Autismo: primeiro deputado a tornar pública condição quer inscrever diagnóstico na identidade

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Mais votado do Amazonas, deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) quer emplacar políticas públicas voltadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). O deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) é o primeiro parlamentar a tornar público o diagnóstico de autismo no Congresso Nacional. E ele quer usar a causa para encampar projetos que facilitem a vida das pessoas que, assim como ele, precisam provar constantemente que têm a condição para ter acesso a serviços.
Amom está em seu primeiro mandato e foi o mais votado pelo Amazonas. Aos 23 anos, o deputado é autor de um projeto que propõe a inscrição do diagnóstico na carteira de identidade com o objetivo de agilizar esse processo.
Aos 23 anos, o dep. Amom Mandel (Cidadania-AM) está em seu primeiro mandato na Câmara.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
“Nesse projeto eu brigo para que seja obrigatória a inclusão da informação sobre a deficiência na carteira de identidade, se for solicitado pelo cidadão. O projeto foi apensado a um outro que está pronto para pauta do plenário, mas desde 2019 não tem movimentação. Ou seja, se não tiver alguém acompanhando de perto, elaborando estratégias para que a tramitação seja rápida, não anda”, afirmou.
Outra iniciativa do parlamentar é um projeto que torna obrigatório que estados destinem recursos adicionais para escolas da rede pública que disponham de salas multifuncionais voltadas ao aprendizado de autistas.
“É importante ressaltar que a manutenção e o aprimoramento dessas salas requerem investimentos adicionais. Recursos são necessários para a capacitação de professores especializados, aquisição de materiais didáticos adaptados, adaptação de espaços físicos e outras medidas que garantam um ambiente propício ao desenvolvimento dos alunos com TEA [Transtorno do Espectro Autista]”, explicou o deputado.
Quem é
O cargo no Congresso Nacional não é o primeiro da vida política do deputado. Entre 2021 e janeiro de 2023, ele foi vereador em Manaus, capital do Amazonas. Neste ano, Mamdel é pré-candidato à prefeitura da cidade.
O deputado também é ativista, empresário e estudante de Direito na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Amom Mandel votando durante as eleições de 2022.
Divulgação
Em uma rede social, na segunda-feira (1º), Amom afirmou que nem o “básico” é garantido para as pessoas diagnosticadas no TEA.
“Existe um apagão de dados sobre a população autista no Brasil. Temos instituições na luta para fazer estimativas, mas não temos o governo federal trazendo dados oficiais. Se não temos o básico, como é possível ter políticas públicas elaboradas de forma eficaz? Como o orçamento pode ser distribuído corretamente em ações que tragam impactos reais de inclusão na vida dessas pessoas?”, questionou.
O deputado é autor de um requerimento aprovado na Comissão de Saúde que prevê a realização de uma audiência pública para discutir o assunto.
A audiência, ainda sem data, contará com a presença de representantes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Saúde (MS), Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade) e representantes de organizações não governamentais.
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Dia a Dia no Congresso
O deputado afirmou que decidiu tornar público o diagnóstico de autismo, porque estava sofrendo com ataques e fake news de opositores no Amazonas.
“Inventaram informações sobre a minha aparência, a minha saúde, o meu jeito de ser, fizeram suposições e teorias. Lá, infelizmente, é comum que alguns blogs e portais postem informações irresponsáveis, porque estão sendo pagos por adversários políticos”.
Amom destaca que uma das maiores dificuldades como parlamentar é a socialização. Em uma Casa com outros 512 parlamentares, o desafio é ainda maior.
Deputado Amom Mamdel no plenário da Câmara.
Divulgação
Por isso, ele conta que traçou uma estratégia para se aproximar dos parlamentares que podem ajudá-lo em suas pautas. “Não circulo tanto, mas tenho contato com os líderes, com deputados influentes nas comissões ou com o [Arthur] Lira, por exemplo”, disse ao g1.
Tema na pauta
No Congresso, o parlamentar afirmou que enfrenta dificuldades para colocar sua pauta em debate, porque a maioria dos parlamentares não vê o assunto com prioridade.
“Acredito que o nosso trabalho em algumas comissões tem sido essencial, como na de Saúde e na da Pessoa com Deficiência. Tenho me aproximado cada vez mais de diferentes parlamentares que demonstram uma maior abertura, creio que é na união que esse tema ganhará forças”.
Para especialistas, é necessário que representantes com conhecimento sobre o autismo se envolvam nas pautas ligadas ao tema.
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“É importante ter autistas falando sobre autismo, e que estudem sobre como outras pessoas autistas também com necessidades diferentes podem se beneficiar de políticas públicas de saúde”, diz Bruna Ituassu, médica pós-graduada em neurologia pediátrica e especialista em autismo.
“Você ser um parlamentar que está no espectro autista traz um mar de possibilidades, ter um autista ali significa que o meu filho pode chegar lá. Mas se meu filho tem mais dificuldades que esse representante, como ele pode viabilizar o caminho até lá? E esse é o principal papel dos parlamentares: viabilizar tratamentos e terapias de qualidade”, diz a médica.
Para a especialista, o enfoque deve ser também para as famílias e cuidadores envolvidos, que podem ter suas rendas afetadas para manter o cuidado das crianças com autismo — e aplicado na formação dos profissionais. “A gente fala muito sobre diagnóstico precoce, mas a gente não qualifica o profissional da ponta, o professor, o médico da Unidade Básica de Saúde. É um sistema que precisa funcionar”, afirma.

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