Bolsonaro na embaixada da Hungria: novas explicações só na área judicial, avalia Itamaraty

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Posicionamento de embaixador sobre estadia do ex-presidente ter sido ‘visita normal’ não convenceu a diplomacia brasileira. Explicações agora são cobradas pelo STF e PF. Bolsonaro se escondeu em embaixada após ter passaporte apreendido, diz jornal NY Times
Reprodução/NY Times
Após o encontro entre o embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, e a secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, Maria Luisa Escorel, o Itamaraty não deve convocar – a princípio – representantes do governo húngaro para novas conversas sobre estadia a de Bolsonaro na Embaixada da Hungria, em Brasília, revelada pela reportagem do The New York Times.
O entendimento de um diplomata ouvido pela GloboNews, de forma reservada, é de que, nesse momento, as explicações devem ser dadas pelos ex-presidente na área judicial, e não deverão ocorrer na área diplomática.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu prazo de 48h para o ex-presidente Jair Bolsonaro explicar por que passou duas noites hospedado na embaixada.
Na diplomacia, o simbolismo de chamar um embaixador para conversas depende do contexto. Nesse caso específico, o Brasil queria a prestação de informações claras e detalhadas sobre a ida de Bolsonaro à embaixada – o que não ocorreu.
Após a publicação da reportagem, a defesa do ex-presidente admitiu a estadia de Bolsonaro entre os húngaros. No comunicado divulgado à imprensa, os advogados do ex-presidente disseram que ele “passou dois dias hospedado na embaixada da Hungria em Brasília para manter contatos com autoridades do país amigo” e que, no período, o ex-presidente “conversou com diversas autoridades húngaras “atualizando os cenários políticos das duas nações”.
Ainda nesta segunda-feira (25), após evento no Centro de São Paulo, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre o caso. “Por ventura, dormir na embaixada, conversar com embaixador, tem algum crime nisso?”, questionou o ex-presidente.
‘Visita normal’ não convenceu
Apesar de o Itamaraty não fazer novas convocações, a avaliação de diplomatas ouvidos pela GloboNews é de que a resposta dada por Halmai sobre a estadia de Bolsonaro por dois dias na embaixada o país ter sido uma “visita normal”, não convenceu a diplomacia brasileira. Pelo contrário, nos bastidores, a repercussão foi motivo de ironia.
“Ninguém cai nessa lorota. [a resposta foi] Péssima. Fica difícil manter relações regulares com eles [Hungria] nesse contexto.”, afirma
Imagens mostram Bolsonaro na Embaixada
As imagens reveladas pelo The New York Times mostram que Bolsonaro ficou hospedado na embaixada da Hungria poucos dias após a operaçao determinada pelo ministro STF.
Os registros foram feitos entre 12 e 14 de fevereiro. no dia 8 daquele mês, Bolsonaro havia sido alvo de uma operação da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe de estado. Na operação, policiais federais apreenderam o passaporte do ex-presidente no escritório do Partido Liberal. (PL).
No mesmo dia, horas após a operação, Orbán utilizou uma rede social para declarar apoio ao amigo. Orbán postou uma foto com Bolsonaro, com a seguinte legenda: “Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente Jair Bolsonaro”.
Por conta da postagem, Hamai foi chamado ao Itamaraty para conversas. Ou seja, é a segunda vez em menos de 2 meses que o embaixador húngaro é chamado ao MRE para conversas.
Na prática, pelo direito internacional, como embaixadas são áreas invioláveis, Bolsonaro só poderia ser alcançado por agentes brasileiros, em caso de uma nova operação, com o consentimento do governo húngaro.
Bolsonaro é próximo politicamente e ideologicamente do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, político de extrema-direita. Durante seu mandato, Bolsonaro chegou a chamar Orbán de “irmão”.

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