUA tiveram os seguintes presidentes: Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden.
Só como comparação, enquanto Putin esteve no poder, os EUA tiveram os seguintes presidentes: B
Os presidentes da Rússia e dos EUA, Vladimir Putin (esq.) e Barack Obama, trocam olhar sério durante cumprimento na 11ª Cúpula do G-20, em Hangzhou, na China
Alexei Druzhinin/AFP

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