PF quer investigar Zambelli por possível irregularidade na internação de hacker em hospital

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Conversas apreendidas indicam que deputada providenciou atendimento para Delgatti em hospital de SP para o qual destinou emendas. Houve tentativa de ocultar identidade do hacker, diz PF. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) é alvo de buscas na PF nesta quarta (2)
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que é necessário apurar as circunstâncias de uma internação do hacker Walter Delgatti Neto na Santa Casa de Guaratinguetá (SP) em 2023.
O pedido de uma nova investigação envolvendo a deputada Carla Zambelli (PL-SP) foi feito no relatório enviado ao STF nesta quinta-feira (29), dentro do inquérito que apura a invasão ao site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O relatório entregue nesta quinta indiciou Zambelli e Delgatti sob suspeita de terem hackeado o CNJ para inserir documentos falsos contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Os dois são suspeitos de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Quanto à internação de Delgatti na Santa Casa do município paulista, a PF destacou que as conversas apreendidas ao longo das investigações indicam que houve uma tentativa de ocultar a identidade dele.
Ainda segundo a corporação, o episódio precisa ser investigado porque o hacker disse em depoimento que ficou na ala particular do hospital sem pagar nada. Além disso, Zambelli enviou recursos de emendas parlamentares para o hospital.
“Há conversas mencionando um atendimento médico de Walter na Santa Casa de Guaratinguetá/SP, o que, a princípio, não seria irregular, chamando, porém, a atenção de as conversas indicarem que Walter deveria tentar ocultar sua identidade”, afirmou a PF.
“Além do que, o mesmo [Delgatti] afirmou em sua oitiva que ficou, de forma gratuita, em área particular, o que necessita ser esclarecido em investigação autônoma, notadamente em razão do fato de Carla [Zambelli] ter destinado, através de emenda parlamentar, R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) à instituição”, completam os investigadores no relatório.
A PF afirma também que, no mesmo dia da internação de Walter Delgatti, Zambelli conversou com Renan – que era um de seus assessores à época e que, segundo as investigações, transportou o hacker até o hospital.
Na conversa, a deputada diz ao assessor que ele deve pegar comprovantes nos pedágios e postos de combustível com o CPF dela. “O que sugere que pode haver algum tipo de reembolso [eventualmente com dinheiro público]”, diz a PF.
O que disse Zambelli
Em novembro passado, a deputada afirmou ao blog da Andréia Sadi que havia apenas providenciado o transporte de Delgatti até o hospital, negando quaisquer irregularidades no episódio.
“O dia que ele [hacker] estava passando super mal, dizendo que ia morrer, eu falei ‘Fica tranquilo, o Renan [assessor parlamentar] vai te pegar aí na tua casa, vai te levar no hospital’. Nada mais eu fiz do que dar uma ligada para a Santa Casa e falar ‘Será que vocês podem atender aí um caso de disenteria grave?'”, disse.
“Como é que eu posso ter pago atendimento na Santa Casa? Foi atendimento público”, acrescentou a parlamentar
Hacker que invadiu sistema do CNJ disse que recebeu dinheiro da deputada Carla Zambelli, PL, pra fazer serviço
Indiciamento
Nesta quinta, a PF concluiu o inquérito sobre a invasão do CNJ, registrada em janeiro de 2023, e indiciou Zambelli e Delgatti sob suspeita de terem cometido diversas vezes os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Somadas as penas, uma eventual condenação pode chegar a 28 anos de prisão no caso da parlamentar.
O relatório será enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se denuncia a parlamentar ao STF ou não. A partir da denúncia, tem início uma ação penal que pode levar à condenação ou à absolvição dos investigados.
A polícia encontrou no celular de Zambelli quatro documentos falsos que o hacker inseriu nos sistemas do CNJ, incluindo um falso mandado de prisão contra Moares assinado por ele mesmo.
Delgatti também foi indiciado sob suspeita de falsa identidade, por ter tentado alugar um imóvel se passando por policial, e por denunciação caluniosa, por ter dito à polícia que dois assessores da deputada também participaram do crime contra o Judiciário, o que a PF descartou.
O hacker foi indiciado também por outros dois crimes não diretamente relacionados à invasão do CNJ.
Em nota, nesta quinta, o advogado de Zambelli, Daniel Bialski, disse que ela não fez nenhum pedido para Delgatti invadir o sistema do CNJ.
“A defesa da deputada Carla Zambelli conquanto ainda não tenha analisado minuciosamente os novos documentos e o relatório ofertado pela Polícia Federal, REFORÇA que ela JAMAIS fez qualquer tipo de pedido para que Walter Delgatti procedesse invasões a sistemas ou praticasse qualquer ilicitude”, afirmou o advogado.
O advogado do hacker, Ariovaldo Moreira, disse que “o indiciamento de Carla Zambelli confirma que Walter, a todo momento, colaborou com a justiça, levando a PF até a mandante e financiadora dos atos perpetrados por ele”.
Moreira acrescentou que pedirá a soltura de Delgatti, que está preso em Araraquara (SP) desde agosto passado.

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