Senadores ligados à saúde querem tirar ‘fumódromos’ do projeto de exploração de cassinos e bingos

4 min read
Na avaliação de parlamentares, texto é ‘jabuti’ e ‘retrocesso’ e deve ser retirado durante a votação no plenário. Do contrário, senador petista defende veto de Lula ao dispositivo. Senadores médicos ou ligados à pauta da saúde querem retirar do projeto que libera o funcionamento de cassinos, bingos e jogo do bicho a previsão de que sejam criados fumódromos no país.
cigarro, fumante, fumaça
Ralf Kunze/Pixabay
Na avaliação desses parlamentares, a medida é considerada um “jabuti” – jargão comum no Congresso para alterações em projetos que incluem temas não relacionados ao assunto original.
Desde 2011, uma lei proíbe a criação de áreas fechadas reservadas a fumantes. A regulamentação da medida foi feita em 2014.
Ao ser aprovado na Câmara dos Deputados, o texto que regulamenta os jogos de azar trouxe dois dispositivos que contrariam a atual legislação. Durante a votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, os artigos foram mantidos pelos parlamentares.
Pelo texto, “os estabelecimentos autorizados à exploração de jogos de cassino e de bingo deverão possuir áreas reservadas para fumantes”.
Senado puxa freio, e PL dos jogos de azar deve passar por outra comissão
‘Equívoco’
Presidente da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, responsável pelos debates sobre saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE), que também é médico, chama o texto de “equívoco” e “insanidade”.
O parlamentar avalia que os fumódromos concentram a exposição dos fumantes aos componentes nocivos, ao mesmo tempo em que não oferecem proteção suficiente para os não-fumantes.
“O Brasil desenvolveu uma estratégia exitosa no combate ao tabagismo e na preservação das pessoas que têm contato com fumo, com fumaça. O fim do fumódromo foi um avanço importante”, diz.
O senador diz que vai apresentar uma emenda para retirar a medida do projeto e, se ela não for aprovada, pedirá ao presidente Lula que vete o dispositivo.
“É do interesse das indústrias do tabaco que as pessoas possam fumar com mais facilidade. E é do interesse dos donos de cassino e bingo que vão fazer com que as pessoas não interrompam o jogo para fumar”, avalia Costa.
Também médico, o líder do PSD, Otto Alencar (BA), chama a recriação dos fumódromos de “retrocesso”.
“Isso vai facilitar e pode comprometer muito a saúde. São quantas pessoas que já morrem por ano por câncer de pulmão? A nicotina tem efeito cumulativo, causa várias doenças que são muito comprometedoras da saúde”, avalia.
Outros dois parlamentares que integram a CAS, reservadamente, criticaram a medida e avaliam que ela deve ser retirada do texto durante a votação da proposta no plenário. Um deles defende a realização de audiência pública sobre o tema.
Leia também:
Cassinos, bingos, jogo do bicho e corrida de cavalos: o que projeto sobre jogos de azar no Brasil prevê para cada modalidade
Veja senadores que votaram contra ou a favor legalizar os jogos de azar no país
‘Se Congresso aprovar, não tem por que não sancionar’, diz Lula sobre projeto que libera jogos de azar
Proposta legaliza vários tipos de jogos de azar
JN
Votação apertada
Em entrevista ao Estúdio I, o relator do projeto no Senado, Irajá (PSD-TO), disse que esse não é o principal ponto da discussão da proposta.
“O fumódromo é uma discussão a ser também considerada, evidentemente. Nós precisamos ter uma preocupação com isso, em cada vez mais coibir a prática, o uso e o consumo de cigarro, seja cigarro eletrônico, seja cigarro tradicional. Mas essa agenda [da autorização dos jogos de azar] é uma agenda social e econômica. Nós precisamos lembrar disso. Nós estamos tratando aqui do fortalecimento do turismo nacional, uma indústria que gera milhões de empregos no Brasil”, afirmou.
Ao g1, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), dra. Margareth Dalcolmo, avaliou que os dispositivos previstos na proposta representam um “atraso”.
“Mais uma tentativa absolutamente sem nenhum sentido, injustificada e grotesca de voltar a ter qualquer liberação desse hábito tão nocivo”, disse.
A proposta foi aprovada na semana passada pela CCJ do Senado, em votação apertada com 14 votos favoráveis e 12 contrários. O texto enfrenta resistência no Congresso, principalmente dos parlamentares mais conservadores e também da bancada evangélica.

You May Also Like

More From Author

+ There are no comments

Add yours